Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Senhor dos sons, Bosco cai com bossa no samba-jazz da NDR BigBand

Resenha de CD
Título: Senhoras do Amazonas
Artista: João Bosco & NDR BigBand
Gravadora: Yellowbird
Cotação: * * * * 1/2

Em maio de 2007, a orquestra alemã de jazz NDR BigBand expandiu a obra elástica de João Bosco - sem desmontar os alicerces que sustentam o suingante cancioneiro do compositor - em turnê que passou por seis cidades do Brasil. Em 2008, já em Hamburgo, Bosco entrou em estúdio com a big-band para registrar dez temas para CD que foi  lançado na Europa somente em setembro de 2010. Disponível no Brasil somente nas seções de importados das lojas de discos, Senhoras do Amazonas é álbum majestoso. Bosco cai com bossa no samba abordado de forma jazzística pela NDR BigBand, conduzida pelo maestro Jörg Achim Keller. A interação da percussão com os  luxuosos metais da NDR dá vibrante pulsação rítimica, por exemplo, a Nação (1982), samba de Bosco com Aldir Blanc e Paulo Emílio (não creditado na ficha técnica do CD). Já na primeira faixa de vibe roqueira, Bate um Balaio (1984), fica logo evidente a inventividade dos arranjos de Steve Grat. Pontuada pelo trompete de Reiner Winterschladen e pelo sax alto de Peter Bolte, Bodas de Prata (1975) brilha afiada, cortante, envolta numa apropriada atmosfera densa e esfumaçada que realça o peso dos versos de Blanc. Bosco - que já traz embutida uma orquestra de percussão na voz e no toque de seu violão - está à vontade tanto nas baladas, como Saída de Emergência (João Bosco, Antônio Cícero e Waly Salomão - 1991), quanto nos sambas, caso de Pretaporter de Tafetá (João Bosco e Aldir Blanc - 1984), inserido em nobre salão de gafieira pelos metais vibrantes da NDR. Já A Nível de... (João Bosco e Aldir Blanc - 1982) não chega a soar tão diferente de registros anteriores, apesar da moldura de metais da NDR. Bem mais surpreendente é a faixa-título, Senhoras do Amazonas (1984). A parceria bissexta de Bosco com Belchior reaparece grandiosa, no tom quase épico do arranjo que cita a obra de Dorival Caymmi (1914 - 2008). Fora da seara autoral, Bosco revive três joias sempre modernas da obra de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994). Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça - 1959) é reconstruída pelos vocais percussivos do cantor e pelo clarinete de Lutz Büchner. Já Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes - 1958) ganha a abordagem mais reverente e convencional da gravação sem que, por isso, soe menos sedutora e refinada. Por fim, Ângela (1976) fecha o disco em clima íntimo, terno. Senhor dos sons, João Bosco reitera a beleza elástica de sua obra em álbum que merece edição no Brasil.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em maio de 2007, a orquestra alemã de jazz NDR BigBand expandiu a obra elástica de João Bosco - sem desmontar os alicerces que sustentam o suingante cancioneiro do compositor - em turnê que passou por seis cidades do Brasil. Em 2008, já em Hamburgo, Bosco entrou em estúdio com a big-band para registrar dez temas para CD que foi lançado na Europa somente em setembro de 2010. Disponível no Brasil somente nas seções de importados das lojas de discos, Senhoras do Amazonas é álbum majestoso. Bosco cai com bossa no samba abordado de forma jazzística pela NDR BigBand, conduzida pelo maestro Jörg Achim Keller. A interação da percussão com os luxuosos metais da NDR dá vibrante pulsação rítimica, por exemplo, a Nação (1982), samba de Bosco com Aldir Blanc e Paulo Emílio (não creditado na ficha técnica do CD). Já na primeira faixa de vibe roqueira, Bate um Balaio (1984), fica logo evidente a inventividade dos arranjos de Steve Grat. Pontuada pelo trompete de Reiner Winterschladen e pelo sax alto de Peter Bolte, Bodas de Prata (1975) brilha afiada, cortante, envolta numa apropriada atmosfera densa e esfumaçada que realça o peso dos versos de Blanc. Bosco - que já traz embutida uma orquestra de percussão na voz e no toque de seu violão - está à vontade tanto nas baladas, como Saída de Emergência (João Bosco, Antônio Cícero e Waly Salomão - 1991), quanto nos sambas, caso de Pretaporter de Tafetá (João Bosco e Aldir Blanc - 1984), inserido em nobre salão de gafieira pelos metais vibrantes da NDR. Já A Nível de... (João Bosco e Aldir Blanc - 1982) não chega a soar tão diferente de registros anteriores, apesar da moldura de metais da NDR. Bem mais surpreendente é a faixa-título, Senhoras do Amazonas (1984). A parceria bissexta de Bosco com Belchior reaparece grandiosa, no tom quase épico do arranjo que cita a obra de Dorival Caymmi (1914 - 2008). Fora da seara autoral, Bosco revive três joias sempre modernas da obra de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994). Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça - 1959) é reconstruída pelos vocais percussivos do cantor e pelo clarinete de Lutz Büchner. Já Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes - 1958) ganha a abordagem mais reverente e convencional da gravação sem que, por isso, soe menos sedutora e refinada. Por fim, Ângela (1976) fecha o disco em clima íntimo, terno. Senhor dos sons, João Bosco reitera a beleza elástica de sua obra em álbum que merece edição no Brasil.

Rener Melo disse...

Que delicia!! Quero ouvir *-*