Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Saga do Ultraje a Rigor é reconstituída em biografia de narrativa dispersa

Resenha de livro
Título: Ultraje a Rigor - Nós Vamos Invadir sua Praia
Autoria: Andréa Ascenção
Editora: Belas Letras
Cotação: * * 1/2

Dono de um dos álbuns mais emblemáticos da geração 80 do rock brasileiro, Nós Vamos Invadir sua Praia (1985), o grupo paulista Ultraje a Rigor jamais sumiu na poeira da estrada. Mesmo distante da mídia e mesmo sem nunca ter bisado a inspiração do álbum de estreia em discografia que já totaliza 22 títulos (entre álbuns, EPs, compactos e coletâneas), a banda de Roger Moreira atravessou gerações com diversas formações e com shows sempre elogiados pela pegada. Essa história - pouco conhecida a partir dos anos 90 - é contada pela jornalista paulistana Andréa Ascenção na biografia do grupo, Ultraje a Rigor - Nós Vamos Invadir sua Praia. Estruturado com leveza, na forma de almanaque pop, o livro peca pela narrativa dispersa, sobretudo em seu início. Em vez de focar somente na saga bem-humorada de Roger e Cia., a autora perde tempo ao discorrer sobre as origens do punk e sobre a cena roqueira do Brasil no início dos anos 80 com informações dispensáveis para quem se interessa por biografia de um grupo de rock. Também não havia motivo para salpicar tantos depoimentos de Kid Vinil ao longo do livro. Vinil entende do assunto, discorre com propriedade sobre as mudanças e posturas do mercado fonográfico - e do próprio Ultraje - mas nunca participou efetivamente da história do grupo. Por fim, há outro detalhe técnico que empobrece o texto. Ascenção optou por inserir os depoimentos dos integrantes da banda no meio das frases dela. Mesmo grafando os depoimentos dos músicos em itálico, a construção gramatical resulta confusa, como - somente para citar um exemplo - pode ser observado na frase "Roger confessa que foi chato, mas todo mundo acaba se interessando por politica, mesmo que não queira", sobre o rótulo de rock político que tentaram impingir de início ao som do Ultraje a Rigor por conta das músicas Inútil e Mim Quer Tocar. Em que pesem os graves problemas estruturais e as gorduras do texto, o livro soa interessante por expor a trajetória do grupo sem maquiar os fatos mais desagradáveis. Ao contrário, o livro ressalta todos os conflitos e desencontros de uma banda. A rigor, o Ultraje sempre foi a banda de Roger Moreira, cérebro e coração do grupo que mostrou a face mais bem-humorada do rock de São Paulo. A autora expõe os embates do Ultraje com a Warner Music - gravadora que foi se desinteressando pelo grupo à medida que os álbuns posteriores a Nós Vamos Invadir Sua Praia foram amargando vendas descendentes e descasos crescentes - e também a sutil queda de braço do Ultraje com a MTV na gravação ao vivo do show acústico que revitalizou a carreira da banda ao ser editada em CD e DVD em 2005. Ao mesmo tempo, a biografia reitera a postura sempre íntegra de Roger face ao mercado fonográfico e à mídia. Por isso mesmo, na segunda metade, quando foca somente na história do Ultraje, o livro fica mais cativante. Até porque nem sempre se ouviu falar do Ultraje a Rigor nos últimos anos. Mas o grupo enfrenta o medo que Roger tem de avião e continua na estrada - o Ultraje é uma das atrações da edição 2011 do festival SWU, tendo show agendado para 13 de novembro - e já aglutina gerações em suas apresentações, gente que nem era nascida em 1985 quando Ciúme e Rebelde sem Causa invadiram todas as praias, rádios e programas de televisão. Para os que perderam a piada, aliás, a leitura de  Ultraje a Rigor - Nós Vamos Invadir sua Praia vai ter mais graça. Mas, a rigor, a bio podia ser melhor.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Dono de um dos álbuns mais emblemáticos da geração 80 do rock brasileiro, Nós Vamos Invadir sua Praia (1985), o grupo paulista Ultraje a Rigor jamais sumiu na poeira da estrada. Mesmo distante da mídia e mesmo sem nunca ter bisado a inspiração do álbum de estreia em discografia que já totaliza 22 títulos (entre álbuns, EPs, compactos e coletâneas), a banda de Roger Moreira atravessou gerações com diversas formações e com shows sempre elogiados pela pegada. Essa história - pouco conhecida a partir dos anos 90 - é contada pela jornalista paulistana Andréa Ascenção na biografia do grupo, Ultraje a Rigor - Nós Vamos Invadir sua Praia. Estruturado com leveza, na forma de almanaque pop, o livro peca pela narrativa dispersa, sobretudo em seu início. Em vez de focar somente na saga bem-humorada de Roger e Cia., a autora perde tempo ao discorrer sobre as origens do punk e sobre a cena roqueira do Brasil no início dos anos 80 com informações dispensáveis para quem se interessa por biografia de um grupo de rock. Também não havia motivo para salpicar tantos depoimentos de Kid Vinil ao longo do livro. Vinil entende do assunto, discorre com propriedade sobre as mudanças e posturas do mercado fonográfico - e do próprio Ultraje - mas nunca participou efetivamente da história do grupo. Por fim, há outro detalhe técnico que empobrece o texto. Ascenção optou por inserir os depoimentos dos integrantes da banda no meio das frases dela. Mesmo grafando os depoimentos dos músicos em itálico, a construção gramatical resulta confusa, como - somente para citar um exemplo - pode ser observado na frase "Roger confessa que foi chato, mas todo mundo acaba se interessando por politica, mesmo que não queira", sobre o rótulo de rock político que tentaram impigir de início ao som do Ultraje a Rigor por conta das músicas Inútil e Mim Que Tocar. Em que pesem os graves problemas estruturais e as gorduras do texto, o livro soa interessante por expor a trajetória do grupo sem maquiar os fatos mais desagradáveis. Ao contrário, o livro ressalta todos os conflitos e desencontros de uma banda. A rigor, o Ultraje sempre foi a banda de Roger Moreira, cérebro e coração do grupo que mostrou a face mais bem-humorada do rock de São Paulo. A autora expõe os embates do Ultraje com a Warner Music - gravadora que foi se desinteressando pelo grupo à medida que os álbuns posteriores a Nós Vamos Invadir Sua Praia foram amargando vendas descendentes e descasos crescentes - e também a sutil queda de braço do Ultraje com a MTV na gravação ao vivo do show acústico que revitalizou a carreira da banda ao ser editada em CD e DVD em 2005. Ao mesmo tempo, a biografia reitera a postura sempre íntegra de Roger face ao mercado fonográfico e à mídia. Por isso mesmo, na segunda metade, quando foca somente na história do Ultraje, o livro fica mais cativante. Até porque nem sempre se ouviu falar do Ultraje a Rigor nos últimos anos. Mas o grupo enfrenta o medo que Roger tem de avião e continua na estrada - o Ultraje é uma das atrações da edição 2011 do festival SWU, tendo show agendado para 13 de novembro - e já aglutina gerações em suas apresentações, gente que nem era nascida em 1985 quando Ciúme e Rebelde sem Causa invadiram todas as praias, rádios e programas de televisão. Para os que perderam a piada, aliás, a leitura de Ultraje a Rigor - Nós Vamos Invadir sua Praia vai ter mais graça. Mas, a rigor, a bio podia ser melhor.

Felipe dos Santos disse...

Demorou, mas veio a resenha! (risos)

Bem... concordo com Mauro. O texto é meio desorganizado - falha, aliás, também contida em "Paralamas do Sucesso - Vamo batê lata".

Minha opinião: grosso modo, biografias de bandas de rock são produtos quase que exclusivamente comprados por fãs (ou por gente iniciada em assuntos internos de música). Assim, os biógrafos não precisam usar o tom didático que muitas vezes usam.

Mas, de qualquer forma, vale para realçar como Roger talvez seja o "frontman" mais simpático que o rock daqui já teve. Só acho que Leospa também foi fundamental na formação do Ultraje - bem como Edgard Scandurra.

Para terminar, pergunto a Mauro se ele já soube da biografia de Cesar Camargo Mariano.

Felipe dos Santos Souza

Felipe dos Santos disse...

Caro Mauro, só para corrigir dois erros: o verbo é "impingir", não "impigir". E foi esquecido um "r" em "Mim quer tocar".

Tudo na frase: "(...)sobre o rótulo de rock político que tentaram impigir de início ao som do Ultraje a Rigor por conta das músicas Inútil e Mim Que Tocar."

Abraços,

Felipe dos Santos Souza

Mauro Ferreira disse...

Obrigado, Felipe, por me alertar para os dois erros, já corrigidos.

Sim, vou resenhar a biografia do Mariano assim como a de Piaf e a do Lee Jackson. Mas tudo no meu tempo, que anda bem corrido.

abs, mauroF