Mauro Ferreira no G1

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sábado, 9 de abril de 2011

Pato Fu perpetua em DVD brincadeira musical que funciona bem no palco

Resenha de Show
Título: Música de Brinquedo
Artista: Pato Fu (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Nelson Rodrigues - Caixa Cultural (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 7 de agosto de 2010
Cotação:
* * * * 1/2

Show em cartaz no Auditório Ibirapuera (SP) em 9 e 10 de abril de 2011 - Gravação de DVD

Por ter sido urdido de modo artesanal, o som lúdico do disco Música de Brinquedo (2010) - em que o grupo Pato Fu toca sucessos alheios com instrumentos infantis - poderia ter sido reproduzido no palco com menos charme. Mas o fato é que o show resulta tão sedutor quanto o CD. Ao recrutar o conceituado grupo Giramundo para manipular bonecos em cena, cantando às partes das músicas que no disco cabem às crianças, o quinteto mineiro consegue preservar em cena a aura espirituosa de seu primeiro projeto de intérprete. Havia o risco de a brincadeira musical do Pato não funcionar no palco - tanto que a própria Fernanda Takai definiu a primeira apresentação da turnê, em 7 de agosto de 2010, como um "show de riscos não calculados" - mas funciona e, oito meses depois, o fofíssimo show volta ao cartaz no Auditório Ibirapuera, em São Paulo (SP), neste fim de semana de 9 e 10 de abril de 2011, para (oportuna) gravação ao vivo de DVD que vai chegar ao mercado no segundo semestre do ano.

A primeira impressão nem foi das melhores nos segundos iniciais da primeira apresentação do show. Talvez pelo nervosismo natural de uma estreia nacional, Fernanda Takai (voz), John Ulhoa (guitarra e programações), Ricardo Koctus (baixo), Xande Tamietti (bateria) e Lulu Camargo (teclados) introduziram Primavera (Tim Maia, 1970) sem a vibração inicial do arranjo original, captada no disco. Mas logo tudo entrou no tom intencionalmente infantilizado do álbum e o show transcorreu gracioso. Os bonecos manipulados por dois integrantes do grupo Giramundo seduziram a plateia logo de imediato. Já no segundo número, Sonífera Ilha (Titãs, 1984), fica claro que muito do charme do show vem da feliz ideia de convocar o grupo Giramundo. Impressão confirmada por Rock'n'Roll Lullaby (BJ Thomas, 1972). Contudo, justiça seja feita, os instrumentos pilotados ludicamente pelo Pato Fu já garantam a diversão do ponto de vista musical. Eu (Pato Fu, 2001) - primeiro tema da obra do grupo a aparecer no roteiro - mostra que a banda também sabe brincar com o próprio repertório. Com arsenal que inclui até chaveiro, o Pato dá peso a Eu, evocando a sonoridade de seu CD mais hard (Ruído Rosa, 2001). Destaque do CD Música do Brinquedo, Frevo Mulher (Amelinha, 1979) também se impõe como um dos belos momentos do show. Um dos monstros assume a zabumba enquanto o outro aparece em cena com cabelereira azul que constrasta com a "cabeleira vermelha" citada na letra da música de Zé Ramalho, o que gera intervenções espirituosas dos bonecos. Que viram cabeludos hippies na hora em que o Pato refaz a pregação humanista de Todos Estão Surdos, música lançada por Roberto Carlos em 1971 num de seus melhores discos.

Com John Ulhoa no cavaquinho mirim ("É iniciação ao pagode", gracejou o músico na estreia em agosto de 2010), Ovelha Negra (Rita Lee, 1975) soa no palco como no disco enquanto My Girl (The Temptations, 1964) cresce e aparece em cena. Já Simplicidade - um tema pouco conhecido do Pato Fu, lançado em 2005 no álbum Toda Cura para Todo Mal - se revela o grande achado autoral da banda. Com seu toque ruralista, a singela canção se ajusta perfeitamente ao espírito de Música de Brinquedo e fica sendo um dos melhores momentos do show ao lado de Live and Let Die (com piscar de luzes que realça o clima roqueiro e grandioso do tema lançado por Paul McCartney em 1973 em trilha sonora de filme da série de James Bond). Já Perdendo Dentes (Pato Fu, 2000) - música acompanhada em coro pelo público - é número em que o Pato Fu soa mais adulto do que infantil, apesar do uso dos instrumentos de brinquedo. O mesmo pode ser dito de Sobre o Tempo (Pato Fu, 1995), número que Fernanda Takai recorre a som tirado de um bicho de pelúcia. No bis, Love me Tender (Elvis Presley, 1956) acarinha o espectador com seu timbres de caixinhas de música e Bohemian Rhapsody fecha o show em tom brincalhão, por conta das tentativas frustradas do boneco de cantar a ópera-rock lançada pelo Queen em 1975. Enfim, a brincadeira musical do Pato Fu chega ao palco - e agora ao DVD - com fôlego para divertir crianças e, claro, adultos.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Aviso aos navegantes: esta resenha já havia sido publicada em Notas Musicais no endereço antigo do blog. Mas, por conta da gravação do DVD do show, está sendo postada novamente com algumas adaptações para tornar o texto atual. Abs, MauroF

Carlos Renatto disse...

Na expectativa...

Ismael Angelus disse...

Não sou fã do Pato Fu, mas sempre achei a atitude muito criativa e porque não dizer, ousada?

Pretendo conferir sim o dvd.

=D

Gustavo :: ovatsuG disse...

O show é a coisa mais linda.
O Pato Fu é, de longe, a melhor banda brasileira da atualidade (e isso já há algum tempo).