Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Bom compositor, Junio Barreto cai no samba com poesia em 'Setembro'

Resenha de CD
Título: Setembro
Artista: Junio Barreto
Gravadora: Sem indicação
Cotação: * * * 1/2
Álbum disponível para download gratuito no site oficial do artista

A despeito da ciranda praieira Gafieira de Maré (Junio Barreto) sublinhar com nitidez a origem pernambucana de Junio Barreto em Setembro, o segundo álbum do compositor de Caruaru (PE) - já radicado em São Paulo (SP) - é quase um disco de sambas. Sustentado por base urdida pelo grupo Mombojó, Barreto também pega a onda da surf music na roqueira Passione (Junio Barreto e Jorge Du Peixe), em gravação distinta do registro feito anteriormente para a trilha sonora do filme Febre do Rato (Cláudio Assis, 2011), mas é o samba que banha a poesia densa de Setembro. Samba ora imerso em versos psicodélicos e com pegada afro - caso da faixa-título, Setembro (Junio Barreto, Pupillo, Dengue e Junior Boca) - ora esculpido com traços melódicos e poéticos tradicionais no gênero, como em Serenada Solidão (Junio Barreto e Gustavo Ruiz) e em Fineza (Junio Barreto). Em Serenada Solidão, a serelepe guitarra dedilhada de Ruiz injeta sons que tornam contemporâneo o diálogo com as tradições. Em Fineza, o mais trivial dos sambas de Setembro, se fazem ouvir o violão manemolente de Seu Jorge e o luxuoso trio de vocalistas formado pelas cantoras Céu, Luísa Maita e Marina de la Riva. O trio marca presença também ao fim da obra-prima do disco, Rios de Passar (Junio Barreto e Pupillo), samba de versos como "Na glória, a alma esquece a dor / E a rosa que plantaste ontem / Enfeita a festa de outro amor", dignos dos melhores poeta do samba. Os trombones de Misael França e Zilmar Medeiros - arranjados por João Carlos Araújo - dão pulsação moderna ao tema. Falando em dores de amores, Jardim Imperial rumina desilusão romântica em marcha lenta enquanto Noturna jorra poesia rebuscada de tempos idos em atmofera clássica - urdida com o auxílio da Orquestra Experimental de Cordas - entre o samba, a canção e a valsa. Após o tema intrumental Vamos Abraçar o Sol, Setembro chega ao fim com outro samba, Alento da Lagoinha, de alta voltagem poética. No todo, o álbum confirma Junio Barreto como bom compositor - talento detectado no primeiro disco do artista, Junio Barreto (2004), editado há sete anos - com ficha técnica hype. Se o cantor apenas dá conta de seu recado, o compositor se impõe com personalidade bastante original em Setembro.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A despeito da ciranda praieira Gafieira de Maré (Junio Barreto) sublinhar com nitidez a origem pernambucana de Junio Barreto em Setembro, o segundo álbum do compositor de Caruaru (PE) - já radicado em São Paulo (SP) - é quase um disco de sambas. Sustentado por base urdida pelo grupo Mombojó, Barreto também pega a onda da surf music na roqueira Passione (Junio Barreto e Jorge Du Peixe), em gravação distinta do registro feito anteriormente para a trilha sonora do filme Febre do Rato (Cláudio Assis, 2011), mas é o samba que banha a poesia densa de Setembro. Samba ora imerso em versos psicodélicos e com pegada afro - caso da faixa-título, Setembro (Junio Barreto, Pupillo, Dengue e Junior Boca) - ora esculpido com traços melódicos e poéticos tradicionais no gênero, como em Serenada Solidão (Junio Barreto e Gustavo Ruiz) e em Fineza (Junio Barreto). Em Serenada Solidão, a serelepe guitarra dedilhada de Ruiz injeta sons que tornam contemporâneo o diálogo com as tradições. Em Fineza, o mais trivial dos sambas de Setembro, se fazem ouvir o violão manemolente de Seu Jorge e o luxuoso trio de vocalistas formado pelas cantoras Céu, Luísa Maita e Marina de la Riva. O trio marca presença também ao fim da obra-prima do disco, Rios de Passar (Junio Barreto e Pupillo), samba de versos como "Na glória, a alma esquece a dor / E a rosa que plantaste ontem / Enfeita a festa de outro amor", dignos dos melhores poeta do samba. Os trombones de Misael França e Zilmar Medeiros - arranjados por João Carlos Araújo - dão pulsação moderna ao tema. Falando em dores de amores, Jardim Imperial rumina desilusão romântica em marcha lenta enquanto Noturna jorra poesia rebuscada de tempos idos em atmofera clássica - urdida com o auxílio da Orquestra Experimental de Cordas - entre o samba, a canção e a valsa. Após o tema intrumental Vamos Abraçar o Sol, Setembro chega ao fim com outro samba, Alento da Lagoinha, de alta voltagem poética. No todo, o álbum confirma Junio Barreto como bom compositor - talento detectado no primeiro disco do artista, Junio Barreto (2004), editado há sete anos - com ficha técnica hype. Se o cantor apenas dá conta de seu recado, o compositor se impõe com personalidade bastante original em Setembro.

Anônimo disse...

Não curto o som dele, mas a capa é pra lá de pernuda. Quer dizer, classuda. :>)

lurian disse...

O disco é primoroso! Capa, concepção, arranjos.