Título: Para Gil & Caetano
Artista: Margareth Menezes
Gravadora: Canal Brasil / Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * 1/2
♪ Margareth Menezes é a melhor cantora de música afro-pop-baiana, o gênero rotulado como axé music. Mas nem por isso conseguiu ser dona da melhor discografia do gênero. Nenhum CD ou DVD da artista conseguiu captar toda a força dessa voz que irradia magia e calor. Para Gil e Caetano - CD e DVD ora lançados na coleção Canal Brasil com distribuição da gravadora Coqueiro Verde Records - tampouco transmite todo esse calor, mas é um dos melhores títulos da irregular obra fonográfica de Maga. A captação da imagem - feita em 27 de maio de 2014 em apresentação do show na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), sob a direção de Darcy Burger - resultou em DVD por vezes frio. Contudo, entre perdas e ganhos, o show idealizado pela cantora em 2012 - para celebrar os 70 anos de vida então completados pelos cantores e compositores baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil - ganha registro de maior beleza plástica na comparação com o formato original do show (clique aqui para ler a resenha da estreia carioca de Para Gil e Caetano). Entre os ganhos, há o cenário e as projeções que valorizam as exposições de músicas como Reconvexo (Caetano Veloso, 1989). Há também as participações especiais dos homenageados Gilberto Gil - mais bem aproveitado na abordagem terna de Deixar você (Gilberto Gil, 1992) do que na apropriação indébita de Refazenda (Gilberto Gil, 1975), feita com a adesão desnecessária de Preta Gil - e Caetano Veloso, visto nos extras do DVD em duetos com Margareth em Luz do sol (Caetano Veloso, 1982) e Uns (Caetano Veloso, 1983). Pela própria natureza afro-baiana da cantora, temas como Milagres do povo (Caetano Veloso, 1985), Gema (Caetano Veloso, 1980) e o samba Buda Nagô (Gilberto Gil, 1992) já parecem talhados para a voz de Maga. E ela aproveita bem essas músicas. Mas um dos méritos de Para Gil e Caetano é explorar o potencial da intérprete em outras latitudes musicais. No compasso do blues que pauta Como 2 e 2 (Caetano Veloso, 1971), Margareth mostra que é uma grande cantora fora do terreiro do axé. Talento já evidenciado pela interpretação segura de O quereres (Caetano Veloso, 1984) que abre o DVD com a cantora caminhando lentamente pelo cenário, no fundo do palco, ao alto. Se houve ganhos que vieram realmente somar na conta, como a requisição da cantora baiana Rosa Passos para (re)dividir o samba Eu vim da Bahia (Gilberto Gil, 1965) em dueto com a anfitriã, houve ganhos que parecem subtrair no saldo final. Caso da participação de Preta Gil, cantora sem maturidade para expor toda a expressão e significado de Panis et circensis (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1968), hino tropicalista que revive em dueto com Margareth. Já as entradas de Bem Gil e Moreno Veloso na banda - em números como Clichê do clichê (Gilberto Gil e Vinicius Cantuária, 1985), a música menos sedutora do roteiro - poderiam ter sido mais evidenciadas. Entre as perdas propriamente ditas, há Bahia de todas as contas (Gilberto Gil, 1983), samba menor de Gil que se constituíra uma das gratas surpresas do roteiro original do show por ter sido valorizado pela interpretação da cantora no show criado sob a eletroacústica direção musical da própria Margareth e do violonista Alexandre Leão, que solta a voz opaca em Força estranha (Caetano Veloso, 1978) e em Meu bem, meu mal (Caetano Veloso, 1981). Já presente no roteiro desde a estreia, Eclipse oculto (Caetano Veloso, 1983) tem sua aura pop iluminada pela presença de Saulo Fernandes, convidado do número. Sozinha, na companhia da banda que harmoniza violões e percussões, a cantora esboça clima épico em Um índio (Caetano Veloso, 1976) e tenta criar um ambiente de introspecção que favoreça a densidade sagrada de Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil, 1981). Enfim, no momento em que a Bahia celebra os 30 anos do som já diluído da axé music, Margareth Menezes se aproxima da MPB em registro ao vivo que - entre perdas e ganhos - jamais depõe contra as obras de Caetano e Gil.