Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Radicalmente autoral, 'Meu Quintal' é outro fruto saboroso da obra de Ná

Resenha de CD
Título: Meu Quintal
Artista: Ná Ozzetti
Gravadora: Borandá
Cotação: * * * 1/2

"Meu quintal / ... / Tem coqueiro que dá coco / Cancioneiro que dá canto / ... / Que dá samba", enumera Ná Ozzetti, citando Aquarela do Brasil (Ary Barroso) nos versos escritos por Luiz Tatit para Meu Quintal, inspirada música que dá título ao nono disco solo da cantora e compositora. Sem saudosismo ou olhar retrospectivo, Meu Quintal festeja os 30 anos de carreira de Ná Ozzetti, iniciada em 1981 com o primeiro álbum do grupo Rumo. Editado pela gravadora Borandá neste mês de abril de 2011, o disco apresenta 11 inéditas entre seus 12 temas. A exceção é Entre o Amor e o Mar, parceria de Ná com Luiz Tatit que batizou o álbum lançado por Jussara Silveira em 2006 e que, cinco anos depois, reaparece em tom bluesy no registro da autora. À vontade em seu habitat sonoro, Ná colhe em Meu Quintal os frutos do entrosamento com sua seleção de parceiros, ampliada com a chegada de Zélia Duncan (letrista de Sobrenatural), Makely Ka (co-autor de Onde a Vista Alcança), Carol Ribeiro (autora do poema Chuva, musicado por Ná) e o violonista Arthur Nestrovski (escritor dos versos de Tupi, inspirados no cachorro de Ná). Há real afinidade também da artista com os músicos de sua banda. Produzido por Mário Manga, o disco é urdido pelos timbres precisos dos violões de Dante Ozzetti, da bateria e da percussão de Sérgio Reze, do contrabaixo de Zé Alexandre Carvalho e das cordas da guitarra, do violoncelo e do violão tocados pelo próprio Manga. Reunida já no anterior Balangandãs (2009), deliciosa investida de Ná no repertório vivaz de Carmen Miranda (1909 - 1955), essa turma garante a unidade estética do disco mais radicalmente autoral de Ná Ozzetti. A cantora é quase sempre melhor do que a compositora, mas há pérolas no cancioneiro de Meu Quintal. Um dos temas mais belos do disco, Baú de Guardados conserva achados poéticos de Alice Ruiz, parceira de Ná também na sincopada Ser Estar e em Acordo de Amor (com a adesão de Neco Prates). Embora já presente no universo musical de Ná Ozzetti, Ruiz somente agora debuta como parceria da artista. Já Luiz Tatit é nome recorrente nos repertórios autorais de Ná. É da lavra dos dois a funkeada Equilíbrio. Já A Velha Fiando - um dos frutos mais saborosos da colheita de Meu Quintal - é da lavra de Tatit com Dante Ozzetti, irmão de Ná. Enfim, a árvore fonográfica de Ná nunca deu fruto podre ao longo desses 30 anos. Embora a arte de Ná como compositora nem sempre seja tão sedutora quanto sua voz, Meu Quintal  se junta com inspiração a uma obra pautada pela coerência e pelo refinamento.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Meu quintal / ... / Tem coqueiro que dá coco / Cancioneiro que dá canto / ... / Que dá samba", enumera Ná Ozzetti, citando Aquarela do Brasil (Ary Barroso) nos versos escritos por Luiz Tatit para Meu Quintal, inspirada música que dá título ao nono disco solo da cantora e compositora. Sem saudosismo ou olhar retrospectivo, Meu Quintal festeja os 30 anos de carreira de Ná Ozzetti, iniciada em 1981 com o primeiro álbum do grupo Rumo. Editado pela gravadora Borandá neste mês de abril de 2011, o disco apresenta 11 inéditas entre seus 12 temas. A exceção é Entre o Amor e o Mar, parceria de Ná com Luiz Tatit que batizou o álbum lançado por Jussara Silveira em 1996 e que, cinco anos depois, reaparece em tom bluesy no registro da autora. À vontade em seu habitat sonoro, Ná colhe em Meu Quintal os frutos do entrosamento com sua turma de parceiros, ampliada com a chegada de Zélia Duncan (letrista de Sobrenatural), Makely Ka (co-autora de Onde a Vista Alcança), Carol Ribeiro (autora do poema Chuva, musicado por Ná) e o violonista Arthur Nestrovski (escritor dos versos de Tupi, inspirados no cachorro de Ná). Há real afinidade também da artista com os músicos de sua banda. Produzido por Mário Manga, o disco é urdido pelos timbres precisos dos violões de Dante Ozzetti, da bateria e da percussão de Sérgio Reze, do contrabaixo de Zé Alexandre Carvalho e das cordas da guitarra, do violoncelo e do violão tocados pelo próprio Manga. Reunida já no anterior Balangandãs (2009), deliciosa investida de Ná no repertório vivaz de Carmen Miranda (1909 - 1955), essa turma garante a unidade estética do disco mais radicalmente autoral de Ná Ozzetti. A cantora é quase sempre melhor do que a compositora, mas há pérolas no cancioneiro de Meu Quintal. Um dos temas mais belos do disco, Baú de Guardados conserva achados poéticos de Alice Ruiz, parceira de Ná também na sincopada Ser Estar e em Acordo de Amor (com a adesão de Neco Prates). Embora já presente no universo musical de Ná Ozzetti, Ruiz somente agora debuta como parceria da artista. Já Luiz Tatit é nome recorrente nos repertórios autorais de Ná. É da lavra dos dois a funkeada Equilíbrio. Já A Velha Fiando - um dos frutos mais saborosos da colheita de Meu Quintal - é da lavra de Tatit com Dante Ozzetti, irmão de Ná. Enfim, a árvore fonográfica de Ná nunca deu fruto podre ao longo desses 30 anos. Embora a arte de Ná como compositora nem sempre seja tão sedutora quanto sua voz, Meu Quintal se junta com inspiração a uma obra pautada pela coerência e pelo refinamento.

Natival disse...

Mauro, Jussara lançou a música em 2006. Em 1996, Jussara nem tinha feito sua estreia em disco próprio.

Felipe Grilo disse...

Mauro, tem um erro de data, Entre o amor e o mar, da Jussara, é de 2006, vc postou 1996.

Achei essa capa linda, quero ouvir o disco!

Mauro Ferreira disse...

Natival e Felipe, gratos por me avisarem. Pensei em 2006 e escrevi 1996, ano do lançamento do primeiro disco da Jussara. Abs, MauroF

Doug Carvalho disse...

Eu escrevi uma "tentaiva de crítica" - uma vez que não sou jornalista ou músico - sobre o disco de Ná, uma de minhas cantoras favoritas. A quem interessar - inclusive o Mauro - está aqui no blog do meu site: http://sitecantorasdobrasil.blogspot.com/2011/04/o-quintal-de-na.html

Concordo com o Mauro. Ná Ozzetti em 30 anos tem uma discografia irrepreensível, e como cantora é inquestionável. Quem quiser que diga o oposto, é apenas questão de preferência. Ta,bém acheo que como cantora Ná é melhor do que como compositora. Grande parte das músicas de "Meu Quintal" não seriam interessantes em uma voz menos brilhante. Mas o canto de Ná supera essa deficiência.

Anônimo disse...

Ná está de volta fazendo o que eu suponho ser o seu melhor: canções inéditas e as parcerias de ouro com Luiz Tatit e Alice Ruiz. Esse "Quintal" não sai do meu Ipod.

lurian disse...

Achei o disco apenas regular. O projeto que homenageava Carmen Miranda não era inédito mas bem mais interessante!