Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

'Natal em família' faz a festa pop popular do Brasil pagodeiro e sertanejo

Resenha de CD
Título: Natal em família
Artista: vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * 

Com a MPB e o rock relegados a nichos do esfacelado mercado fonográfico, o pagode e - sobretudo - o sertanejo pop se tornaram a trilha sonora preferencial de um Brasil que ignora a movimentação indie dos centros urbanos. Natal em família - CD que a gravadora Som Livre pôs nas lojas neste mês de dezembro de 2013 - faz a festa desse Brasil popular com 17 gravações inéditas de sucessos natalinos, feitas para o projeto por astros sertanejos e pagodeiros. Por mais que o resultado fique aquém do potencial das músicas, quase todas de grande beleza, Natal em família cumpre bem sua função de traduzir as canções natalinas para o idioma musical ouvido atualmente no país. O grupo carioca de pagode Sorriso Maroto abre o disco sem cair no samba. Sua abordagem de Natal todo dia (Maurício Gaetani, 2007) foi feita à moda do Roupa Nova, grupo que lançou esta bonita e melodiosa canção que tem cacife para permanecer no repertório natalino brasileiro. Na sequência, o cantor sul-matogrossense Luan Santana entoa Então é Natal, a conhecida versão de Claudio Rabello para Happy x-mas (War is over), o clássico pacifista de John Lennon (1940 - 1980) e Yoko Ono lançado pelo beatle em 1971. Com toques eletrônicos, o registro asséptico de Luan dá saudade da gravação feita por Simone para seu recordista álbum 25 de dezembro (Polygram, 1995). Conterrâneo de Luan, Michel Teló entrou com mais propriedade no espírito natalino ao pôr leve pegada sertaneja no toque do Sino de Belém, versão (de 1951) do compositor carioca Evaldo Rui (1913 - 1954) para Jingle bells (James Pierpont, 1857). Também dentro do espírito do Natal, o coro infantil inserido em Natal das crianças (Blecaute, 1955) valoriza a gravação confiada à cantora e compositora paraibana Roberta Miranda. Já o grupo carioca Bom Gosto faz pagode ao cair no suingue latino de Um Feliz Natal (José Feliciano, 1970, em versão de Ivan Lins). Entre tantos clássicos e astros, a cantora matogrossense Laís passa despercebida em Natal em família com Dindon dindon (Fátima Carvalho). O que não dá para ignorar é o fato de a beleza sublime da melodia de White Christmas (Irving Berlin, 1942) ter sido diluída pela dupla sertaneja paranaense Fernando & Sorocaba, intérprete da versão em português do tema, Natal branco, escrita pelo compositor fluminense Marino Pinto (1916 - 1965). Em outra latitude, a cantora inglesa Jesuton - estranha neste ninho pagodeiro e sertanejo - expõe o d.n.a. estrangeiro de seu canto ao dar voz a Jingle bell rock (Joseph Carleton Beal e James Ross Boothe, 1958). Já Claudia Leitte soa artificial em Meu menino Jesus, canção pouco conhecida do repertório religioso de Roberto Carlos, parceiro de Erasmo Carlos na composição do tema, lançado em álbum redundante de 1998. Cabe a dupla mineira Victor & Leo recolocar Natal em família no tom ao dar emoção a Noite feliz (Franz Gruber e Joseph Mohr, 1818 - em arranjo e adaptação de Leo Chaves). Na sequência, o grupo paulista Raça Negra revive O Homem de Nazareth (Cláudio Fontana) - sucesso do cantor paulista Antonio Marcos (1945 - 1992) em 1973 - com sua habitual levada pagodeira. Se falta fervor no registro de Jesus Cristo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1970) feito pelo sertanejo cantor goiano Cristiano Araújo, a música Para não ser triste (Edson Borges) - defendida pela dupla goiana João Neto & Frederico - carece de força no confronto com os imortais clássicos natalinos reunidos no disco. Boas festas (Assis Valente, 1933) é um deles. Pena que Gaby Amarantos ligou o piloto automático e acionou seu suingue tecnobrega em tom expansivo que vai de encontro à melancolia do tema. Com pegada dance, o cantor gaúcho Gabriel Valim também adota tom expansivo em O velhinho (Octávio Filho, 1953), mas sem contradizer a felicidade embutida na letra. Completam Natal em família duas músicas de Ivan Lins com Vitor Martins - Novo tempo (1980 - ouvida com o fervor do cantor mineiro de música evangélica André Valadão em arranjo modernoso) e Depende de nós (1985 - em registro artificial da já desfeita dupla sertaneja Thaeme & Thiago) - que cabem em qualquer época de festa. Enfim, Natal em família é disco produzido pela Som Livre para o Brasil que consome avidamente CDs de sertanejo pop e pagode. O disco pode - e certamente vai... - ferir ouvidos habituados aos padrões mais requintados da MPB, mas oferece a real trilha sonora do Brasil dos dias de hoje.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Com a MPB e o rock relegados a nichos do esfacelado mercado fonográfico, o pagode e - sobretudo - o sertanejo pop se tornaram a trilha sonora preferencial de um Brasil que ignora a movimentação indie dos centros urbanos. Natal em família - CD que a gravadora Som Livre pôs nas lojas neste mês de dezembro de 2013 - faz a festa desse Brasil popular com 17 gravações inéditas de sucessos natalinos, feitas para o projeto por astros sertanejos e pagodeiros. Por mais que o resultado fique aquém do potencial das músicas, quase todas de grande beleza, Natal em família cumpre bem sua função de traduzir as canções natalinas para o idioma musical ouvido atualmente no país. O grupo carioca de pagode Sorriso Maroto abre o disco sem cair no samba. Sua abordagem de Natal todo dia (Maurício Gaetani, 2007) foi feita à moda do Roupa Nova, grupo que lançou esta bonita e melodiosa canção que tem cacife para permanecer no repertório natalino brasileiro. Na sequência, o cantor sul-matogrossense Luan Santana entoa Então é Natal, a conhecida versão de Claudio Rabello para Happy x-mas (War is over), o clássico pacifista de John Lennon (1940 - 1980) e Yoko Ono lançado pelo beatle em 1971. Com toques eletrônicos, o registro asséptico de Luan dá saudade da gravação feita por Simone para seu recordista álbum 25 de dezembro (Polygram, 1995). Conterrâneo de Luan, Michel Teló entrou com mais propriedade no espírito natalino ao pôr leve pegada sertaneja no toque do Sino de Belém, versão (de 1951) do compositor carioca Evaldo Rui (1913 - 1954) para Jingle bells (James Pierpont, 1857). Também dentro do espírito do Natal, o coro infantil inserido em Natal das crianças (Blecaute, 1955) valoriza a gravação confiada à cantora e compositora paraibana Roberta Miranda. Já o grupo carioca Bom Gosto faz pagode ao cair no suingue latino de Um Feliz Natal (José Feliciano, 1970, em versão de Ivan Lins). Entre tantos clássicos e astros, a cantora matogrossense Laís passa despercebida em Natal em família com Dindon dindon (Fátima Carvalho). O que não dá para ignorar é o fato de a beleza sublime da melodia de White Christmas (Irving Berlin, 1942) ter sido diluída pela dupla sertaneja paranaense Fernando & Sorocaba, intérprete da versão em português do tema, Natal branco, escrita pelo compositor fluminense Marino Pinto (1916 - 1985). Em outra latitude, a cantora inglesa Jesuton - estranha neste ninho pagodeiro e sertanejo - expõe o d.n.a. estrangeiro de seu canto ao dar voz a Jingle bell rock (Joseph Carleton Beal e James Ross Boothe, 1958). Já Claudia Leitte soa artificial em Meu menino Jesus, canção pouco conhecida do repertório religioso de Roberto Carlos, parceiro de Erasmo Carlos na composição do tema, lançado em álbum redundante de 1998.

Mauro Ferreira disse...

Cabe a dupla mineira Victor & Leo recolocar Natal em família no tom ao dar emoção precisa a Noite feliz (Franz Gruber e Joseph Mahr em arranjo e adaptação de Leo Chaves). Na sequência, o grupo paulista Raça Negra revive O Homem de Nazareth (Cláudio Fontana) - sucesso do cantor paulista Antonio Marcos (1945 - 1992) em 1973 - com sua habitual levada pagodeira. Se falta fervor no registro de Jesus Cristo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1970) feito pelo sertanejo cantor goiano Cristiano Araújo, a música Para não ser triste (Edson Borges) - defendida pela dupla goiana João Neto & Frederico - carece de força no confronto com os imortais clássicos natalinos reunidos no disco. Boas festas (Assis Valente, 1933) é um deles. Pena que Gaby Amarantos ligou o piloto automático e acionou seu suingue tecnobrega em tom expansivo que vai de encontro à melancolia do tema. Com pegada dance, o cantor gaúcho Gabriel Valim também adota tom expansivo em O velhinho (Octávio Filho, 1957), mas sem contradizer a felicidade embutida na letra. Completam Natal em família duas músicas de Ivan Lins com Vitor Martins - Novo tempo (1980 - ouvida com o fervor do cantor mineiro de música evangélica André Valadão em arranjo modernoso) e Depende de nós (1985 - em registro artificial da já desfeita dupla sertaneja Thaeme & Thiago) - que cabem em qualquer época de festa. Enfim, Natal em família é disco produzido pela Som Livre para o Brasil que consome avidamente CDs de sertanejo pop e pagode. O disco pode - e certamente vai... - ferir ouvidos habituados aos padrões mais requintados da MPB, mas oferece a real trilha sonora do Brasil dos dias de hoje.

Marcelo Barbosa disse...

Ao querido crítico e a todos os leitores do blog eu desejo um feliz Natal! MAS ninguém merece passar um Natal com essa trilha desgraçada. HAJA LIXO!

falsobrilhante disse...

Misericórdia. Acabou com o restinho do espírito natalino que ainda pudesse haver.

Marcelo disse...

Com essa trilha nem Papai Noel chega perto da casa que toca esse lixo!!!!!!!!!

Mauro Ferreira disse...

Feliz Natal a todos os leitores de Notas Musicais. E, por favor, vamos exercitar a tolerância com o gosto alheio. Nossos ouvidos, mentes e corações são da MPB, mas há quem goste dos cantores e duplas reunidos em 'Natal em família'. Aliás, a maioria gosta! Viva a diversidade! Abs, grato a todos pela leitura e pelos comentários. Mauro Ferreira

Marcelo disse...

Tolero e desejo isso bem longe de mim Mauro!!!

Leandro.F disse...

Jesus-Maria-José!
Só faltou anunciarem que existe versão DELUXE com a faixa "Santa Baby" interpretada por Anitta.

Sim, Mauro, vamos exercitar a tolerância com o gosto alheio, mas convenhamos que ler "... o registro asséptico de Luan dá saudade da gravação feita por Simone para seu recordista álbum 25 de dezembro" é mais que suficiente pra criar desespero em qualquer um. Depois disso não adianta dar puxão de orelha. Feliz Natal!

Doug Carvalho disse...

No dia em que Mônica Salmaso e Ná Ozzetti cantarem no Faustão, aparecerem em trilha de novela e tocarem na FM, eu vou ser tolerante. Até lá:

ESSE FOI PRA NINGUÉM MAIS RECLAMAR DO DISCO DA SIMONE, NÉ???????????