Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Com alma de fadista, Carminho (re)faz a apoteose da voz em show no Rio

Resenha de show
Título: Carminho
Artista: Carminho (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Miranda (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 21 de dezembro de 2013
Cotação: * * * *

Quando Carminho retornou ao palco da casa carioca Miranda, após exuberante número instrumental feito pelo trio que a acompanhava em cena no show Alma, a cantora portuguesa iniciou a capella a interpretação de depressivo fado de 1971, De mim para ninguém (Artur Ribeiro). Somente um holofote jogava luz difusa sob o palco quase às escuras. Ao fim do número, a plateia que lotou a Miranda na noite de 21 de dezembro de 2013 estava completamente arrebatada com o poder da voz e da interpretação de Maria do Carmo Carvalho Rebelo de Andrade, jovem revelação do fado. Aos 28 anos, Carminho arrebata plateias na Europa e no Brasil, onde debutou nos palcos no ano passado para promover seu segundo álbum, Alma (2012), lançado no mercado nacional pelo selo MP,B Discos. Cada vez mais popular no Brasil, Carminho voltou a se apresentar no Rio de Janeiro (RJ) um ano após ter feito seu primeiro show na cidade. De lá para cá, ganhou elogios públicos e privados de nomes como Caetano Veloso por ter feito Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) voar alto em dueto feito com o cantor português António Zambujo em número musical da cerimônia de entrega do 24º Prêmio da Música Brasileira. Sabiá não atingiu a mesma altura de 12 de junho no bis do show da Miranda, mas, na sequência, quando Carminho dispensou o microfone e entoou o fado Minhas penas (Fernando Afonso Geraldes Caldeira e João Maria dos Anjos), a apoteose da voz se refez em sua plenitude. Carminho tem voz à altura das grandes cantoras do fado. E tem também a alma necessária para expor na voz toda a tristeza que há em fados como Disse-te adeus (Fados dos sonhos) (Frederico de Brito e Manuela de Freitas). Mais para a balada do que para o fado, Talvez (Mário Pacheco sobre poema de Vasco Graça Moura) representou outro pico de beleza e sedução no show. Quando canta, Carminho parece incorporar na alma toda a desilusão e melancolia que habita os corações das personagens dos fados que entoa de forma tradicional. São os mesmos sentimentos que imobilizam a Carolina de Chico Buarque. E talvez por isso a música do compositor carioca - lançada na voz do autor em compacto de 1967 - tenha encontrado sua melhor tradução na interpretação de Carminho. Sob a direção de Diogo Clemente, que toca violão no trio que forma em cena com Luis Guerreiro (guitarra portuguesa) e José Marino de Freitas (baixo acústico), a cantora portuguesa mostrou absoluta segurança e intimidade com o gênero que abraçou de forma tão explícita que seu primeiro álbum, lançado em 2009 em Portugal e ainda inédito no Brasil, se chamou simplesmente Fado. Contudo, o roteiro do show Alma extrapolou as fronteiras lusitanas, enfatizando também os laços cada vez mais fortes de Carminho com a música brasileira. Compositor recorrente na parte nacional do roteiro, Chico Buarque teve revivida por Carminho - no tempo da delicadeza - pouco ouvida parceria com Edu Lobo, Meu namorado, da trilha sonora do balé O grande circo místico (1983). Nesse mesmo tempo delicado, Carminho deu voz a Contrato de separação (Dominguinhos e Anastácia, 1979) - música conhecida na voz (também apoteótica) de Nana Caymmi - após ter lembrado Saudades do Brasil em Portugal (1968), o fado que o poeta e compositor carioca Vinicius de Moraes (1913 - 1980) fez quando passava temporada na Terrinha. E nem tudo foi melancolia e tristeza. Fado lançado em 1934 pela cantora portuguesa Hermínia Silva (1907 - 19930, A velha tendinha (Raul Ferrão e José Galhardo) abriu alas em ritmo veloz para a alegria da carnavalizante Marcha de Alfama (Raul Ferrão e Amadeu do Vale). "Fado se aprende observando. Não está nos livros, não existem escolas. É aprendizagem da vida inteira", enfatizou Carminho numa das vezes que se dirigiu ao público. Pelo visto e ouvido no show Alma, Carminho aprendeu - e continua aprendendo - tudo.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Quando Carminho retornou ao palco da casa carioca Miranda, após exuberante número instrumental feito pelo trio que a acompanhava em cena no show Alma, a cantora portuguesa iniciou a capella a interpretação de depressivo fado de 1971, De mim para ninguém (Artur Ribeiro). Somente um holofote jogava luz difusa sob o palco quase às escuras. Ao fim do número, a plateia que lotou a Miranda na noite de 21 de dezembro de 2013 estava completamente arrebatada com o poder da voz e da interpretação de Maria do Carmo Carvalho Rebelo de Andrade, jovem revelação do fado. Aos 28 anos, Carminho arrebata plateias na Europa e no Brasil, onde debutou nos palcos no ano passado para promover seu segundo álbum, Alma (2012), lançado no mercado nacional pelo selo MP,B Discos. Cada vez mais popular no Brasil, Carminho voltou a se apresentar no Rio de Janeiro (RJ) um ano após ter feito seu primeiro show na cidade. De lá para cá, ganhou elogios públicos e privados de nomes como Caetano Veloso por ter feito Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) voar alto em dueto feito com o cantor português António Zambujo em número musical da cerimônia de entrega do 24º Prêmio da Música Brasileira. Sabiá não atingiu a mesma altura de 12 de junho no bis do show da Miranda, mas, na sequência, quando Carminho dispensou o microfone e entoou o fado Minhas penas (Fernando Afonso Geraldes Caldeira e João Maria dos Anjos), a apoteose da voz se refez em sua plenitude. Carminho tem voz à altura das grandes cantoras do fado. E tem também a alma necessária para expor na voz toda a tristeza que há em fados como Disse-te adeus (Fados dos sonhos) (Frederico de Brito e Manuela de Freitas). Mais para a balada do que para o fado, Talvez (Mário Pacheco sobre poema de Vasco Graça Moura) representou outro pico de sedução no show. Quando canta, Carminho parece incorporar na alma toda a desilusão e melancolia que habita os corações das personagens dos fados que entoa de forma tradicional. São os mesmos sentimentos que imobilizam a Carolina de Chico Buarque. E talvez por isso a música do compositor carioca - lançada na voz do autor em compacto de 1967 - tenha encontrado sua melhor tradução na interpretação de Carminho. Sob a direção de Diogo Clemente, que toca violão no trio que forma em cena com Luis Guerreiro (guitarra portuguesa) e José Marino de Freitas (baixo acústico), a cantora portuguesa mostrou absoluta segurança e intimidade com o gênero que abraçou de forma tão explícita que seu primeiro álbum, lançado em 2009 em Portugal e ainda inédito no Brasil, se chamou simplesmente Fado. Contudo, o roteiro do show Alma extrapolou as fronteiras lusitanas, enfatizando também os laços cada vez mais fortes de Carminho com a música brasileira. Compositor recorrente na parte nacional do roteiro, Chico Buarque teve revivida por Carminho - no tempo da delicadeza - pouco ouvida parceria com Edu Lobo, Meu namorado, da trilha sonora do balé O grande circo místico (1983). Nesse mesmo tempo delicado, Carminho deu voz a Contrato de separação (Dominguinhos e Anastácia, 1979) - música conhecida na voz (também apoteótica) de Nana Caymmi - após ter lembrado Saudades do Brasil em Portugal (1968), o fado que o poeta e compositor carioca Vinicius de Moraes (1913 - 1980) fez quando passava temporada na Terrinha. E nem tudo foi melancolia e tristeza. Fado lançado em 1934 pela cantora portuguesa Hermínia Silva (1907 - 19930, A velha tendinha (Raul Ferrão e José Galhardo) abriu alas em ritmo veloz para a alegria da carnavalizante Marcha de Alfama (Raul Ferrão e Amadeu do Vale). "Fado se aprende observando. Não está nos livros, não existem escolas. É aprendizagem da vida inteira", enfatizou Carminho numa das vezes que se dirigiu ao público. Pelo visto e ouvido no show Alma, Carminho aprendeu - e continua aprendendo - tudo.

Doug Carvalho disse...

Se o Brasil tem Elis, Bethânia e Gal, as três grandes cantoras do pós Bossa-Nova, Portugal tem Mariza, Ana Moura e Carminho as três grandes fadistas modernas.

Três extraordinárias cantoras que, por motivos absolutamente impossíveis para mim compreender, o Brasil simplesmente ignora.

No encarte de um dos discos de Maria Bethânia (Ciclo, se não me engano), ela fala que o Brasil passou a ficar de frente para os estados unidos e a não dar atenção para Portugal.

Uma pena, pq Portugal é o nosso mais forte traço de formação cultural e, musicalmente, para um país tão pequeno em tamanho, a mim impressiona o imenso talento de seus músicos. E essas três cantoras, em especial, são das melhores.

Things & Things Corporation disse...

Caro Doug ouça Gisela Joāo , a fadista que logo no seu album de estreia foi considerada um valor seguro no fado. O seu album homonimo foi considerado o melhor album de 2013 da musica portuguesa e nāo só na area do fado. Deixo aqui

linkhttps://www.youtube.com/watch?v=TdL-MHtRzD4&feature=youtube_gdata_player

Things & Things Corporation disse...

Caro Doug aconselho vivamente ouvir Gisela Joāo. O seu album de estreia foi considerado pela critica como o melhor album de 2013 nao só na area do fado mas entre todo o tipo de generos musicais editados em 2013, desde o indie, rock, pop, etc. Deixo aqui link para que ouça esta excepcional fadista.:-)

https://www.youtube.com/watch?v=TdL-MHtRzD4&feature=youtube_gdata_player

Things & Things Corporation disse...

Caro Doug ouça Gisela Joāo , a fadista que logo no seu album de estreia foi considerada um valor seguro no fado. O seu album homonimo foi considerado o melhor album de 2013 da musica portuguesa e nāo só na area do fado. Deixo aqui

linkhttps://www.youtube.com/watch?v=TdL-MHtRzD4&feature=youtube_gdata_player