Mauro Ferreira no G1

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sábado, 15 de outubro de 2011

Filme 'No Caminho das Setas' vai direto ao ponto ao expor dores de Yuka

Resenha de filme - Festival do Rio 2011 (Premiére Brasil em Competição)
Título: Marcelo Yuka no Caminho das Setas
Direção: Daniela Broitman
Cotação: * * * * *
Filme em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) em seis sessões do Festival do Rio 2011
Exibições agendadas em São Paulo (SP) na 34º Mostra Internacional de Cinema
Estreia nos cinemas brasileiros prevista para 2012

Um dos mais contundentes e mais reveladores documentários musicais produzidos no Brasil, Marcelo Yuka no Caminho das Setas vai direto ao ponto. A primeira imagem do filme foca Marcelo Fontes Nascimento Santa Ana - o Yuka, tema do documentário exibido por ora somente em festivais de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) - sendo levado de maca para uma ambulância em novembro de 2000, mês em que o artista então com 34 anos levou nove tiros ao cruzar inadvertidamente o caminho de assaltantes em movimento que impôs desvio de rota ao artista projetado como letrista e baterista do grupo carioca O Rappa. Preso desde então a uma cadeira de rodas, Yuka acabou deixando o Rappa em 2002 - em saída conturbada que somente nove anos depois é explicada pelo filme - e passou a amargar dores físicas e morais. Sem firulas, com sequência de cenas que prende a atenção do espectador do primeiro ao último de seus 95 minutos, Marcelo Yuka no Caminho das Setas retrata seu polêmico personagem principal sem maquiagem e sem melodrama. Há até inusitado humor na cena em que Yuka repreende a mãe ao saber que ela chorou ao dar seu depoimento para as lentes de Broitman. Mas tudo é levado a sério pelo documentário. Que seria válido somente por esclarecer a saída de Yuka do Rappa, com direito a depoimentos de todos os integrantes do grupo, o que dá credibilidade à inacreditável tentativa do vocalista Marcelo Falcão de fazer Yuka abrir mão de parte dos 50% dos direitos que lhe cabem por lei sobre cada música do Rappa que tem letra escrita por ele, Yuka, autor de versos de temas como Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro. O filme mostra também como a rotina militante de Yuka se intensificou após o acidente e pôs seu trabalho na música em segundo plano - o que também deteriorou seu relacionamento com os demais músicos do Rappa, que cobravam (e aí com certa razão...) uma disponibilidade que Yuka não conseguia mais dar à banda por força das circunstâncias. Marcelo Yuka no Caminho das Setas jamais cai na tentação de glorificar o personagem-tema - até porque os depoimentos de Yuka deixam claro o quão dolorosa é sua rotina de paraplégico. O inconformismo por essa condição é o mote de sua vida e arte. "A dor é o catalisador deste disco", diz Yuka em determinado momento, ao se referir ao CD solo que arquiteta desde 2006 e que já vem ganhando forma. Com imagens recentes, captadas no festival Rock in Rio 2011, o documentário envolve de cara o espectador pelo perfeitamento encadeamento de entrevistas com cenas de arquivo. Tudo é relevante, nada sobra. Ao fim, o filme cumpre plenamente seu papel ao expor as dores de Yuka sem tom sentimental ou panfletário. É por aí o caminho de todo primoroso documentário - caso do filme de Broitman.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Um dos mais contundentes e mais reveladores documentários musicais produzidos no Brasil, Marcelo Yuka no Caminho das Setas vai direto ao ponto. A primeira imagem do filme foca Marcelo Fontes Nascimento Santa Ana - o Yuka, tema do documentário exibido por ora somente em festivais de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) - sendo levado de maca para uma ambulância em novembro de 2000, mês em que o artista então com 34 anos levou nove tiros ao cruzar inadvertidamente o caminho de assaltantes em movimento que impôs desvio de rota ao artista projetado como letrista e baterista do grupo carioca O Rappa. Preso desde então a uma cadeira de rodas, Yuka acabou deixando o Rappa em 2002 - em saída conturbada que somente nove anos depois é explicada pelo filme - e passou a amargar dores físicas e morais. Sem firulas, com sequência de cenas que prende a atenção do espectador do primeiro ao último de seus 95 minutos, Marcelo Yuka no Caminho das Setas retrata seu personagem principal sem maquiagem e sem melodrama. Há até inusitado humor na cena em que Yuka repreende a mãe ao saber que ela chorou ao dar seu depoimento para as lentes de Broitman. Mas tudo é levado a sério pelo documentário. Que seria válido somente por esclarecer a saída de Yuka do Rappa, com direito a depoimentos de todos os integrantes do grupo, o que dá credibilidade à inacreditável tentativa do vocalista Marcelo Falcão de fazer Yuka abrir mão de parte dos 50% dos direitos que lhe cabem por lei sobre cada música do Rappa que tem letra escrita por ele, Yuka, autor de versos de temas como Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro. O filme mostra também como a rotina militante de Yuka se intensificou após o acidente e pôs seu trabalho na música em segundo plano - o que também deteriorou seu relacionamento com os demais músicos do Rappa, que cobravam (e aí com certa razão...) uma disponibilidade que Yuka não conseguia mais dar à banda por força das circunstâncias. Marcelo Yuka no Caminho das Setas jamais cai na tentação de glorificar o personagem-tema - até porque os depoimentos de Yuka deixam claro o quão dolorosa é sua rotina de paraplégico. O inconformismo por essa condição é o mote de sua vida e arte. "A dor é o catalisador deste disco", diz Yuka em determinado momento, ao se referir ao CD solo que arquiteta desde 2006 e que já vem ganhando forma. Com imagens recentes, captadas no festival Rock in Rio 2011, o documentário envolve o espectador pelo perfeitamento encadeamento de entrevistas com cenas de arquivo. Tudo é relevante, nada sobra. Ao fim, o filme cumpre plenamente seu papel ao expor as dores de Yuka sem tom sentimental ou panfletário. É por aí o caminho de todo primoroso documentário - caso do filme de Broitman.

Anônimo disse...

Eu admiro demais esse cara, ele é um exemplo pra mim nao pelo fato de todos ter que superar seu problema(isso tambem), mas pelas ideias dele expostas nas musicas do Rappa e do seu projeto FURTO, que é um trabalho cru, muito bem escrito, cheio de imagens e realidades doloridas.

VALEU YUKA.

Anônimo disse...

Me lembrei que, segundo o próprio, o Falcão fez uma tatuagem de Jesus Cristo no antebraço quando soube que o Yuka não ia morrer.
E depois quis tungar o cara em 50%!!!
O ser humano é mesmo uma maravilha - falo sem ironia.

Felipe dos Santos disse...

De fato, o filme parece ser bom. Por expor o drama por que Yuka ainda passa.

Porque há artistas que encaram suas deficiências com bom humor - caso, cada vez mais, de Herbert Vianna. Há artistas que as encaram com serenidade ou fatalismo, casos de Cazuza e Renato Russo.

E há quem parece não se conformar de estar em tal situação. É o caso de Yuka.

Até acho que ele poderia minorar na militância - "SangueAudiência", o trabalho único do F.U.R.T.O, é meio hermético, às vezes chegando até à beira do insuportável.

Mas sua opção é compreensível. De mais a mais, O Rappa ainda se ressente um pouco de sua ausência -tanto em "O Silêncio q precede o esporro" (menos, é um belo disco) como em "7 vezes" (mais, este passou meio em branco).

Felipe dos Santos Souza

Anônimo disse...

Acho que vou deixar pra ver quando sair em DVD.
É sempre bom, mesmo as vezes não concordando, ouvir o que o Yuka tem a dizer.

PS: O filme do Hebert é ótimo. Claro que vc viu, Felipe.