Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

'Cavalo' conduz (a)morosamente Amarante por trilhas de poesia e tristeza

Resenha de CD
Título: Cavalo
Artista: Rodrigo Amarante
Gravadora: Slap
Cotação: * * * 1/2

Disponível para compra no iTunes a partir desta segunda-feira, 23 de setembro de 2013, o primeiro disco solo de Rodrigo Amarante, Cavalo, dissipa a alegria pop solar do único CD lançado até então pelo cantor e compositor carioca pós-recesso do grupo Los Hermanos - no caso, como integrante do Little Joy, o trio formado pelo artista com o baterista Fabrizio Moretti (do grupo norte-americano The Strokes) e a tecladista Binki Shapiro. Cinzento, Cavalo conduz (a)morosamente Amarante por trilhas de poesia, tristeza e estranha beleza, ignorando os sinais luminosos do disco Little Joy (2008) e retomando o caminho de Amarante a partir da rota traçada pelo último álbum de estúdio dos Los Hermanos, 4 (2005). "Ilusão / É a veste Que / Faz-te volver / Que me envolve e verte / Afeto e fã", canta Amarante nos versos de poesia quase concreta que sustentam a letárgica Nada em vão, primeira das onze composições inéditas e autorais enfileiradas pelo hermano em disco produzido pelo norte-americano Noah Georgeson com arranjos do próprio Amarante. Globalizado, o repertório harmoniza seis músicas em português, três composições em inglês, uma faixa em francês - Mon nom, inspirada composição que dialoga com os cânones da canção francesa - e um tema bilíngue (I'm ready, composto em inglês, mas com versos em português na estrofe final), sinalizando que Amarante que cruzar a porteira do universo pop com Cavalo. Destaque desse cancioneiro poliglota, a bela Irene cita no verso final ("Irene ri") a Irene (1969) de Caetano Veloso, mas traz no rosto e nos versos embebidos em poesia as marcas tristes do samba-canção, o brasileiríssimo gênero evocado no tom contemporâneo do álbum. "Saudade eu te matei de fome / E tarde eu te enterrei com a mágoa / Se eu hoje eu já não sei teu nome / Teu rosto nunca me deu trégua", rumina Amarante na estrofe inicial da letra. Assim como Fall asleep, Irene está imersa na morosidade que pauta boa parte de Cavalo. Em rota paralela, Hourglass se expande para o lado do pop indie rock enquanto a já conhecida Maná - música que já havia sido gravada por Amarante com The Bottletop Band, coletivo orquestrado por Mario Caldato com músicos brasileiros e ingleses - explicita, no registro solo do artista, bissexta baianidade nagô que evoca tanto o suingue sangue bom do grupo Novos Baianos como a pegada afro de parcela da obra do cantor e pernambucano Otto. Contudo, como reitera a também já conhecida Tardei (faixa envolvente em que sobressai o coro meio zen meio sacro formado por Adam Green, Devenda Banhart, Fabrizio Moretti, Josiah Steinbrick e Kristen Wiig), a tristeza é senhora neste disco que dá a largada na carreira solo de Amarante com as belezas estranhas embutidas em músicas como I'm ribbon e O cometa (dedicada ao poeta Ericson Pires, morto em 2012). Com música-título que inclui versos recitados em japonês, Cavalo é disco de difícil absorção imediata. Doses concentradas e combinadas de poesia e letargia podem anestesiar o ouvinte em busca mais de diversão do que de arte. No entanto, a marcha lenta de Cavalo está no ritmo da trilha seguida por Rodrigo Amarante nos últimos passos dados com seus Hermanos.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Disponível para compra no iTunes a partir desta segunda-feira, 23 de setembro de 2013, o primeiro disco solo de Rodrigo Amarante, Cavalo, dissipa a alegria pop solar do único CD lançado até então pelo cantor e compositor carioca pós-recesso do grupo Los Hermanos - no caso, como integrante do Little Joy, o trio formado pelo artista com o baterista Fabrizio Moretti (do grupo norte-americano The Strokes) e a tecladista Binki Shapiro. Cinzento, Cavalo conduz morosamente Amarante por trilhas de poesia, tristeza e estranha beleza, ignorando os sinais luminosos do disco Little Joy (2008) e retomando o caminho de Amarante a partir da rota traçada pelo último álbum de estúdio dos Los Hermanos, 4 (2005). "Ilusão / É a veste Que / Faz-te volver / Que me envolve e verte / Afeto e fã", canta Amarante nos versos de poesia quase concreta que sustentam a letárgica Nada em vão, primeira das onze composições inéditas e autorais enfileiradas pelo hermano em disco produzido pelo norte-americano Noah Georgeson com arranjos do próprio Amarante. Globalizado, o repertório harmoniza seis músicas em português, três composições em inglês, uma faixa em francês - Mon nom, inspirada composição que dialoga com os cânones da canção francesa - e um tema bilíngue (I'm ready, composto em inglês, mas com versos em português na estrofe final), sinalizando que Amarante que cruzar a porteira do universo pop com Cavalo. Destaque desse cancioneiro poliglota, a bela Irene cita no verso final ("Irene ri") a Irene (1969) de Caetano Veloso, mas traz no rosto e nos versos embebidos em poesia as marcas tristes do samba-canção, o brasileiríssimo gênero evocado no tom contemporâneo do álbum. "Saudade eu te matei de fome / E tarde eu te enterrei com a mágoa / Se eu hoje eu já não sei teu nome / Teu rosto nunca me deu trégua", rumina Amarante na estrofe inicial da letra. Assim como Fall asleep, Irene está imersa na morosidade que pauta boa parte de Cavalo. Em rota paralela, Hourglass se expande para o lado do pop indie rock enquanto a já conhecida Maná - música que já havia sido gravada por Amarante com The Bottletop Band, coletivo orquestrado por Mario Caldato com músicos brasileiros e ingleses - explicita, no registro solo do artista, bissexta baianidade nagô que evoca tanto o suingue sangue bom do grupo Novos Baianos como a pegada afro de parcela da obra do cantor e pernambucano Otto. Contudo, como reitera a também já conhecida Tardei (faixa envolvente em que sobressai o coro meio zen meio sacro formado por Adam Green, Devenda Banhart, Fabrizio Moretti, Josiah Steinbrick e Kristen Wiig), a tristeza é senhora neste disco que dá a largada na carreira solo de Amarante com as belezas estranhas embutidas em músicas como I'm ribbon e O cometa (dedicada ao poeta Ericson Pires, morto em 2012). Com música-título que inclui versos recitados em japonês, Cavalo é disco de difícil absorção imediata. Doses concentradas e combinadas de poesia e letargia podem anestesiar o ouvinte em busca mais de diversão do que de arte. No entanto, a marcha lenta de Cavalo está no ritmo da trilha seguida por Rodrigo Amarante nos últimos passos dados com seus Hermanos.

Mauro Ferreira disse...

Antes que me perguntem, já respondo: sim, a foto que ilustra a resenha é a capa do disco. Abs, MauroF

Anônimo disse...

Interessante, a capa é o encarte.
Não me lembro de já ter visto isso.
Nem gosto, nem desgosto do som do Amarante.
Porém, os discos de difícil absorção(se de fato bons), tendem a ser - a medida que o tempo passa - os melhores.
Ponto para ele.
E esses versos sobre a saudade são bem bons/bonitos!

PS: A risada de Irene é a mais famosa da MPB.

Fábio Passadisco disse...

Mauro.
Essa é a capa?
Vi outra imagem na net; um cavalo correndo no campo.

Mauro Ferreira disse...

Fábio, aquela capa é fake. Foi brincadeira de 1º de abril. Abs, MauroF

Unknown disse...

mais um mainstream pra um público blasé... vamos ver se cola!!

coolk disse...

Eu ouvi o disco algumas vezes. Não me arriscaria a trilhar uma verdade absoluta sobre ele. Acho que, assim como todos os discos bons, a fácil absorção não está anexada. Quando ocorre, é porque trata-se de entretenimento, apenas. Sugiro que comprem e ouçam. Gostei muito.

Unknown disse...

Antigamente alguns vinis tinham a capa com a letra no encarte, meio mal cortada, principalmente compactos, fica muito legal sair do padrão assim.

Unknown disse...

Antigamente lembro de ter visto alguns compactos com a letra na capa, é sempre legal sair um pouco do padrão!!