Mauro Ferreira no G1

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domingo, 19 de fevereiro de 2012

CD duplo reconstitui o dia em que Elis foi do céu ao inferno em Montreux

Resenha de CD
Título: Um Dia
Artista: Elis Regina
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * *

Por vontade de Elis Regina (1945 - 1982), a gravação ao vivo das duas apresentações feitas por ela na 13ª edição do Montreux Jazz Festival, em 20 de julho de 1979, jamais teria sido lançada em disco. Elis até expressou claramente esse desejo à diretoria da Warner Music. Em vão. Em março de 1982, dois meses após a morte da cantora, a gravadora mandou para as lojas um LP póstumo com nove números extraídos de tais apresentações. Montreux Jazz Festival (1982) permaneceu por anos em catálogo e, em 2001, teve adicionadas seis faixas-bônus ao seu repertório original em cuidadosa reedição em CD produzida por André Midani e Guti - os produtores do álbum de 1982 - para a série Arquivos Warner. Um Dia - o CD duplo ora lançado pela Warner por conta dos 30 anos de morte da Pimenta - expande esse conteúdo e rebobina, na íntegra e na ordem, todos os 27 números das duas apresentações feitas por Elis no festival suíço. São 13 números do show da tarde - sessão extra aberta pelo fato de os ingressos para o show da noite logo terem se esgotado - e 14 da apresentação noturna. Neste dia, Elis Regina foi do céu ao inferno, mas terminou novamente no céu. O céu inicial foi a apresentação da tarde, em que a cantora-músico deu um show de suingue ao pôr sua voz-instrumento em sambas como Cobra Criada (João Bosco e Paulo Emilio), Cai Dentro (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), Amor Até o Fim (Gilberto Gil), Mancada (Gilberto Gil) e Samba Dobrado (Djavan). O inferno vivido na apresentação noturna foi bem mais existencial do que musical - como provam as gravações do show da noite, de fato inferiores às da apresentação vespertina, mas nem por isso indignas da grande cantora que Elis já era naquela altura, com pleno domínio de seu instrumento. Mesmo acometida de repentina crise de insegurança, o que prejudicou (ligeiramente) a emissão de sua voz, Elis deu conta do recado com sua habitual categoria e brilhou ao fim no duelo travado com o piano de Hermeto Pascoal. Ardida ao ser desafiada pelo Bruxo, a Pimenta foi de novo ao céu. Ao reconstituir o dia histórico de Elis Regina em Montreux, com o registro integral de suas duas apresentações no festival, o disco duplo produzido por Marcelo Fróes oferece ao fã da artista a oportunidade de acompanhar as oscilações de uma cantora que, mesmo em crise criada por insegurança, roçava a genialidade.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Por vontade de Elis Regina (1945 - 1982), a gravação ao vivo das duas apresentações feitas por ela na 13ª edição do Montreux Jazz Festival, em 20 de julho de 1979, jamais teria sido lançada em disco. Elis até expressou claramente esse desejo à diretoria da Warner Music. Em vão. Em março de 1982, dois meses após a morte da cantora, a gravadora mandou para as lojas um LP póstumo com nove números extraídos de tais apresentações. Montreux Jazz Festival (1982) permaneceu por anos em catálogo e, em 2001, teve adicionadas seis faixas-bônus ao seu repertório original em cuidadosa reedição em CD produzida por André Midani e Guti - os produtores do álbum de 1982 - para a série Arquivos Warner. Um Dia - o CD duplo ora lançado pela Warner por conta dos 30 anos de morte da Pimenta - expande esse conteúdo e rebobina, na íntegra e na ordem, todos os 27 números das duas apresentações feitas por Elis no festival suíço. São 13 números do show da tarde - sessão extra aberta pelo fato de os ingressos para o show da noite logo terem se esgotado - e 14 da apresentação noturna. Neste dia, Elis Regina foi do céu ao inferno, mas terminou novamente no céu. O céu inicial foi a apresentação da tarde, em que a cantora-músico deu um show de suingue ao pôr sua voz-instrumento em sambas como Cobra Criada (João Bosco e Paulo Emilio), Cai Dentro (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), Amor Até o Fim (Gilberto Gil), Mancada (Gilberto Gil) e Samba Dobrado (Djavan). O inferno vivido na apresentação noturna foi bem mais existencial do que musical - como provam as gravações do show da noite, de fato inferiores às da apresentação vespertina, mas nem por isso indignas da grande cantora que Elis já era naquela altura, com pleno domínio de seu instrumento. Mesmo acometida de repentina crise de insegurança, o que prejudicou (ligeiramente) a emissão de sua voz, Elis deu conta do recado com sua habitual categoria e brilhou ao fim no duelo travado com o piano de Hermeto Pascoal. Ardida ao ser desafiada pelo Bruxo, a Pimenta foi de novo ao céu. Ao reconstituir o dia histórico de Elis Regina em Montreux, com o registro integral de suas duas apresentações no festival, o disco duplo produzido por Marcelo Fróes oferece ao fã da artista a oportunidade de acompanhar as oscilações de uma cantora que, mesmo em crise criada por insegurança, roçava a genialidade.

Raul disse...

Mauro, acho que a reedição em CD de 2001 foi produzida pelo Charles Gavin, ele que bolou a Arquivos Warner

Realmente, a segunda apresentação é inferior à primeira. Mas ainda bem que agora, depois de tanto tempo, podemos comparar.

Felipe dos Santos disse...

CD bom, e feito decentemente. A reedição produzida por Charles já era boa, mas, como Raul comentou, enfim podemos comparar.

Concordo que o show da noite é bem mais inseguro, inclusive na performance dos músicos. Dá para comparar pela introdução de "Cobra criada". À tarde, Cesar levou um improviso jazzístico delicioso no piano Yamaha CP-70, e a coisa fluiu; à noite, foi meio na pressa, com introdução e afinação meio simultâneos.

Só que a banda... tudo bem, eu prefiro Natan Marques a Helio Delmiro, prefiro Picolé a Paulinho Braga, mas aquele é O quinteto, de fato. Cesar, Luizão, Helinho, Chico Batera e Paulinho. Sem mais.

Agora, repise-se a crítica: bem que a Warner podia correr atrás do arquivo videográfico bem cuidado de Montreux e lançar algo em DVD.

Felipe dos Santos Souza

Vladimir disse...

Eu lamento o fato de não manterem a capa do disco original, mesmo que este não seja exatamento o original... Fica parecendo meio fake...

Abraços

ADEMAR AMANCIO disse...

Pra mim só a cantoria de cobra criada e a interpretação-limite de na baixa do sapateiro ja vale o lançamento e a compra dos dois cds.

marquinhos disse...

Que maravilha! Quantas saudades dessa estrela que foi brilhar em outra dimensão, fico muito feliz mesmo que seja um relançamento pro Brasil não esquecer uma das cantoras mas sublimes que a musica popular brasileira já possuiu. Agora espero que eles lancem o DVD desse show que por sinal já existe varias parte no you tube mas precisam lançar o oficial por que é maravilhoso! Viva Elis! Aquela que me educou musicalmente.
Marcos Antonio
Salvador, Bahia.

Francisnaldo Borges disse...

Tudo vale a pena pra rememorar Elis, mas uma foto daquelas de Montreux seria o máximo, no CD.