Mauro Ferreira no G1

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domingo, 2 de janeiro de 2011

Em 'Eu', Martin faz um leve, humanista e superficial relato autobiográfico

Resenha de livro
Título: Eu
Autor: Ricky Martin
Editora: Planeta
Cotação: * *

Em 29 de março de 2010, Ricky Martin confirmou sua homossexualidade - há anos objeto de especulações pela mídia sensacionalista - em carta publicada em seu site oficial. Se não chegou a ser surpreendente, a revelação acabou sendo providencial, já que elevou a cotação do astro porto-riquenho no mercado. Inclusive o editorial. Em novembro de 2010, Martin lançou sua autobiografia, Yo. Eu - na edição em português posta nas livrarias pela editora Planeta - apresenta um relato leve, humanista e superficial. O livro vai decepcionar quem espera revelações de nomes de amantes de Martin ou mesmo um aprofundamento na questão da homossexualidade. Ao repassar sua vida e sua carreira, o cantor assume que sempre se relacionou com homens e mulheres enquanto revela o processo de culpa por ser gay e o de libertação dessa culpa. Contudo, Eu nunca vai além da superfície. Tanto que o livro acaba ficando mais interessante nas passagens em que Martin recorda sua carreira musical. Embora também não se aprofunde na revisão de sua trajetória musical, o cantor - um dos primeiros a desbravar o mercado de música pop latina que ascendeu nos Estados Unidos e no mundo ao longo dos anos 90 - recorda a dura rotina profissional a que foi submetido enquanto integrante do conjunto Os Menudos (uma febre na década de 80) e rememora a construção de sua carreira fonográfica fora do grupo. Se o primeiro álbum (Ricky Martin, 1991) lhe deu orgulho e sucesso, o segundo (Me Amarás, 1993) foi obra mais da gravadora Sony Music do que do próprio Martin. E o astro conta como tomou as rédeas da própria carreira ao gravar o terceiro álbum, A Medio Vivir (1995), disco que lhe rendeu o megahit María e que seria sucedido pelo também estourado Vuelve (1998). Foi então que o astro latino foi lançado nos Estados Unidos com toda pompa. No embalo da escalada de Livin' la Vida Loca nas paradas, o primeiro álbum em inglês do cantor, Ricky Martin (1999), venderia quase 17 milhões de cópias ao redor do mundo. Mas novamente Martin perdeu as rédeas da carreira quando, pressionado pela Sony Music, gravou um segundo álbum em inglês, Sound Loaded (2000), quando o primeiro ainda tinha fôlego comercial. Em sua autobiografia, Martin não esmiuça sua descida do olimpo, mas, a partir do (relativo) fracasso de Sound Loaded, ele se voltou para suas origens - gravando em espanhol Almas del Silencio (2003) - e seus discos começaram a ter vendas descendentes. Foi quando começou a sua jornada espiritual - iniciada em viagem ao Oriente, detalhada em Eu - e quando começou a brotar também mais forte a vontade de ser pai. Recorrendo a uma barriga de aluguel, Martin gerou seus filhos Matteo e Valentino. O encontro do equilíbrio pessoal culminou com a revelação de sua homossexualidade. Pena que Eu nunca saia da superfície e por vezes resvale até num tom de autoajuda. Se fosse mais consistente, o relato autobiográfico de Ricky Martin seria mais útil e importante. Ainda assim, Eu deixa a boa impressão de ser livro sincero - escrito com dignidade, honestidade e coragem.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em 29 de março de 2010, Ricky Martin confirmou sua homossexualidade - há anos objeto de especulações pela mídia sensacionalista - em carta publicada em seu site oficial. Se não chegou a ser surpreendente, a revelação acabou sendo providencial, já que elevou a cotação do astro porto-riquenho no mercado. Inclusive o editorial. Em novembro de 2010, Martin lançou sua autobiografia, Yo. Eu - na edição em português posta nas livrarias pela editora Planeta - apresenta um relato leve, humanista e superficial. O livro vai decepcionar quem espera revelações de nomes de amantes de Martin ou mesmo um aprofundamento na questão da homossexualidade. Ao repassar sua vida e sua carreira, o cantor assume que sempre se relacionou com homens e mulheres enquanto revela o processo de culpa por ser gay e o de libertação dessa culpa. Contudo, Eu nunca vai além da superfície. Tanto que o livro acaba ficando mais interessante nas passagens em que Martin recorda sua carreira musical. Embora também não se aprofunde na revisão de sua trajetória musical, o cantor - um dos primeiros a desbravar o mercado de música pop latina que ascendeu nos Estados Unidos e no mundo ao longo dos anos 90 - recorda a dura rotina profissional a que foi submetido enquanto integrante do conjunto Os Menudos (uma febre na década de 80) e rememora a construção de sua carreira fonográfica fora do grupo. Se o primeiro álbum (Ricky Martin, 1991) lhe deu orgulho e sucesso, o segundo (Me Amarás, 1993) foi obra mais da gravadora Sony Music do que do próprio Martin. E o astro conta como tomou as rédeas da própria carreira ao gravar o terceiro álbum, A Medio Vivir (1995), disco que lhe rendeu o megahit María e que seria sucedido pelo também estourado Vuelve (1998). Foi então que o astro latino foi lançado nos Estados Unidos com toda pompa. No embalo da escalada de Livin' la Vida Loca nas paradas, o primeiro álbum em inglês do cantor, Ricky Martin (1999), venderia quase 17 milhões de cópias ao redor do mundo. Mas novamente Martin perdeu as rédeas da carreira quando, pressionado pela Sony Music, gravou um segundo álbum em inglês, Sound Loaded (2000), quando o primeiro ainda tinha fôlego comercial. Em sua autobiografia, Martin não esmiuça sua descida do olimpo, mas, a partir do (relativo) fracasso de Sound Loaded, ele se voltou para suas origens - gravando em espanhol Almas del Silencio (2003) - e seus discos começaram a ter vendas descendentes. Foi quando começou a sua jornada espiritual - iniciada em viagem ao Oriente, detalhada em Eu - e quando começou a brotar também mais forte a vontade de ser pai. Recorrendo a uma barriga de aluguel, Martin gerou seus filhos Matteo e Valentino. O encontro do equilíbrio pessoal culminou com a revelação de sua homossexualidade. Pena que Eu nunca saia da superfície e por vezes resvale até num tom de autoajuda. Se fosse mais consistente, o relato autobiográfico de Ricky Martin seria mais útil e importante. Ainda assim, Eu deixa a boa impressão de ser livro sincero - escrito com dignidade, honestidade e coragem.

Unknown disse...

Este foi o melhor comentário q li sobre o livro EU. Sou fã do Ricky Martin há 14 anos, e com o livro acabamos com a impressão de q tudo são flores na vida de um artista, mesmo sendo superficial (até pelo metivo de q talvez ele ñ quisesse MESMO contar tudo) o livro é verdadeiro e honesto.
Parabéns pelo comentário!!