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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Péricles Cavalcanti explica CD 'Frevox', 'pregão pop' de espírito gregário

Sétimo título da discografia do compositor carioca Péricles Cavalcanti, Frevox (DeleDela / Pommelo) é - em tese - um álbum solo, mas tem espírito gregário. Tanto que o artista dá voz sozinho somente a quatro das 18 músicas deste disco gravado entre janeiro de 2010 e julho de 2013, com produção do próprio Péricles Cavalcanti. Eis o texto em que o compositor do reggae Clariô (1977) e da canção Elegia (Péricles Cavalcanti e Augusto de Campos a partir de poema de John Donne, 1979) explica a gestação, o conceito e o repertório do recém-lançado Frevox:

Quando o DJ Zé Pedro me disse que queria fazer um disco com algumas de minhas composições, interpretadas por cantoras da nova cena, fiquei impressionado e contente com a sintonia de seu projeto com o disco que eu já vinha gravando (desde 2010), que já contava com a participação de Karina Buhr, Iara Rennó, Tié, Tulipa, Juliana Kehl e de outros artistas desta cena e de outras. Fiquei mais feliz, ainda, quando ouvi no que resultou este Mulheres de Péricles, que além do mais teve a curadoria de minha filha, Nina Cavalcanti.
Desde o princípio pensava neste Frevox quase como um disco coletivo (até pensei chamá-lo Música anônima ou Entre muitos outros ou, ainda, Depois do disco). Tanto que, com o tempo, fui convidando cada vez mais artistas para participar: Arrigo Barnabé, Luisa Maita, Lucinha Turnbull, Marcelo Jeneci, Rodrigo Campos, Romulo Fróes, além de meu filho Leo Cavalcanti. Era pra soar assim mesmo, como um pregão pop, plural e abrangente!
Dentre as dezoito faixas, há apenas quatro em que estou solo como intérprete vocal (em duas delas estou solo, também, no acompanhamento). Isso tudo sem falar dos muitos instrumentistas que participam dele, entre os quais o grande Lanny Gordin.
Frevox é também o nome da faixa que fecha o disco, além de ser uma das que mais gosto, por expressar muito do que sinto e penso com relação à música popular. E diz muito, também, sobre o espírito ligeiro e errático deste disco que combina vários estilos de composição e de vocais, de gêneros pop e de formações instrumentais. Gosto de que a palavra Vox esteja embutida neste título, justamente pela pluralidade de marcas dos participantes, coisa que Arnaldo Antunes, imediatamente, ressaltou quando lhe pedi que fizesse sua bela caligrafia para a capa.
E, embora o repertório pareça um pouco mais caótico e heterogêneo do que o de O rei da cultura (disco mais homogêneo do ponto de vista temático e musical) , neste Frevox também se encontram algumas das mesmas referências que acompanham o meu trabalho como compositor, desde o início: a Grécia antiga, aqui representada por citações do deus Dionísio (em Frevox), do pensador pré-socrático Anaxímenes, em Respiro, de Helena de Tróia e Menelau, em Cadê ela?, do deus Eros (em Safados) e ainda de Xantipa (mulher de Sócrates) e de Aspásia (mulher de Péricles) em De alma e de sangue.
Além disso, há sempre alusões, que adoro fazer: a gêneros pop, como o reggae, em algumas faixas ou às diversas vertentes do samba em Se for um samba, por exemplo; ou à Sex-machine de James Brown, em Sex-maxixe; ou a artistas como Lee Scratch Perry em Entre muitos outros ou, ainda, a verdadeira coleção de ídolos do rock em A comovente história do Beatle que virou duende e em Juro (largo tudo por você). O tema da primeira, parceria com Dudu Tsuda, tem a ver com a afirmação de Garcia Lorca de que bons cantores tem duendes na voz. Quanto a Juro, compus para gravar com os meus amigos da banda Cachorro Grande, pois há tempos planejávamos uma parceria. A outra faixa composta assim foi Bem-vindos, para Tiê.
Entre todas as faixas, dezesseis são inéditas e apenas duas são regravações: O céu e o som, que sempre tive vontade de fazer de uma maneira mais cubana, com mais salsa, desde que compus para Gal incluir no seu belo Cantar.
A outra é a Marcha da baleia, que compus para o espetáculo A farra da terra, do Asdrúbal Trouxe o Trombone, em 1982, e cuja motivação para regravar teve muito a ver com a leitura recente que fiz de Moby Dick, por causa de uma observação de H. Melville muito semelhante à primeira linha de minha canção: ”caiu na água, é peixe...” (embora baleias sejam cetáceos). Adorei! Para esta gravação, pedi à Lurdez da Luz que escrevesse um rap da baleia, o que ela fez com muita graça e propriedade.
Não posso deixar de me referir à importância da participação de Pipo Pegoraro que, além de tocar bateria em algumas faixas, foi fundamental, nas edições e mixagens, para a consolidação final de alguns arranjos e da sonoridade geral deste Frevox.
Péricles Cavalcanti

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Sétimo título da discografia do compositor carioca Péricles Cavalcanti, Frevox (DeleDela / Pommelo) é - em tese - um álbum solo, mas tem espírito gregário. Tanto que o artista dá voz sozinho somente a quatro das 18 músicas deste disco gravado entre janeiro de 2010 e julho de 2013, com produção do próprio Péricles Cavalcanti.