Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Com pegada e frescor, ZR Trio areja sambas e outros ritmos em belo CD

Resenha de CD
Título: O vento na madrugada soprou
Artista: ZR Trio
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * *

Disco independente viabilizado através de plataforma de financiamento coletivo, O vento na madrugada soprou é assinado pelo ZR Trio - e não somente pelo cantor capixaba Zé Renato - porque é um disco de banda. Embora todas as onze músicas do CD lançado neste mês de abril de 2014 sejam ouvidas na voz do excelente cantor, o mote do álbum reside na pulsação resultante da interação do violão de Zé Renato com o baixo de Rômulo Gomes e da bateria de Tutty Moreno (músicos, aliás, mencionados no encarte somente nos agradecimentos escritos por Zé Renato na ficha técnica que esquece de creditar a formação do trio). O ZR Trio nasceu em 2011, fruto da afinidade surgida entre os três músicos durante a turnê que promoveu o álbum Breves minutos (2011), disco solo e autoral de Zé Renato. Tal entrosamento permitiu que O vento na madrugada soprou fosse gravado somente em dois dias - 26 e 27 de novembro de 2013 - de estúdio, como se fosse um disco ao vivo. Zé assina a direção musical e os arranjos, dividindo a produção em si com Duda Mello sob a supervisão da produtora executiva Memeca Moschkovich. Contudo, Rômulo Gomes e Tutty Moreno são nomes essenciais na confecção de um álbum que tem mesmo o som de um trio. É com pegada e frescor que o ZR Trio cai no samba - ritmo que dita a cadência das três primeira faixas - sem deixar de transitar por outras vertentes. É a fricção de baixo, bateria e violão que revigora sambas como Na São Sebastião (2000) e Pra você gostar de mim (2012), parcerias de Zé Renato com Lenine e com Joyce Moreno, respectivamente. Com Joyce, aliás, Zé assina também a inédita Tribos, que exala orgulho indígena). O título O vento na madrugada soprou vem de verso de O tempo não apagou (1970), samba de Paulinho da Viola, registrado pelo ZR Trio em tom mais expansivo e menos impressionista do que a gravação original do compositor carioca. Das inéditas, o grande destaque é Tenha dó, música de Zé Renato com o carioca Pedro Luís que se embrenha pela Nação Nordestina, com toques de ciranda e uma pulsação tensa que se afina com os versos suplicantes, doídos de saudade. Mas o zen baião Domingos - inédita de Zé com João Cavalcanti - também surpreende ao celebrar o cantor, compositor e sanfoneiro pernambucano Dominguinhos (1941 - 2013) sem clichês musicais e poéticos. Tema de tom afro-baiano, Me ensina (Marcio Valverde e Nélio Rosa) traça a rota Angola-Salvador, pondo na roda menções a Sinhô (1888 - 1930) e a Clementina de Jesus (1901 - 1987). Totalmente fora da fronteira brasileira, mas bem vizinha, a canção argentina La musica y la palabra injeta poesia e sentimentos do compositor Carlos Aguirre. E por falar em poesia, a tropicalista Luz do sol (Carlos Pinto e Waly Salomão) ilumina música obscura lançada por Gal Costa em seu álbum ao vivo Fa-tal - Gal a todo vapor (1971). Um dos clássicos do samba dos anos 1930, Não quero mais amar a ninguém (Cartola, Carlos Cachaça e Zé da Zilda, 1936) é instante em que o vento sopra mais sereno no toque do trio. No fim, Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963) reitera, em clima de jazz, a pegada precisa do ZR Trio, base deste belo e arejado disco.

P.S.: De acordo com a assessoria do ZR Trio, as omissões da ficha técnica do CD O Vento na madrugada soprou já foram detectadas e corrigidas na tiragem do disco que vai ser efetivamente posta à venda, tendo ficado restritas às cópias do CD enviadas à imprensa.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Disco independente viabilizado através de plataforma de financiamento coletivo, O vento na madrugada soprou é assinado pelo ZR Trio - e não somente pelo cantor capixaba Zé Renato - porque é um disco de banda. Embora todas as onze músicas do CD lançado neste mês de abril de 2014 sejam ouvidas na voz do excelente cantor, o mote do álbum reside na pulsação resultante da interação do violão de Zé Renato com o baixo de Rômulo Gomes e da bateria de Tutty Moreno (músicos, aliás, mencionados no encarte somente nos agradecimentos escritos por Zé Renato na ficha técnica que esquece de creditar a formação do trio). O ZR Trio nasceu em 2011, fruto da afinidade surgida entre os três músicos durante a turnê que promoveu o álbum Breves minutos (2011), disco solo e autoral de Zé Renato. Tal entrosamento permitiu que O vento na madrugada soprou fosse gravado somente em dois dias - 26 e 27 de novembro de 2013 - de estúdio, como se fosse um disco ao vivo. Zé assina a direção musical e os arranjos, dividindo a produção em si com Duda Mello sob a supervisão da produtora executiva Memeca Moschkovich. Contudo, Rômulo Gomes e Tutty Moreno são nomes essenciais na confecção de um álbum que tem mesmo o som de um trio. É com pegada e frescor que o ZR Trio cai no samba - ritmo que dita a cadência das três primeira faixas - sem deixar de transitar por outras vertentes. É a fricção de baixo, bateria e violão que revigora sambas como Na São Sebastião (2000) e Pra você gostar de mim (2012), parcerias de Zé Renato com Lenine e com Joyce Moreno, respectivamente. Com Joyce, aliás, Zé assina também a inédita Tribos, que exala orgulho indígena). O título O vento na madrugada soprou vem de verso de O tempo não apagou (1970), samba de Paulinho da Viola, registrado pelo ZR Trio em tom mais expansivo e menos impressionista do que a gravação original do compositor carioca. Das inéditas, o grande destaque é Tenha dó, música de Zé Renato com o carioca Pedro Luís que se embrenha pela Nação Nordestina, com toques de ciranda e uma pulsação tensa que se afina com os versos suplicantes, doídos de saudade. Mas o zen baião Domingos - inédita de Zé com João Cavalcanti - também surpreende ao celebrar o cantor, compositor e sanfoneiro pernambucano Dominguinhos (1941 - 2013) sem clichês musicais e poéticos. Tema de tom afro-baiano, Me ensina (Marcio Valverde e Nélio Rosa) traça a rota Angola-Salvador, pondo na roda menções a Sinhô (1888 - 1930) e a Clementina de Jesus (1901 - 1987). Totalmente fora da fronteira brasileira, mas bem vizinha, a canção argentina La musica y la palavra injeta poesia e sentimentos do compositor Carlos Aguirre. E por falar em poesia, a tropicalista Luz do sol (Carlos Pinto e Waly Salomão) ilumina música obscura lançada por Gal Costa em seu álbum ao vivo Fa-tal - Gal a todo vapor (1971). Um dos clássicos do samba dos anos 1930, Não quero mais amar a ninguém (Cartola, Carlos Cachaça e Zé da Zilda, 1936) é instante em que o vento sopra mais sereno no toque do trio. No fim, Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963) reitera, em clima de jazz, a pegada precisa do ZR Trio, base deste belo e arejado disco.

Marcelo disse...

Discaço!!!!

Rafael disse...

Tem tudo para ser um estouro... Só gente boa reunida aí...