Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Jeneci reproduz em cena a atmosfera do CD em que roça a perfeição pop

Resenha de show
Título: De graça
Artista: Marcelo Jeneci (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 1º de dezembro de 2013
Cotação: * * * * 1/2

Segundo irretocável álbum de Marcelo Jeneci, De graça - enfim disponível em edição física a partir deste mês de dezembro, em lançamento do selo Slap distribuído pela gravadora Som Livre - dá sua receita de bem-viver em repertório que concilia leveza pop com densas camadas de sons. O grande disco é pontuado por arranjos de cordas, em sua maioria orquestradas com maestria pelo pianista Eumir Deodato. Em essência, o cancioneiro do CD De graça prega a valorização das coisas boas e simples da vida como antídoto para o sofrimento causado pelas lutas e perdas cotidianas (o repertório foi composto pelo artista paulista sob o efeito doloroso do fim de seu casamento). No show, que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em apresentação iniciada no Circo Voador já na madrugada de 1º de dezembro de 2013, Jeneci dispensa as cordas em cena, mas, alternando-se entre a sanfona e seu arsenal de teclados, o polivalente cantor e músico consegue reproduzir no palco a atmosfera e os climas do disco. De graça, o show, confirma Jeneci como grande compositor. Das 16 músicas do roteiro da apresentação carioca, quinze têm a assinatura do artista (e as de seus habituais parceiros). Dez são do disco novo e cinco vem do anterior Feito pra acabar (Slap, 2010). Em comum, todas revelam inspiração muito acima da média da produção autoral dos artistas da cena pop contemporânea (nicho indie em que sonoridades espertas nem sempre compensam a escassez de inspiração melódica). Jeneci domina com perfeição o idioma pop de sua geração. Quando Temporal (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza, 2013) caiu em cena, por exemplo, o ar do Circo Voador ficou deliciosamente leve - efeito que já acontecera em Pra sonhar (Marcelo Jeneci, 2010) e que foi repetido, no bis, com Felicidade (Marcelo Jeneci e Chico César, 2010). Dar-te-ei (Marcelo Jeneci, Helder Lopes, José Miguel Wisnik e Verônica Pessoa, 2010) também se sustentou com essa leveza pop - com direito à mise-en-scène quando Jeneci se deitou na beira do palco e se permitiu ser acarinhado pelo público, traduzindo no gesto o sentido da letra, que valoriza a entrega pessoal em detrimento dos bens materiais. Como cantor, Jeneci está cada vez mais desenvolto, à vontade na arte de interpretar as próprias músicas (embora o show em que ele passeou pelo repertório de Roberto Carlos, apresentado no próprio Circo Voador em julho de 2012, já tenha sinalizado tal desenvoltura). Se o compositor é grande, o cantor já é sempre eficiente, como as abordagens de Alento (Marcelo Jeneci, Isabel Lenza e Arnaldo Antunes, 2013) - música ilustrada com imagens de paisagens naturais - e de Nada a ver (Marcelo Jeneci, 2013) já mostraram de cara no início do show. Tal progresso de Jeneci como intérprete faz com que a presença em cena da vocalista Laura Lavieri - solista de Pra gente se desprender (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza, 2013), belo momento em que todas as camadas da música de Jeneci foram expostas no show - seja um luxo, e não mais uma necessidade na apresentação de canções como Tudo bem, tudo faz (Marcelo Jeneci, Laura Lavieri e Arnaldo Antunes, 2013). É Lavieri, aliás, quem citou lindamente a sensível Alguém cantando (Caetano Veloso, 1977) no meio do tiroteio urbano de A vida é bélica (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza, 2013), música em que Jeneci simulou apontar arma para a cabeça no verso-título. Já O melhor da vida (Marcelo Jeneci e Luiz Tatit, 2013) teve passagens instrumentais de aura progressiva - alimentada pelos teclados de Jeneci - enquanto Pense duas vezes antes de esquecer (Marcelo Jeneci, Arnaldo Antunes e Ortinho, 2010) reiterou, com pegada roqueira,  a  influência que o iê iê iê pop romântico da Jovem Guarda exerce na composição da obra do artista. Achado do roteiro essencialmente autoral, a lembrança de Vamos passear de bicicleta? (Hyldon, 1975) - música lançada pelo soulman baiano Hyldon em seu primeiro álbum solo - soa perfeitamente adequada a um show de atmosfera geralmente leve, feliz, solar. Felicidade é só questão de ser.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Segundo irretocável álbum de Marcelo Jeneci, De graça - enfim disponível em edição física a partir deste mês de dezembro, em lançamento do selo Slap distribuído pela gravadora Som Livre - dá sua receita de bem-viver em repertório que concilia leveza pop com densas camadas de sons. O disco é pontuado por arranjos de cordas, em sua maioria orquestradas com maestria pelo pianista Eumir Deodato. Em essência, o cancioneiro do CD De graça prega a valorização das coisas boas e simples da vida como antídoto para o sofrimento causado pelas lutas e perdas cotidianas (o repertório foi composto pelo artista paulista sob o efeito doloroso do fim de seu casamento). No show, que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em apresentação iniciada no Circo Voador já na madrugada de 1º de dezembro de 2013, Jeneci dispensa as cordas em cena, mas, alternando-se entre a sanfona e seu arsenal de teclados, o polivalente cantor e músico consegue reproduzir no palco a atmosfera e os climas do disco. De graça, o show, confirma Jeneci como grande compositor. Das 16 músicas do roteiro da apresentação carioca, quinze têm a assinatura do artista (e as de seus habituais parceiros). Dez são do disco novo e cinco vem do anterior Feito pra acabar (Slap, 2010). Em comum, todas revelam inspiração muito acima da média da produção autoral dos artistas da cena pop contemporânea (nicho em que sonoridades espertas nem sempre compensam a escassez de inspiração melódica). Jeneci domina com perfeição o idioma pop de sua geração. Quando Temporal (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza, 2013) caiu em cena, por exemplo, o ar do Circo Voador ficou deliciosamente leve - efeito que já acontecera em Pra sonhar (Marcelo Jeneci, 2010) e que foi repetido, no bis, com Felicidade (Marcelo Jeneci e Chico César, 2010). Dar-te-ei (Marcelo Jeneci, Helder Lopes, José Miguel Wisnik e Verônica Pessoa, 2010) também se sustentou com essa leveza pop - com direito à mise-en-scène quando Jeneci se deitou na beira do palco e se permitiu ser acarinhado pelo público, traduzindo no gesto o sentido da letra, que valoriza a entrega pessoal em detrimento dos bens materiais. Como cantor, Jeneci está cada vez mais desenvolto, à vontade na arte de interpretar as próprias músicas (embora o show em que ele passeou pelo repertório de Roberto Carlos, apresentado no próprio Circo Voador em julho de 2012, já tenha sinalizado tal desenvoltura). Se o compositor é grande, o cantor já é sempre eficiente, como as abordagens de Alento (Marcelo Jeneci, Isabel Lenza e Arnaldo Antunes, 2013) - música ilustrada com imagens de paisagens naturais - e de Nada a ver (Marcelo Jeneci, 2013) já mostraram de cara no início do show. Tal progresso de Jeneci como intérprete faz com que a presença em cena da vocalista Laura Lavieri - solista de Pra gente se desprender (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza, 2013), belo momento em que todas as camadas da música de Jeneci foram expostas no show - seja um luxo, e não mais uma necessidade na apresentação de canções como Tudo bem, tudo faz (Marcelo Jeneci, Laura Lavieri e Arnaldo Antunes, 2013). É Lavieri, aliás, quem citou lindamente a sensível Alguém cantando (Caetano Veloso, 1977) no meio do tiroteio urbano de A vida é bélica (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza, 2013), música em que Jeneci simulou apontar arma para a cabeça no verso-título. Já O melhor da vida (Marcelo Jeneci e Luiz Tatit, 2013) teve passagens instrumentais de aura progressiva - alimentada pelos teclados de Jeneci - enquanto Pense duas vezes antes de esquecer (Marcelo Jeneci, Arnaldo Antunes e Ortinho, 2010) reiterou, com pegada roqueira, a influência que o iê iê iê pop romântico da Jovem Guarda exerce na composição da obra do artista. Achado do roteiro essencialmente autoral, a lembrança de Vamos passear de bicicleta? (Hyldon, 1975) - música lançada pelo soulman baiano Hyldon em seu primeiro álbum solo - soa perfeitamente adequada a um show de atmosfera geralmente leve, feliz, solar. Felicidade é só questão de ser.

Joseudes Almeida disse...

Jeneci é só questão de ser, aplausos.

Joseudes Almeida disse...

Jeneci é só questão de ser, aplausos.

Unknown disse...

Se tivesse o show 5 dias consecutivos eu iria, tava falando com minha namorada q fico triste de algo tão bom quanto suas músicas muitas vezes não serem conhecidas por muitos e umas músicas porcarias fazerem tanto sucesso. Enfim, jeneci, continue sempre crescendo! Esse show foi fantástico, o do rival pro palco mpb tinha sido ótimo, mas esse foi mágico!