Mauro Ferreira no G1

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sábado, 27 de novembro de 2010

Em sua estreia, 'Órbita', Ana Clara Horta gravita em torno de boa obra autoral

Resenha de CD
Título: Órbita
Artista: Ana Clara Horta
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

 O Brasil é país povoado por muitas cantoras que se imaginam compositoras e perdem tempo ao pôr suas vozes a serviço de insosso repertório autoral, sendo que poucas têm, a rigor, inspiração e talento para construir obra com assinatura pessoal - como fizeram e ainda fazem Adriana Calcanhotto e Vanessa da Mata, por exemplo. Em sua estreia no mercado fonográfico, Órbita, disco produzido por Mário Moura e lançado neste mês de novembro de 2010 pela gravadora Biscoito Fino, Ana Clara Horta deixa impressão inversa. Como cantora, Horta não chega a impressionar, apesar de sua afinada voz suave se ajustar bem ao  repertório autoral registrado neste álbum pautado no tempo da delicadeza. O que logo salta aos ouvidos é a boa qualidade de sua obra autoral, embasada nas tradições da MPB, mas formatada em sutis tons contemporâneos. A origem carioca da cantautora não impede que parte do cancioneiro de Órbita remeta a um Brasil interiorano e interiorizado, evocado tanto pelo acordeom de Kiko Horta - que dá um clima de toada em Concha do mar (Ana Clara Horta e Gabriel Pondé), em Menina de leite (Ana Clara Hota e Miguel Jorge) e na bela canção que batiza o disco - como por  algumas imagens da letra de Pé de amora. Basta ouvir um tema como Bailarina (Ana Clara Horta, João Bernardo e Tadeu de Paula) - que pedia um cantor de maior rigor estilístico do que Pedro Luís, convidado da faixa - para perceber que a obra da artista tem a tal assinatura pessoal que inexiste em outros tantos cancioneiros pretensamente originais. Inclusive no que diz respeito às letras, da lavra de diversos parceiros. "É água que inunda por dentro / É aquarela, brisa gelada, é o tempo / Água que benze o tormento", entoa a cantautora em Lágrima negra (Ana Clara Horta, João Bernardo e Miguel Jorge), cujos versos sobreviveriam bem sem música. Sem negar o verniz pop necessário para que sua música não soe presa ao passado, como mostra em Primavera (Ana Clara Horta e Rodrigo Cascardo), a artista debuta no mercado com disco promissor que transita entre pegadas de blues - impressa pela gaita de Flávio Guimarães em Melodrama (Ana Clara Horta e Gabriel Pondé) - e de funk (perceptível em Pé atrás, outra parceria de Horta com Pondé). No todo, apesar de uma ou outra música menos inspirada, caso de Não há dúvida, Órbita  gira coeso. Horta veio para ficar...

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

O Brasil é país povoado por muitas cantoras que se imaginam compositoras e perdem tempo ao pôr suas vozes a serviço de insosso repertório autoral, sendo que poucas têm, a rigor, inspiração e talento para construir obra com assinatura pessoal - como fizeram e ainda fazem Adriana Calcanhotto e Vanessa da Mata, por exemplo. Em sua estreia no mercado fonográfico, Órbita, disco produzido por Mário Moura e lançado neste mês de novembro de 2010 pela gravadora Biscoito Fino, Ana Clara Horta deixa impressão inversa. Como cantora, Horta não chega a impressionar, apesar de sua afinada voz suave se ajustar bem ao repertório autoral registrado neste álbum pautado no tempo da delicadeza. O que logo salta aos ouvidos é a boa qualidade de sua obra autoral, embasada nas tradições da MPB, mas formatada em sutis tons contemporâneos. A origem carioca da cantautora não impede que parte do cancioneiro de Órbita remeta a um Brasil interiorano e interiorizado, evocado tanto pelo acordeom de Kiko Horta - que dá um clima de toada em Concha do Mar (Ana Clara Horta e Gabriel Pondé), em Menina de Leite (Ana Clara Hota e Miguel Jorge) e na bela canção que batiza o disco - como por algumas imagens da letra de Pé de Amora. Basta ouvir um tema como Bailarina (Ana Clara Horta, João Bernardo e Tadeu de Paula) - que pedia um cantor de maior rigor estilístico do que Pedro Luís, convidado da faixa - para perceber que a obra da artista tem a tal assinatura pessoal que inexiste em outros tantos cancioneiros pretensamente originais. Inclusive no que diz respeito às letras, da lavra de diversos parceiros. "É água que inunda por dentro / É aquarela, brisa gelada, é o tempo / Água que benze o tormento", entoa a cantautora em Lágrima Negra (Ana Clara Horta, João Bernardo e Miguel Jorge), cujos versos sobreviveriam bem sem música. Sem negar o verniz pop necessário para que sua música não soe presa ao passado, como mostra em Primavera (Ana Clara Horta e Rodrigo Cascardo), a artista debuta no mercado com disco promissor que transita entre pegadas de blues - impressa pela gaita de Flávio Guimarães em Melodrama (Ana Clara Horta e Gabriel Pondé) - e de funk (perceptível em Pé Atrás, outra parceria de Horta com Pondé). No todo, apesar de uma ou outra música menos inspirada, caso de Não Há Dúvida, Órbita gira coeso. Ana veio para ficar.