Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


domingo, 16 de outubro de 2011

Em show, Alcione dá as duas faces para bater em dois tipos de emoções

Resenha de show
Título: Duas Faces
Artista: Alcione (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 15 de outubro de 2011
Cotação: * * * 1/2
Agenda da turnê nacional do show Duas Faces:
* 20 de outubro de 2011 - Teatro Castro Alves (Salvador, BA)
* 21 de outubro de 2011 - Universidade Federal de Pernambuco (Recife, PE)
* 22 de outubro de 2011 - Teatro Riachuelo (Natal, RN)
* 28 de outubro de 2011 - HSBC Brasil (São Paulo, SP)
* 29 de outubro de 2011 - Chevrolet Hall (Belo Horizonte, MG)
* 5 de novembro de 2011 - Planet Music Hall (Porto Alegre, RS)
* 12 de novembro de 2011 - Batuque Brasil (São Luís do Maranhão, MA)
* 3 de dezembro de 2011 - Nossa Casa Show (Juazeiro, BA)

Há exatos dois anos, em 16 de outubro de 2009, Alcione estreou em São Paulo (SP) Acesa, show que representou upgrade na carreira da cantora nos palcos por diluir os habituais excessos da intérprete em cena sem prejuízo de sua espontaneidade. Duas Faces - show que celebra os 40 anos da Marrom - trilha esse mesmo bom caminho, a julgar pela estreia nacional da turnê, em apresentação que lotou a casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), em 15 de outubro de 2011. No show baseado nos repertórios dos dois CDs/DVDs que compõem o projeto duplo Duas Faces, Jam Session (já nas lojas) e Ao Vivo na Mangueira (a ser lançado em breve), Alcione dispensa os bailarinos recorrentes em seus povoados espetáculos. Até mesmo o cenário - composto por alguns lustres - também é mais clean. O foco principal repousa sobre o canto. Como a voz se mostrou em boa forma na estreia, a opção por certa sobriedade resulta acertada. Em roteiro generoso que totaliza 30 músicas, entoadas com o popular padrão estético da Banda do Sol, Alcione mostra sem pudor sua face mais conhecida hoje em dia, a da cantora  de estilo explode coração que se entrega a baladas de romantismo exacerbado como Além da Cama (Michael Sullivan e Carlos Colla), Faz Uma Loucura por Mim (Chico Roque e Sérgio Caetano) e a até então esquecida Metade de Mim (José Augusto e Paulo Sérgio Valle). É a cantora que atende prontamente o pedido dos fãs (em votação pela internet) para cantar Medo, tema populista de Roberta Miranda, lançado por Alcione no álbum Promessa (1992). Contudo, boa samaritana, a Marrom também oferece a outra face para bater em tipo de emoção mais refinada. É essa face que expõe a beleza de temas como Velho Barco (Reginado Bessa e Nei Lopes) - lado B do álbum Almas & Corações (1983) - e Quem Já Esteve Só (Ivor Lancellotti e Paulo César Pinheiro), música inédita que foi retirada do baú da Marrom neste ano de 2011 para ser incluída no repertório do CD e DVD Jam Session. Se O Poder da Criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro) expõe em cena toda a força de um grande samba, os boleros Todavía (Armando Manzanero) e Estate (Bruno Martino e Bruno Brighetti)  reiteram a habilidade poliglota da cantora diplomada como crooner na escola da noite carioca dos anos 70 antes de ser projetada nacionalmente em 1975. E poucas cantoras conseguiriam alinhar lado a lado em roteiro um tema lírico do compositor angolano André Mingas (Pôr do Sol, parceria com Manuel Rui) e um samba erotizado como Meu Ébano (Nenéo e Paulinho Rezende) sem causar estranhamento na plateia. Alcione consegue. Com livre trânsito em todos os gêneros e estilos, a Marrom irmana samba-canção gravado nos anos 50 por Ângela Maria (Rua sem Sol, de Mário Lago e Henrique Gandelmann), canção francesa do repertório de Charles Aznavour (Comme Ils Disent) e sucesso do cantor paraense Ary Lobo (1930 - 1980), Evolução (J. Cavalcanti, Lino Reis e Aguiar Filho), de pegada nordestina.  Entre a nostalgia melancólica de Cajueiro Velho (João Carlos, oportuna lembrança do álbum Morte de Um Poeta, de 1976) e a destreza do ótimo samba de breque Mulher Bombeiro (Ruy Quaresma e Nei Lopes), Alcione realça em interpretação polida o classicismo romântico de Sem Mais Adeus (Francis Hime e Vinicius de Moraes). Um dos mais fluentes shows da recente trajetória de Alcione nos palcos, Duas Faces harmoniza gêneros e emoções díspares pela voz potente da Marrom. Pena que, na estreia nacional, o show tenha tido fim estranho com a presença de Alcione sendo ofuscada pela entrada de ritmistas da bateria da escola de samba Mangueira após a apresentação do samba Verde e Rosa (Silvio César). O fim precisa ser mais ensaiado... Algo fácil de ser corrigido ao longo da turnê que vai expor para o Brasil as duas complementares faces musicais de Alcione.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Há exatos dois anos, em 16 de outubro de 2009, Alcione estreou em São Paulo (SP) Acesa, show que representou upgrade na carreira da cantora nos palcos por diluir os habituais excessos da intérprete em cena sem prejuízo de sua espontaneidade. Duas Faces - show que celebra os 40 anos da Marrom - trilha esse mesmo bom caminho, a julgar pela estreia nacional da turnê, em apresentação que lotou a casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), em 15 de outubro de 2011. No show baseado nos repertórios dos dois CDs/DVDs que compõem o projeto duplo Duas Faces, Jam Session (já nas lojas) e Ao Vivo na Mangueira (a ser lançado em breve), Alcione até dispensa os bailarinos recorrentes em seus espetáculos. O cenário - composto por alguns lustres - também é mais clean. O foco principal repousa sobre o canto. Como a voz se mostrou em boa forma na estreia, a opção por certa sobriedade resulta acertada. Em roteiro generoso que totaliza 30 músicas, entoadas com o popular padrão estético da Banda do Sol, Alcione mostra sem pudor sua face mais conhecida hoje em dia, a da cantora de estilo explode coração que se entrega a baladas de romantismo exacerbado como Além da Cama (Michael Sullivan e Carlos Colla), Faz Uma Loucura por Mim (Chico Roque e Sérgio Caetano) e a até então esquecida Metade de Mim (José Augusto e Paulo Sérgio Valle). É a cantora que atende prontamente o pedido dos fãs (em votação pela internet) para cantar Medo, tema populista de Roberta Miranda, lançado por Alcione no álbum Promessa (1992). Contudo, boa samaritana, a Marrom também oferece a outra face para bater em tipo de emoção mais refinada. É essa face que expõe a beleza de temas como Velho Barco (Reginado Bessa e Nei Lopes) - lado B do álbum Almas & Corações (1983) - e Quem Já Esteve Só (Ivor Lancellotti e Paulo César Pinheiro), música inédita que foi retirada do baú da Marrom neste ano de 2011 para ser incluída no repertório do CD e DVD Jam Session. Se O Poder da Criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro) expõe em cena toda a força de um grande samba, os boleros Todavía (Armando Manzanero) e Estate (Bruno Martino e Bruno Brighetti) reiteram a habilidade poliglota da cantora diplomada como crooner na escola da noite carioca dos anos 70 antes de ser projetada nacionalmente em 1975. E poucas cantoras conseguiriam alinhar lado a lado em roteiro um tema lírico do compositor angolano André Mingas (Pôr do Sol, parceria com Manuel Rui) e um samba erotizado como Meu Ébano (Nenéo e Paulinho Rezende) sem causar estranhamento na plateia. Alcione consegue. Com livre trânsito em todos os gêneros e estilos, a Marrom irmana samba-canção gravado nos anos 50 por Ângela Maria (Rua sem Sol, de Mário Lago e Henrique Gandelmann), canção francesa do repertório de Charles Aznavour (Comme Ils Disent) e sucesso do cantor paraense Ary Lobo (1930 - 1980), Evolução (J. Cavalcanti, Lino Reis e Aguiar Filho), de pegada nordestina. Entre a nostalgia melancólica de Cajueiro Velho (João Carlos, oportuna lembrança do álbum Morte de Um Poeta, de 1976) e a destreza do ótimo samba de breque Mulher Bombeiro (Nei Lopes, sempre inspirado), Alcione realça em interpretação polida o classicismo romântico de Sem Mais Adeus (Francis Hime e Vinicius de Moraes). Um dos mais fluentes shows da recente trajetória de Alcione nos palcos, Duas Faces harmoniza gêneros e emoções díspares pela voz potente da Marrom. Pena que, na estreia nacional, o show tenha tido fim estranho com a presença de Alcione sendo ofuscada pela entrada de ritmistas da bateria da escola de samba Mangueira após a apresentação do samba Verde e Rosa (Silvio César). O fim precisa ser mais ensaiado... Algo fácil de ser corrigido ao longo da turnê que vai expor para o Brasil as duas complementares faces musicais de Alcione.