Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

'Naturalmente Acústico' documenta a irregularidade da obra de Margareth

Resenha de CD e DVD
Título: Naturalmente Acústico
Artista: Margareth Menezes
Gravadora: MZA Music
Cotação: * * *

Naturalmente Acústico - 13º título da discografia de Margareth Menezes - documenta a irregularidade que pauta a obra da calorosa cantora, uma das melhores intépretes do universo da música afro-pop-baiana rotulada como axé music. Através de cenas de bastidores, clipes fimados em cenários naturais da Bahia e takes captados no estúdio Ilha dos Sapos, em Salvador (BA), o DVD esboça retrato pálido da artista que canta profissionalmente desde 1987, ano em que lançou single com Faraó - Divindade do Egito, samba-reggae de Luciano Gomes, desde então obrigatório nos shows da intérprete. Por mais que conte com a aura mítica que cerca locações baianas como o Candeal e a Praia da Ribeira, Naturalmente Acústico resulta e soa extremamente redundante quando rebobina músicas do álbum que o inspirou, Naturalmente (2008), trabalho de sotaque pop em que a artista procurou se dissociar (momentaneamente) do universo da axé music. O teor de novidade reside nas músicas inéditas na voz quente de Maga. Mesmo assim, a irregularidade do repertório reforça a impressão de que a artista não conduziu sua discografia com o devido rigor estilístico.  Entre os destaques, presentes tanto no DVD quanto no CD, figuram o harmonioso dueto com Roberto Mendes em A Beira e o Mar - tema que evoca o balanço do Recôncavo Baiano e que deu título ao álbum lançado por Maria Bethânia em 1984 - e o medley explosivo que junta FM Rebeldia (Alceu Valença) com Qual É? (Marcelo D2 e David Corcos). Já o dueto com Carlinhos Brown em Amor Ainda - balada pop romântica assinada por Brown em parceria com a própria Margareth - não empolga pela pegada trivial da canção. Como compositora, Maga se sai (um pouco) melhor em Quero te Abraçar, samba-reggae diluído em solução pop. Contudo, a faixa com mais jeito de hit carnavalesco é Saudação a Caboclo (Selei meu Cavalo Selei), tema de Gilson Quirino e Cacau Araújo cuja batida afro-brasileira remete a Dandalunda e outros sucessos da cantora na folia baiana. Fora do circuito dos trios, Margareth revive O Quereres - sem evidenciar as sutilezas da letra de Caetano Veloso, mas com pegada roqueira que fica heavy no fim - e Gracias a la Vida. No registro do tema da compositora chilena Violeta Parra (1917 - 1967), propagado na voz politizada da cantora argentina Mercedes Sosa (1935 - 2009), a cantora é acompanhada ao violão por Saul Barbosa (1953 - 2010). Trata-se de uma das últimas gravações do compositor baiano, morto em 15 de setembro. Com seu violão, Saul pôs delicioso molho de salsa em Gracias a la Vida que dá frescor à música, ainda que o forte significado da letra se dilua diante da vivaz moldura rítmica que envolve o tema.  Voa (Abala Tudo) - reggae bem pop de autoria de Duller, Luciano Luila, Faísca e Fumaça que parece vocacionado para as paradas - e Côco do M (Jacinto Silva e Zé do Brejo) completam o cardápio de novidades na voz da artista sem desfazer a impressão de que Naturalmente Acústico não faz jus ao canto forte de Maga.

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Naturalmente Acústico - 13º título da discografia de Margareth Menezes - documenta a irregularidade que pauta a obra da calorosa cantora, uma das melhores intépretes do universo da música afro-pop-baiana rotulada como axé music. Através de cenas de bastidores, clipes fimados em cenários naturais da Bahia e takes captados no estúdio Ilha dos Sapos, em Salvador (BA), o DVD esboça retrato pálido da artista que canta profissionalmente desde 1987, ano em que lançou single com Faraó - Divindade do Egito, samba-reggae de Luciano Gomes, desde então obrigatório nos shows da intérprete. Por mais que conte com a aura mítica que cerca locações baianas como o Candeal e a Praia da Ribeira, Naturalmente Acústico resulta e soa extremamente redundante quando rebobina músicas do álbum que o inspirou, Naturalmente (2008). O teor de novidade reside nas músicas inéditas na voz quente de Maga. Mesmo assim, a irregularidade do repertório reforça a impressão de que Margareth Menezes não conduziu sua discografia com o devido rigor estilístico. Entre os destaques, presentes tanto no DVD quanto no CD, figuram o harmonioso dueto com Roberto Mendes em A Beira e o Mar - tema que evoca o balanço do Recôncavo Baiano e que deu título ao álbum lançado por Maria Bethânia em 1974 - e o medley explosivo que junta FM Rebeldia (Alceu Valença) com Qual É? (Marcelo D2 e David Corcos). Já o dueto com Carlinhos Brown em Amor Ainda - balada pop romântica assinada por Brown em parceria com a própria Margareth - não empolga pela pegada trivial da canção. Como compositora, Maga se sai (um pouco) melhor em Quero te Abraçar, samba-reggae diluído em solução pop. Contudo, a faixa com mais jeito de hit carnavalesco é Saudação a Caboclo (Selei meu Cavalo Selei), tema de Gilson Quirino e Cacau Araújo cuja batida afro-brasileira remete a Dandalunda e outros sucessos da cantora na folia baiana. Fora do circuito dos trios, Margareth revive O Quereres - sem evidenciar as sutilezas da letra de Caetano Veloso, mas com pegada roqueira que fica heavy no fim - e Gracias a la Vida. No registro do tema da compositora chilena Violeta Parra (1917 - 1967), propagado na voz politizada da cantora argentina Mercedes Sosa (1935 - 2009), a cantora é acompanhada ao violão por Saul Barbosa (1953 - 2010). Trata-se de uma das últimas gravações do compositor baiano, morto em 15 de setembro. Com seu violão, Saul pôs delicioso molho de salsa em Gracias a la Vida que dá frescor à música, ainda que o forte significado da letra se dilua diante da vivaz moldura rítmica que envolve o tema. Voa (Abala Tudo) - reggae bem pop de autoria de Duller, Luciano Luila, Faísca e Fumaça que parece vocacionado para as paradas - e Côco do M (Jacinto Silva e Zé do Brejo) completam o cardápio de novidades na voz da artista sem desfazer a impressão de que Naturalmente Acústico não faz jus ao canto forte de Maga.

TONINHO SPESSOTO disse...

Mauro,
Parabéns pelo quarto aniversário e pelo novo visual do blog.

Grande Abraço!

Toninho Spessoto

Mauro Ferreira disse...

Grato, Toninho. Abs, MauroF

Chico da Portela disse...

Parabéns pelo Blog. Descobri pouco tempo atrás esse espaço, por intermédio do Marcelo Barbosa do DF, e agora sou leitor assíduo. Não falarei da Margareth, pois não gosto do seu estilo musical. Fica difícil dessa forma qualquer tipo de análise... Agora, quando o assunto for samba, postarei indubitavelmente! Abraço

Flávio disse...

Mauro, A Beira e o Mar deu título ao álbum lançado por Maria Bethânia em 1984 e não 74. Se quiser, não precisa postar esse comentário.

Abraços,
Flávio

Carlos Almeida disse...

Prabéns pelo novo visual, Mauro.
Só uma correção: "A Beira e o Mar", foi gravado em 1984, e não 1974.
Abraço.

Mauro Ferreira disse...

Grato, Flávio e Minhas Raridades Musicais, por me alertarem do erro de digitação, já corrigido. Abs, MauroF

Doug Carvalho disse...

h, mas eu canso de dizer isso e ninguém me leva a sério. Margareth precisa parar de querer ser uma Marisa Monte baiana. Sua voz forte e crua não casa com as popices que a voz refinada de Marisa canta tão bem. Margareth é talhada para africanidades. Vejo em Margareth muito mais Clementinices que Marisices. Pena que ela não saque que sua força vem, definitiva e quase que exclusivamente, da África.

Gill Sampaio Ominirò disse...

O caso Margareth:
Uma cantora extraordinária com uma história não somente na música baiana, mas principalmente na música de resistência baiana. Aliada às canções do Ilê e também do Olodum sempre presentes em sua discografia, Maga sempre se mostrou a mais interessante intérprete da Bahia (e aqui não faço comparação com Daniela Mercury, pois aí é outra a questão). Mas a indústria mais que cruel da música baiana sempre extirpou de Margareth as possibilidades de discos autorais, com unidade estética, pois o que sempre foi preciso e importava para os leões do “axé” foi construir um sucesso, por vezes descartável, para depois criar outro que assassinasse o anterior.
Por que Margareth não fez (faz) o mesmo sucesso que Ivete sendo aquela muito mais interessante que essa? A resposta para a questão provavelmente está muito mais num parâmetro antropológico e racial do que artístico. Essa nossa sociedade racista escolhe seus espelhos, o que melhor lhe satisfaz o ego. A beleza (idealizada e européia) e a simpatia de Ivete vencem a história e o talento de Margareth. O mesmo ocorre com o mestre Gilberto Gil que muito melhor músico que seu parceiro Caetano (esse mesmo sempre afirma isso sem pestanejar), sempre viveu à sombra desse para a mídia e para a população do senso comum, restando aos que entendem de música exibir a diferença.
O novo "pálido" trabalho, como diz Mauro, para mim somente confirma a palidez do senso crítico brasileiro. De toda forma, Margareth sempre será a melhor.

Jorge Reis disse...

Ia me esquecendo de parabenizá-lo, ao longo desses quatro anos muito tenho aprendido ao participar das discursssões do BLOG, "vida longa aos notas musicais", que às vezes chego a acessá-lo primeiro, que aos jornais do dia.
Parebens pelasa críticas e momentos de deleites a nós proporcionados...
Desculpe se às vezes sou um tanto ácido, mas, assim como DILMA, prefiro o barulho da crítica politicamente incorreta ao, silencio da censura...
Poder falar o que se acha este é o grande barato da Democracia...
Parabens pelo belo trabalho.

Anônimo disse...

Falar de Margareth Menezes é muito difícil, primeiro porque eu sou super fã dessa grande cantora, e segundo porque eu não encontro palavras certas para caracterizá-la. Faço minhas as palavras de Gill, que disse sobre o preconceito e tudo mais, que até a própria Margareth disse sofrer na Bahia. Ao programa da Márcia Goldsmith, Menezes disse que ela sofre preconceito, mas, que não desiste por que ela tem certeza que tem pessoas que se espelham nela (e está correta, os escritores estadunidenses Danny Palmerlee, Sandra Bao e Charlotte Beech, confirmam isso, quando falam da trajetória de vida de Daniela Mercury, que recebeu grande influência e foi "abençoada" devido à carreira de Margareth Menezes, que, por sua vez, foi a porta-bandeira do gênero musical conhecido como axé).

Não concordo com as críticas pesadas em relação à cantora e ao próprio trabalho, Naturalmente Acústico. Acho que a voz de Margareth, apesar de forte e potente, não se limita apenas à ritmos africanos e orna perfeitamente com baladas e canções pop. Para mim, "Amor Ainda", tem uma linda letra e mostra um lado mais delicado dos intérpretes. No entanto, para mim, escolher a canção como single não foi uma boa opção, sendo que temos "Côco de M" e "Saudação ao Caboclo", que, em minha opinião, conseguiriam algum sucesso comercial. Eu concordo com Mauro, quando ele diz que o trabalho é redundante. Creio que o show realizado na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, daria um excelente trabalho.

Eu gostaria de ver Margareth novamente chegar ao topo da Billboard, como fez com Kindala e Elegibô. Mas, acho que esse desejo ficará mais para frente. Antes do lançamento do álbum na Concha, eu disse à Maga que desejo que o álbum leve ela para o centro do sucesso comercial, pois acho o material muito bom, em comparação ao que eu vejo. Vamos esperar!