Mauro Ferreira no G1

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domingo, 1 de abril de 2012

Perenidade das canções de Nana é a bela resposta da cantora ao tempo

Resenha de show
Título: As Canções de Nana
Artista: Nana Caymmi (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 31 de março de 2012
Cotação: * * * * 1/2

O título, As Canções de Nana, sugeria um show novo, criado para festejar com onze meses de atraso os 70 anos feitos por Nana Caymmi em 29 de abril de 2011. Contudo, a rigor, o roteiro apresentado pela cantora no palco da casa carioca Vivo Rio, em 31 de março de 2012, foi essencialmente o mesmo seguido pela intérprete nos (poucos) shows que vem fazendo pelo Brasil. Nem por isso a noite deixou de ser especial. Era a volta de Nana aos palcos do Rio de Janeiro (RJ), cidade que não abrigava um show solo da artista desde o espetáculo baseado no disco Desejo (2001). Rodeada de amigos e de fãs que esgotaram os ingressos dias antes do show, Nana se portou em cena como Nana. Divertiu muito o público com seus comentários espontâneos entre um número e outro, falou palavrões, entoou trecho a capella da Valsa de Eurídice (Vinicius de Moraes) para traduzir em música a saudade incessante dos pais, mortos em 2008, e cantou. Cantou as canções de sempre. Joias da lavra sempre fina de compositores como Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), Vinicius de Moraes (1913 - 1980), Dolores Duran (1930 - 1959), Agustín Lara (1897 - 1970) e, claro, Dorival Caymmi (1914 - 2008), patriarca de uma das famílias mais musicais do Brasil. São canções antigas. A própria Nana brinca em cena e diz que seu repertório vem da Bíblia, do Alcorão. Brincadeiras à parte, as canções de Nana são perenes e, por isso, funcionam no palco como uma (bela) resposta da cantora ao tempo. Volta e meia, Nana reclamou em cena que tinha conquistado somente um Disco de Ouro em 50 anos de carreira fonográfica. Reclamação que remete a tempos antigos, pois a pirataria física e virtual de CDs dissolveu em pó o ouro outrora cobiçado na indústria do disco. Mas Nana é mesmo cantora de tempos antigos, tempos que nem viveu como artista, como os anos 50, época de Dolores Duran, cujo cancioneiro ela aborda com tal precisão que fica difícil imaginar outra intérprete mais capacitada para traduzir no canto toda a melancolia e toda a desilusão contidas em temas como Castigo (Dolores Duran), Ternura Antiga (Dolores Duran e Ribamar) e Por Causa de Você (Dolores Duran e Tom Jobim). Tempos do imortal Dorival. Que outra cantora, além de Nana, tem propriedade para elevar os tons para chamar por Dora (Dorival Caymmi)? Nana é dos tempos do samba-canção e do bolero, gêneros amalgamados em seu repertório com tal naturalidade que, na voz de Nana, obra-prima recente da lavra poética de Dori Caymmi com Paulo César Pinheiro - Sem Poupar Coração, música-título do álbum lançado pela cantora em 2009 - já se irmana na eternidade com temas do compositor mexicano Agustín Lara, mestre dos boleros, autor de pérolas atemporais como Solamente Una Vez. Mesmo canções mais ou menos contemporâneas das duplas Ivan Lins & Vítor Martins (Lembra de Mim, 1995) e Roberto Carlos & Erasmo Carlos (Não se Esqueça de Mim, 1977) já ganham aura clássica na voz de Nana. São as canções que respondem por Nana, no tempo dela, com um canto tão emocionado e forte que o espectador de seus shows nem consegue se incomodar com a sonoridade repetitiva dos arranjos do diretor musical Cristóvão Bastos. Show!

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Na página de Notas Musicais no Facebook, há um post com as impagáveis frases ditas por Nana Caymmi no show feito no Rio de Janeiro em 31 de março de 2012. Abs, MauroF

Anônimo disse...

Falar em disco de ouro é pra lá de anacrônico mesmo.
Dando uma olhada no repertório. Noel, Jobim, Caymmi... Umazinha do Gonzagão cairia como uma luva.
Assum Preto iria bem na voz e show dela.

Valter Tonhá disse...

Tom Jobim não morreu em 2004!!!

rafael costa disse...

Estive no show, e foi minha grata surpresa em perceber que a voz é perfeita, tanto em disco , tanto ao vivo.

Mauro Ferreira disse...

Obrigado, Valter. Pensei em 1994 e, na hora, escrevi 2004. Abs, mauroF

Anônimo disse...

UM DVD cairia bem. Mas não gravado no Vivo Rio, numa casa menor.

Rafael disse...

Na expectativa de que o show dela possa rodar o Brasil inteirio, para que eu possa ter a oportunidade e deleite de ir vê-lo.

Eduardo Cáffaro disse...

Cade o DVD ?????????

ADEMAR AMANCIO disse...

Quando a elis morreu,todos perguntavam quem ficaria em seu posto de melhor cantora,ninguém cogitava o nome de Nana caymmi,engraçado que ela já cantava há tempos e melhor que hoje.