♪ Mal lançou o quinto álbum, De volta ao começo (Biscoito Fino, 2016), o cantor pernambucano João Fênix já começa a articular a feitura de um sexto disco. O artista planeja concretizar a ideia - sugerida a Fênix por Luiz Fernando Coutinho - de gravar e lançar, ao longo de 2017, um álbum com músicas do repertório de Gal Costa. Se o projeto for mesmo concretizado em 2017, o disco de Fênix - em foto de Leo Vianna - vai ser lançado 50 anos após a edição do primeiro álbum da cantora baiana, Domingo (Philips, 1967), feito e assinado com o então emergente Caetano Veloso.
Guia jornalístico do mercado fonográfico brasileiro com resenhas de discos, críticas de shows e notícias diárias sobre futuros lançamentos de CDs e DVDs. Do pop à MPB. Do rock ao funk. Do axé ao jazz. Passando por samba, choro, sertanejo, soul, rap, blues, baião, música eletrônica e música erudita. Atualizado diariamente. É proibida a reprodução de qualquer texto ou foto deste site em veículo impresso ou digital - inclusive em redes sociais - sem a prévia autorização do editor Mauro Ferreira.
quarta-feira, 25 de maio de 2016
Joelma expia sofrência com trivialidade no tom tecnopopbrega de disco solo
Resenha de álbum
Título: Joelma
Artista: Joelma
Gravadora: Universal Music
Cotação: * *
Título: Joelma
Artista: Joelma
Gravadora: Universal Music
Cotação: * *
♪ Como sinalizou o EP com quatro músicas lançado nas plataformas digitais em 24 de março deste ano de 2016, Joelma faz do trivial primeiro álbum solo um porta-voz dos sentimentos magoados da cantora paraense por conta da ruidosa separação do guitarrista Chimbinha, em 2015. Joelma - o álbum lançado em 29 de abril via Universal Music - bate na tecla da sofrência ao longo da maioria das 14 músicas do disco. As letras versam - com obviedade - sobre amor, dor e superação. Balada banal, formatada de acordo com o molde do cancioneiro brega da década de 1980, Tarde demais (Louro Santos e Waldecy Moreno) exemplifica o chororô que dá o tom do disco e expõe os limites vocais da cantora. Fica claro que Joelma está mandando recados para o ex-marido nas letras de músicas como Se vira aí (Cecília Nena e Zel Moreira), Chora não, coração (Marcibrom), Game over (Edilson Moreno e Glayse Dominguez) e A página virou (Abimael Gomes e Léo Gomes), sendo que as duas últimas têm ao menos um ritmo mais quente, condizente com a superação pregada nos versos. Musicalmente, o álbum Joelma patina em batida sonoridade tecnopopbrega, pautada pelos teclados de Povinho, arranjador e coprodutor do disco. Há, claro, ecos do som da Banda Calypso. Admiradores da sonoridade vivaz da Banda Calypso vão se identificar com a levada de Voando pro Pará (Valter Serraria, Isac Maraial, Chrystian Lima e Nik Oliveira), pálido painel turístico do Estado do Norte do Brasil. Cantada em espanhol, a estilizada rumba Pa'lante (César Lemos, Karla Aponte e Jorge L. Piloto) também exemplifica a animação presente na segunda metade do disco. É uma faixa direcionada ao mercado fonográfico formado pelos países de língua hispânica, assim como Te quiero (Gianko Gómez, Luiz Henrique Mejia e César Lemos), outra música cantada em espanhol. No fim, Tua face (Joelma) e a melodiosa canção O amor de Deus (Michael Sullivan e Carlos Colla) - gravada com adesões dos filhos de Joelma, Yago Mendes (violão) e Yasmin Mendes (voz) - cumprem a missão religiosa de fazer a pregação da artista evangélica. Mas nem o amor de Deus salva o CD...
Dupla Henrique & Juliano canta 'Novas histórias' na terceira gravação ao vivo
♪ Terceiro consecutivo registro audiovisual de show de Henrique & Juliano, dupla sertaneja oriunda de Palmeirópolis (TO) formada pelos irmãos Ricelly Henrique Tavares Reis e Edson Alves dos Reis Junior (o Juliano), Novas histórias está sendo lançado pela gravadora Som Livre nos formatos de CD e DVD. Com produção musical e arranjos de Eduardo Pepato, a gravação ao vivo perpetua show feito pela dupla no Recife (PE) em 2015. Única convidada do show, a cantora e compositora Marília Mendonça entra em cena em Flor e o beija flor, parceria da artista com Juliano Tchula. A dupla assina também Dois covardes (com Michel Alves e Junior Pepato) e Ele quer ser eu (com Luiz Henrique). Com 22 músicas, o DVD exibe o show na íntegra, com making of alocado nos extras. O CD alinha 14 das 22 músicas gravadas por essa dupla que ascendeu no universo sertanejo em 2012.
terça-feira, 24 de maio de 2016
Carol Saboya evolui bem na dança da voz da MPB 'jazzy' que pauta 'Carolina'
Resenha de álbum
Título: Carolina
Artista: Carol Saboya
Gravadora: AAM / Rob Digital (distribuição no Brasil)
Cotação: * * * 1/2
Título: Carolina
Artista: Carol Saboya
Gravadora: AAM / Rob Digital (distribuição no Brasil)
Cotação: * * * 1/2
♪ Cantora carioca que debutou no mercado fonográfico em 1997 quando a MPB já estava jogada à margem do mercado fonográfico brasileiro, Carol Saboya é do tipo de intérprete brasileira mais valorizada no exterior - sobretudo em nichos mercadológicos dos Estados Unidos e do Japão - do que no próprio Brasil. Admiradores estrangeiros da MPB saúdam e consomem com gosto a música refinada cantada por Carolina Job Saboya, filha do pianista e arranjador carioca Antonio Adolfo. É para esses nichos que Carolina - o 12º título da discografia da cantora - se dirige primordialmente, embora o álbum também esteja sendo lançado no Brasil em edição física em CD distribuída via Rob Digital. Carolina reitera atributos de Carol como cantora ao longo de dez gravações que transitam pela MPB com o toque jazzy da banda virtuosa formada pelos músicos André Siqueira (percussão), Jorge Helder (baixo), Leo Amuedo (guitarra), Marcelo Martins (saxofone e flauta), Rafael Barata (bateria e percussão) sob a liderança do pianista Antonio Adolfo, produtor de Carolina. Sobretudo a afinação e emissão exemplares, expostas no canto límpido do samba A felicidade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), por exemplo. Passarim (Antonio Carlos Jobim, 1985) voa em harmonia nessa fina mistura de música brasileira com a tal influência do jazz. É o mesmo voo feito em segurança por Avião (1989), samba de Djavan, compositor cultuado nesses nichos jazzísticos dos EUA pelas harmonias inusitadas da singular obra autoral. A voz de Carol evolui bem nessa dança entre a MPB e o jazz posto como o tempero sutil das dez gravações de Carolina, jamais como o gênero-guia dos fonogramas. É fato que Carol Saboya não é cantora que chama especial atenção pelo sentimento posto na interpretação - o que fica evidente na abordagem de outra composição de Djavan, Faltando um pedaço (1981), na lembrança de Olha, Maria (Antonio Carlos Jobim, Chico Buarque e Vinicius de Moraes, 1970) e no canto de Fragile (1987), sucesso da discografia solo do cantor e compositor inglês Sting. Mesmo que falte a densidade sugerida pelos versos que abrem fendas emocionais na canção de Djavan, Faltando um pedaço é mais um exemplo da afinação e emissão perfeitas da cantora. O trunfo de Carol Saboya é a musicalidade apurada do canto - cujo senso rítmico a capacita para o gol feito em 1 x 0 (Pixinguinha e Benedito Lacerda, 1946), o choro que Carol segura bem com a letra escrita em 1993 pelo compositor mineiro Nelson Angelo. Com joias raras como Senhoras do Amazonas (1984), única parceria de João Bosco com o atualmente arisco Belchior, Carolina é disco pautado pela sofisticação, apto a encantar admiradores da música brasileira mundo afora. Como ressalta Zanzibar (Edu Lobo, 1970), tema instrumental levado por Carol nos vocalises, a voz de Carolina Job Saboya por vezes funciona como um instrumento na dança em que cantora e músicos se afinam em registros que evidenciam musicalidade refinada, biscoito finíssimo para quem tem apurado paladar musical. Carolina é disco para poucos e bons...
Coletânea de 'brazilian pop' fecha série lançada pela Som Livre para Rio 2016
♪ Com a edição neste mês de maio de 2016 da coletânea dedicada ao elástico gênero rotulado como brazilian pop (eufemismo que agrega ritmos populares como pagode, sertanejo e funk), a gravadora Som Livre completa a série de quatro compilações produzidas para o público estrangeiro que virá ao Brasil - em especial, à cidade do Rio de Janeiro - por conta dos jogos olímpicos a serem realizados no Rio em agosto deste ano de 2016. A coletânea de brazilian pop abarca gravações de Luan Santana, Sorriso Maroto, Thiaguinho e Wesley Safadão, entre nomes em evidência no atual mercado fonográfico do Brasil. Inspirada pelo evento esportivo batizado como Rio 2016, a série de coletâneas temáticas Brasil encanta teve início em janeiro deste ano de 2016 com a edição da compilação dedicada à Bossa Nova (clique aqui para reler o post sobre o best of da bossa). Ao todo, a série Brasil encanta é composta por quatro coletâneas. Além das compilações de Bossa Nova e de braziian pop, há coletâneas de MPB (cuja seleção inclui fonogramas de Alceu Valença, Chico Buarque, Maria Gadú, Milton Nascimento, Moraes Moreira, Novos Baianos e Sandra de Sá, entre outros) e de samba (com gravações de Almir Guineto, Beth Carvalho, Fundo de Quintal Roberta Sá, Zeca Pagodinho e os mesmos Novos Baianos alocados na compilação de MPB). A Som Livre é a única gravadora autorizada a lançar produtos fonográficos associados (oficialmente) ao evento Rio 2016.
Dois primeiros álbuns de Cartola serão encaixotados com compilação inédita
♪ A gravadora Universal Music produz, para o segundo semestre deste ano de 2016, caixa com reedições em CD dos dois primeiros álbuns do cantor, compositor e músico carioca Angenor de Oliveira (1908 - 1980), o Cartola. Intitulada Todo tempo que eu viver, a caixa tem curadoria de Eduardo Magossi, feita sob a supervisão de Luiz Garcia. Com capas restauradas e reproduções das letras das músicas e dos textos dos LPs originais, os dois álbuns do artista - ambos intitulados Cartola e editados em 1974 e 1976, respectivamente, pela gravadora Discos Marcus Pereira - serão encaixotados em edições remasterizadas ao lado de coletânea inédita do bamba da escola de samba Mangueira. Intitulada Tempos idos, a compilação vai reunir fonogramas avulsos até então dispersos na discografia de Cartola. São gravações feitas por Cartola - visto no traço de Elifas Andreato - para projetos especiais e discos de outros artistas. A caixa vai trazer textos inéditos - escritos por Magossi - sobre os álbuns e sobre as gravações reunidas na inédita compilação, produzida especialmente para o projeto.
Single 'A vida pede mais abraço que razão' anuncia o álbum 'Líquido' de Azul
♪ Disponível nas plataformas digitais a partir de hoje, 24 de maio de 2016, com capa que expõe arte de Raul Luna, o single com a música A vida pede mais abraço que razão (Tibério Azul, André Julião, Lucas Araújo e Yuri Queiroga) anuncia o lançamento de Líquido, segundo álbum solo de Tibério Azul, cantor e compositor pernambucano que se radicou há um ano na cidade do Rio de Janeiro (RJ). O sucessor de Bandarra (Joinha Records, 2011) tem produção assinada por Yuri Queiroga. Com sopros orquestrados pelo trombonista Nilsinho Amarante, a música A vida pede mais abraço que razão foi gravada nos estúdios Muzak (no Recife - PE) e MiniStereo (no Rio de Janeiro). O álbum Líquido vai chegar ao mercado fonográfico brasileiro em edição da Superlativa.
segunda-feira, 23 de maio de 2016
Trilha original de 'Auê' é editada em CD com as 25 músicas do vivaz musical

Álbum inventaria obra de Irineu de Almeida e faz ressoar o som do oficleide
♪ Lançado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de maio de 2016, o álbum Irineu de Almeida e o oficleide 100 anos depois chega ao mercado fonográfico brasileiro com a missão cumprida de fazer duplo resgate histórico. Além de inventariar a obra do compositor, trombonista e oficleidista (de presumível origem carioca) Irineu Gomes de Almeida (23 de novembro de 1863 - 22 de agosto de 1914), integrante da primeira formação da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro em 1896, o disco faz ressoar o som do oficleide e a sonoridade do choro tal como o gênero era tocado no fim do século XIX. Instrumento de sopro de origem francesa, inventado em 1817, o oficleide chegou ao Brasil por volta de 1850 e se tornou fundamental na construção da sonoridade inicial do choro. Mas o instrumento - celebrizado justamente por Irineu de Almeida, líder do grupo Choro Carioca - acabou sendo progressivamente deixado de lado pelos chorões posteriores, passando a ser substituído pelo violão de sete cordas. O álbum Irineu de Almeida e o oficleide 100 anos - gravado entre 3 e 6 de novembro de 2015 no estúdio da gravadora Biscoito Fino, na cidade do Rio de Janeiro (RJ) - reapresenta 14 registros inéditos de músicas de autoria de Irineu. Os temas são tocados por um grupo de choro formado por Everson Moraes (oficleide), Aquiles Moraes (cornet), Leonardo Miranda (flauta), Lucas Oliveira (cavaquinho), Iuri Bittar (violão) e Marcus Tadeu (ritmo). O embrião do disco ganhou vida em 2013, quando o trombonista e bombardinista Everson Moraes encontrou um oficleide abandonado em fazenda de café do interior do Estado de São Paulo. O músico arrematou o instrumento e começou a estudá-lo, importando da França, na sequência, outros dois oficleides, ambos centenários. É no toque do oficleide de Everson que o álbum rebobina temas da obra autoral de Irineu como o (até então inédito em disco) choro Pisca-pisca e a polca Albertina (gravada em 1911 pelo grupo Choro Carioca). De carátert histórico, o repertório eleva o valor documental do álbum Irineu de Almeida e o oficleide 100 anos depois por apresentar temas até nunca registrados em disco como Lembranças - schottisch de batida marcial - e a valsa Despedida, arranjada pelo violonista Maurício Carrilho. O repertório inclui a polca Qualquer cousa, cuja gravação original - feita em 1910 - é a única feita com um solo de oficleide de que se tem notícia em escala mundial. A composição Qualquer cousa também é registrada em ritmo de choro.
Tulipa lança single com 'Efímera', a versão em espanhol do primeiro sucesso
♪ Em turnê por países da América Latina como Equador e México, Tulipa Ruiz expande obra autoral para além do Brasil com a edição do single Efímera, já disponível nas plataformas digitais. Trata-se da versão em espanhol - escrita por Alejandro López - de Efêmera (Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz, 2010), música que batizou o primeiro álbum da cantora e compositora paulista e que se tornou o primeiro sucesso da artista. Embora a gravação seja direcionada sobretudo ao mercado fonográfico de língua hispânica, o single Efímera também foi lançado nas plataformas de streaming do Brasil.
Canto inesperado de Rosa Passos faz surpresas em grandioso disco ao vivo
Resenha de álbum
Título: Rosa Passos ao vivo
Artista: Rosa Passos
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2
Título: Rosa Passos ao vivo
Artista: Rosa Passos
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2
♪ Grande cantora que debutou no mercado fonográfico com Recriação (Chantecler, 1979), álbum inteiramente autoral lançado no ano em que a música brasileira viveu boom feminino, a baiana Rosa Passos não fez sucesso de imediato. Contudo, aos poucos, um público fiel e bem antenado foi seguindo os passos de Rosa, cantora hábil nas divisões inusitadas. Álbum lançado neste mês de maio de 2016 em edição da gravadora Biscoito Fino, Rosa Passos ao vivo - o primeiro registro de show da cantora - reitera as qualidades desta intérprete que nunca canta uma música do jeito que ela costuma ser cantada. O clichê aplicado a Rosa - o de ser espécie de João Gilberto de saias - tem lá razão de ser, e não pelo fato de os dois cantores dominarem a arte de cantar baixinho. Aliás, Rosa chega a sussurrar em determinadas passagens do samba Você vai ver (Antonio Carlos Jobim, 1980). Nesta inédita gravação ao vivo, captada no Uruguai em show feito pela cantora em 12 de setembro de 2014 no Teatro UAMA, na cidade de Carmelo, o canto inesperado de Rosa Passos faz surpresas na interpretação de 14 sucessos da música brasileira. A voz macia de Rosa é um instrumento que se afina com o toque dos músicos da banda formada por virtuoses como o baterista Celso de Almeida, o violonista Lula Galvão (arranjador do show), o baixista Paulo Paulelli e o pianista José Reinoso, cujo piano adorna o canto sussurrado de Rosa em Eu e a brisa (Johnny Alf, 1967). Rosa passos ao vivo é basicamente um disco de sambas, embora no roteiro do show uruguaio haja até um fox do repertório de Roberto Carlos, Emoções (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981), reconstruído por Rosa em clima cool. Com obra ideal para Rosa, Djavan é compositor recorrente no repertório do disco, assinando três das 14 músicas, porque o último álbum da artista, Samba dobrado - Canções de Djavan (Universal Music, 2013), foi todo dedicado ao cancioneiro autoral do artista alagoano. Curiosamente, A ilha (Djavan, 1980) - ora habitada pela cantora no tom do samba-jazz-canção - é música ausente do tributo. Já o samba Capim (Djavan, 1982) cresce no show com o suingue todo próprio da cantora, que também morde o samba Maçã (Djavan, 1987) com voraz apetite rítmico, explorando as síncopes do samba dobrado de Djavan. Cantora diplomada na escola da Bossa Nova, Rosa Passos fala o idioma do jazz e tem astuto senso rítmico. É por isso que, ao cantar o samba Olhos verdes (Vicente Paiva, 1950), a baiana remarca a cadência já bem marcada do sucesso da cantora Dalva de Oliveira (1917 - 1972). Com requebros e maneiras próprias, Rosa também recria Só danço samba (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) - em inteligente diálogo com o toque acústico do baixo de Paulo Paulelli - e Meu bem meu mal (Caetano Veloso, 1981), música que canta em andamento demasiadamente acelerado, sem evidenciar a contento todos os contrastes expostos nos versos da letra. Rosa brilha especialmente nas músicas mais macias, como Verbos do amor (João Donato e Abel Silva) - (re)dividida pela cantora sem perda do sentido original da letra - e o interiorizado samba-canção Preciso aprender a só ser (Gilberto Gil, 1973), enquadrado em moldura rítmica típica do gênero. De Gilberto Gil, Rosa também canta Deixar você (1982) - veículo para o suingue do baixo de Paulo Paulelli - e a sinuosa Ladeira da preguiça (1973). O bolero Quando o amor acontece (João Bosco e Abel Silva, 1987) completa o irretocável repertório deste grandioso álbum ao vivo em que o inesperado canto de Rosa Passos ainda faz surpresas para ouvintes atentos.
domingo, 22 de maio de 2016
Joyce grava em 'Palavra e som' baião nascido rancho com letra de Torquato
♪ Em 2014, Joyce Moreno tomou conhecimento - por meio de postagem no Facebook do poeta e compositor Ronaldo Bastos - de inédito poema do compositor Torquato Neto (1944-1972). Naquele mesmo ano, a cantora e compositora carioca musicou os versos de O poeta nasce feito, escritos em 1969 pelo poeta piauiense quando ele estava em Paris, na França, e entregues a Bastos por Torquato tão logo o poema foi feito. Composta em ritmo de marcha-rancho (certamente pelo fato de a compositora ter ficado sugestionada por saber que Torquato tinha registrado em papel a ideia de abrir a parceria com Joyce com o envio de uma letra que, na imaginação do poeta, viraria uma marcha-rancho), a música foi - enfim - registrada em disco pela artista neste primeiro semestre de 2016. Só que, em vez de marcha-rancho, a música foi gravada com batida de baião. A primeira parceria de Joyce e Torquato Neto integra o repertório basicamente autoral do CD Palavra e som, gravado pela artista sob encomenda do mercado fonográfico do Japão e - por ora - sem previsão de edição no Brasil.
Venturini lança 'Mantra de São João', (bonito) canto junino em feitio de oração
Resenha de single
Título: Mantra de São João
Artista: Flávio Venturini
Gravadora: Caramelo Edições Musicais Ltda
Cotação: * * * *
Título: Mantra de São João
Artista: Flávio Venturini
Gravadora: Caramelo Edições Musicais Ltda
Cotação: * * * *
♪ O som das noites de São João ficará mais lírico e poético neste ano de 2016. Pelo menos no que depender de Flávio Venturini. Sem lançar músicas inéditas desde o álbum Venturini (MP,B Discos, 2013), o cantor, compositor e músico mineiro reitera o talento de inspirado melodista com edição do single Mantra de São João. Disponível nas plataformas digitais desde a última sexta-feira, 20 de maio de 2016, o single exala afeto e poesia. Na contramão dos vivazes temas juninos moldados para as quadrilhas, Mantra de São João é bonita canção em feitio de oração de amor. A letra é ambientada em noite estrelada, com balões brilhando no céu. Uma noite de paz. É nesse cenário junino que a personagem dos versos arde na fogueira das paixões ao lembrar do grande amor, alvo da declaração feita na melodiosa canção, gravada com o suave toque rural de acordeom e de viola. Tema invernal, Mantra de São João vai aquecer corações, ecoando o amoroso e melodioso canto de Flávio Venturini.
Pipa a voar no tempo, MPB4 gira renovado na roda viva em disco de inéditas
Resenha de álbum
Título: MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva!
Artista: MPB4
Gravadora: Selo Sesc
Cotação: * * * *
Título: MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva!
Artista: MPB4
Gravadora: Selo Sesc
Cotação: * * * *
♪ Em mais de um sentido, o álbum MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva! representa uma retomada para o quarteto de origem fluminense que se profissionalizou em 1965, embora já militasse no Centro Popular de Cultural (CPC) de Niterói (RJ), inicialmente como trio, desde 1962. Além de ser o primeiro disco do grupo após a saída de cena de Antônio José Waghabi Filho (14 de novembro de 1943 - 8 de agosto de 2012), o Magro, criador da identidade vocal do MPB4, O sonho, a vida, a roda viva! renova e expande o repertório do quarteto com 13 músicas inéditas de compositores identificados com os ritmos do Brasil. Desde o álbum 4 coringas (Barclay, 1984), lançado há longos 32 anos, o MPB4 não apresentava um disco com repertório inteiramente inédito. Idealmente, O sonho, a vida, a roda viva! deve ser ouvido sem comparações com os discos do período 1966-1984, fase áurea do MPB4, para que possa ser avaliado no atual contexto do quarteto. "Pra que pensar no que ficou pra trás? / Ver a vida no retrovisor? / ... / Sai da frente que agora é que a fila vai andar / O que é passado, meu bem / Valeu pra comprovar / Jornal de ontem, nem pensar", pondera o grupo em versos do sincopado samba Jornal de ontem (Sérgio Santos e Joyce Moreno), cujo arranjo vocal (de Miltinho) remete na introdução à pioneira modernidade vocal do grupo Os Cariocas. "Eu sou pipa ao vento a voar / Vivo esse momento / Enquanto o tempo me levar", reitera o MPB4 no lirismo dos versos de A pipa e o tempo (Dalmo Medeiros e Cacau Castro). Sim, os tempos são outros. O próprio grupo já é outro, sendo atualmente formado por Aquiles Reis, Dalmo Medeiros (convidado em 2004 a ocupar o lugar do dissidente Ruy Faria), Miltinho e Paulo Malaguti Pauleira (substituto de Magro). E, por fim, a música brasileira já é outra. A produção da MPB nas décadas de 1960 e 1970 paira acima dos tempos e modismos como uma das mais vigorosas da história da música brasileira. O repertório recolhido pelo MPB4 resulta sem força no confronto com a produção daqueles anos áureos. O que não significa que não haja várias preciosidades entre as 13 músicas do disco. Compositor lançado pelo MPB4 no álbum Palhaços e reis (Philips, 1974), Guinga contribui com Brasileia, baião surreal feito em parceria com o talentoso Thiago Amud. Com a mesma espirituosidade e ainda na seara nordestina, o baião Ateu é tu (Rafael Altério e Celso Viáfora) profana a hierarquia das instituições religiosas. Já o samba Desossado - parceria de João Bosco com Francisco Bosco - sobe o morro com as pernas tortas do Brasil retratado na letra com alta dose de crítica social. Já a Valsa do baque virado (Mario Adnet e João Cavalcanti) adentra os salões europeus do Brasil colonial com evocações da pernambucana nação do maracatu. Outra reminiscência de tempos imemoriais, Maxixe (Fred Martins e Alexandre Lemos) evoca a cadência manemolente do ritmo que batiza o tema. Contudo, o MPB4 canta e vive o Brasil de hoje, ainda que, ao término do disco, faça o inventário da jornada cinquentenária em A voz na distância (Paulo Malaguti Pauleira). Mas o Brasil do MPB4 extrapola as fronteiras do centros urbanos. Tanto que Milagres (Breno Ruiz e Paulo César Pinheiro) poderia ser a trilha de uma folia de reis de um interior que insiste em ser (também) folclórico. Bem produzido por Miltinho e Paulo Malaguti Pauleira, que se revezaram na criação dos arranjos vocais (elaborados com requinte que preserva a identidade vocal do MPB4, aludindo por vezes às vozes de Magro), O sonho, a vida, a roda viva! ostenta arranjos do pianista Gilson Peranzzetta. Na parte dos arranjos vocais, vale mencionar a embaraçada teia de voz que valoriza a metalinguística Trança de cipó (Renato Rocha). Ainda dentro do universo metalinguístico, Harmonia (Miltinho, Sirlan e Paulo César Pinheiro) dá o recado humanista com outro belo arranjo vocal (de Miltinho): "Rancor, perdão / São acordes de opção / Amar é harmonizar / O coração". No mesmo tom afetivo, o gaúcho Vitor Ramil cai no samba Filigrana e reitera em verso que "O amor é filigrana fácil de perder". Mesmo com melodia de menor estatura dentre a safra de 13 músicas inéditas do álbum, A ilha (Kleiton Ramil e Kledir Ramil) - canção orquestrada com as cordas do Quarteto Radamés Gnattali - ajuda o MPB4 a olhar em frente neste renovador álbum em que, descartando o jornal de ontem, o quarteto se nega a reportar velhas novidades musicais, soando com pipa ao vento a voar no tempo presente.
Aos 78 anos, Martinho da Vila prepara álbum de inéditas 'De bem com a vida'
♪ Aos 78 anos, Martinho da Vila insiste na juventude. O cantor e compositor fluminense se prepara para lançar álbum de músicas inéditas intitulado De bem com a vida. André Midani capitaneia a produção do primeiro disco de inéditas do artista desde Do Brasil e do mundo (MZA Music, 2007). O álbum tem participações de João Donato e Jorge Mautner. O lançamento está previsto para o segundo semestre deste ano de 2016 em edição da gravadora Sony Music. No CD, Martinho registra a primeira parceria com o mineiro Geraldo Carneiro, autor da letra do samba Escuta, cavaquinho.
sábado, 21 de maio de 2016
Sandy roça ponto de maturação no melhor show da carreira solo, 'Meu canto'
Resenha de show
Título: Meu canto
Artista: Sandy (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 20 de maio de 2016
Cotação: * * * 1/2
Título: Meu canto
Artista: Sandy (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 20 de maio de 2016
Cotação: * * * 1/2
♪ Mesmo sem esboçar ruptura com o mundo musical construído nos dois anteriores shows autorais da carreira solo, o delicado Manuscrito (2010 / 2012) e o expansivo Sim (2013 / 2014), Sandy roça ponto de coesão e maturação em Meu canto, show que já está em turnê pelo Brasil antes da chegada do CD ao vivo e do DVD - prevista para junho deste ano de 2016 - com a gravação ao vivo do espetáculo dirigido por Raoni Carneiro. Se a artista paulista tivesse encerrado a apresentação de 20 de maio de 2016 na casa Vivo Rio com o luminoso revival da Cantiga por Luciana (Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, 1969), número afetivo feito por Sandy em memória do avô Zé do Rancho, a estreia carioca do show Meu canto teria atingido esse ponto de coesão. Aos 33 anos, Sandy Leah Lima continua cantando muito bem - com a afinação notória desde os tempos infanto-juvenis - e já tem, como compositora, obra autoral que lhe permite montar roteiro somente com as melhores canções do cancioneiro que compôs sozinha e com o parceiro Lucas Lima. Meu canto perde o encanto já no final, quando Sandy - na provável tentativa de criar um arremate mais pop e extrovertido para o show - recorre a músicas pobres de rimas fáceis como Sem jeito (Sandy Leah e Lucas Lima, 2010) e a sucessos industrializados da dupla que formou com o irmão Junior Lima. Hits de Sandy & Junior, Nada é por acaso (Liah, Pedro Barezzi, Márcio Cruz e Danimar, 2001) e Desperdiçou (Liah, Dani Monaco e Rique Azevedo, 2003) são músicas que já destoam do mundo musical mais sensível construído por Sandy desde o álbum Manuscrito (Universal Music, 2010), mas que - justiça seja feita - ainda são cantadas a plenos pulmões pela plateia estridente que segue Sandy na jornada solo. Meu canto é tentativa de expor no palco a sensibilidade deste mundo musical. Povoado por elementos como abajures, janelas e portas, o cenário de Zé Carratu procura traduzir um clima de intimidade. "...Entre sem bater / Sem julgar, sem tentar entender / Deixe as armas e angústias do lado de fora / Em troca, ofereço a música e o agora / Eu lhe dou o meu canto / Nesse canto que é tão meu", propõe Sandy na abertura do show, feita com a primeira das cinco músicas inéditas do roteiro, Meu canto (Sandy Leah, 2016), entoada por Sandy na penumbra, atrás da porta que a conduzirá ao palco ao fim do número. Em seguida, Sim (Sandy Leah, 2013) e Aquela dos 30 (Sandy Leah, 2012) deram sequência ao show com sonoridade pesada, ambientada na atmosfera do pop rock. Sim, Sandy busca dar peso à obra autoral em mais de um sentido. Paradoxalmente, é na delicadeza que a cantora e compositora atinge ponto de equilíbrio e sedução. As baladas Ela / Ele (Sandy Leah e Lucas Lima, 2010) e Pés cansados (Sandy Leah e Lucas Lima, 2010) - boas lembranças do primeiro álbum - sobressaem no roteiro, em fina sintonia com a bonita e recente canção Me espera (Sandy Leah, Lucas Lima e Tiago Iorc, 2016), gravada ao vivo e em estúdio para o CD e DVD Meu canto em dueto com o cantor e compositor Tiago Iorc, coautor da canção. Outra inédita do repertório, Salto (Sandy Leah, 2016) reitera o tom confessional que pauta boa parte da obra da artista. Já Respirar (Sandy Leah, Lucas Lima e Daniel Lopes, 2016) - número feito com interação da plateia, cujas luzes dos celulares acenderam a chama impagável dos fãs fiéis - caminha na direção oposta, buscando extroversão pop. A mesma que pauta a funkeada Colidiu (Sandy Leah e Lucas Lima, 2016), a mais trivial das cinco inéditas. Mesmo que a obra autoral ainda soe irregular, Sandy já provou ser boa compositora. A inspiração da artista habita forte em Morada (Sandy Leah, Lucas Lima e Tati Bernardi, 2013), reminiscência do álbum Sim (Universal Music, 2013) que encontra espaço em Meu canto, até pelo fato de não ter feito parte do roteiro original do show Sim. O que não faz sentido é a repetição em Meu canto do cover de All star (Nando Reis, 2000), herança do show anterior. Com tanta música no mundo, bisar a canção apaixonada de Nando Reis denota certa preguiça na formatação do roteiro. Mesmo assim, pelo acabamento técnico e pela (visível) evolução da artista, dentro dos limites como compositora, Meu canto se impõe como o melhor show solo de Sandy.
Cinco inéditas tecem mundo de Sandy no roteiro autoral do show 'Meu canto'
♪ "...Entre sem bater / Sem julgar, sem tentar entender / Deixe as armas e angústias do lado de fora / Em troca, ofereço a música e o agora / Eu lhe dou o meu canto / Nesse canto que é tão meu". Foi na penumbra, atrás da porta que compõe o cenário de Zé Carratu, que Sandy deu as boas-vindas para o público que foi à casa Vivo Rio na noite de ontem, 20 de maio de 2016, assistir à estreia carioca do show Meu canto - já o quinto show da carreira solo da cantora e compositora paulista se incluídos na conta o breve show de 2007 com standards do jazz (e músicas de Antonio Carlos Jobim) e o charmoso tributo a Michael Jackson (1958 - 2009) feito pela artista em 2011 em projeto paralelo do Centro Cultural Banco do Brasil. As boas-vindas são dadas ao som de Meu canto (Sandy Leah), música inédita que dá nome tanto ao show como ao CD ao vivo e ao DVD que serão lançados em junho deste ano de 2016 em edição da gravadora Universal Music. Além da música-título, Meu canto apresenta no roteiro mais quatro composições inéditas. Me espera (Sandy Leah, Lucas Lima e Tiago Iorc) já é sucesso por conta do clipe que já totalizou mais de três milhões de visualizações na web. As outras inéditas são Colidiu (Sandy Leah e Lucas Lima), Respirar (Sandy Leah, Lucas Lima e Daniel Lopes) e Salto (Sandy Leah). Além das novidades autorais, Sandy dá voz a Cantiga por Luciana (Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, 1969) - música que a própria cantora já registrara em DVD de 2009 - no roteiro do show, cuja apresentação de 20 de maio de 2016 seguiu roteiro similar ao da gravação ao vivo feita em novembro de 2015 no Theatro Municipal de Niterói (RJ). Eis o roteiro seguido por Sandy - vista em foto de Mauro Ferreira - na casa Vivo Rio na estreia do show solo Meu canto na cidade do Rio de Janeiro (RJ):
1. Meu canto (Sandy Leah, 2016)
2. Sim (Sandy Leah, 2013)
3. Aquela dos 30 (Sandy Leah, 2012)
4. Ela / Ele (Sandy Leah e Lucas Lima, 2010)
5. Perdida e salva (Sandy Leah, 2010)
6. Segredo (Sandy Leah e Lucas Lima, 2012)
7. Me espera (Sandy Leah, Lucas Lima e Tiago Iorc, 2016)
8. Respirar (Sandy Leah, Lucas Lima e Daniel Lopes, 2016)
9. Escolho você (Sandy Leah, Lucas Lima e Jason Tarver, 2012)
10. Salto (Sandy Leah, 2016)
11. All star (Nando Reis, 2000)
12. Olhos meus (Sandy Leah, 2012)
13. Pés cansados (Sandy Leah e Lucas Lima, 2010)
14. Colidiu (Sandy Leah e Lucas Lima, 2016)
15. Morada (Sandy Leah, Lucas Lima e Tati Bernardi, 2013)
16. Cantiga por Luciana (Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, 1969)
17. Sem jeito (Sandy Leah e Lucas Lima, 2010)
18. Nada é por acaso (Liah, Pedro Barezzi, Márcio Cruz e Danimar, 2001)
19. Desperdiçou (Liah, Dani Monaco e Rique Azevedo, 2003)
Bis:
20. Quando você passa (Turu turu) (Francesco Boccia, Gianfranco Calliendo e Ciro Esposito
em versão de Ricardo Moreira, 2001)
em versão de Ricardo Moreira, 2001)
21. Ponto final (Sandy Leah, Lucas Lima e Tati Bernardi, 2013)
Zezé Di Camargo & Luciano regravam tema d'Os Nonatos na festa de 25 anos
♪ Desde ontem nas plataformas digitais, em forma de single editado via Sony Music, a gravação inédita com a qual Zezé Di Camargo & Luciano celebram 25 anos de carreira fonográfica rebobina música, Eu e você, já conhecida em parte do universo sertanejo. A composição - ajustada ao estilo romântico da dupla goiana no arranjo de Hélio Bernal e Felipe Duran - é de autoria do cearense Raimundo Nonato Costa em parceria com o paraibano Raimundo Nonato Neto. Eles formam a dupla Os Nonatos, intérprete original de Eu e você em gravação lançada em abril de 2014 com a participação da dupla Cesar Menotti & Fabiano. Já o single Eu e você, com a gravação de Zezé Di Camargo & Luciano, chegou às plataformas digitais em 20 de maio de 2016, mas a faixa já tinha sido lançada em 16 de maio nas rádios que tocam música sertaneja, em ação prévia da Sony Music.
Nem o repertório caipira dissipa o ar colegial do musical 'Nuvem de lágrimas'
Resenha de musical de teatro
Título: Nuvem de lágrimas
Texto: Anna Toledo (com inspiração no romance Orgulho e preconceito, de Jane Austen)
Direção: Tania Nardini e Luciano Andrey
Direção musical: Carlos Bauzys
Elenco: Lucy Alves, Gabriel Sater, Adriana Del Claro, Sérgio Dalcin, Blota Filho, Rosana
Penna, Marcelo Várzea, Letícia Maneira Zappulla e Gabriel Staufer, entre outros
Foto: Otávio Dias
Cotação: * *
Musical em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), até 29 de maio de 2016
Título: Nuvem de lágrimas
Texto: Anna Toledo (com inspiração no romance Orgulho e preconceito, de Jane Austen)
Direção: Tania Nardini e Luciano Andrey
Direção musical: Carlos Bauzys
Elenco: Lucy Alves, Gabriel Sater, Adriana Del Claro, Sérgio Dalcin, Blota Filho, Rosana
Penna, Marcelo Várzea, Letícia Maneira Zappulla e Gabriel Staufer, entre outros
Foto: Otávio Dias
Cotação: * *
Musical em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), até 29 de maio de 2016
♪ Em grande evidência dos anos 1970 à década de 1990, a dupla Chitãozinho & Xororó se tornou emblemática na história da música sertaneja por ter sido uma das primeiras a dar vozes anasaladas a um repertório romântico que, a rigor, pouco ou nada diferia do cancioneiro de cantores populares como Amado Batista. O bom repertório acaipirado dos irmãos paranaenses é matéria-prima de Nuvem de lágrimas, musical sertanejo de 2015 que estreou na cidade do Rio de Janeiro (RJ) neste mês de maio de 2016 depois de cumprir temporada em São Paulo (SP). Escrito com inspiração no romance Orgulho e preconceito (1883), best-seller da obra literária da inglesa Jane Austen (1775 - 1817), o texto de Anna Toledo encaixa as músicas do repertório de Chitãozinho & Xororó em trama folhetinesca que entrelaça três histórias de amor em ambiente rural. A ideia é tão original quanto interessante, mas resulta pálida em cena. Nem a força popular do cancioneiro da dupla dissipa o ar colegial que embala Nuvem de lágrimas. Sem vida, a direção musical de Carlos Bauzys acentua o tom esmaecido do canto da maioria do elenco e erra ao optar pela superposição das músicas Fio de cabelo (Darci Rossi e Marciano, 1982) e Porque brigamos (I am... I said) (Neil Diamond, 1971, em versão de Rossini Pinto, 1972). Nem a protagonista Lucy Alves - intérprete de Bete Borba, a caipira orgulhosa que desperta o amor do preconceituoso advogado Darcy (Gabriel Sater) - tem oportunidade de mostrar em cena a vivacidade já exibida em shows. A trama romântica do casal começa bem, mas é desenvolvida de forma superficial e inverossímil (sobretudo na cena artificial que encerra o primeiro ato). Ambientada na fictícia cidade de Santana do Ribeirão, a história serve também para propagar o orgulho do Brasil sertanejo - sentimento manifestado logo no início quando dois violeiros tocam e o elenco começa progressivamente a cantar Caipira (Joel Marques e Maracaí, 1991). Justiça seja feita, apesar do acabamento ginasial, o musical alcança momentos de empatia com a plateia por conta da força do repertório caipira. Com boa presença em cena, Blota Filho - intérprete do Doutor Jardim, padrinho de Darcy e ex-noivo da mãe de Bete (Rosana Penna, atriz que veste bem a pele da personagem) - protagoniza um desses momentos ao cantar a melancólica Se Deus me ouvisse (Almir Rogério, 1971). E por falar em melancolia, toda a tristeza que há em Saudade de minha terra (Pascoal Todarelli e Gerson Coutinho da Silva, 1966) - obra-prima caipira que completa 50 anos em 2016, tendo sido gravada há 20 anos por Chitõazinho & Xororó no álbum Clássicos sertanejos (PolyGram, 1996) - se dilui na vivacidade imposta equivocadamente ao tema no número coletivo de Nuvem de lágrimas. Tal vivacidade soa mais adequada quando é posta a serviço das músicas calcadas na batida da música country norte-americana, casos de Sistema bruto (Cacá Moraes e Gil Cardoso, 2004) - composição de letra que parece ter sido moldada para o clima de balada que tem movimentado a produção e o mercado da música sertaneja na fase universitária - e de Nasci de bota e chapéu (Gil Cardoso e Xororó, 2009), número defendido por Letícia Maneira Zappulla, intérprete de Lídia Borba, a espevitada irmã caçula de Bete. Enquadrado em moldura simplória, Nuvem de lágrimas passa batido na cena já povoada por musicais arquitetados com maior rigor estilístico. O bailão sertanejo poderia ser mais animado.
sexta-feira, 20 de maio de 2016
Caixa 'Três tons de MPB-4' revitaliza álbuns de fase áurea do politizado grupo
Resenha de caixa de CDs
Título: Três tons de MPB-4
Artista: MPB-4
Gravadora: Universal Music
Cotação da caixa: * * * * *
Cotação dos álbuns: 10 anos depois (* * * * *) Canto dos homens (* * * * ) Vira virou (* * * 1/2)
Título: Três tons de MPB-4
Artista: MPB-4
Gravadora: Universal Music
Cotação da caixa: * * * * *
Cotação dos álbuns: 10 anos depois (* * * * *) Canto dos homens (* * * * ) Vira virou (* * * 1/2)
♪ Uma das célebres parcerias de Chico Buarque com Francis Hime, Passaredo ganhou registro de Chico em 1976 e deu nome ao álbum lançado por Francis em 1977. Mas a gravação original foi feita pelo MPB-4 - com arranjo orquestrado pelo próprio Francis - em 10 anos depois (Philps, 1975), décimo álbum do grupo fluminense cujas origens remontam a 1962 no Centro Popular de Cultura de Niterói (RJ). O título 10 anos depois aludia à década de atividades oficiais do quarteto que debutara em disco com compacto simples editado em 1964 e que se profissionalizara no ano seguinte, 1965. A edição da caixa Três tons de MPB-4 é fundamental para a preservação da memória musical brasileira. De 1966 a 1984, o grupo lançou - pelas gravadoras Elenco, Philips, Ariola e Barclay - 20 álbuns pautados pela coerência e consciência social aguçada já na época do CPC. A rigor, todos estes 20 álbuns mereciam estar sendo reeditados em caixa para que o supra-sumo da discografia do grupo fosse preservada no formato de CD. Por ora, é um alento a edição de três relevantes álbuns do grupo - o já citado 10 anos depois (Philips, 1975), Canto dos homens (Philips, 1976) e Vira virou (Ariola, 1980) - na caixa da série Tons, produzida por Alice Soares (profissional do departamento de marketing da Universal Music) com seleção de títulos e textos do produtor Thiago Marques Luiz. A caixa Três tons de MPB-4 mantém o alto padrão de qualidade da série que recupera títulos do acervo da Universal Music que estavam fora de catálogo e que, no caso dos três álbuns do MPB-4, permaneciam inéditos no formato de CD. Além da reprodução da arte gráfica dos LPs originais, a remasterização - feita por Luigi Hoffer e Carlos Savalla no estúdio DMS (Digital Mastering Solutions) - deixa o som tinindo como se os álbuns estivesse saindo neste ano de 2016. E que álbuns! O repertório em si é de bom nível. Mas o trunfo do MPB-4 residia nos arranjos vocais de Antônio José Waghabi Filho (14 de novembro de 1943 - 8 de agosto de 2012), o Magro, integrante da formação original do quarteto. Sofisticados, mas não a ponto de tornar o som do quarteto inacessível para o chamado grande público, os arranjos vocais de Magro tornavam irrelevantes o fato de a música ser ou não inédita quando gravada pelo MPB-4. Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria, 1959), por exemplo, ressurge com outra luz no álbum 10 anos depois por conta dos surpreendentes acordes do arranjo vocal de Magro. Mas a melodia e a letra estão todas lá na gravação de Aquiles, Magro, Miltinho e Ruy Faria (que sairia do grupo em 2004). Porque o MPB-4 sempre dava o pessoal toque vocal às músicas sem desfigurar as melodias. Alguns temas soam arrepiantes, caso de Canto triste (Edu Lobo e Vinicius de Moraes, 1966), ouvido a capella em 10 anos depois. Com menor cota de clássicos da MPB no repertório, Canto dos homens é disco que deu o recado político do grupo - através de letras de músicas de Chico Buarque, Ivan Lins, João Bosco & Aldir Blanc, entre outros compositores engajados - e lançou composições como Moreno (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976), que vem a ser versão com letra do instrumental Tema de Tostão (Milton Nascimento, 1970), apresentado por Milton Nascimento seis anos antes em gravação feita para a trilha sonora de filme sobre o jogador de futebol. No todo, Canto dos homens soa sem o frescor do antecessor 10 anos depois sem deixar de ser álbum contundente. Bola ou búlica (João Bosco e Aldir Blanc, 1975) desce redonda ao cair no suingue do samba sincopado típico da dupla de compositores. Terceiro título da caixa, Vira virou - primeiro álbum do MPB-4 na então recém-aberta (no Brasil) gravadora Ariola - acenou com mudança no som e nos arranjos vocais. O som ficou mais elétrico e mais vibrante, afinado com a revolução estética que desembocaria no tecnopop, tônica dos discos da década de 1980. Os vocais ganharam outros tons e harmonias, já sob a influência da chegada do Boca Livre, sensação da cena musical brasileira de 1979. A lua (Renato Rocha, 1980) foi o maior sucesso de um repertório abordado com pegada mais pop pelo MPB-4. Em Vira virou, disco batizado com a canção de inspiração lusitana (de autoria de Kleiton Ramil) que fez mais sucesso nas vozes da dupla gaúcha Kleiton & Kledir, o grupo lançou o xote Por toda lã - do então emergente Alceu Valença (já na estrada ao longo dos anos 1970, mas em momento de ampliação de púbico) - e Bilhete (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980), doída canção de separação que somente encontraria a voz certa e o sucesso ao ser gravada por Fafá de Belém em 1982. Ao longo da década de 1980, o MPB-4 teria dificuldades mercadológicas para manter o nível de discografia que atingiu o auge justamente entre 1966 e 1984. Nesse período, os tons do MPB-4 foram muitos e todos foram relevantes. Que outros tons do grupo sejam revitalizados, pois!
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