Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Cañas ainda oscila em 'Coração inevitável', o registro de seu show 'Volta'

Resenha de CD e DVD
Título: Coração inevitável
Artista: Ana Cañas
Gravadora: Guela Records / Som Livre
Cotação: * * 1/2

Sob a direção e a luz de Ney Matogrosso, Ana Cañas exercitou certa teatralidade no show Volta, estreado em 2012 com base no terceiro álbum da cantora e compositora paulista, também intitulado Volta (Guela Records / Som Livre, 2012). Em cena, Cañas podou excessos autorais de seu repertório desigual e mostrou algum poder de sedução. Contudo, o registro ao vivo do show Volta - captado em apresentação feita em maio deste ano de 2013 no Teatro Geo, em São Paulo (SP) - revela que a discografia de Cañas ainda oscila. Coração inevitável é o título do registro ao vivo editado em CD e DVD com distribuição da gravadora Som Livre. O show visto no vídeo - dirigido com apuro por Vera Egito - tem roteiro levemente diferente do espetáculo apresentado por Cañas no Rio de Janeiro (RJ) em setembro de 2012 (clique aqui para ler a resenha). Aparece em Coração inevitável, por exemplo, abordagem de Codinome Beija-flor (Reinaldo Arias, Cazuza e Ezequiel Neves, 1985) que resulta insossa, sem nada acrescentar ao registro original do cantor e compositor carioca Cazuza (1958 - 1990). À safra autoral de Volta, Cañas adiciona no DVD o inédito blues-rock Traidor. Canção de leveza pop, composta pela artista em memória de seu pai (falecido em 2006), Te ver feliz - inserida como faixa-bônus no CD em gravação de estúdio - é outra novidade, mais agradável aos ouvidos e com cacife para se tornar hit se for inserida na trilha sonora de uma das próximas novelas da TV Globo. Ainda assim, tais inéditas não anulam a impressão persistente de Cañas ser melhor cantora do que compositora. A irregularidade de seu repertório autoral faz oscilar o poder de sedução de Coração inevitável. Acima dessa irregularidde, contudo, paira o virtuosismo vocal da intérprete, capaz de dar voz com segurança a um standard do porte de Stormy weather (Harold Arlen e Ted Koehler, 1933). Entre poemas de sua própria autoria (Amar, A minha vingança é sorrir e Louca, louca, louca), Cañas recebe o cantor e compositor paulista Nando Reis, com quem revive a graciosa canção Pra você guardei o amor - gravada por Cañas em dueto com o autor no oitavo álbum solo de Reis, Drês (2009) - e ao lado de quem apresenta a primeira parceria de ambos, Você bordado, canção de vibe pop roqueira. A entrada em cena de Nando Reis valoriza o show. Boa sacada do roteiro original de 2012, Mulher o suficiente (Alzira Espíndola e Vera Lúcia Motta, 1995) soa infelizmente déjà vu no CD e DVD pelo fato de outra gravação da música - feita pela cantora baiana Simone para seu recente CD É melhor ser (2013) e escolhida como primeiro single do álbum - ter alcançado certa repercussão nos últimos meses. Seja como for, Coração inevitável sinaliza que Ana Cañas ainda precisa ajustar o foco de seu repertório. O mercado fonográfico está cada vez mais segmentado e o fato é que - após três discos de estúdio e um registro de show - a identidade da cantora ainda não está bem delineada, o que pode dificultar a adesão do público ao seu canto multifacetado.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Sob a direção e a luz de Ney Matogrosso, Ana Cañas exercitou certa teatralidade no show Volta, estreado em 2012 com base no terceiro álbum da cantora e compositora paulista, também intitulado Volta (Guela Records / Som Livre, 2012). Em cena, Cañas podou excessos autorais de seu repertório desigual e mostrou algum poder de sedução. Contudo, o registro ao vivo do show Volta - captado em apresentação feita em maio deste ano de 2013 no Teatro Geo, em São Paulo (SP) - revela que a discografia de Cañas ainda oscila. Coração inevitável é o título do registro ao vivo editado em CD e DVD com distribuição da gravadora Som Livre. O show visto no vídeo - dirigido com apuro por Vera Egito - tem roteiro levemente diferente do espetáculo apresentado por Cañas no Rio de Janeiro (RJ) em setembro de 2012 (clique aqui para ler a resenha). Aparece em Coração inevitável, por exemplo, abordagem de Codinome Beija-flor (Reinaldo Arias, Cazuza e Ezequiel Neves, 1985) que resulta insossa, sem nada acrescentar ao registro original do cantor e compositor carioca Cazuza (1958 - 1990). À safra autoral de Volta, Cañas adiciona o inédito blues-rock Traidor. Canção de leveza pop, composta pela artista em memória de seu pai (falecido em 2006), Te ver feliz - inserida como faixa-bônus no CD em gravação de estúdio - é outra novidade, mais agradável aos ouvidos e com cacife para se tornar hit se for inserida na trilha sonora de uma das próximas novelas da TV Globo. Ainda assim, tais inéditas não anulam a impressão persistente de Cañas ser melhor cantora do que compositora. A irregularidade de seu repertório autoral faz oscilar o poder de sedução de Coração inevitável. Acima dessa irregularidde, contudo, paira o virtuosismo vocal da intérprete, capaz de dar voz com segurança a um standard do porte de Stormy weather (Harold Arlen e Ted Koehler, 1933). Entre poemas de sua própria autoria (Amar, A minha vingança é sorrir e Louca, louca, louca), Cañas recebe o cantor e compositor paulista Nando Reis, com quem revive a graciosa canção Pra você guardei o amor - gravada por Cañas em dueto com o autor no oitavo álbum solo de Reis, Drês (2009) - e ao lado de quem apresenta a primeira parceria de ambos, Você bordado, canção de vibe pop roqueira. A entrada em cena de Nando Reis valoriza o show. Boa sacada do roteiro original de 2012, Mulher o suficiente (Alzira Espíndola e Vera Lúcia Motta, 1995) soa infelizmente déjà vu no CD e DVD pelo fato de outra gravação da música - feita pela cantora baiana Simone para seu recente CD É melhor ser (2013) e escolhida como primeiro single do álbum - ter alcançado certa repercussão nos últimos meses. Seja como for, Coração inevitável sinaliza que Ana Canãs ainda precisa ajustar o foco de seu repertório. O mercado fonográfico está cada vez mais segmentado e o fato é que - após três discos de estúdio e um registro de show - a identidade da cantora ainda não está bem delineada, o que pode dificultar a adesão do público ao seu canto multifacetado.

Fabio disse...

Cañas fez o mesmo que Cássia Eller quando virou "musa" de Nando Reis: deixou de lado o repertório dos primeiros trabalhos. Uma pena! Ana Cañas ficou melosa/romântica e o seu coração nesse ultimo trabalho é evitável! :(

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu juro que não conheço essa cantora,mas se o Zé Henrique gosta,só pode ser bom.

Estalactites hemorrágicas disse...

Ela manda MUITO bem em "Mulher o Suficiente"

Ricardo Sérgio

Rhenan Soares disse...

Não tive tempo de ver o DVD ainda, mas a versão da Cañas para "Mulher o Suficiente" é bastante superior à da Simone.

E não acho que a participação do Nando valorize o produto, não. Para mim ele sempre acaba com as próprias músicas...