Mauro Ferreira no G1

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domingo, 29 de dezembro de 2013

Mesmo com moral, Vergueiro faz ronda insossa por sambas de Vanzolini

Resenha de CD
Título: Carlinhos Vergueiro interpreta Paulo poeta compositor cientista boêmio Vanzolini
Artista: Carlinhos Vergueiro
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * *

Carlinhos Vergueiro é homem com moral para fazer disco dedicado à obra do compositor paulistano Paulo Emílio Vanzolini (25 de abril de 1924 - 28 de abril de 2013). Essa moral vem tanto de sua origem também paulistana e do apego ao samba (ritmo predominante no cancioneiro de Paulo Vanzolini) como também - e sobretudo - da grande e real intimidade de Vergueiro com a obra de Vanzolini, de quem foi amigo, tendo dividido palcos e impressões sobre a música e a vida. Contudo, tal intimidade não impede que o CD Carlinhos Vergueiro interpreta Paulo poeta compositor cientista boêmio Vanzolini - tributo do cantor e compositor à memória do amigo zoólogo, morto aos 89 anos em abril deste ano de 2013 - soe insosso. A despeito de já contabilizar 40 anos de carreira fonográfica, iniciada em 1973 com a gravação de dois compactos pela extinta gravadora Chantecler, Vergueiro é intérprete apenas eventualmente expressivo. Neste seu 21º álbum, Vergueiro consegue um ou outro bom momento como cantor, em especial em Boca da noite - bissexta parceria de Toquinho com Vanzolini que foi lançada em festival de 1967 e que deu título ao LP lançado por Toquinho em 1974 - e Juízo final (Paulo Vanzolini, 1967), samba na primeira pessoa em que o compositor faz autoindulgente acerto de contas no último dia de sua vida. Entretanto, no todo, sua ronda pelos sambas de Vanzolini evidencia seus limites como intérprete. Samba popularizado em 1978 na voz da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983), Mente - parceria de Vanzolini com seu conterrâneo Eduardo Gudin - ressurge em registro pouco luminoso, por exemplo, embora valorizado pelo arranjo de Italo Peron, diretor musical do disco produzido pelo próprio Carlinhos Vergueiro. Assim como a gravação de Volta por cima, samba lançado em 1962 pelo cantor paulista Noite Ilustrada (1928 - 2003) com sucesso que se estendeu pelo ano de 1963, o registro de Mente foi formatado com metais que transportam os dois sambas para um salão de gafieira. Já em José (Paulo Vanzolini, 1966) - samba triste que exemplifica a habilidade do compositor-cronista para perfilar personagens embrutecidas na selva da cidade de São Paulo (SP) - sobressaem o bandolim e o cavaquinho tocados por Henrique Araújo. José foi lançado em disco pela cantora paulista Inezita Barroso, também intérprete original do maior sucesso de Vanzolini, Ronda, samba-canção composto em 1945, mas gravado somente em 1953 (sem repercussão) por Inezita. Mesmo sem reeditar o apuro das melhores gravações do samba-canção (as feitas por Márcia e Maria Bethânia), Vergueiro acerta o tom melancólico de Ronda. Em contrapartida, sambas como Cara limpa e Mulher que não dá samba - ambos gravados em 1974 pelos cantores Carmen Costa (1920 - 2007) e Paulo Marquez no álbum que dedicaram à música de Vanzolini - passam batidos ao longo das 10 músicas reunidas por Vergueiro em repertório formado por nove sambas e uma bonita toada de poesia popular, a Toada de Luiz, exemplo da vertente interiorana da obra de Paulo Vanzolini, compositor que teve quase todo seu cancioneiro inventariado de forma definitiva na caixa de quatro CDs Acerto de contas, editada em 2002 pela mesma gravadora Biscoito Fino que ora põe no mercado esta ronda mais modesta de Vergueiro pelo repertório deste homem de moral no universo do samba paulistano.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Carlinhos Vergueiro é homem com moral para fazer disco dedicado à obra do compositor paulistano Paulo Emílio Vanzolini (25 de abril de 1924 - 28 de abril de 2013). Essa moral vem tanto de sua origem também paulistana e do apego ao samba (ritmo predominante no cancioneiro de Paulo Vanzolini) como também - e sobretudo - da grande e real intimidade de Vergueiro com a obra de Vanzolini, de quem foi amigo, tendo dividido palcos e impressões sobre a música e a vida. Contudo, tal intimidade não impede que o CD Carlinhos Vergueiro interpreta Paulo poeta compositor cientista boêmio Vanzolini - tributo do cantor e compositor à memória do amigo zoólogo, morto aos 89 anos em abril deste ano de 2013 - soe insosso. A despeito de já contabilizar 40 anos de carreira fonográfica, iniciada em 1973 com a gravação de dois compactos pela extinta gravadora Chantecler, Vergueiro é intérprete apenas eventualmente expressivo. Neste seu 21º álbum, Vergueiro consegue um ou outro bom momento como cantor, em especial em Boca da noite - bissexta parceria de Toquinho com Vanzolini que foi lançada em festival de 1967 e que deu título ao LP lançado por Toquinho em 1974 - e Juízo final (Paulo Vanzolini, 1967), samba na primeira pessoa em que o compositor faz autoindulgente acerto de contas no último dia de sua vida. Entretanto, no todo, sua ronda pelos sambas de Vanzolini evidencia seus limites como intérprete. Samba popularizado em 1978 na voz da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983), Mente - parceria de Vanzolini com seu conterrâneo Eduardo Gudin - ressurge em registro pouco luminoso, por exemplo, embora valorizado pelo arranjo de Italo Peron, diretor musical do disco produzido pelo próprio Carlinhos Vergueiro. Assim como a gravação de Volta por cima, samba lançado em 1962 pelo cantor paulista Noite Ilustrada (1928 - 2003) com sucesso que se estendeu pelo ano de 1963, o registro de Mente foi formatado com metais que transportam os dois sambas para um salão de gafieira. Já em José (Paulo Vanzolini, 1966) - samba triste que exemplifica a habilidade do compositor-cronista para perfilar personagens embrutecidas na selva da cidade de São Paulo (SP) - sobressaem o bandolim e o cavaquinho tocados por Henrique Araújo. José foi lançado em disco pela cantora paulista Inezita Barroso, também intérprete original do maior sucesso de Vanzolini, Ronda, samba-canção composto em 1945, mas gravado somente em 1953 (sem repercussão) por Inezita. Mesmo sem reeditar o apuro das melhores gravações do samba-canção (as feitas por Márcia e Maria Bethânia), Vergueiro acerta o tom melancólico de Ronda. Em contrapartida, sambas como Cara limpa e Mulher que não dá samba - ambos gravados em 1974 pelos cantores Carmen Costa (1920 - 2007) e Paulo Marquez no álbum que dedicaram à música de Vanzolini - passam batidos ao longo das 10 músicas reunidas por Vergueiro em repertório formado por nove sambas e uma bonita toada de poesia popular, a Toada de Luiz, exemplo da vertente interiorana da obra de Paulo Vanzolini, compositor que teve quase todo seu cancioneiro inventariado de forma definitiva na caixa de quatro CDs Acerto de contas, editada em 2002 pela mesma gravadora Biscoito Fino que ora põe no mercado esta ronda mais modesta de Vergueiro pelo repertório deste homem de moral no universo do samba paulistano.

Doug Carvalho disse...

Pois é.... concordo. O Carlinhos Vergueiro tem um timbre de voz super bonito, grave e masculino, mas canta meio sem alma. Chico Buarque e Edu Lobo, que têm vozes bem menos fortes, são muito mais cativantes como interpretes.