Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Com piano de Moura, Mona se perde na praia da canção cearense dos 70

Resenha de CD
Título: Praia Lírica - Um Tributo à Canção Cearense dos Anos 70
Artista: Mona Gadelha
Gravadora: Brazilbizz Music
Cotação: * * 1/2

Mona Gadelha gravou músicas de autores cearenses em seus quatro discos anteriores. No seu quinto recém-lançado álbum, Praia Lírica - Um Tributo à Canção Cearense dos Anos 70, a cantora radicada em São Paulo (SP) mergulha mais fundo no universo da música cearense produzida na década que projetou compositores como Belchior e Fagner. Mas Mona emerge com CD que resulta somente mediano pelo fato de ser um trabalho de voz & piano (o de Fernando Moura, autor dos arranjos). Moura domina bem seu instrumento e faz o que pode, mas o piano se revela insuficiente para evocar a riqueza rítmica da música nordestina da época. Embora limitador, o formato de Praia Lírica acaba se ajustando ao propósito de enfatizar o lirismo dos versos de músicas como Flor da Paisagem (Robertinho de Recife e Fausto Nilo) e Astro Vagabundo (Raimundo Fagner e Fausto Nilo). Contudo, boa parte das 12 músicas já ganhou registros definitivos nas vozes dos compositores e de intérpretes como Amelinha. E o fato é que o disco quase afunda nas injustas, mas inevitáveis, comparações das interpretações de Mona com as gravações originais. A cantora não consegue fazer com que o ouvinte escute Noturno (Caio Silvio e Graco), por exemplo, sem esquecer do registro rascante feito por Fagner em 1979. Da mesma forma, Mona revive Galos, Noites e Quintais (Belchior) e cruza a melodia de Paralelas (Belchior) sem roçar a força das interpretações de Belchior e Vanusa - tarefa a que nem mesmo Elba Ramalho conseguiu êxito ao reviver Paralelas no vigoroso álbum Baioque (1997). Se Manga Rosa (Ednardo) soa sem sabor, Retrato Marrom (Rodger Rogério e Fausto Nilo) fica esmaecido em Praia Lírica. Retrato Marrom brilha mais com o canto preciso de Ney Matogrosso, intérprete original de outro dos temas menos batidos do disco de Mona, Sensual, título bem obscuro do cancioneiro de Belchior. Outra pérola rara, La Condessa (Ribamar Vaz, Ricardo Bezerra e Brandão) acaba sendo a faixa mais interessante do CD por afastar de Praia Lírica o fantasma da comparação com registros anteriores de músicas como Terral, um dos clássicos de Ednardo, compositor de quem Mona também rebobina Longarinas (bom fecho para o disco, com o piano de Moura evocando sons percussivos). Enfim, a ideia é ótima, só que o álbum e a cantora não fazem jus ao repertório.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Mona Gadelha gravou músicas de autores cearenses em seus quatro discos anteriores. No seu quinto recém-lançado álbum, Praia Lírica - Um Tributo à Canção Cearense dos Anos 70, a cantora radicada em São Paulo (SP) mergulha mais fundo no universo da música cearense produzida na década que projetou compositores como Belchior e Fagner. Mas Mona emerge com CD que resulta somente mediano pelo fato de ser um trabalho de voz & piano (o de Fernando Moura, autor dos arranjos). Moura domina bem seu instrumento e faz o que pode, mas o piano se revela insuficiente para evocar a riqueza rítmica da música nordestina da época. Embora limitador, o formato de Praia Lírica acaba se ajustando ao propósito de enfatizar o lirismo dos versos de músicas como Flor da Paisagem (Robertinho de Recife e Fausto Nilo) e Astro Vagabundo (Raimundo Fagner e Fausto Nilo). Contudo, boa parte das 12 músicas já ganhou registros definitivos nas vozes dos compositores e de intérpretes como Amelinha. E o fato é que o disco quase afunda nas injustas, mas inevitáveis, comparações das interpretações de Mona com as gravações originais. A cantora não consegue fazer com que o ouvinte escute Noturno (Caio Silvio e Graco), por exemplo, sem esquecer do registro rascante feito por Fagner em 1979. Da mesma forma, Mona revive Galos, Noites e Quintais (Belchior) e cruza a melodia de Paralelas (Belchior) sem roçar a força das interpretações de Belchior e Vanusa - tarefa a que nem mesmo Elba Ramalho conseguiu êxito ao reviver Paralelas no vigoroso álbum Baioque (1997). Se Manga Rosa (Ednardo) soa sem sabor, Retrato Marrom (Rodger Rogério e Fausto Nilo) fica esmaecido em Praia Lírica. Retrato Marrom brilha mais com o canto preciso de Ney Matogrosso, intérprete original de outro dos temas menos batidos do disco de Mona, Sensual, título bem obscuro do cancioneiro de Belchior. Outra pérola rara, La Condessa (Ribamar Vaz, Ricardo Bezerra e Brandão) acaba sendo a faixa mais interessante do CD por afastar de Praia Lírica o fantasma da comparação com registros anteriores de músicas como Terral, um dos clássicos de Ednardo, compositor de quem Mona também rebobina Longarinas (bom fecho para o disco, com o piano de Moura evocando sons percussivos). Enfim, a ideia é ótima, só que o álbum e a cantora não fazem jus ao repertório.

Khrystal disse...

Cruel tú,visse?

lurian disse...

A idéia seria ótima se fosse uma repaginada das músicas, mas com maior diversidade instrumental, como elas exigem, penso que realmente não fica tão bom para um Voz & piano.
Nesse campo um dos poucos imbatíveis que temos no Brasil é o clássico Nana Caymmi e César Camargo Mariano. Esse sim, vez ou outra ponho pra ouvir!

lurian disse...

De grande valia seria termos em cd o disco "Equatorial" (Epic/CBS) da cearense hoje, pouco lembrada, Téti.
O disco promovia uma mistura do Clube da Esquina com o Pessoal do Ceará. Só feras participaram da gravação:Toninho Horta e Túlio Mourão, Geraldo Azevedo,Robertinho de Recife, Mauro Senise, Luiz Alves, Manassés, Fagner, Nivaldo Ornellas, Rodger de Rogério, Ife, Tuti Moreno, Robertinho Silva, Raul Mascarenhas...

É fundamental para conhecer a boa música cearense da época que tinha nomes além de Fagner, Amelinha, Ednardo e Belchior.

Marcelo disse...

Se fosse Amelinha, seria o disco do ano!!!