Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 10 de setembro de 2011

Baticun embasa o canto de Wilson em disco afro que vai além do samba

Resenha de CD
Título: 1991 Wilson Moreira + Baticun 2011
Artista: Wilson Moreira e Baticun
Gravadora: Rob Digital
Cotação: * * * *

Em 1988, sob as bençãos do produtor Katsunori Tanaka, Wilson Moreira começou a gravar com o Baticun - quarteto de percussão formado por Beto Cazes, Carlos Negreiros, Jovi Joviano e Marcos Suzano - demos para disco para o mercado japonês que iria mostrar que a obra autoral do artista carioca extrapola o universo do samba, transitando por ritmos afro-brasileiros revisitados com menos assiduidade pelos compositores da MPB. As gravações foram feitas de 1998 a 1991, só que o projeto acabou abortado. Decorridos 20 anos, 1991 Wilson Moreira + Baticun 2011 chega ao mercado brasileiro pela Rob Digital com acréscimo de percussão, sopros, cordas e coro. O Baticun embasa o canto de Wilson - que remete às ligações ancestrais do Brasil com a mãe África - na abordagem de repertório de grande força rítmica. O lundu Canto de Sorte (Wilson Moreira) exemplica bem essa ligação rítmica entre Brasil e África. Já o aguerê Abrindo os Trabalhos (Baticun) e o alujá Questão de Identidade (Wilson Moreira) são temas que - como explica o glossário  publicado no encarte do CD produzido por Beto Cazes - bebem na rica fonte rítmica do Candomblé enquanto Nãna - corimba introduzido por um berimbau - dialoga com as tradições musicais da Umbanda (no caso de Questão de Identidade, o compositor também envereda pelo jongo). A batida afro-baiana do berimbau de Nãna evoca os sons de uma Bahia antiga que aparece também no samba de roda Nego Sonso (Wilson Moreira), de clima interiorano similar ao do forró No Talho da Madeira (Wilson Moreira). Por sua vez, Mulata do Balaio (Wilson Moreira e Nei Lopes) é samba de sotaque mais carioca, conhecido por fãs de Clara Nunes (1942 - 1983), cantora que gravou o tema em seu álbum Esperança (1979). No terreiro de Wilson Moreira, sustentado pelo Baticun, há também Oloan (Wilson Moreira) - misto de samba com toque afro que chama determinados orixás - e jongos como Negro Doce Amor (Wilson Moreira) e No Arrebol (Wilson Moreira), tema que figura no repertório do quarto álbum de estúdio de Roberta Sá. No fim, o samba Terreiro Grande (Wilson Moreira e Paulo César Pinheiro) fecha o disco com propriedade ao enfatizar nos versos de Pinheiro a conexão Brasil-África que pauta este CD que expõe a força rítmica e a inspiração do repertório afro-brasileiro de Wilson Moreira, resistindo muito bem aos seus 20 anos de vida.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em 1988, sob as bençãos do produtor Katsunori Tanaka, Wilson Moreira começou a gravar com o Baticun - quarteto de percussão formado por Beto Cazes, Carlos Negreiros, Jovi Joviano e Marcos Suzano - um disco para o mercado japonês que iria mostrar que a obra autoral do artista carioca extrapola o universo do samba, transitando por ritmos afro-brasileiros revisitados com menos assiduidade pelos compositores da MPB. As gravações foram feitas de 1998 a 1991, só que o álbum acabou abortado. Decorridos 20 anos, 1991 Wilson Moreira + Baticun 2011 chega ao mercado brasileiro pela Rob Digital com acréscimo de percussão, sopros, cordas e coro. O Baticun embasa o canto de Wilson - que remete às ligações ancestrais do Brasil com a mãe África - na abordagem de repertório de grande força rítmica. O lundu Canto de Sorte (Wilson Moreira) exemplica bem essa ligação rítmica entre Brasil e África. Já o aguerê Abrindo os Trabalhos (Baticun) e o alujá Questão de Identidade (Wilson Moreira) são temas que - como explica o glossário publicado no encarte do CD produzido por Beto Cazes - bebem na rica fonte rítmica do Candomblé enquanto Nãna - corimba introduzido por um berimbau - dialoga com as tradições musicais da Umbanda (no caso de Questão de Identidade, o compositor também envereda pelo jongo). A batida afro-baiana do berimbau de Nãna evoca os sons de uma Bahia antiga que aparece também no samba de roda Nego Sonso (Wilson Moreira), de clima interiorano similar ao do forró No Talho da Madeira (Wilson Moreira). Por sua vez, Mulata do Balaio (Wilson Moreira e Nei Lopes) é samba de sotaque mais carioca, conhecido por fãs de Clara Nunes (1942 - 1983), cantora que gravou o tema em seu álbum Esperança (1979). No terreiro de Wilson Moreira, sustentado pelo Baticun, há também Oloan (Wilson Moreira) - misto de samba com toque afro que chama determinados orixás - e jongos como Negro Doce Amor (Wilson Moreira) e No Arrebol (Wilson Moreira), tema que figura no repertório do quarto álbum de estúdio de Roberta Sá. No fim, o samba Terreiro Grande (Wilson Moreira e Paulo César Pinheiro) fecha o disco com propriedade ao enfatizar nos versos de Pinheiro a conexão Brasil-África que pauta este CD que expõe a força rítmica e a inspiração do repertório afro-brasileiro de Wilson Moreira, resistindo muito bem aos seus 20 anos de vida.

Luca disse...

Mauro, tem mais notícia sobre o cd da Roberta?

Gill Sampaio Ominirò disse...

Mauro, se puder, faça uma resenha sobre o disco "Xirê Reverb - Guga Stroeter & Orquestra HB". Este tipo de música merece divulgação. Abraços.