Mauro Ferreira no G1

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domingo, 31 de março de 2013

Maré do duo Dois em Um alterna enchentes e vazantes no álbum 'Agora'

Resenha de CD
Título: Agora
Artista: Dois em Um
Gravadora: Sem indicação
Cotação: * * 1/2

"Repare a maré / Tem horas de enchentes, tem horas vazantes / Assim como a lua tem quarto crescente / Tem nova, tem cheia, tem quarto minguante", relativiza o compositor baiano Ederaldo Gentil (1943 - 2012) em versos de Compadre, samba em que Gentil prega fé e esperança na transformação incessante da vida e do amor. Lançado pelo compositor em seu álbum Pequenino (1976), Compadre ganha a voz de Fernanda Monteiro em sagaz releitura feita pelo Dois em Um, o duo formado pela cantora e violoncelista carioca com o multi-instrumentista baiano Luisão Pereira (sobrinho de Gentil), em seu segundo álbum Agora. Tal como a maré, o poder de sedução do sucessor do CD Dois em Um (2009) também oscila pela irregularidade do repertório e pelo fato de Monteiro ser melhor violoncelista do que cantora. Paira a sensação de que algumas boas músicas do disco - casos da melancólica Um porto (Luisão Pereira e Mateus Borba), composta por Luisão em memória de seu pai, Humberto Pereira, recentemente falecido - cresceriam em vozes mais vocacionadas para o canto. De todo modo, Você tem o que eu preciso (Luisão Pereira e Ronaldo Bastos) joga Agora numa onda boa. A letra de Ronaldo Bastos expõe romantismo feito sob medida para o Dois em Um. Você tem o que eu preciso é o destaque do disco juntamente com a música-título Agora (Luisão Pereira e Mateus Borba), faixa de clima etéreo introduzida pelo violoncelo virtuoso de Monteiro, e com Eu aqui (Luisão Pereira e Mateus Borba), tema de bela arquitetura pop. São músicas que se impõem pelo conjunto harmônico de melodia, letra e sonoridade dos arranjos (geralmente criativos). Melodicamente menos inspirada, Saturno (Luisão Pereira) põe em órbita, em tom pop indie, a guitarra de Gustavo Ruiz e a voz vigorosa de Tulipa Ruiz, convidados da faixa. A guitarra (no caso, tocada pelo próprio Luisão Pereira) também leva Uma valsa (Luisão Pereira e Nana) para o universo do pop rock indie. Incrementada com sopros orquestrados pelo maestro Letieres Leite, Matinê (Luisão Pereira, Nana, Fernanda Monteiro e João Vinicius) evoca a cadência das antigas marchas-ranchos. Já Festim (Luisão Pereira) é samba torto em que o violão de Luisão Pereira - baiano de Juazeiro, terra natal de João Gilberto - reverbera a influência da Bossa Nova. O tema ostenta vocais de Rebeca Matta. Mar nos olhos (Luisão Pereira e Mateus Borga) - uma das várias músicas do disco que falam em ondas - faz emergir a recorrente sensação de que, por vezes, a sonoridade pouco usual do duo é mais interessante do que seu repertório autoral. A climática Às vezes (Tatau Pereira e Expedito Almeida) também corrobora a impressão de que Agora perde fôlego em sua segunda metade (em que pese a boa lembrança de Compadre). Enfim, a maré do Dois em Um em Agora ora vaza, ora fica cheia ao longo das 11 músicas do CD. Mas em essência a onda é boa.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Repare a maré / Tem horas de enchentes, tem horas vazantes / Assim como a lua tem quarto crescente / Tem nova, tem cheia, tem quarto minguante", relativiza o compositor baiano Ederaldo Gentil (1943 - 2012) em versos de Compadre, samba em que Gentil prega fé e esperança na transformação incessante da vida e do amor. Lançado pelo compositor em seu álbum Pequenino (1976), Compadre ganha a voz de Fernanda Monteiro em sagaz releitura feita pelo Dois em Um, o duo formado pela cantora e violoncelista carioca com o multi-instrumentista baiano Luisão Pereira (sobrinho de Gentil), em seu segundo álbum Agora. Tal como a maré, o poder de sedução do sucessor do CD Dois em Um (2009) também oscila pela irregularidade do repertório e pelo fato de Monteiro ser melhor violoncelista do que cantora. Paira a sensação de que algumas boas músicas do disco - casos da melancólica Um porto (Luisão Pereira e Mateus Borba), composta por Luisão em memória de seu pai, Humberto Pereira, recentemente falecido - cresceriam em vozes mais vocacionadas para o canto. De todo modo, Você tem o que eu preciso (Luisão Pereira e Ronaldo Bastos) joga Agora numa onda boa. A letra de Ronaldo Bastos expõe romantismo feito sob medida para o Dois em Um. Você tem o que eu preciso é o destaque do disco juntamente com a música-título Agora (Luisão Pereira e Mateus Borba), faixa de clima etéreo introduzida pelo violoncelo virtuoso de Monteiro, e com Eu aqui (Luisão Pereira e Mateus Borba), tema de bela arquitetura pop. São músicas que se impõem pelo conjunto harmônico de melodia, letra e sonoridade dos arranjos (geralmente criativos). Melodicamente menos inspirada, Saturno (Luisão Pereira) põe em órbita, em tom pop indie, a guitarra de Gustavo Ruiz e a voz vigorosa de Tulipa Ruiz, convidados da faixa. A guitarra (no caso, tocada pelo próprio Luisão Pereira) também leva Uma valsa (Luisão Pereira e Nana) para o universo do pop rock indie. Incrementada com sopros orquestrados pelo maestro Letieres Leite, Matinê (Luisão Pereira, Nana, Fernanda Monteiro e João Vinicius) evoca a cadência das antigas marchas-ranchos. Já Festim (Luisão Pereira) é samba torto em que o violão de Luisão Pereira - baiano de Juazeiro, terra natal de João Gilberto - reverbera a influência da Bossa Nova. O tema ostenta vocais de Rebeca Matta. Mar nos olhos (Luisão Pereira e Mateus Borga) - uma das várias músicas do disco que falam em ondas - faz emergir a recorrente sensação de que, por vezes, a sonoridade pouco usual do duo é mais interessante do que seu repertório autoral. A climática Às vezes (Tatau Pereira e Expedito Almeida) também corrobora a impressão de que Agora perde fôlego em sua segunda metade (em que pese a boa lembrança de Compadre). Enfim, a maré do Dois em Um em Agora ora vaza, ora fica cheia ao longo das 11 músicas do CD. Mas em essência a onda é boa.

lurian disse...

Gostei muito da vibe intimista do disco, nos conduz a universos bem particulares. Um bom disco é assi, vc ouve e cria te remete a histórias... sensações. O clima é indie e penso que nesse universo ter uma voz muito poderosa (embora a voz dela seja muito agradável) nem sempre é o essencial, mas muito mais uma postura, e isso a dupla tem de sobra. As 'maritmas' são todas muito boas, e Você tem o que eu preciso traz o auxilio luxuoso do Ronaldo Bastos. Gostei muito, espero que seja posto à venda logo.

Luca disse...

Ter voz é essencial, Lurian, por que é que será que as pessoas vão ao show da Tulipa?

lurian disse...

Luca, particularmente não consigo ouvir Tulipa Ruiz. Não gosto da voz dela. Mas vem cá, quem dessa nova geração tem voz, me conta? Pq eu ouço muita atitude nas novatas, mas divisão, afinação, ritmo, e um belo timbre vejo poucos...

lurian disse...

Ah, lembrei de uma boa cantora/intérprete: Verônica Ferriani, agora pergunto eu: quem vai ao show dela? meia dúzia de pessoas, porque diferente de outras, ela não está apadrinhada...

Anônimo disse...

Não conheço o som.
Mas a foto é muito Agridoce.
Sim, eu sei, o duo em questão veio antes.
Não raras vezes o copiado se passa por cópia para os mais incautos.
Momento Tostines:
Agridoce vende mais porque é mais famosinho ou é mais famosinho porque vende mais?

PS: Quem diz que voz é essencial nunca deve ter sequer ouvido falar no joelhinho de Nara Leão, quanto mais no seu fio de voz.
O que é essencial é ter autencidade.
Voz, qualquer idiota ganhador do The Voice tem.