Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Titã Sergio Britto se sustenta na leveza miscigenada de 'PuraBossaNova'

Resenha de CD
Título: PuraBossaNova
Artista: Sergio Britto
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 1/2

Enquanto o grupo Titãs dá peso ao seu som na safra de inéditas apresentadas em espetáculo que experimenta repertório para o próximo disco do quarteto paulista, Sergio Britto se sustenta na leveza da bossa nova, gênero que pauta seu quarto álbum solo, PuraBossaNova, lançado neste mês de outubro de 2013. A bossa de Britto não é pura - e tampouco seria razoável cobrar pureza de um gênero que já nasceu da mistura do samba com a tal influência do jazz. E talvez seja por estar repleto de impurezas que o álbum resulte surpreendente ao abordar a bossa de forma contemporânea e miscigenada em temas como Mil e um perdões (Sergio Britto) - faixa introduzida pelas cordas orquestradas por Guilheme Gê, produtor do disco ao lado de Emerson Villani - e Pra nós dois (Sergio Britto). Uma das vozes femininas associadas à era da Bossa Nova, a cantora Alaíde Costa figura no disco em Completamente triste (Sergio Britto) - um dos destaques da safra autoral - em dueto com Britto que tem o peso de um aval para a incursão do titã pelo universo carioca da bossa. E se tudo isso é bossa nova e parece muito natural é porque PuraBossaNova desenvolve linguagem já experimentada por Britto em seu CD solo anterior, SP55 (Midas Music / Universal Music, 2010), mergulho bem-sucedido do titã nas águas da MPB. Já havia ali, inclusive, o flerte com o pop rock da América Latina, repetido em PuraBossaNova com abordagem de Canción para mi muerte, tema do cantor e compositor argentino Charly Garcia. Da Argentina, aliás, vem também a expressiva voz da jovem cantora Eugenia Brusa, convidada de La momia inquieta (Sergio Britto), bela valsa em espanhol que remete à obra politizada de Mercedes Sosa (1935 - 2009) e que ganha registro valorizado pelo toque do violão do uruguaio Toto Mendez. Recorrente no disco, a percussão precisa de Marcos Suzano contribui para a harmonia de Comos iguais (Sergio Britto), outro trunfo do repertório autoral, canção valorizada pelo nobre veludo macio da voz de Luiz Melodia, convidado ilustre da faixa. Aliás, o CD está repleto de convidados de peso. Se Rita Lee põe sua bossa'n'roll na música-título PuraBossaNova (Sergio Britto), Roberta Sá cai com graça na cadência bonita do samba Maria (L'autre chienne) (Sergio Britto). Com livre trânsito nas diversas pátrias do universo pop, Britto canta Morning (Una mañana), tema do compositor e maestro norte-americano Clare Fischer (1928 - 2012), além de apresentar música posta sobre os versos da Canção do exílio (1846) - obra-prima do poeta maranhense Gonçalves Dias (1823 - 1864) - e de dar voz à versão de Lento (Julieta Venegas e Coti Sorokin), sucesso da estrela mexicana Julieta Venegas, vertido para o português por Gabriel Thomaz e Erika Martins. Ou seja, a bossa nova de Sergio Britto é tudo, menos pura, mas, talvez por isso mesmo, seu quarto disco solo seja tão interessante. Ícone da bossa, Roberto Menescal já disse que gostou.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Enquanto o grupo Titãs dá peso ao seu som na safra de inéditas apresentadas em espetáculo que experimenta repertório para o próximo disco do quarteto paulista, Sergio Britto se sustenta na leveza da bossa nova, gênero que pauta seu quarto álbum solo, PuraBossaNova, lançado neste mês de outubro de 2013. A bossa de Britto não é pura - e tampouco seria razoável cobrar pureza de um gênero que já nasceu da mistura do samba com a tal influência do jazz. E talvez seja por estar repleto de impurezas que o álbum resulte surpreendente ao abordar a bossa de forma contemporânea e miscigenada em temas como Mil e um perdões (Sergio Britto) - faixa introduzida pelas cordas orquestradas por Guilheme Gê, produtor do disco ao lado de Emerson Villani - e Pra nós dois (Sergio Britto). Uma das vozes femininas associadas à era da Bossa Nova, a cantora Alaíde Costa figura no disco em Completamente triste (Sergio Britto) - um dos destaques da safra autoral - em dueto com Britto que tem o peso de um aval para a incursão do titã pelo universo carioca da bossa. E se tudo isso é bossa nova e parece muito natural é porque PuraBossaNova desenvolve linguagem já experimentada por Britto em seu CD solo anterior, SP55 (Midas Music / Universal Music, 2010), mergulho bem-sucedido do titã nas águas da MPB. Já havia ali, inclusive, o flerte com o pop rock da América Latina, repetido em PuraBossaNova com abordagem de Canción para mi muerte, tema do cantor e compositor argentino Charly Garcia. Da Argentina, aliás, vem também a expressiva voz da jovem cantora Eugenia Brusa, convidada de La momia inquieta (Sergio Britto), bela valsa em espanhol que remete à obra politizada de Mercedes Sosa (1935 - 2009) e que ganha registro valorizado pelo toque do violão do uruguaio Toto Mendez. Recorrente no disco, a percussão precisa de Marcos Suzano contribui para a harmonia de Comos iguais (Sergio Britto), outro trunfo do repertório autoral, canção valorizada pelo veludo macio da voz de Luiz Melodia, convidado ilustre da faixa. O disco, aliás, está repleto de convidados de peso. Se Rita Lee põe sua bossa na música-título PuraBossaNova (Sergio Britto), Roberta Sá cai com graça na cadência bonita do samba Maria (L'autre chienne) (Sergio Britto). Com livre trânsito nas diversas pátrias do universo pop, Britto canta Morning (Una mañana), tema do compositor e maestro norte-americano Clare Fischer (1928 - 2012), além de apresentar música posta sobre os versos da Canção do exílio (1846) - obra-prima do poeta maranhense Gonçalves Dias (1823 - 1864) - e de dar voz à versão de Lento (Julieta Venegas e Coti Sorokin), sucesso da estrela mexicana Julieta Venegas, vertido para o português por Gabriel Thomaz e Erika Martins. Ou seja, a bossa nova de Sergio Britto é tudo, menos pura, mas, talvez por isso mesmo, seu quarto disco solo seja tão interessante. Ícone da bossa, Roberto Menescal já disse que gostou.

Unknown disse...

É muito interessante ver o Sergio Brito, um dos responsáveis pela vertente mais heavy dos Titãs, fazendo sonoridades tão delicadas, permeadas por uma poesia intensa. O tempo fez muito bem para ele, que dá uma guinada em seu trabalho, apresentando um disco maduro, bem engendrado, muito gostoso de ouvir. Ela está numa fase muito boa de sua vida, com certeza.