Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Emotiva, Marya Bravo reabre inventário hippie ao cantar Rodrix em show

Resenha de show
Título: De Pai para Filha - Marya Bravo Canta Zé Rodrix
Artista: Marya Bravo (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Solar do Botafogo (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 10 de outubro de 2011
Cotação: * * * *

Na primeira metade dos anos 70, o mundo amargou a ressaca da festa dos 60. Alguns compositores refletiram sobre o fim do sonho e dos ideais humanitários pregados pela contracultura. Belchior foi um deles. Zé Rodrix (1947 - 2009) foi outro. É por isso que - ciente de que hoje ainda pode ser dia do rock daqueles tempos reflexivos - Marya Bravo de certa forma reabre o inventário da era hippie ao cantar a obra de Zé Rodrix no show De Pai para Filha, que voltou à cena no Rio de Janeiro em apresentação que movimentou o Solar de Botafogo na noite de 10 de outubro de 2011. Emocionada, Bravo fez  apresentação pulsante como o disco editado pela gravadora Joia Moderna com o registro de estúdio do show. Houve falhas em algumas projeções. Contudo, o show transcorreu coeso. Já no primeiro dos 19 números - Morse (Wagner Tiso, Tavito e Zé Rodrix, 1970), tema entoa pela cantora ainda atrás da cortina que servia de cenário - ficou evidente o domínio cênico da artista, qualidade natural em uma cantora que sempre soltou a voz potente em musicais de teatros. Entre rocks como Casca de Caracol, (Zé Rodrix, 1973) e baladas como a Primeira Canção da Estrada (Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix, 1972), salta aos ouvidos a pegada firme da Eletro Banda, companheira de Bravo no CD e no show que extrapola o repertório do disco por incluir no roteiro temas como Desenhos no Jornal (Luiz Carlos Sá, Guarabyra e Zé Rodrix, 1973), música obscura do repertório do trio Sá, Rodrix & Guarabyra, expoente do gênero conhecido como rock rural. Na apresentação do Solar de Botafogo, que foi ficando mais vibrante à medida em que avançavam os 17 números, o primeiro grande momento veio com Quando Você Ficar Velho (Zé Rodrix, 1973), balada arranjada com toques minimalistas de guitarra e teclado. Na sequência, Eu Vou Comprar Esse Disco (Zé Rodrix e Lamis, 1976) manteve o nivel alto em interpretação que foi ganhando intensidade crescente Se Receita de Bolo (Zé Rodrix e Tavito, 1973) mostrou que o groove da Eletro Banda nunca desanda, Soy Latino Americano (Zé Rodrix e Livi, 1976) foi a pitada de latinidade em show de rock, reafirmado em Hey Man (Zé Rodrix e Tavito, 1970) - música que fica maior no show do que no disco - e em Mestre Jonas (Zé Rodrix, 1973). Única música que não é da lavra de Rodrix, mas gravada por ele enquanto integrante do grupo Som Imaginário, Feira Moderna (Beto Guedes, Fernando Brant e Lô Borges, 1970) está em sintonia com o tom humanitário de cancioneiro que apontou caminhos e, quando tudo parecia perdido, propôs reflexões - umas datadas, outras ainda atuais como o som de Bravo e da Eletro Banda.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Na primeira metade dos anos 70, o mundo amargou a ressaca da festa dos 60. Alguns compositores refletiram sobre o fim do sonho e dos ideais humanitários pregados pela contracultura. Belchior foi um deles. Zé Rodrix (1947 - 2009) foi outro. É por isso que - ciente de que hoje ainda pode ser dia do rock daqueles tempos reflexivos - Marya Bravo de certa forma reabre o inventário da era hippie ao cantar a obra de Zé Rodrix no show De Pai para Filha, que voltou à cena no Rio de Janeiro em apresentação que movimentou o Solar de Botafogo na noite de 10 de outubro de 2011. Emocionada, Bravo fez apresentação pulsante como o disco editado pela gravadora Joia Moderna com o registro de estúdio do show. Houve falhas em algumas projeções. Contudo, o show transcorreu coeso. Já no primeiro dos 19 números - Morse (Wagner Tiso, Tavito e Zé Rodrix, 1970), tema entoa pela cantora ainda atrás da cortina que servia de cenário - ficou evidente o domínio cênico da artista, qualidade natural em uma cantora que sempre soltou a voz potente em musicais de teatros. Entre rocks como Casca de Caracol, (Zé Rodrix, 1973) e baladas como a Primeira Canção da Estrada (Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix, 1972), salta aos ouvidos a pegada firme da Eletro Banda, companheira de Bravo no CD e no show que extrapola o repertório do disco por incluir no roteiro temas como Desenhos no Jornal (Luiz Carlos Sá, Guarabyra e Zé Rodrix, 1973), música do repertório do trio Sá, Rodrix & Guarabyra, expoente do gênero conhecido como rock rural. Na apresentação do Solar de Botafogo, que foi ficando mais vibrante à medida em que avançavam os 17 números, o primeiro grande momento veio com Quando Você Ficar Velho (Zé Rodrix, 1973), balada arranjada com toques minimalistas de guitarra e teclado. Na sequência, Eu Vou Comprar Esse Disco (Zé Rodrix e Lamis, 1976) manteve o nivel alto em interpretação que foi ganhando intensidade crescente Se Receita de Bolo (Zé Rodrix e Tavito, 1973) mostrou que o groove da Eletro Banda nunca desanda, Soy Latino Americano (Zé Rodrix e Livi, 1976) foi a pitada de latinidade em show de rock, reafirmado em Hey Man (Zé Rodrix e Tavito, 1970) - música que fica maior no show do que no disco - e em Mestre Jonas (Zé Rodrix, 1973). Única música que não é da lavra de Rodrix, mas gravada por ele enquanto integrante do grupo Som Imaginário, Feira Moderna (Beto Guedes, Fernando Brant e Lô Borges, 1970) está em sintonia com o tom humanitário de cancioneiro que apontou caminhos e, quando tudo parecia perdido, propôs reflexões - umas datadas, outras ainda atuais como o som de Bravo e da Eletro Banda.

Anônimo disse...

Cantora potente, atriz das canções, Marya Bravo é a tal roqueira que o Brasil tanto precisa.

Luis disse...

Permita-me uma correção? =)
A autoria de "Mestre Jonas" geralmente é creditada ao trio Sá, Rodrix & Guarabyra - embora a voz de Rodrix se faça mais audível na gravação original de 1973.
Um abraço!

Anônimo disse...

Foi ela que fez backing para Marisa Monte há uns dez anos?