Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

CD mostra que Portela, Salgueiro e Vila são campeãs no quesito samba

Resenha de CD
Título: Sambas de enredo 2014
Artista: Vários
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * 1/2

A julgar pelo CD Sambas de enredo 2014, posto nas lojas pela gravadora Universal Music no fim de 2013, as escolas campeãs do Carnaval do Rio de Janeiro em 2014 são Portela, Unidos de Vila Isabel e Acadêmicos do Salgueiro, com Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente de Padre Miguel na briga por um honroso segundo lugar. No todo, o disco - gravado ao vivo na Cidade do Samba entre outubro e novembro de 2013 com produção de Laíla e Mário Jorge Bruno -  sinaliza que o Carnaval carioca de 2014 vai ser igual àquele que passou: alguns sambas bons em safra irregular, mas nenhum com cacife para ser lembrado nos futuros reinados de Momo. Divididos entre Alceu Maia e Jorge Cardoso, produtores de discos de cantores como Alcione e Diogo Nogueira, os arranjos embutem toques de ritmos como jongo (na introdução do samba da Portela) e maracatu (no samba da Mocidade) sem atravessar o samba. O que atravessa mesmo o disco são as incômodas explicações do enredo no início de cada faixa em falas sem ritmo. Quanto aos sambas em si, o da Portela - Um rio de mar a mar: Do Valongo à glória de São Sebastião (Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento, Waguinho, Edson Alves e J. Amaral) - desponta como favorito pela melodia que ganha força no irresistível refrão ("Vou de mar a mar, mareia / Vou de mar, a mar, mareia, mareou / Iluminai o tambor do meu terreiro / Ô santo padroeiro / O axé da Portela chegou") que tem tudo para contagiar a Marquês de Sapucaí. A ideia do enredo - uma painel da evolução da cidade do Rio de Janeiro sob a ótica da Avenida Rio Branco, uma das principais vias do centro carioca - também contribui para o bom resultado. Mas o samba do Salgueiro - Gaia, a vida em nossas mãos (Xande de Pilares, Dudu Botelho, Miudinho, Betinho de Pilares, Rodrigo Raposo e Jassa), gravado com a participação de Xande de Pilares - também prima pela excelência da melodia (levada quase sempre em tons menores) de um samba que pode não ser dos mais populares da safra 2014, mas talvez seja o mais bem acabado dentre os sambas das 12 agremiações que vão disputar o Carnaval em 2014. Se a vitória depender de samba, a Unidos de Vila Isabel tem chances de se sagra bicampeã do Carnaval carioca. Retratos de um Brasil plural (André Diniz, Evandro Bocão, Arlindo Cruz, Arthur das Ferragens e Professor Wladimir e Leonel) é samba de boa qualidade que foca o interior do país. Melodia e refrões sedutores contribuem para o êxito do samba. E por falar em refrão, o segundo do samba da Imperatriz Leopoldinense - Arthur X - O reino do Galinho de Ouro na corte da Imperatriz (Elymar Santos, Guga, Tião Pinheiro, Gil Branco e Me Leva), ode épica ao jogador Zico - eleva a cotação do samba na bolsa de apostas do Carnaval 2014. Em crise, a Mocidade Independente de Padre Miguel há tempos não apresentava samba tão bom. Pernambucópolis (Dudu Nobre, Jefinho Rodrigues, Marquinho Índio, Jorginho Medeiros, Gabriel Teixeira e Diego Nicolau) costura no enredo homenagens ao Estado de Pernambuco e a um carnavalesco, Fernando Pinto (1945 - 1987), que deu em 1985 o campeonato à escola. O título Pernambucópolis alude a Tupinicópolis, o enredo antropofágico desenvolvido por Pinto para a Mocidade em 1987, ano da saída de cena do Carnavalesco. Sem inovar, a Mangueira apresenta samba - A festança brasileira cai no samba da Mangueira (Lequinho, JR Fionda, Paulinho, de Carvalho e Igor Leal) - fiel às suas tradições. Samba que, embora agradável, vai logo cair no esquecimento. Já a Beija-Flor de Nilópolis vai entrar na avenida com um dos piores sambas de sua história, O astro iluminado da comunicação brasileira (Sidney de Pilares, JR Beija-Flor, Junior Trindade, Adilson Brandão, Zé Carlos, Diogo Rosa, Carlinhos Careca e Samir Trindade), ode a Boni, homem-forte da TV Globo nos anos 1970 e 1980. Os demais sambas evoluem no disco sem chamar a atenção do ouvinte. Se a São Clemente alinha clichês nos versos de Favela (Ricardo Góes, Serginho Machado, Naldo, Grey, Anderson Benson, FM e Flavinho Segal), a União da Ilha do Governador tenta em vão reanimar o espírito lúdico de tempos idos em É brinquedo, é brincadeira, a Ilha vai levantar poeira (Paulinho Poeta, Régis, Gabriel Fraga, Carlinhos Fuzileiro, Canindé e Flávio Pires). Pode até ser que um ou outro cresça na avenida, mas o fato é que, se já houve safras piores de sambas de enredo no Carnaval do Rio de Janeiro, já houve também outras (bem...) melhores.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A julgar pelo CD Sambas de enredo 2014, posto nas lojas pela gravadora Universal Music no fim de 2013, as escolas campeãs do Carnaval do Rio de Janeiro em 2014 são Portela, Unidos de Vila Isabel e Acadêmicos do Salgueiro, com Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente de Padre Miguel na briga por um honroso segundo lugar. No todo, o disco - gravado ao vivo na Cidade do Samba entre outubro e novembro de 2013 com produção de Laíla e Mário Jorge Bruno - sinaliza que o Carnaval carioca de 2014 vai ser igual àquele que passou: alguns sambas bons em safra irregular, mas nenhum com cacife para ser lembrado nos futuros reinados de Momo. Divididos entre Alceu Maia e Jorge Cardoso, produtores de discos de cantores como Alcione e Diogo Nogueira, os arranjos embutem toques de ritmos como jongo (na introdução do samba da Portela) e maracatu (no samba da Mocidade) sem atravessar o samba. O que atravessa mesmo o disco são as incômodas explicações do enredo no início de cada faixa em falas sem ritmo. Quanto aos sambas em si, o da Portela - Um rio de mar a mar: Do Valongo à glória de São Sebastião (Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento, Waguinho, Edson Alves e J. Amaral) - desponta como favorito pela melodia que ganha força no irresistível refrão ("Vou de mar a mar, mareia / Vou de mar, a mar, mareia, mareou / Iluminai o tambor do meu terreiro / Ô santo padroeiro / O axé da Portela chegou") que tem tudo para contagiar a Marquês de Sapucaí. A ideia do enredo - uma painel da evolução da cidade do Rio de Janeiro sob a ótica da Avenida Rio Branco, uma das principais vias do centro carioca - também contribui para o bom resultado. Mas o samba do Salgueiro - Gaia, a vida em nossas mãos (Xande de Pilares, Dudu Botelho, Miudinho, Betinho de Pilares, Rodrigo Raposo e Jassa), gravado com a participação de Xande de Pilares - também prima pela excelência da melodia (levada quase sempre em tons menores) de um samba que pode não ser dos mais populares da safra 2014, mas talvez seja o mais bem acabado dentre os sambas das 12 agremiações que vão disputar o Carnaval em 2014. Se a vitória depender de samba, a Unidos de Vila Isabel tem chances de se sagra bicampeã do Carnaval carioca. Retratos de um Brasil plural (André Diniz, Evandro Bocão, Arlindo Cruz, Arthur das Ferragens e Professor Wladimir e Leonel) é samba de boa qualidade que foca o interior do país. Melodia e refrões sedutores contribuem para o êxito do samba. E por falar em refrão, o segundo do samba da Imperatriz Leopoldinense - Arthur X - O reino do Galinho de Ouro na corte da Imperatriz (Elymar Santos, Guga, Tião Pinheiro, Gil Branco e Me Leva), ode épica ao jogador Zico - eleva a cotação do samba na bolsa de apostas do Carnaval 2014. Em crise, a Mocidade Independente de Padre Miguel há tempos não apresentava samba tão bom. Pernambucópolis (Dudu Nobre, Jefinho Rodrigues, Marquinho Índio, Jorginho Medeiros, Gabriel Teixeira e Diego Nicolau) costura no enredo homenagens ao Estado de Pernambuco e a um carnavalesco, Fernando Pinto (1945 - 1987), que deu em 1985 o campeonato à escola. O título Pernambucópolis alude a Tupinicópolis, o enredo antropofágico desenvolvido por Pinto para a Mocidade em 1987, ano da saída de cena do Carnavalesco.

Mauro Ferreira disse...

Sem inovar, a Mangueira apresenta samba - A festança brasileira cai no samba da Mangueira (Lequinho, JR Fionda, Paulinho, de Carvalho e Igor Leal) - fiel às suas tradições. Samba que, embora agradável, vai logo cair no esquecimento. Já a Beija-Flor de Nilópolis vai entrar na avenida com um dos piores sambas de sua história, O astro iluminado da comunicação brasileira (Sidney de Pilares, JR Beija-Flor, Junior Trindade, Adilson Brandão, Zé Carlos, Diogo Rosa, Carlinhos Careca e Samir Trindade), ode a Boni, homem-forte da TV Globo nos anos 1970 e 1980. Os demais sambas evoluem no disco sem chamar a atenção do ouvinte. Se a São Clemente alinha clichês nos versos de Favela (Ricardo Góes, Serginho Machado, Naldo, Grey, Anderson Benson, FM e Flavinho Segal), a União da Ilha do Governador tenta em vão reanimar o espírito lúdico de tempos idos em É brinquedo, é brincadeira, a Ilha vai levantar poeira (Paulinho Poeta, Régis, Gabriel Fraga, Carlinhos Fuzileiro, Canindé e Flávio Pires). Pode até ser que um ou outro cresça na avenida, mas o fato é que, se já houve safras piores de sambas de enredo no Carnaval do Rio de Janeiro, já houve também outras (bem...) melhores.

Marcelo Barbosa disse...

Gostei bastante da crítica e aplaudo com louvor a iniciativa de criticar essa babaquice de falatório de carnavalescos antes do começo de cada samba. Povo sem noção esse da Liesa.
Na minha opinião os sambas da Portela e do Salgueiro sobram na safra.

Unknown disse...

Prezado Mauro,

Concordo com quase tudo que escrevestes. Contudo, sua coluna foi publicada com um grave erro: A não inclusão do samba do Império da Tijuca, um dos melhores de 2014.
Por favor, revise.

Abs,

Alexandre Moreira

Unknown disse...

Prezado Mauro,

Concordo com quase tudo que escrevestes. Contudo, sua coluna foi publicada com um grave erro: A não inclusão do samba do Império da Tijuca, um dos melhores de 2014.
Por favor, revise.

Abs,

Alexandre Moreira

Paulo Larangeira disse...

Endosso as palavras do Alexandre. Injusto o esquecimento da Império da Tijuca, escola que merece respeito por sua tradição, simpatia e a superação que a trouxeram de volta à elite do carnaval carioca. Gostaria de ver sua opinião sobre o samba que se não é um dos melhores, tem o refrão mais forte dentre os demais, capaz de arrepiar e fazer o chão tremer.
Axé!