Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Camelo amortece o grito e a produção autoral de Wado em 'Vazio tropical'

Resenha de CD
Título: Vazio tropical
Artista: Wado
Gravadora: Oi Música
Cotação: * * 1/2

Em tese, o sétimo álbum de Wado, Vazio tropical, é um disco de inéditas. Mas também pode ser entendido como um disco de sobras, pois o cantor e compositor catarinense - radicado em Maceió (AL) - dá voz no CD a canções de lavra antiga que não haviam se ajustado a trabalhos anteriores, mas que se adequaram à estética de Marcelo Camelo. O hermano foi convidado a produzir Vazio tropical diante da agenda lotada de Kassin, nome inicialmente pensado por Wado para pilotar a gravação do CD, que vai ser lançado em edição física em julho de  2013, pelo selo Oi Música. A associação com Camelo alimentou automaticamente na mídia a aura hype erguida em torno de Wado. Contudo, quem conhece este compositor - de inspiração acima da média rala da cena indie - sabe que sua obra autoral tem méritos suficientes para independer do hype. De todo modo, a fina ironia é que o compositor apresenta em Vazio tropical produção autoral menos instigante do que os repertórios de discos como Terceiro mundo festivo (2008), Atlântico negro (2009) - álbum em que o artista cruzou o Oceano de sons que liga a África ao Brasil - e Samba 808 (2011). Fiel ao seu universo particular, Camelo sereniza a efervescência autoral da música de Wado, enquadrando temas como Rosa (Wado e Cícero) - faixa na qual Mallu Magalhães faz a segunda voz - e Canto dos insetos (Wado, Cícero e Momo), tema de versos imperativos, dentro da atmosfera de sua  música. Ao trazer a obra de Wado para esse seu universo particular, Camelo força um parentesco que é mais forte na obra do cantor e compositor mineiro (radicado no Rio de Janeiro) Marcelo Frota, o Momo, do que no repertório de Wado. Sintomaticamente, Momo é o autor da única música não assinada por Wado, Flores do bem, neste disco em que é Camelo é onipresente. Além de dividir com Wado os vocais de Tão feliz (Wado e Momo), bela música lançada por Momo em seu primeiro álbum A estética do rabisco (2006), Camelo toca instrumentos como bateria, guitarra, baixo, vibrafone, clarone e percussão, preenchendo Vazio tropical com sua marca sonora que quase uniformiza temas como Cidade grande (Wado) - música que já se mostrou menor ao ser lançada por Cris Braun no CD Fábula (2012) - e a percussiva Quarto sem porta (Wado e Junior Almeida), faixa de maior suingue, marcada pela repetição do verso "Um quarto sem porta é imagem bonita, mas pode doer". Em essência, Vazio tropical gravita em torno do universo da canção de atmosfera delicada, como exemplifica Zelo, faixa composta e gravada por Wado com Cícero. Há, a propósito, boas conexões de Wado no disco. O cantor e compositor uruguaio Gonzalo Deniz (do projeto Franny Glass) é parceiro e convidado de Carne. Adalberto Rabello Filho (do grupo paulistano Numismata) é o parceiro de Cais abandonado, tema embebido em lirismo melancólico que se ajusta bem ao universo calmo de Camelo. Com balanço extraído do toque da guitarra de Vítor Peixoto, Primavera árabe (Wado e Vítor Peixoto) se impõe no cancioneiro de Vazio tropical, sinalizando que a efervescência da obra autoral de Wado impele o compositor a soltar um grito amortecido pela (influente) estética musical de Marcelo Camelo. 

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O Neto do Herculano disse...

Que alguém estrague seu próprio trabalho, da sua antiga banda e o da namorada, va lá; mas...

codigoacesso disse...

Adorei o cd, lindo... achei injusto duas estrelinhas e meia... Mas..

Daniel Lima disse...

Há tempos não me interessava tanto por um disco. E olha que tenho garimpado muito por aí. Também achei injusto só duas estrelinhas e meia... Mas...