Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Lirinha adota canto menos teatral e repertório mais melodioso em disco solo

Resenha de CD
Título: Lira
Artista: José Paes de Lira
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 1/2
Álbum disponivel para download gratuito no site oficial do artista

Não espere encontrar em Lira - o primeiro CD solo de José Paes de Lira, o Lirinha, ex-vocalista e líder do Cordel do Fogo Encantado, do qual saiu em fevereiro de 2010 - o artista performático do grupo que lhe deu projeção. Em Lira, lançado em formato físico neste mês de outubro de 2011, o artista adota estilo menos teatral de canto que cai bem no repertório mais melodioso que compôs para o disco. Baterista da Nação Zumbi, Pupillo assina a produção e toca bateria, formando com Bactéria (tecladista egresso do Mundo Livre S/A) e Neilton (guitarrista do grupo Devotos) o power trio que sustenta o som do álbum mixado em Paris. Com linhas de baixo criadas por Bactéria nos teclados, Lira apresenta instantes de grande beleza ao envolver o regionalismo do artista pernambucano em som urdido sem fronteiras geográficas ou rítmicas. Ouve-se, por exemplo, um cavaquinho - (bem) tocado por Bozó - na melancólica Noite Fria (Luciano Queiroga e José Paes de Lira), trunfo do repertório autoral. Numa de suas prováveis derradeiras gravações, Lula Cortes (1949 - 2011) toca o tricórdio - espécie de cítara - que molda Adebayor (José Paes de Lira). Já a envolvente Memória (José Paes de Lira e Fábio Trummer) exibe leveza pop sustentada pelo trio. Embora pautado por ruptura estética, Lira preserva nas letras as referências à poesia intuitiva dos cantadores nordestinos. O que mudou substancialmente foi a forma de cantar, menos gritada e mais convencional. O que facilita a percepção da força melódica e poética de temas como Ducontra (José Paes de Lira e Bactéria). Entre tantas participações especiais, saltam aos ouvidos as vozes de Ângela RoRo e Otto, convidados de Valete (José Paes de Lira). Se Valete destila fina ironia por conta da requisição de RoRo para cantar (bem) versos como "Vê / Vou te contar minha paixão por um valete de paus", Nada a Declarar (Pupillo, Bactéria, Neilton e José Paes de Lira) flerta com o canto falado sem seguir a cartiha do rap e Eletrônica Viva (José Paes de Lira) horna seu título com alta dose de textura eletrônica. No fim, Lira dá voz em Lira ao seu filho João Diniz Paes de Lira, autor e convidado da canção In my Life, entoada em inglês com a voz e a espontaneidade próprias de uma criança (o garoto reside no exterior). No todo, ao fim de suas 12 faixas, Lira deixa impressão positiva. É um disco de som mais harmonioso e menos regional - efeito da ênfase nas guitarras e nos teclados - do que o baticum fervido do Cordel. Mesmo cozido em fogo brando, Lira queima pela poesia ainda inflamada e pelas melodias  (por vezes)  inspiradas.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Não espere encontrar em Lira - o primeiro CD solo de José Paes de Lira, o Lirinha, ex-vocalista e líder do Cordel do Fogo Encantado, do qual saiu em fevereiro de 2010 - o artista performático do grupo que lhe deu projeção. Em Lira, lançado em formato físico neste mês de outubro de 2011, o artista adota estilo menos teatral de canto que cai bem no repertório mais melodioso que compôs para o disco. Baterista da Nação Zumbi, Pupillo assina a produção e toca bateria, formando com Bactéria (tecladista egresso do Mundo Livre S/A) e Neilton (guitarrista do grupo Devotos) o power trio que sustenta o som do álbum mixado em Paris. Com linhas de baixo criadas por Bactéria nos teclados, Lira apresenta instantes de grande beleza ao envolver o regionalismo do artista pernambucano em som urdido sem fronteiras geográficas ou rítmicas. Ouve-se, por exemplo, um cavaquinho - (bem) tocado por Bozó - na melancólica Noite Fria (Luciano Queiroga e José Paes de Lira), trunfo do repertório autoral. Numa de suas prováveis derradeiras gravações, Lula Cortes (1949 - 2011) toca o tricórdio - espécie de cítara - que molda Adebayor (José Paes de Lira). Já a envolvente Memória (José Paes de Lira e Fábio Trummer) exibe leveza pop sustentada pelo trio. Embora pautado por ruptura estética, Lira preserva nas letras as referências à poesia intuitiva dos cantadores nordestinos. O que mudou substancialmente foi a forma de cantar, menos gritada e mais convencional. O que facilita a percepção da força melódica e poética de temas como Ducontra (José Paes de Lira e Bactéria). Entre tantas participações especiais, saltam aos ouvidos as vozes de Ângela RoRo e Otto, convidados de Valete (José Paes de Lira). Se Valete destila fina ironia por conta da requisição de RoRo para cantar (bem) versos como "Vê / Vou te contar minha paixão por um valete de paus", Nada a Declarar (Pupillo, Bactéria, Neilton e José Paes de Lira) flerta com o canto falado sem seguir a cartiha do rap e Eletrônica Viva (José Paes de Lira) horna seu título com alta dose de textura eletrônica. No fim, Lira dá voz em Lira ao seu filho João Diniz Paes de Lira, autor e convidado da canção In my Life, entoada em inglês com a voz e a espontaneidade próprias de uma criança (o garoto reside no exterior). No todo, ao fim de suas 12 faixas, Lira deixa impressão positiva. É um disco de som mais harmonioso - efeito da ênfase nas guitarras e nos teclados - do que o baticum do Cordel. Mesmo cozido em fogo brando, Lira queima pela poesia ainda inflamada e pelas melodias (por vezes) inspiradas.

lurian disse...

O disco é muito bom! As participações de Ângela Rorô e Otto o tornam ainda mais cult!