Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Galo canta baixo, mas som cru e roqueiro de 'Asa' atinge o pico da beleza

Resenha de CD
Título: Asa
Artista: Gustavo Galo
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * * *
Disco disponível para download gratuito e legalizado no site oficial do artista

Já são oito anos de estrada e dois discos gravados com a Trupe Chá de Boldo, mas o nome de Gustavo Galo somente ganha real relevância na cena musical brasileira com o lançamento independente, neste mês de fevereiro de 2014, do primoroso primeiro disco solo do cantor e compositor paulistano, Asa. Galo canta baixo e certamente vai decepcionar ouvidos habituados aos padrões vocais instaurados pela MPB da era dos festivais dos anos 1960, mas o som cru, minimalista e contemporâneo de seu disco atinge o pico da beleza. Tomara (Gustavo Galo e arrudA) arrebata já na abertura do álbum com um azeitado mix de melodia (bonita) e poesia. Gravado em setembro de 2013 no estúdio Submarino Fantástico, em São Paulo (SP), com produção dividida entre Gustavo Ruiz e Tatá Aeroplano, Asa mantém nas alturas o voo solo de Galo ao longo de suas 14 músicas. Os arranjos - executados pela banda formada por Meno Del Picchia (baixo), Pedro Gongom (bateria e percussão), Peri Pane (violoncelo), Tomás Oliveira (piano e rhodes) e Zé Pi (guitarra) - transitam pelo universo indie pop. Por vezes em tom roqueiro - como em (Peri Pane e arrudA), tema que versa sobre a solidão amplificada pela ausência do ser amado - mas por vezes em climas acústicos. Em qualquer tom, Asa poetiza a falência do cotidiano afetivo de forma coloquial. Cantei, cantei (Gustavo Galo e Marcelo Segreto) recorre à metalinguagem para bater na tecla da dor da saudade do ser amado. Dentro desse universo, a sagaz releitura roqueira de Feito gente (Walter Franco, 1975) cai na pista - com distorções roqueiras e timbres eletrônicos - de forma natural. Na vivência do amor, todos são a faca e a ferida, os heróis e os covardes, em mundo pautado por modas e costumes já automatizados. A propósito, Moda (Gustavo Galo e Peri Pane) - uma canção de arquitetura inicialmente delicada que ganha textura mais indie roqueira à medida que avançam os três minutos e nove segundos da faixa - chama atenção, com certa ironia, para tendências que desajustam relacionamentos afetivos. Contudo, o transamba De aeroplano (Gustavo Galo) recusa nostalgias e tristezas, propondo um voo alegre, sem pressa de aterrissar no mundo afetivo real. Delícia pop, Um garoto (Gustavo Galo) versa sobre arroubo adolescente com um pitada de humor. Levada pelo violão de Galo, Seresta (Gustavo Galo) refaz o link amor-poesia com letra que é convite à paixão, reforçado pelo coro que aditiva o tema. Crua em sua mola básica, Cama deita e rola na poesia de Tatá Aeroplano, compositor da música já gravada pelo grupo Cérebro Eletrônico no álbum Deus e o diabo no liquidificador (2010). Nosso amor é uma droga (Gustavo Galo e Peri Pane) é canção que entorpece com seus versos alucinógenos. Lirinha figura nesse urbano cordel encantado. Por fim, a música-título Asa (Galo e Arruda) - gravada com a voz de Ava Rocha - reconecta o disco e o som de Galo à poesia de arrudA. A faixa inicia no tempo da delicadeza, mas ganha progressivas intensidade e pressão, contraste que pauta Asa, belo álbum que agiganta o nome de Gustavo Galo na cena musical brasileira e que já tem o seu lugar precocemente garantido entre os melhores discos de 2014.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Já são oito anos de estrada e dois discos gravados com a Trupe Chá de Boldo, mas o nome de Gustavo Galo somente ganha real relevância na cena musical brasileira com o lançamento independente, neste mês de fevereiro de 2014, do primoroso primeiro disco solo do cantor e compositor paulistano, Asa. Galo canta baixo e certamente vai decepcionar ouvidos habituados aos padrões vocais instaurados pela MPB da era dos festivais dos anos 1960, mas o som cru, minimalista e contemporâneo de seu disco atinge o pico da beleza. Tomara (Gustavo Galo e arrudA) arrebata já na abertura do CD com azeitado mix de melodia (bonita) e poesia. Gravado em setembro de 2013 no estúdio Submarino Fantástico, em São Paulo (SP), com produção dividida entre Gustavo Ruiz e Tatá Aeroplano, Asa mantém nas alturas o voo solo de Galo ao longo de suas 14 músicas. Os arranjos - executados pela banda formada por Meno Del Picchia (baixo), Pedro Gongom (bateria e percussão), Peri Pane (violoncelo), Tomás Oliveira (piano e rhodes) e Zé Pi (guitarra) - transitam pelo universo indie. Por vezes em tom roqueiro - como em Só (Peri Pane e arrudA), tema que versa sobre a solidão amplificada pela ausência do ser amado - mas por vezes em climas acústicos. Em qualquer tom, Asa poetiza a falência do cotidiano afetivo de forma coloquial. Cantei, cantei (Gustavo Galo e Marcelo Segreto) recorre à metalinguagem para bater na tecla da dor da saudade do ser amado. Dentro desse universo, a sagaz releitura roqueira de Feito gente (Walter Franco, 1975) cai na pista - com distorções roqueiras e timbres eletrônicos - de forma natural. Na vivência do amor, todos são a faca e a ferida, heróis e covardes, em mundo pautado por modas e costumes automatizados. A propósito, Moda (Gustavo Galo e Peri Pane) - canção de arquitetura inicialmente delicada que ganha textura mais indie roqueira à medida que avançam os três minutos e nove segundos da faixa - chama atenção, com certa ironia, para tendências que desajustam relacionamentos afetivos. Contudo, o transamba De aeroplano (Gustavo Galo) recusa nostalgias e tristezas, propondo um voo alegre, sem pressa de aterrissar no mundo afetivo real. Delícia pop, Um garoto (Gustavo Galo) versa sobre arroubo adolescente com um pitada de humor. Levada pelo violão de Galo, Seresta (Gustavo Galo) refaz o link amor-poesia com letra que é convite à paixão, reforçado pelo coro que aditiva o tema. Crua em sua mola básica, Cama deita e rola na poesia de Tatá Aeroplano, compositor da música já gravada pelo grupo Cérebro Eletrônico no álbum Deus e o diabo no liquidificador (2013). Nosso amor é uma droga (Gustavo Galo e Peri Pane) é canção que entorpece com seus versos alucinógenos. Lirinha figura nesse urbano cordel encantado. Por fim, a música-título Asa (Galo e Arruda) - gravada com a voz de Ava Rocha - reconecta o disco e o som de Galo à poesia de arrudA. A faixa inicia no tempo da delicadeza, mas ganha progressivas intensidade e pressão, contraste que pauta Asa, belo álbum que agiganta o nome de Gustavo Galo na cena musical brasileira e que já tem o seu lugar precocemente garantido entre os melhores discos de 2014.

Anônimo disse...

Garoto esperto, Galo abriu as portas da cena indie 2014

...ZeRziL disse...

Vou baixar e escutar agora!

CN disse...

Realmente encantador ! Aplaudo de pé!
Carlos Navas

Manoel Neves disse...

Finíssimo! Inovador! Fenomenal! :D

Rhenan Soares disse...

Disco incrível. Surpresa maravilhosa! "Tomara" é linda e assustadoramente viciante!!! Adoro a poesia das faixas ("Seresta" representa bem a estirpe).

Não acho o disco perfeito, tampouco inusitado ao extremo, mas a cotação prestigiosa é bem justa, pelo simbologismo.