Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Filme acerta o passo ao seguir grupo Los Hermanos em 'maratona de amor'

Resenha de documentário
Título: Los Hermanos - Esse é só o começo do fim de nossa vida
Direção: Maria Ribeiro
Roteiro: Sérgio Mekler
Cotação: * * * 1/2
Filme em cartaz na 19ª edição do festival É tudo verdade
Sessões no Rio de Janeiro (RJ):
* Espaço Itaú de Cinema - 8 de abril de 2014 às 19h e 9 de abril de 2014 às 13h
Sessões em São Paulo (SP):
* Livraria Cultura - 11 de abril de 2014 às 19h e 13 de abril de 2014 às 15h

"Vocês estão fazendo um documentário?", pergunta um fã ao abordar o grupo carioca Los Hermanos em Brasília (DF), em 2012, durante a turnê nacional que festejou os 15 anos de vida do ora desativado quarteto. "Eles estão tentando. Não sei se vai dar certo...", responde Rodrigo Amarante, maroto, diante das câmeras dirigidas pela atriz e cineasta carioca Maria Ribeiro. Deu certo. Com título extraído de verso da música Conversa de botas batidas (Marcelo Camelo, 2003), o filme Los Hermanos - Esse é só o começo do fim de nossa vida está pronto para ser exibido em quatro sessões especiais da 19ª edição do festival de documentários É tudo verdade - programadas em Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) na segunda semana deste mês de abril de 2014 - antes de entrar em circuito convencional em data ainda incerta. Embora tenha feito um filme somente para admiradores do quarteto, já que parece não ter havido a mínima preocupação de contextualizar o surgimento e o som do grupo no universo pop brasileiro, a diretora Maria Ribeiro acerta o passo ao seguir a banda pelas onze capitais brasileiras percorridas pelos Hermanos ao longo da turnê que marcou a volta do grupo à cena cinco após o surpreendente anúncio de que a banda iria entrar em recesso por tempo indeterminado. Seguir o grupo por estradas, vans, hotéis, camarins, aeroportos é fazer uma "maratona de amor", como conceitua o fã que procura ir a todos os shows dos Los Hermanos. Dentro dos limites da intimidade consentida, a diretora até capta cenas de bastidores que revelam a dinâmica entre os músicos. Mas se esquiva de tocar em questões delicadas como as tensões entre Amarante e Marcelo Camelo, os dois principais cantores e compositores do grupo, amigos e rivais na mesma proporção. Tais tensões até estão levemente embutidas em alguns triviais diálogos de ensaios e camarins, mas jamais são explicitadas. O próprio recesso da banda é abordado somente pelo baterista Rodrigo Barba, que se limita a dizer que a parada foi fruto da necessidade de dar "uma respirada" e do medo do quarteto de começar a se repetir em discos e shows. Contudo, por mais que tenha havido discórdia, houve também muito amor nessa maratona. Amor sentido tanto na convivência dos músicos e seu staff - unidos por um sentimento de equipe, como enfatiza o empresário Simon Fuller - como, sobretudo, na devoção dos fãs. A diretora traduz essa devoção em imagem quando foca o espectador anônimo que parece abduzido pela voz de Rodrigo Amarante enquanto o artista canta sua música Sentimental (Rodrigo Amarante, 2001) em show no Recife (PE). E também quando dá um close no rosto em lágrimas da espectadora da apresentação de Salvador (BA). Na van, em mais uma etapa da maratona, Camelo conta caso emocionante de amor. O de uma mãe que fez questão de abraçá-lo porque esta era a vontade de seu filho morto, um entre milhares de devotos de Los Hermanos. E assim, entre números musicais e imagens de bastidores que flagram os músicos com seus pais e em ensaio no qual tocam Ouro de tolo (Raul Seixas, 1973), Los Hermanos - Esse é só o começo do fim de nossa vida tece teia de afetos e sutis informações, como a de que o tecladista Bruno Medina se dava a incumbência de organizar o roteiro dos shows, ainda que o setlist inicial viesse a sofrer interferências de Amarante ou de Camelo, líderes do quarteto. Dentro desse quadro de moldura clássica, é significativa a cena em que Amarante confessa ser difícil manter a espontaneidade diante das câmeras. Afinal, o filme descortina os bastidores do grupo na medida da abertura permitida pelos músicos, mas, ao focar Los Hermanos em turnê, Maria Ribeiro consegue caminhar com fluência por trilhas nem sempre lisas, pegando atalhos que realçam para os fãs todo o amor que houve nessa tensa vida de estrada.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

"Vocês estão fazendo um documentário?", pergunta um fã ao abordar o grupo carioca Los Hermanos em Brasília (DF), em 2012, durante a turnê nacional que festejou os 15 anos de vida do ora desativado quarteto. "Eles estão tentando. Não sei se vai dar certo...", responde Rodrigo Amarante, maroto, diante das câmeras dirigidas pela atriz e cineasta carioca Maria Ribeiro. Deu certo. Com título extraído de verso da música Conversa de botas batidas (Marcelo Camelo, 2003), o filme Los Hermanos - Esse é só o começo do fim de nossa vida está pronto para ser exibido em quatro sessões especiais da 19ª edição do festival de documentários É tudo verdade - programadas em Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) na segunda semana deste mês de abril de 2014 - antes de entrar em circuito convencional em data ainda incerta. A diretora Maria Ribeiro acerta o passo ao seguir a banda pelas onze capitais brasileiras percorridas pelos Hermanos ao longo da turnê que marcou a volta do grupo à cena cinco após o surpreendente anúncio de que a banda iria entrar em recesso por tempo indeterminado. Seguir o grupo por estradas, vans, hotéis, camarins, aeroportos é fazer uma "maratona de amor", como conceitua o fã que vai a todos os shows dos Los Hermanos. Dentro dos limites da intimidade consentida, a diretora até capta cenas de bastidores que revelam a dinâmica entre os músicos. Mas se esquiva de tocar em questões delicadas como as tensões entre Amarante e Marcelo Camelo, os dois principais cantores e compositores do grupo, amigos e rivais na mesma proporção. Tais tensões até estão levemente embutidas em alguns triviais diálogos de ensaios e camarins, mas jamais são explicitadas. O próprio recesso da banda é abordado somente pelo baterista Rodrigo Barba, que se limita a dizer que a parada foi fruto da necessidade de dar "uma respirada" e do medo do quarteto de começar a se repetir em discos e shows. Contudo, por mais que tenha havido discórdia, houve também muito amor nessa maratona. Amor sentido tanto na convivência dos músicos e seu staff - unidos por um sentimento de equipe, como enfatiza o empresário Simon Fuller - como, sobretudo, na devoção dos fãs. A diretora traduz essa devoção em imagem quando foca o espectador anônimo que parece abduzido pela voz de Amarante enquanto o artista canta sua música Sentimental (Rodrigo Amarante, 2001) em show no Recife (PE). E também quando dá um close no rosto em lágrimas da espectadora da apresentação de Salvador (BA). Na van, em mais uma etapa da maratona, Camelo conta caso emocionante de amor. O de uma mãe que fez questão de abraçá-lo porque esta era a vontade de seu filho morto, um entre milhares de devotos de Los Hermanos. E assim, entre números musicais e imagens de bastidores que flagram os músicos com seus pais e em ensaio no qual tocam Ouro de tolo (Raul Seixas, 1973), Los Hermanos - Esse é só o começo do fim de nossa vida tece teia de afetos e sutis informações, como a de que o tecladista Bruno Medina se dava a incumbência de organizar o roteiro dos shows, ainda que o setlist inicial viesse a sofrer interferências de Amarante ou de Camelo, líderes do quarteto. Dentro desse quadro de moldura clássica, é significativa a cena em que Amarante confessa ser difícil manter a espontaneidade diante das câmeras. Afinal, o filme descortina os bastidores do grupo na medida da abertura permitida pelos músicos, mas, ao focar Los Hermanos em turnê, Maria Ribeiro consegue caminhar com fluência por trilha nem sempre lisa, pegando atalhos que realçam todo o amor que houve nessa vida de estrada.