Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Show do ZR Trio desenvolve refinada musicalidade do CD que o inspirou

Resenha de show
Título: O vento na madrugada soprou
Artista: ZR Trio (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Solar de Botafogo (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 5 de abril de 2014
Cotação: * * * *

À primeira vista, o show do ZR Trio parece apresentação de Zé Renato. Além de cantar todas as 20 músicas do roteiro de O vento na madrugada soprou, show que estreou no Rio de Janeiro (RJ) em 4 e 5 de abril de 2014, o cantor e compositor está no centro do palco do teatro Solar de Botafogo. Contudo, as sutilezas dos arranjos deixam perceptíveis a importância de os músicos estarem em cena como um trio, e não como dois virtuoses - o baixista Rômulo Gomes e o baterista Tutty Moreno - que estão acompanhando o cantor, que, no caso, exerce também a função fundamental de músico no toque de seu violão. Quando o espectador fica maravilhado pelos sons inebriantes extraídos por Tutty do toque de sua bateria na introdução de Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963), transformado pelo trio em afro-samba-jazz, ou quando Rômulo remodela Roxanne (Sting, 1978) na passagem instrumental da canção lançada pelo trio inglês The Police, fica clara a razão de o ZR Trio ser um trio. De todo modo, o próprio nome ZR Trio já sinaliza que Zé Renato é a figura central do grupo. Todo o roteiro passa pela história desse capixaba de vivência carioca. Nove das 20 músicas do roteiro levam a assinatura de Zé Renato, sozinho (como no tema instrumental que batizou o álbum lançado pelo grupo Boca Livre em 1980, Bicicleta levado nos vocalises) ou com parceiros como Lenine (Na São Sebastião, composição de 2001), Xico Chaves (Fica melhor assim, lembrança de álbum solo de 1984) e Joyce Moreno, coautora do recente samba Pra você gostar de mim, de 2012, e da novíssima Tribos, música solidária aos índios lançada pelo ZR Trio no seu primeiro CD, O vento na madrugada soprou, inspiração do homônimo show. Até mesmo as músicas alheias estão entranhadas de forma nem sempre óbvia na trajetória musical de Zé Renato, caso da tropicalista Luz do sol (Carlos Pinto e Waly Salomão, 1971), já cantada pelo artista no show Imbora (2010). Um dos pontos mais altos da azeitada apresentação do ZR Trio em 5 de abril, Luz do sol é um dos achados do disco e show O vento na madrugada soprou ao lado de La musica y la palabra (2004), página lírica do cancioneiro do compositor argentino Carlos Aguirre. Lirismo que se alinha com a poética da Lira das correntes (1977), parceria de Zé Renato com Juca Filho que integrou o repertório do primeiro grupo vocal integrado por Zé, Cantares, atuante na cidade do Rio de Janeiro entre 1977 e 1978. Como no disco que lhe dá nome, o show O vento na madrugada soprou extrai seu ouro da pulsação resultante do refinado diálogo musical travado pela voz e o violão de Zé com o baixo de Rômulo e a bateria de Tutty. É essa pulsação que justifica a abordagem em cena de Cotidiano (Chico Buarque, 1971), samba já batido. Como a mistura de samba, MPB e música nordestina - representada pelo baião Como tem Zé na Paraíba (Catulo de Paula e Manezinho Araújo, 1962), sucesso do rei do ritmo Jackson do Pandeiro (1919 - 1982) - sofre a bem-vinda influência do jazz, todo dia o ZR Trio não faz tudo sempre igual. O que faz com que seu show expanda a musicalidade arejada que pauta o CD de estreia do ZR Trio, refinado como um samba de Paulinho da Viola.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

À primeira vista, o show do ZR Trio parece apresentação de Zé Renato. Além de cantar todas as 20 músicas do roteiro de O vento na madrugada soprou, show que estreou no Rio de Janeiro (RJ) em 4 e 5 de abril de 2014, o cantor e compositor está no centro do palco do teatro Solar de Botafogo. Contudo, as sutilezas dos arranjos deixam perceptíveis a importância de os músicos estarem em cena como um trio, e não como dois virtuoses - o baixista Rômulo Gomes e o baterista Tutty Moreno - que estão acompanhando o cantor, que, no caso, exerce também a função fundamental de músico no toque de seu violão. Quando o espectador fica maravilhado pelos sons inebriantes extraídos por Tutty do toque de sua bateria na introdução de Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963), transformado pelo trio em afro-samba-jazz, ou quando Rômulo remodela Roxanne (Sting, 1978) na passagem instrumental da canção lançada pelo trio inglês The Police, fica clara a razão de o ZR Trio ser um trio. De todo modo, o próprio nome ZR Trio já sinaliza que Zé Renato é a figura central do grupo. Todo o roteiro passa pela história desse mineiro de vivência carioca. Nove das 20 músicas do roteiro levam a assinatura de Zé Renato, sozinho (como no tema instrumental que batizou o álbum lançado pelo grupo Boca Livre em 1980, Bicicleta levado nos vocalises) ou com parceiros como Lenine (Na São Sebastião, composição de 2001), Xico Chaves (Fica melhor assim, lembrança de álbum solo de 1984) e Joyce Moreno, coautora do recente samba Pra você gostar de mim, de 2012, e da novíssima Tribos, música solidária aos índios lançada pelo ZR Trio no seu primeiro CD, O vento na madrugada soprou, inspiração do homônimo show. Até mesmo as músicas alheias estão entranhadas de forma nem sempre óbvia na trajetória musical de Zé Renato, caso da tropicalista Luz do sol (Carlos Pinto e Waly Salomão, 1971), já cantada pelo artista no show Imbora (2010). Um dos pontos mais altos da azeitada apresentação do ZR Trio em 5 de abril, Luz do sol é um dos achados do disco e show O vento na madrugada soprou ao lado de La musica y la palabra (2004), página lírica do cancioneiro do compositor argentino Carlos Aguirre. Lirismo que se alinha com a poética da Lira das correntes (1977), parceria de Zé Renato com Juca Filho que integrou o repertório do primeiro grupo vocal integrado por Zé, Cantares, atuante na cidade do Rio de Janeiro entre 1977 e 1978. Como no disco que lhe dá nome, o show O vento na madrugada soprou extrai seu ouro da pulsação resultante do refinado diálogo musical travado pela voz e o violão de Zé com o baixo de Rômulo e a bateria de Tutty. É essa pulsação que justifica a abordagem em cena de Cotidiano (Chico Buarque, 1971), samba já batido. Como a mistura de samba, MPB e música nordestina - representada pelo baião Como tem Zé na Paraíba (Catulo de Paula e Manezinho Araújo, 1962), sucesso do rei do ritmo Jackson do Pandeiro (1919 - 1982) - sofre a bem-vinda influência do jazz, todo dia o ZR Trio não faz tudo sempre igual. O que faz com que seu show expanda a musicalidade arejada que pauta o CD de estreia do ZR Trio, refinado como um samba de Paulinho da Viola.

CN disse...

Mauro , linda critica. Vi este show em SP antes de virar disco e já era lindo. Zé é uma inspiração pra mim ! Detalhe irrelevante e me perdoe se eu estiver errado, mas me parece que Zé Renato é capixaba. Abração e parabéns a ele e aos super instrumentistas.
Carlos Navas

Mauro Ferreira disse...

Tem razão, Navas. Grato pelo toque. Abs, MauroF