Mauro Ferreira no G1

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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Caixa da série 'Tons' embala três (bons) álbuns da fase áurea de Mautner

Resenha de caixa de CDs
Título: Três tons de Jorge Mautner
Artista: Jorge Mautner
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * * (Para iluminar a cidade), * * * * 1/2  (Jorge Mautner) e * * * (Mil e uma 
              noites de Bagdá)

Iniciada no fim dos anos 1950, a obra musical do cantor e compositor carioca Jorge Mautner - artista de farta produção multimídia - tem sido contínua ao longo dessas quase seis décadas. Contudo, no que diz respeito à carreira fonográfica (iniciada em 1966 com a edição de compacto pela RCA), a obra de Mautner teve seu auge produtivo de 1972 a 1976, período em que gravou e lançou pela gravadora Philips os três bons álbuns embalados, em reedições remasterizadas, na caixa Três tons de Jorge Mautner, posta nas lojas pela gravadora Universal Music neste ano de 2014, em mais um acerto da série gerenciada pela executiva Alice Soares. São os discos que concentram as músicas mais conhecidas do compositor, embora o álbum Eu não peço desculpas (2002) - gravado e assinado por Mautner com o cantor e compositor baiano Caetano Veloso - tenha revitalizado essa obra e até ampliado o público do artista. Com textos elucidativos sobre os discos, escritos pelo jornalista mineiro Renato Vieira, a caixa Três tons de Jorge Mautner oferece ganhos significativos em relação às edições anteriores dos álbuns. Sobretudo nos casos de Jorge Mautner (1974) e Mil e uma noites de Bagdá (1976), relançados de forma heroica, mas precária, pelo selo indie carioca Rock Company nos anos 1990. Estes dois títulos voltam ao catálogo com som à altura de sua importância e toda a arte gráfica dos LPs originais. Já em relação a Para iluminar a cidade (1972) o ganho é irrelevante. Este primeiro álbum de Mautner - lançado com anos de atraso, como observa Caetano Veloso com ironia no texto que escreveu para a contracapa do LP (texto devidamente reproduzido no encarte do CD) - já tinha sido relançado em 2002 pela Universal Music em edição remasterizada produzida pelo pesquisador carioca Marcelo Fróes com zelo na parte gráfica e as mesmas três faixas-bônus. Relaxa, meu bem, relaxa (Jorge Mautner e Nelson Jacobina) e Planeta dos macacos (Jorge Mautner e Jards Macalé) são fonogramas de já raríssimo compacto de Mautner editado pela Philips em 1973. Já Rock da barata (Jorge Mautner) é faixa do coletivo álbum ao vivo que registra o evento Phono 73 - O canto de um povo (Philips, 1973). A propósito, o primeiro álbum de Mautner também foi gravado ao vivo. Para iluminar a cidade registra show captado em apresentações feitas por Mautner no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro (RJ), em 27 e em 30 de abril de 1972. Por se tratar de seu (tardio) primeiro álbum, o artista apresentou um resumo de obra que já tinha mais de dez anos e que atingiria seu ápice criativo no disco seguinte, Jorge Mautner, que trouxe a versão do autor para o popular Maracatu atômico (Jorge Mautner e Nelson Jacobina), sucesso na voz de Gilberto Gil em gravação editada em compacto de 1973. Jorge Mautner é o disco de Samba dos animais, de  Guzzy muzzy (que recentemente ganhou a voz da cantora carioca Silvia Machete), de Ginga da mandinga (parceria de Mautner com Rodolfo Grani Júnior gravada pela cantora mineira Wanderléa) e de O relógio quebrou (tema também ouvido naquele ano na voz de Gilberto Gil). O terceiro álbum da caixa, Mil e uma noites de Bagdá, é o título menos inspirado da trilogia. Neste disco, Mautner buscou tom pop radiofônico que contraria a criação livre e espontânea  de sua música. Atualmente com 73 anos, esse filho do Holocausto segue a sua trajetória artística com a mesma integridade e liberdade observada nestes três bons álbuns oportunamente reeditados na série Tons da gravadora Universal Music.

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Iniciada no fim dos anos 1950, a obra musical do cantor e compositor carioca Jorge Mautner - artista de produção multimídia - tem sido contínua ao longo dessas quase seis décadas. Contudo, no que diz respeito à carreira fonográfica (iniciada em 1966 com a edição de compacto pela RCA), a obra de Mautner teve seu auge produtivo de 1972 a 1976, período em que gravou e lançou pela gravadora Philips os três bons álbuns embalados, em reedições remasterizadas, na caixa Três tons de Jorge Mautner, posta nas lojas pela gravadora Universal Music neste ano de 2014, em mais um acerto da série gerenciada pela executiva Alice Soares. São os discos que concentram as músicas mais conhecidas do compositor, embora o álbum Eu não peço desculpas (2002) - gravado e assinado por Mautner com o cantor e compositor baiano Caetano Veloso - tenha revitalizado essa obra e ampliado o público do artista. Com textos elucidativos sobre os discos, escritos pelo jornalista mineiro Renato Vieira, a caixa Três tons de Jorge Mautner oferece ganhos significativos em relação às edições anteriores dos álbuns. Sobretudo nos casos de Jorge Mautner (1974) e Mil e uma noites de Bagdá (1976), relançados de forma heroica, mas precária, pelo selo indie carioca Rock Company nos anos 1990. Estes dois títulos voltam ao catálogo com som à altura de sua importância e toda a arte gráfica dos LPs originais. Já em relação a Para iluminar a cidade (1972) o ganho é irrelevante. Este primeiro álbum de Mautner - lançado com anos de atraso, como observa Caetano Veloso com ironia no texto que escreveu para a contracapa do LP (texto devidamente reproduzido no encarte do CD) - já tinha sido relançado em 2002 pela Universal Music em edição remasterizada produzida pelo pesquisador carioca Marcelo Fróes com zelo na parte gráfica e as mesmas três faixas-bônus. Relaxa, meu bem, relaxa (Jorge Mautner e Nelson Jacobina) e Planeta dos macacos (Jorge Mautner e Jards Macalé) são fonogramas de já raríssimo compacto de Mautner editado pela Philips em 1973. Já Rock da barata (Jorge Mautner) é faixa do coletivo álbum ao vivo que registra o evento Phono 73 - O canto de um povo (Philips, 1973). A propósito, o primeiro álbum de Mautner também foi gravado ao vivo. Para iluminar a cidade registra show captado em apresentações feitas por Mautner no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro (RJ), em 27 e em 30 de abril de 1972. Por se tratar de seu (tardio) primeiro álbum, o artista apresentou um resumo de obra que já tinha mais de dez anos e que atingiria seu ápice criativo no disco seguinte, Jorge Mautner, que trouxe a versão do autor para o popular Maracatu atômico (Jorge Mautner e Nelson Jacobina), sucesso na voz de Gilberto Gil em gravação editada em compacto de 1973. Jorge Mautner é o disco de Samba dos animais, de Guzzy muzzy (que recentemente ganhou a voz da cantora carioca Silvia Machete), de Ginga da mandinga (parceria de Mautner com Rodolfo Grani Júnior gravada pela cantora mineira Wanderléa) e de O relógio quebrou (tema também ouvido naquele ano na voz de Gilberto Gil). O terceiro álbum da caixa, Mil e uma noites de Bagdá, é o título menos inspirado da trilogia. Neste disco, Mautner buscou tom pop radiofônico que contraria a criação livre e espontânea de sua música. Atualmente com 73 anos, esse filho do Holocausto segue a sua trajetória artística com a mesma integridade e liberdade observada nestes três bons álbuns oportunamente reeditados na série Tons da gravadora Universal Music.

Tiago disse...

Mauro, você considera a reedição do "Pra iluminar a cidade" dispensável?

Mauro Ferreira disse...

Não, Tiago, visto que a reedição anterior, tão boa quanto a atual, já está fora de catálogo. Abs, MauroF

Tiago disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tiago disse...

Tá ok. Perguntei porque as vezes essa frase do "já saiu em CD" soa como se estivesse desmerecendo o trabalho - assim como outro dia li no do Emílio "já saiu no Japão". Imagino que é pensando assim, incentivada por essa lembrança, que a Universal não repõe Zizi e Ro Ro. E pensar que os estrangeiros são reeditados à exaustão...

Mauro Ferreira disse...

Tiago, o meu papel como crítico é analisar as reedições com objetividade, pensando no leitor, não em pesquisadores e artistas. Na resenha de uma caixa como a da série 'Tons', cabem respostas a perguntas como 'Esse disco é inédito em cd?', 'A atual reedição oferece ganho em relação à anterior?' etc. etc. Abs, MauroF

Cláudio disse...

Tantos TONS são esperados mas a reposição eh feita de forma muito lenta.

André Gamma disse...

Apenas uma observação Mauro... O disco Mil e Uma Noites de Bagdá é excelente, talvez a grande pérola perdida de sua discografia - e de fato "anti-maldita" - mostrando o seu lado mais pop "cool". A sonoridade desse disco também foi competentemente captada, com certeza o melhor som da obra do Mautner, as linhas de baixo e de bateria soaram perfeitas... Não pode-se descartar (como menos importantes) canções como Aeroplanos, Txim-plan, O som do meu violino, Rainha do Egito... Ambas poesias puras! Deu pena de não terem tocadas nos rádios! Candidatas a "hits" a serem obrigatórios em qualquer coletânea descente dos anos 70. Infelizmente não foram! ;)