Mauro Ferreira no G1

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domingo, 26 de julho de 2015

Baleiro repisa trilha que deu em 'Chão de giz', DVD em que canta Zé Ramalho

Cronista hábil, Zeca Baleiro escreveu um texto em que repisa as trilhas que o levaram em 2013 a abordar o cancioneiro do compositor paraibano Zé Ramalho em show (leia resenha) que, gravado ao vivo, gerou o CD e DVD Chão de giz - Zeca Baleiro canta Zé Ramalho. Eis o texto escrito pelo multimídia artista maranhense para apresentar o produto recém-lançado pela gravadora Som Livre:

Espalho coisas sobre um chão de giz
ou... De Zeca, para Zé


por Zeca Baleiro

"Em julho de 2013, recebi o convite para cantar a música de Zé Ramalho na segunda edição do projeto BB Covers. Fiquei feliz e honrado com o convite. Fui (e sou) fã ardoroso da música do Zé, assim como de toda a geração Nordeste 70, ou como queiram chamar a turma que sacudiu a música brasileira naquela década, egressa de Pernambuco, Paraíba e Ceará. Mas também fiquei preocupado com a associação, tenho que confessar. Já tinha partilhado CD e DVD com Fagner, outro nome essencial da mesma cena, anos atrás. À época do lançamento do meu primeiro disco, parte da imprensa havia traçado paralelos reducionistas entre a minha geração e aquela. E eu anunciado como “o novo Zé Ramalho” por alguns. Ora, nenhum artista que preze a própria persona artística deseja ser chamado de “o novo alguém”, seja esse alguém Zé Ramalho, Bob Dylan ou Tom Jobim. Óbvio que havia (e há) muitos pontos de contato entre as duas gerações, assim como entre a minha música e a do bardo paraibano, sobretudo, neste caso, o amor ao cordel e à musica folk. Mas a comparação advinha principalmente, desconfio eu, da semelhança, digamos, conceitual, que havia entre Heavy metal do senhor, música que abria o meu primeiro disco, e A peleja do diabo com o dono do céu, canção-título do segundo disco do Zé.

Portanto, era natural que eu pensasse duas vezes antes de aceitar o convite. A própria Monique Gardenberg, uma das curadoras do projeto - que viria a dirigir o DVD com pegada tão sombria quanto poética - hesitou depois de me lançar a oferta. Em longas conversas por telefone, divagamos sobre outros artistas cujas obras eu teria gosto de cortejar. Martinho da Vila, Sergio Sampaio, Luiz Melodia, Tom Zé e Jackson do Pandeiro foram alguns nomes que surgiram como possibilidade. Mas o germe do desafio já estava plantado em minha alma. Passei dias ouvindo e reouvindo a música ramalheana, redescobrindo velhas belezas, conhecendo outras que haviam me escapado. Passei a considerar a ideia novamente - 'Que belo tributo esse show poderia render!', pensava eu com meus bótons.

A audição dos seus primeiros discos me remeteu ao tempo em que eu começava a tocar um instrumento, e todo aquele repertório se reacendeu na minha memória como a chama de um fósforo: Chão de giz, Vila do sossego, Taxi boy, A terceira lâmina e tantas outras canções, algumas das quais ficariam de fora do repertório por critérios extramusicais, como Adeus segunda-feira cinzenta, Meninas de Albarã, Canção agalopada e Galope rasante, todas da lista das minhas prediletas. Num trabalho que pretendia ser tributo à obra de um compositor, eu tinha que pesar gosto pessoal com outros fatores, como a importância histórica e o alcance popular das canções, bem como o perigo da redundância. Não posso dizer que tenha sido fácil o processo, mas me rendeu muitas horas de prazer e deleite. Até o fim, ouvi novas obras-primas e redescobri pérolas esquecidas em lados B de velhos vinis. Foi assim que cheguei a esse repertório, que considero uma mostra generosa da música de Zé Ramalho, um artista / poeta inquietante e essencial."

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Cronista hábil, Zeca Baleiro escreveu um texto em que repisa as trilhas que o levaram em 2013 a abordar o cancioneiro do compositor paraibano Zé Ramalho em show (leia resenha) que, gravado ao vivo, gerou o CD e DVD Chão de giz - Zeca Baleiro canta Zé Ramalho. Eis o texto escrito pelo multimídia artista maranhense para apresentar o produto recém-lançado pela gravadora Som Livre:

Espalho coisas sobre um chão de giz
ou... De Zeca, para Zé

por Zeca Baleiro

"Em julho de 2013, recebi o convite para cantar a música de Zé Ramalho na segunda edição do projeto BB Covers. Fiquei feliz e honrado com o convite. Fui (e sou) fã ardoroso da música do Zé, assim como de toda a geração Nordeste 70, ou como queiram chamar a turma que sacudiu a música brasileira naquela década, egressa de Pernambuco, Paraíba e Ceará. Mas também fiquei preocupado com a associação, tenho que confessar. Já tinha partilhado CD e DVD com Fagner, outro nome essencial da mesma cena, anos atrás. À época do lançamento do meu primeiro disco, parte da imprensa havia traçado paralelos reducionistas entre a minha geração e aquela. E eu anunciado como “o novo Zé Ramalho” por alguns. Ora, nenhum artista que preze a própria persona artística deseja ser chamado de “o novo alguém”, seja esse alguém Zé Ramalho, Bob Dylan ou Tom Jobim. Óbvio que havia (e há) muitos pontos de contato entre as duas gerações, assim como entre a minha música e a do bardo paraibano, sobretudo, neste caso, o amor ao cordel e à musica folk. Mas a comparação advinha principalmente, desconfio eu, da semelhança, digamos, conceitual, que havia entre Heavy metal do senhor, música que abria o meu primeiro disco, e A peleja do diabo com o dono do céu, canção-título do segundo disco do Zé.

Portanto, era natural que eu pensasse duas vezes antes de aceitar o convite. A própria Monique Gardenberg, uma das curadoras do projeto - que viria a dirigir o DVD com pegada tão sombria quanto poética - hesitou depois de me lançar a oferta. Em longas conversas por telefone, divagamos sobre outros artistas cujas obras eu teria gosto de cortejar. Martinho da Vila, Sergio Sampaio, Luiz Melodia, Tom Zé e Jackson do Pandeiro foram alguns nomes que surgiram como possibilidade. Mas o germe do desafio já estava plantado em minha alma. Passei dias ouvindo e reouvindo a música ramalheana, redescobrindo velhas belezas, conhecendo outras que haviam me escapado. Passei a considerar a ideia novamente - 'Que belo tributo esse show poderia render!', pensava eu com meus bótons.

A audição dos seus primeiros discos me remeteu ao tempo em que eu começava a tocar um instrumento, e todo aquele repertório se reacendeu na minha memória como a chama de um fósforo: Chão de giz, Vila do sossego, Taxi boy, A terceira lâmina e tantas outras canções, algumas das quais ficariam de fora do repertório por critérios extramusicais, como Adeus segunda-feira cinzenta, Meninas de Albarã, Canção agalopada e Galope rasante, todas da lista das minhas prediletas. Num trabalho que pretendia ser tributo à obra de um compositor, eu tinha que pesar gosto pessoal com outros fatores, como a importância histórica e o alcance popular das canções, bem como o perigo da redundância. Não posso dizer que tenha sido fácil o processo, mas me rendeu muitas horas de prazer e deleite. Até o fim, ouvi novas obras-primas e redescobri pérolas esquecidas em lados B de velhos vinis. Foi assim que cheguei a esse repertório, que considero uma mostra generosa da música de Zé Ramalho, um artista / poeta inquietante e essencial."

BIGODE disse...

Eu gostei do cd, mas que é um baita desperdicio é, o Zeca é um dos maiores compositores de mpb atualmente, pelo menos na minha opinião, ele poderia estar lançando algo inédito no lugar desse cd e dvd, mas o repertorio e a interpretação são excelentes não dá prá questionar....mas volte pras composições próprias logo Zeca

Rafael disse...

Eu adorei o disco, achei um belo álbum de tributo ao Zé. Muito melhor do que álbuns inéditos de certos cantores por aí da cena atual...

lurian disse...

O Zé ramalho, Elomar e outros tantos daquela cena musical foram uma geração de inesgotável valor para nossa música. Ainda que só se valorizem uns e outros nesse país!

Unknown disse...

Belo texto do Baleiro e se tratando em cantar a obra de outros é uma coisa simples de se entender ele é fã como nós e concordo que é um dos músicos mais talentosos e inquietantes que temos atualmente junto a Lenine Criolo Carlinhos Brown entre outros

Marcelo disse...

Mesmo um compositor bom como o Baleiro tem a sua veia de intérprete. Muita bem vindo esse trabalho, assim como outros que ele queira fazer cantando coisas de outros compositores. Isso sim é artista!!!

Henrique disse...

Acho sempre válido ver compositores como Baleiro - e por exemplo, Adriana no show sobre Lupicinio - tendo seus momentos de intérpretes.

Luca disse...

acho válido também mas Baleiro lança muito disco, muito dvd, tem que dar um tempo

Bernardo Barroso Neto disse...

Sensacional esse dvd! Zé Ramalho merece todas as homenagens e o Zeca Baleiro deu um show.

gustavo basso disse...

Faz tempo que o Seca não apresenta um bom album. Quem sabe essa pausa nas composições faça bem.