Mauro Ferreira no G1

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domingo, 9 de outubro de 2011

Nem 'apagão' carioca tira a luz do eletrizante show de Zé Ramalho no Rio

Resenha de show
Título: A Caixa de Pandora
Artista: Zé Ramalho (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 8 de outubro
Cotação: * * * * 1/2

Zé Ramalho mal tinha começado a cantar Banquete de Signos quando o palco da casa Vivo Rio ficou às escuras, forçando a interrupção da primeira apresentação carioca do show A Caixa de Pandora. Não era um problema da casa. Um apagão deixou às escuras bairros do Centro e da Zona Sul do Rio de Janeiro (RJ) na noite de sábado, 8 de outubro. Contudo, nem esse apagão tirou a luz de um show tão simples quanto eletrizante. Com sua cavernosa voz em ótima forma, Ramalho deleitou seu público com um banquete de hits próprios e alheios. Contornada a falta de luz com o uso de geradores, o show recomeçou e retomou a pegada azeitada de antes. Apagão à parte, a estreia carioca de A Caixa de Pandora somente não foi perfeita porque o roteiro incluiu música opaca - Companheira de Alta Luz, parceria de Ramalho com Fausto Nilo, lançada pelo cantor em seu álbum Eu Sou Todos Nós (1998) - que resultou longa e enfadonha no show. No bis, Ramalho também flertou com o brega ao reviver Sinônimos, canção mais óbvia, popularizada nas vozes sertanejas de Chitãozinho & Xororó. No mais, tudo transcorreu sem deslizes. Já na abertura - com abordagem épica de O Que É O Que É (Gonzaguinha, 1982), feita fora do universo do samba - Ramalho já disse a que veio. Na sequência, o cantor marchou dentro do ritmo de Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Caminhando) - o hino resistente de Geraldo Vandré, acompanhado em coro pelo público - e logo chegou em sua obra autoral de tons místicos, filosóficos e apocalípticos. Se A Terceira Lâmina resultou menos cortante ao ser acelerada em clima de forró, Eternas Ondas, Avohai, Vila do Sossego e Chão de Giz foram encadeadas em sequência iluminada que eletrizou o público. Sem falar em Admirável Gado Novo, aboio épico que conserva o frescor de 1979. Em seguida, o cantor abordou a obra de Raul Seixas (1945 - 1989 - "Colega de profecias", na definição dada em cena pelo próprio Ramalho - com as oportunas lembranças de O Trem das Sete (Raul Seixas) e Medo da Chuva (Raul Seixas e Paulo Coelho), músicas do álbum Gita (1974). Enfim, com voz e pegada (além de banda afiada), Zé Ramalho acertou ao tirar apenas sucessos de sua Caixa de Pandora e mostrou que, no palco, ainda vive momentos de alta luz.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Zé Ramalho mal tinha começado a cantar Banquete de Signos quando o palco da casa Vivo Rio ficou às escuras, forçando a interrupção da primeira apresentação carioca do show A Caixa de Pandora. Não era um problema da casa. Um apagão deixou às escuras bairros do Centro e da Zona Sul do Rio de Janeiro (RJ) na noite de sábado, 8 de outubro. Contudo, nem esse apagão tirou a luz de um show tão simples quanto eletrizante. Com sua cavernosa voz em ótima forma, Ramalho deleitou seu público com um banquete de hits próprios e alheios. Contornada a falta de luz com o uso de geradores, o show recomeçou e retomou a pegada azeitada de antes. Apagão à parte, a estreia carioca de A Caixa de Pandora somente não foi perfeita porque o roteiro incluiu música opaca - Companheira de Alta Luz, parceria de Ramalho com Fausto Nilo, lançada pelo cantor em seu álbum Eu Sou Todos Nós (1998) - que resultou longa e enfadonha no show. No bis, Ramalho também flertou com o brega ao reviver Sinônimos, canção mais óbvia, popularizada nas vozes sertanejas de Chitãozinho & Xororó. No mais, tudo transcorreu sem deslizes. Já na abertura - com abordagem épica de O Que É O Que É (Gonzaguinha, 1972), feita fora do universo do samba - Ramalho já disse a que veio. Na sequência, o cantor marchou dentro do ritmo de Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Caminhando) - o hino resistente de Geraldo Vandré, acompanhado em coro pelo público - e logo chegou em sua obra autoral de tons místicos, filosóficos e apocalípticos. Se A Terceira Lâmina resultou menos cortante ao ser acelerada em clima de forró, Eternas Ondas, Avohai, Vila do Sossego e Chão de Giz foram encadeadas em sequência iluminada que eletrizou o público. Sem falar em Admirável Gado Novo, aboio épico que conserva o frescor de 1979. Em seguida, o cantor abordou a obra de Raul Seixas (1945 - 1989 - "Colega de profecias", na definição dada em cena pelo próprio Ramalho - com as oportunas lembranças de O Trem das Sete (Raul Seixas) e Medo da Chuva (Raul Seixas e Paulo Coelho), músicas do álbum Gita (1974). Enfim, com voz e pegada (além de banda afiada), Zé Ramalho acertou ao tirar apenas sucessos de sua Caixa de Pandora e mostrou que, no palco, ainda vive momentos de alta luz.

Luca disse...

Pelo que li aqui dos shows de Zé e Geraldo fico com este, que mostrou música nova, qual o mérito de fazer eternamente o mesmo show?

valderiofreire disse...

O que é o que é - do gonzaguinha - é de 1982, acredito eu!

Mauro Ferreira disse...

Sim, Valderio, o samba é de 1982. Grato por me alertar para o erro de digitação. Abs, MauroF

Chabacano disse...

[Eternas Ondas, Avohai, Vila do Sossego e Chão de Giz foram encadeadas em sequência iluminada que eletrizou o público]

Realmente, uma senhora sequência de músicas do Zé Ramalho. Gosto muito também da versão dele para "Trem das 7". Lembro também de duas outras ótimas covers dele, "Hino de Duran" e "Um Índio", que, até onde eu saiba, nunca foram cantadas ao vivo. Foram?