Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 15 de setembro de 2012

Sem tirar onda por ser Caymmi, Alice debuta bem em CD, em praia particular

Resenha de CD
Título: Alice Caymmi
Artista: Alice Caymmi
Gravadora: Kuarup / Sony Music
Cotação: * * * *

 Em seu primeiro disco, Alice Caymmi fala eventualmente de mar nos versos de suas músicas, mas sem tirar onda por representar a terceira geração da Família Caymmi. Ao contrário: o CD produzido por Flávio Mendes - sob a direção artística da própria Alice - situa a cantora e compositora carioca em praia particular. Por mais que haja releitura de Sargaço mar (Dorival Caymmi, 1985), feita com personalidade e efeitos eletrônicos, Alice se revela artista dona de identidade própria. Músicas sedutoras como Revés (Alice Caymmi), Mater continua (Alice Caymmi), Água marinha (Alice Caymmi) - lapidada em ritmo que evoca um galope - e a ciranda Arco da aliança (Alice Caymmi e Paulo César Pinheiro) apresentam compositora promissora e inspirada, imersa no rico universo da música brasileira. Sim, o d.n.a. nobre é perceptível na voz grave e encorpada - que lembra o parentesco com a tia Nana Caymmi - e na temática das letras. Sangue, água e sal (Alice Caymmi e Paulo César Pinheiro) versa sobre o mar e Yemanjá com devoção quase épica. A aura trágica que envolve os quatro versos de Rompante (Alice Caymmi) faz ressoar o lamento das mulheres de pescadores que entregam seus homens para o mar bravo. Vento forte (Alice Caymmi) é a mais fraca da safra autoral da jovem artista e, mesmo assim, reitera a singularidade do cancioneiro de Alice. Corajosa a ponto de escrever espécie de a b c da axé music em Tudo que for leve (Alice Caymmi), faixa (leve) que destoa do tom incisivo do repertório da compositora, a autora debutante se permite encerrar o álbum Alice Caymmi com abordagem de tema de Björk, Unravel (Björk e Guy Sigsworth), fecho que sedimenta a impressão de que Alice segue onda própria. Por isso mesmo, o CD ora lançado pela reativada gravadora Kuarup - com distribuição da Sony Music - merecia ter sido editado com mais capricho. O crédito errado de Sargaço mar - tema de Dorival Caymmi atribuído no encarte a Alice - e a troca da ordem das faixas Rompante e Sangue, água e sal (tocadas no disco em ordem inversa à disposição das músicas no encarte) indicam desleixo incompatível com o talento da artista. Alice Caymmi honra o sobrenome.

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em seu primeiro disco, Alice Caymmi fala eventualmente de mar nos versos de suas músicas, mas sem tirar onda por representar a terceira geração da Família Caymmi. Ao contrário: o CD produzido por Flávio Mendes - sob a direção artística da própria Alice - situa a cantora e compositora carioca em sua praia particular. Por mais que haja releitura de Sargaço Mar (Dorival Caymmi, 1985), feita com personalidade e efeitos eletrônicos, Alice se revela artista dona de identidade própria. Músicas sedutoras como Revés (Alice Caymmi), Mater Continua (Alice Caymmi), Água Marinha (Alice Caymmi) - lapidada em ritmo que evoca um galope - e a ciranda Arco da Aliança (Alice Caymmi e Paulo César Pinheiro) apresentam compositora promissora e inspirada, imersa no rico universo da música brasileira. Sim, o d.n.a. nobre é perceptível na voz grave e encorpada - que lembra o parentesco com a tia Nana Caymmi - e na temática das letras. Sangue, Água e Sal (Alice Caymmi e Paulo César Pinheiro) versa sobre o mar e Yemanjá com devoção quase épica. A aura trágica que envolve os quatro versos de Rompante (Alice Caymmi) faz ressoar o lamento das mulheres de pescadores que entregam seus homens para o mar bravo. Vento Forte (Alice Caymmi) é a mais fraca da safra autoral da jovem artista e, mesmo assim, reitera a singularidade do cancioneiro de Alice. Corajosa a ponto de escrever espécie de a b c da axé music em Tudo Que For Leve (Alice Caymmi), faixa que destoa do tom incisivo do repertório da compositora, a autora debutante se permite encerrar o álbum Alice Caymmi com abordagem de tema de Björk, Unravel (Björk e Guy Sigsworth), fecho que sedimenta a impressão de que Alice Caymmi segue sua própria onda. Por isso mesmo, o CD ora lançado pela reativada gravadora Kuarup - com distribuição da Sony Music - merecia ter sido editado com mais capricho. O crédito errado de Sargaço Mar - tema de Dorival Caymmi atribuído no encarte a Alice - e a troca da ordem das faixas Rompante e Sangue, Água e Sal (tocadas no disco em ordem inversa à disposição das músicas no encarte) sinalizam desleixo incompatível com o talento da artista. Alice Caymmi faz jus ao sobrenome.

aguiar_luc disse...

Amei o CD!!! Ela tem uma voz super agradável e Arco da Aliança é uma belezura de música!!! Quero ver o Mar, vou dar um pulinho lá em Itamaracá!! Salve Lia!

Helena disse...

amei o cd!!! surpreendente, instigante, uma voz capaz de suspender nossa respiração, arranjos exóticos, uma grande-boa-surpresa.

Vladimir disse...

Mas que esta capa esta feia, ah isto está!!

lurian disse...

Gostei do disco, não faz pose, não é pseudo-indie, é sincero e dinâmico, com boas letras e temas, é o q eu estou ouvindo agora.

Rafael M. disse...

O disco é bom, mas não sei porque esperava mais dele... Já o ouvi o disco inteiro há mais de 1 mês atrás, porém acho que esse álbum gerou muitas expectativas desde que o pessoal (inclusive eu) viu Alice cantar pela primeira vez no Som Brasil em 2010 e esperava um trabalho diferenciado em termos de música quando ela lançasse seu primeiro disco... Eu esperava o primeiro disco dela desde aquela época e agora que elçe foi lançado me deu uma sensação estranha de parecia que faltava algo... Ma irei ouvir atentamente mais uma vez para ter mais impressões sobre o mesmo.

Jorge Reis disse...

Mal quando não há oportunismo.
Gostei do CD.
Identidade e Postura na MPB são sempre bem vindos...

maria jose disse...

Quantos artistas maravilhosos não existem no Brasil e nunca terão a oportunidade de gravar um CD, ainda mais distribuído logo de cara pela Sony? Milhões! Só de ter o sobrenome Caymmi já faz as pessoas a ouvirem com simpatia. Se fosse uma Alice da Silva queria ver o Mauro se dar ao trabalho de escrever aqui sobre ela. A voz é chata, ela toca mal. Mas ninguém tem coragem de dizer que não gosta de um Caymmi, pois não quer parecer inculto. Daqui a pouco, se sobreviver, estará mandando a plateia parar de bater palma, como a tia Nana já faz, pois desde novinha tendo o ego inflado assim não dará boa coisa! Brasil, mostra a sua cara!