Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Obra de Rita Lee vira 'balada do louco' em musical valorizado pelo elenco

Resenha de musical
Título: Se eu fosse você - O musical
Texto: Flávio Marinho
Direção e coreografias: Alonso Barros
Músicas: Rita Lee (com parceiros como Arnaldo Baptista e Roberto de Carvalho)
Direção musical: Guto Graça Mello
Supervisão artística: Daniel Filho
Foto: Roberto Schwenck
Elenco: Claudia Netto, Nelson Freitas, Marya Bravo, Fafy Siqueira, Lua Blanco, Bruno
            Sigrist, Oswaldo Mil, Kacau Gomes, Giselle Lima, Nicola Lama, Carla Daniel 
            e Carlos Arruza
Cotação: * *
Musical em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ)

Se eu fosse o você - O musical é espetáculo moldado pela indústria de musicais que vem abastecendo as temporadas teatrais das cidades do Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) para atender demanda de público criada progressivamente ao longo dos anos 2000. No caso do musical Se eu fosse você, a fonte de inspiração são os dois filmes homônimos dirigidos por Daniel Filho com os atores Tony Ramos e Glória Pires no papel do casal que troca de corpos em trama surreal criada para arrancar risos dos espectadores. O musical tenta o encaixe dessa história já existente - com mais ênfase na trama da sequência de 2009 do que na história do filme original de 2006 - com a música da compositora paulista Rita Lee, ícone feminino do rock brasileiro. O resultado é irregular. Em alguns momentos, a obra de Rita vira balada do louco ao ser usada para ilustrar trama com a qual nada tem a ver. A direção musical de Guto Graça Mello acerta ao enfatizar na maioria dos números a pegada pop roqueira da música de Rita sem conseguir evitar o desajuste, evidente quando a sogra maconheira vivida por Fafy Siqueira - atriz que se sustenta em cena mais no registro de comediante do que na voz - canta Saúde (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1981). Ou quando o elenco e coro começam a cantar Nem luxo nem lixo (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1980) na cena da festa dada pelos sogros da filha do casal protagonista - para citar outro exemplo de cena em que o entrosamento entre música e texto (quando existe...) é muito superficial. Contudo, é justo reconhecer que o elenco valoriza e dignifica o espetáculo. Claudia Netto e Nelson Freitas estão excelentes nas peles do casal trocado Helena e Cláudio. E, quando a troca de corpos efetivamente acontece (mote da história que o dramaturgo Flávio Marinho poderia ter antecipado um pouco para evitar o tom arrastado do texto na primeira metade do primeiro ato), Claudia Netto e Nelson Freitas reinam em cena. Suas interpretações - justiça seja feita - em nada ficam a dever às atuações de Glória e Tony Ramos nos filmes. Cantora de belos dotes vocais, Claudia Netto dá conta de cantar com desenvoltura as músicas de Rita, brilhando em especial na Balada do louco (Rita Lee e Arnaldo Baptista, 1972), mesmo que tal composição soe fora de contexto no musical. Por falar em loucuras, há algumas ousadias estilísticas na abordagem do cancioneiro de Rita. O rock Luz del fuego (Rita Lee, 1975) começa em tom roqueiro, mas cai para o forró ao fim do número. Já Amor e sexo (Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor, 2003) é ambientada no clima quente de um tango. Tem seu charme, mas Rita Lee funciona melhor com esse tal de roque en row. O arranjo roqueiro de Todas as mulheres do mundo (Rita Lee, 1993) dá peso, no segundo ato, a um dos melhores e mais vibrantes números musicais do espetáculo. Como o elenco reúne atrizes / cantoras de vozes potentes, como Kacau Gomes e Marya Bravo, a falta de sintonia entre música e texto até passa por vezes para segundo plano. Kacau, por exemplo, dá à canção Mutante (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1981) densidade inédita no único iluminado momento em que o cancioneiro de Rita ganha algo com essa apropriação forçada da produção de Se eu fosse você - O musical. De todo modo, ao fim dos dois atos, o que fica é a constatação do caráter monumental da obra de Rita Lee Jones, Ovelha Negra que ergueu obra de cores vivas, carnavalesca, espirituosa, irreverente, crítica, rebelde. Mas não tão elástica a ponto de ser associada à história com a qual nada tem a ver...

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Se eu fosse o você - O musical é espetáculo moldado pela indústria de musicais que vem abastecendo as temporadas teatrais das cidades do Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) para atender demanda de público criada progressivamente ao longo dos anos 2000. No caso do musical Se eu fosse você, a fonte de inspiração são os dois filmes homônimos dirigidos por Daniel Filho com os atores Tony Ramos e Glória Pires no papel do casal que troca de corpos em trama surreal criada para arrancar risos dos espectadores. O musical tenta o encaixe dessa história já existente - com mais ênfase na trama da sequência de 2009 do que na história do filme original de 2006 - com a música da compositora paulista Rita Lee, ícone feminino do rock brasileiro. O resultado é irregular. Em alguns momentos, a obra de Rita vira balada do louco ao ser usada para ilustrar trama com a qual nada tem a ver. A direção musical de Guto Graça Mello acerta ao enfatizar na maioria dos números a pegada pop roqueira da música de Rita sem conseguir evitar o desajuste, evidente quando a sogra maconheira vivida por Fafy Siqueira - atriz que se sustenta em cena mais no registro de comediante do que na voz - canta Saúde (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1981). Ou quando o elenco e coro começam a cantar Nem luxo nem lixo (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1980) na cena da festa dada pelos sogros da filha do casal protagonista - para citar outro exemplo de cena em que o entrosamento entre música e texto (quando existe...) é muito superficial. Contudo, é justo reconhecer que o elenco valoriza e dignifica o espetáculo. Claudia Netto e Nelson Freitas estão excelentes nas peles do casal trocado Helena e Cláudio. E, quando a troca de corpos efetivamente acontece (mote da história que o dramaturgo Flávio Marinho poderia ter antecipado um pouco para evitar o tom arrastado do texto na primeira metade do primeiro ato), Claudia Netto e Nelson Freitas reinam em cena. Suas interpretações - justiça seja feita - em nada ficam a dever às atuações de Glória e Tony Ramos nos filmes. Cantora de belos dotes vocais, Claudia Netto dá conta de cantar com desenvoltura as músicas de Rita, brilhando em especial na Balada do louco (Rita Lee e Arnaldo Baptista, 1972), mesmo que tal composição soe fora de contexto no musical. Por falar em loucuras, há algumas ousadias estilísticas na abordagem do cancioneiro de Rita. O rock Luz del fuego (Rita Lee, 1975) começa em tom roqueiro, mas cai para o forró ao fim do número. Já Amor e sexo (Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor, 2003) é ambientada no clima quente de um tango. Tem seu charme, mas Rita Lee funciona melhor com esse tal de roque en row. O arranjo roqueiro de Todas as mulheres do mundo (Rita Lee, 1993) dá peso, no segundo ato, a um dos melhores e mais vibrantes números musicais do espetáculo. Como o elenco reúne atrizes / cantoras de vozes potentes, como Kacau Gomes e Marya Bravo, a falta de sintonia entre música e texto até passa por vezes para segundo plano. Kacau, por exemplo, dá à canção Mutante (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1981) densidade inédita no único iluminado momento em que o cancioneiro de Rita ganha algo com essa apropriação forçada da produção de Se eu fosse você - O musical. De todo modo, ao fim dos dois atos, o que fica é a constatação do caráter monumental da obra de Rita Lee Jones, Ovelha Negra que ergueu obra de cores vivas, carnavalesca, espirituosa, irreverente, crítica, rebelde. Mas não tão elástica a ponto de ser associada à história com a qual nada tem a ver...

Eduardo disse...

Oi, Mauro, será que vc vem a SP assistir ao espetáculo "Rita Lee Mora Ao Lado"? Abraços!