Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 18 de junho de 2013

'Eterna alegria' reconecta Alcione ao samba com elegância e inspiração

Resenha de CD
Título: Eterna alegria
Artista: Alcione
Gravadora: Marrom Music / Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

Eterna alegria, 38º álbum de Alcione, cumpre todas as expectativas geradas pela edição em single digital do radiante samba que dá título ao CD e que evoca os pagodes à moda carioca do Cacique de Ramos, Eterna alegria (Júlio Alves, Ramirez, Carlos Jr. e Alex Almeida). Trata-se de um dos melhores discos da Marrom, um trabalho no mesmo nível dos álbuns gravados pela cantora maranhense nos anos 70 e 80. A coesão do repertório salta aos ouvidos. Até os sambas mais dolentes de tonalidade romântica são de bom nível, caso de Direitos iguais (Sereno e André Renato). Eterna alegria é o disco que Alcione devia aos seus fãs antigos, mas não somente por representar uma volta ao samba, do qual a Marrom - verdade seja dita - nunca se afastou, mesmo que tenha feito discos pautados por salutar diversidade rítmica. O upgrade é na qualidade do repertório. Alcione gravou músicas aquém de sua voz singular na irregular fase da Indie Records, ao longo dos anos 2000. Eterna alegria reconecta a Marrom às cores vivas de sua discografia na gravadora RCA / BMG-Ariola. A produção de Jorge Cardoso valoriza esse bom repertório com arranjos de time que destaca os maestros Ivan Paulo, Julinho Teixeira e Paulo Calasans, arranjador de Sem palavras, grande samba em que os parceiros Francis Hime e Thiago Amud incubem o samba de desvelar o amor ausente no sereno da madrugada. No mesmo alto nível, o samba Por ser mulher lembra que Jorge Aragão é inspirado melodista e poeta. Sem jamais sair do tom, Eterna alegria alterna temas contagiantes - caso do samba-rock Produto brasileiro (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Brasil do Quintal), faixa-exaltação do samba - com temas mais magoados como a boa balada-blues Pontos finais, parceria de Ana Carolina com Chiara Civello e Dudu Falcão, e como o sambalada Sentença (Serginho Meriti, Claudemir e Ricardo Moraes) que culmina em interpretação encharcada de alma e soul. A anunciada primeira parceria de Djavan com Zeca Pagodinho, Êh, êh, é outro desses momentos mais melancólicos. Embora não se revele à altura do histórico dos compositores, o samba tem elegância refinada que transparece à medida em que é ouvido sucessivas vezes. Não diz a que veio de cara, como o animado Bate palma aê (Paulinho Carvalho e Cacá Franklin), mas é bom. A dona sou eu (Paulinho Resende e Nenéo) se situa na seara dos sambas mais vivazes. É samba ambientado em clima de gafieira que evoca a estrutura melódica e rítmica de Meu ébano, tema dos mesmos compositores, gravado por Alcione no álbum Uma nova paixão (2005). Assim como A dona sou eu, o sambão Difícil de aturar (Max Viana, Arlindo Cruz e Fred Camacho) e o pagode à moda do Cacique Conversa fiada (Júlio Alves, Carlos Jr., Ramirez e Alex Almeida) - dos mesmos autores do contagiante Eterna alegria - traçam o perfil da mulher decidida e de temperamento forte encarnada por Alcione em seus temas românticos, em sagaz link que reforça a personalidade artística da cantora. Já Ogum chorou que chorou (Arlindo Cruz) é ótimo samba de temática e tom afro-brasileiro enquanto Chapéu de couro (Papete e Manuel Pacífico a partir de temas de domínio público) transporta o disco para o Maranhão, terra natal da intérprete, com direito à citação de Ê baiana (Fabrício da Silva, Baianinho, Ênio Santos Ribeiro e Miguel Pancrácio), sucesso da imortal Clara Nunes (1942 - 1982) em 1971. Por fim, um inspirado Altay Veloso celebra o encanto do canto em cena em Magia do palco, tema que encerra oficialmente o disco, já que o digno sambalada Amor surreal (Michael Sullivan, Carlos Colla e Miguel Plopschi) - gravado por Alcione em 2012 para a trilha sonora da novela Salve Jorge (TV Globo) - foi alocado como faixa-bônus de Eterna alegria, disco belo e pulsante à altura da voz e da importância da Marrom na música do Brasil. 

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Sambalada? Que invenção é essa? Amor surreal é apenas mais uma balada lugar comum da Alcione. Mas fico feliz de ler todo o resto. Quero muito ouvir!

Mauro Ferreira disse...

Carlos Eduardo, ouvi pela primeira vez 'Amor surreal' no 'Eterna alegria', pois não vi a novela. A música começa como balada, sim, mas no fim ganha uma base de samba. Abs, MauroF

Marcelo Barbosa disse...

Só pode ter feito as pazes com a cantora. Do pouco que li não gostei de quase nada.

Marcelo Barbosa disse...

retificando: li não, OUVI!

Anderson Nascimento disse...

Estou curioso para ouvir.

Anderson Nascimento disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
NEGO LITO disse...

Eita! A nega tá mesmo é enjoada.
Agora é que ela não vai mais querer saber de mim.
Tá vivaz, tá dolente, pagodeira, elegante, malandra, tá afro e soul.
Fazia tempo que eu tava querendo um disco inteiro de baticum, turbinado pelos tambores desse vozeirão que me arrepia.
Sem o apêndice da sambalada, dava pra ela cinco estrelas. Cinco não. Dez. Uma pra cada unha.
Beijo, Marrom! Beijo, Maurão!

Unknown disse...

Bom, pela crítica do mauro, o cd parece bem regular, coisa que a Marrom não conseguia fazer em anos e anos de discografia bem irregular. Ouvindo e comprovando em 3, 2, 1....

RURIK VARDA disse...

Alegria é ver a Marrom entregando sua voz a um projeto que privilegia o gênero que a consagrou. Apesar de concordar com Áurea Martins quando diz que Alcione tem pelo menos dez cantoras dentro dela, confesso que, apesar de admirar a sua versatilidade, esperava um projeto como este, que me remetesse aos bons tempos do ABC, quando ela, Beth e Clara encabeçavam as vozes femininas do samba nos anos 70 e parte dos anos 80. Todas com timbres bonitos, encorpados e com estilos muito próprios, com trabalhos que se diferenciavam e complementavam.
Para a alegria ficar completa, podiam lançar seus discos da fase Philips num box caprichado, com encartes originais e, se não fosse pedir demais, uma caixa com o programa “Alerta Geral”, que a Marrom comandou com sucesso lá pelos idos de 1979 até 1981, e que trazia como convidados figuras como Tom Jobim, Sivuca, Clementina de Jesus, D. Ivone Lara e por aí vai. Uma joia.
Bom... sonhar ainda pode.