Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Primeiro show de Amy no Rio combina genialidade, preguiça e desleixo

Resenha de show
Título: Amy Winehouse Back to Black
Artista: Amy Winehouse (em foto de Mauro Ferreira)
Local: HSBC Arena (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 10 de janeiro de 2011
Cotação: * * *
Agenda da turnê de Amy Winehouse no Brasil:
Rio de Janeiro (RJ) - 11 de janeiro, na HSBC Arena
Recife (PE) - 13 de janeiro, no Centro de Convenções de Pernambuco (Summer Soul Festival)
São Paulo (SP) - 15 de janeiro, na Arena Anhembi (Summer Soul Festival)

Quando Amy Winehouse encerrou o primeiro de seus dois shows no Rio de Janeiro (RJ) com Valerie, a dançante música do grupo inglês The Zutons que a cantora britânica trouxe para seu repertório, os cariocas vislumbraram ao vivo a genialidade de uma das artistas mais interessantes do século 21. Valerie foi o ápice de uma apresentação excessivamente curta que, infelizmente, combinou tal genialidade com preguiça e desleixo. Este ficou evidente quando, na volta ao palco para o bis, Amy cantou Love Is a Losing Game sem a força e a beleza do registro feito em seu segundo álbum, Back to Black (2006). Na sequência do bis, Me & Mr Jones encerrou burocraticamente a participação de Amy no show sintomaticamente fechado  pelo vocalista Zalon Thompson, intérprete do número final, You're Wondering Now, cover do grupo britânico The Specials. Amy, que mal se despediu do público, pareceu apenas bater ponto para receber seu cachê (supostos R$ 13 milhões pelas cinco apresentações no Brasil) e mostrar ao mundo que, não, não sucumbiu às drogas e ainda pode cantar após dois anos praticamente ausente dos palcos. Sim, sua voz de alma negra ainda está lá, intacta. Quando voltou ao palco da HSBC Arena pela primeira vez, após estratégica saída para que Zalon Thompson solasse Everybody Here Wants You e What a Man to Do, Amy pareceu até revigorada, bebeu cerveja e mostrou lampejos da grande cantora que realmente é quando enfileirou Rehab (com ajuda do vibrante coro da plateia), You Know I'm no Good e a citada Valerie. Sim, a gente sabe que Amy é quase sinônimo de encrenca. Contudo, sua primeira apresentação carioca provocou um misto de encantamento (pelo simples fato de estar vendo ao vivo uma das grandes cantoras da atualidade, uma artista de verdade em meio a tantos ídolos fabricados pela mídia e pela indústria do disco) e desgosto. A preguiça seria desculpável se os poucos números do show tivessem sido irretocáveis. Mas o desleixo - perceptível nos erros da letra de Just Friends (o reggae que abriu o show) e no ataque de riso tido pela cantora no início da balada Some Unholy War - é inconcebível. Mesmo quando foi correta, como Back to Black e em Boulevard of Broken Dreams (não a música do Green Day, mas o standard gravado por cantores como Tony Bennett), Amy Winehouse deixou a sensação de que poderia fazer melhor se estivesse realmente com a intenção de contentar o público que ansiava por vê-la no palco da HSBC Arena. O show teve lá seus bons momentos e, no todo, seduziu o público, mas poderia ter sido antológico se houvesse mais profissionalismo e bem mais empenho da cantora.

15 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Quando Amy Winehouse encerrou o primeiro de seus dois shows no Rio de Janeiro (RJ) com Valerie, a dançante música do grupo inglês The Zutons que a cantora britânica trouxe para seu repertório, os cariocas vislumbraram ao vivo a genialidade de uma das artistas mais interessantes do século 21. Valerie foi o ápice de uma apresentação excessivamente curta que, infelizmente, combinou tal genialidade com preguiça e desleixo. Este ficou evidente quando, na volta ao palco para o bis, Amy cantou Love Is a Losing Game sem a força e a beleza do registro feito em seu segundo álbum, Back to Black (2006). Na sequência do bis, Me & Mr Jones encerrou burocraticamente a participação de Amy no show sintomaticamente fechado pelo vocalista Zalon Thompson, intérprete do número final, You're Wondering Now, cover do grupo britânico The Specials. Amy, que mal se despediu do público, pareceu apenas bater ponto para receber seu cachê (supostos R$ 13 milhões pelas cinco apresentações no Brasil) e mostrar ao mundo que, não, não sucumbiu às drogas e ainda pode cantar após dois anos praticamente ausente dos palcos. Sim, sua voz de alma negra ainda está lá, intacta. Quando voltou ao palco da HSBC Arena pela primeira vez, após estratégica saída para que Zalon Thompson solasse Everybody Here Wants You e What a Man to Do, Amy pareceu até revigorada, bebeu cerveja e mostrou lampejos da grande cantora que realmente é quando enfileirou Rehab (com ajuda do vibrante coro da plateia), You Know I'm no Good e a citada Valerie. Sim, a gente sabe que Amy é quase sinônimo de encrenca. Contudo, sua primeira apresentação carioca provocou um misto de encantamento (pelo simples fato de estar vendo ao vivo uma das grandes cantoras da atualidade, uma artista de verdade em meio a tantos ídolos fabricados pela mídia e pela indústria do disco) e desgosto. A preguiça seria desculpável se os poucos números do show tivessem sido irretocáveis. Mas o desleixo - perceptível nos erros da letra de Just Friends (o reggae que abriu o show) e no ataque de riso tido pela cantora no início da balada Lovers Never Say Goodbye - é inconcebível. Mesmo quando foi correta, como Back to Black e em Boulevard of Broken Dreams (não a música do Green Day, mas o standard gravado por cantores como Tony Bennett), Amy Winehouse deixou a sensação de que poderia fazer melhor se estivesse realmente com a intenção de contentar o público que ansiava por vê-la no palco da HSBC Arena. O show teve lá seus bons momentos e, no todo, seduziu o público, mas poderia ter sido antológico se houvesse mais profissionalismo e mais empenho da cantora.

Anônimo disse...

O ataque de riso não foi no início de I heard love is blind? É o que eu me lembrava...

Anônimo disse...

Para fãs que, como eu, nem tinham expectativa para um show dela no Brasil depois de tempos tãao conturbados, foi lindo lindo! Mas sua crítica traduz o sentimento em relação à postura dela... Poderia ter sido uma volta antológica, mas não foi.

Mauro Ferreira disse...

Thiago, agora você me deixou na dúvida. Eu anotei em 'Lovers never say goodbye', mas posso ter anotado o riso no lugar errado.
abs, MauroF

Anônimo disse...

Em tempos de excesso de profissiolanismo de "artistas", como bem disse o Mauro, fabricados.
A postura dessa mocinha me faz sorrir e ter fé na arte.
O desleixo - vez por outra - nela cai bem, pois sabe-se que há veracidade.
Talento e verdade consigo, eis o retrato de um artista.

Guilherme disse...

Verdade de um artista que custou R$700,00 pra quem quis ver de perto. Prefiro-a domada no estúdio. Não entende o sucesso? Não vê a diferença entre uma arena lotada com 15 mil pessoas cantanto sua música e um pub de Londres? Tanto faz, tanto fez? Então não queira meu dinheiro! E se continuar assim, aquela que poderia ser um mito por sua música, só vai ser lembrada por essas anedotas. Se a verdade da arte de Amy está nelas, vamos ler os tablóides e esquecer os discos.

teste disse...

Amy nunca foi uma cantora de multidões e de shows extensos.... assisti o show em Florianopólis e saí de lá satisfeitíssimo com o que ví. Me surpreendi, porque mesmo sendo otimista, não imaginei que fosse vê-la tão bem no palco, visto as ultimas tentativas frustradas feitas por ela.
Tive a sorte de vê-la aqui em Floripa, onde os ingressos estavam mais baratos. Paguei 120,00 e assiti o show a menos de 5 metros do palco (e cheguei apenas 1 hora antes de abrir os portões).

Anônimo disse...

Guilherme, vc não sabia aonde estava indo?
Me lembrei de outro artista de verdade, o Keith Richards - Stones.
O chamaram para o fazer uma pontinha em Piratas do Caribe e ele apareceu no primeiro dia de gravação meio bêbado, não gravou.
No segundo dia a mesma coisa, no terceiro o diretor mandou avisar que não estava gostando. No que Richards falou: "Ele não sabe quem ele convidou?"
É por aí.
Quanto ao que vc chama de anedotas, quando se tem talento elas agregam. Dão graça e vida a um artista.
João Gilberto é cheio de "anedotas".

PS: Tablóides não, man! Eles são antônimos da verdade. Não precisa ler nada não. É só ver no rosto, no que canta, como se porta...
Marisa Monte - o avesso de Amy e tão verdadeira quanto - já disse: "Basta ouvir o que eu canto pra saber quem eu sou"
Dá pra sacar fácil quem é de verdade.

Ahh, não confunda preço com valor.

Abraço

Guilherme disse...

Tô confundindo não, Zé. Adoro a música da Amy e a acho personalíssima. Só que todo esse auê em torno de biografia de artista é ultrapassado e romântico... Ohhh, o artista deslocado contra o mundo! Num documentário de uns tempos atrás, alguém comenta que Amy não entende porque as pessoas querem vê-la cantar, o que explica muita coisa sobre a sua performance no palco. Se ela cortar a orelha então, aí a coisa fica melhor! Mas ela construiu uma carreira no mainstream, formatada dentro das regras do mainstream, de modo que até hoje não há um terceiro disco por questões não só artísticas, mas também comerciais (a gravadora receia um retumbante fracasso, tanto artístico quanto comercial, dada a imensa expectativa). E agora está aqui, em terras tupiniquins, pra mostrar ao mercado americano e europeu que está novamente em condições de honrar CONTRATOS. O público? Ah, o público deve adorar o artista, é o que lhe cabe, né?

P.S: Quem vai ao show de João Gilberto e fica esperando pra se deliciar com um novo piti por causa da qualidade do som esquece a discografia que o tornou o tal.

O que der na telha disse...

Concordo com o Guilherme! O show foi decepcionante e um desrespeito àqueles que pagaram para vê-la. O problema foi que o desleixo traduziu-se em falta de qualidade musical e profissionalismo. Ela parecia não estar dando à mínima para o show.
Discordo contigo, Mauro, quando diz que a voz estava lá intacta. Ela desafinou, e muito!

Fabio disse...

Amy Winehouse nao sabe o que é arte. Como disse um critico, ela é apenas uma crooner.

Luiz Felipe Carneiro disse...

Oi Mauro. Concordo quando vc disse que ela combinou preguiça e desleixo nesse primeiro show. Só isso, pq a "genialidade" passou longe. Minha opinião. Aliás, nunca consegui enxergar nenhum traço de genialidade na Amy Winehouse, a artista mais supervalorizada dos anos 00, pela mídia. Considero-a apenas uma crooner. Nada além disso. Gênio, para mim, é Sarah Vaughan, Elza Soares e Cássia Eller. Abraço.

Anônimo disse...

Guilherme, arte sem romantismo é só uma indústria qualquer.
Não queira enquadrar todo mundo nos modelos pré-estabelicidos.
Vc não imagina o porre(tim tim, Amy rsrssrs) que isso seria?
Como disse Ferreira Gullar: "A arte existe porque a vida por si só não basta"

PS: O público faz o que quiser. Vaia, aplaude, xinga... Só não pode querer impor nada.

Unknown disse...

Olá

Amy vendida em shows para 10/15 mil pessoas só evidencia a ganância dos promotores em ganhar muito dinheiro expondo a cantora num ambiente que não é dela. O mesmo erro quando o Madredeus se apresentou em São Paulo no Via Funchal, ou a inesquecível Mercedes Sosa num Hall desses, enormes. Amy não é prá toda gente. Tinha mais é que esculhambar mesmo para mostrar o seu desagrado. Valeu!!

Mauro Ferreira disse...

Thiago, antes tarde do que nunca: como conferido por um amigo meu em vídeo feito no show, o ataque de riso foi em 'Some Unholy War'. Abs, mauroF