Mauro Ferreira no G1

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sábado, 15 de janeiro de 2011

Biografia se limita a reconstituir a camaleônica jornada artística de Bowie

Resenha de livro
Título: Bowie - A Biografia
Autor: Marc Spitz
Editora: Benvirá
Cotação: * * *

Última boa biografia de David Bowie, recém-lançada no Brasil, Bowie - A Biografia resulta incompleta por não investigar os fatos que levaram o astro britânico a praticamente se retirar de cena nos últimos seis anos. Bowie não lança um álbum de estúdio desde 2003, ano em que apresentou Reality, cuja turnê ganhou registro ao vivo editado no DVD A Reality Tour (2004). Contudo, tal retiro prolongado dos palcos e estúdios - inédito na trajetória de Bowie - é alvo somente de algumas menções ao fim da biografia. Pior: em várias das 448 páginas, o autor Marc Spitz - jornalista especializado em cultura pop - sucumbe à tentação de se achar mais importante do que Bowie e pontua a narrativa com dados de sua vida. Ainda assim, Bowie - a Biografia garante leitura interessante para admiradores da obra do artista. Com olhar de fã que não chega a embaçar sua visão crítica da obra de Bowie, Spitz reconstitui detalhadamente a jornada fonográfica do astro. E, como o biografado é um dos artistas mais importantes e mutantes do século 20, o livro se torna consistente e sedutor pelo fato de Spitz conhecer bem o assunto que trata. O jornalista refaz a via-crúcis percorrida por Bowie na segunda metade dos anos 60 para marcar seu nome em universo pop povoado por Beatles e Rolling Stones - para citar somente dois ícones da época. Bowie penou com vários singles fracassados até achar sua(s) cara(s). Spitz lembra que nem o antenado Space Oddity - single que batizaria o álbum de 1969 - foi suficiente para consolidar o nome e a música de Bowie. Ele processaria várias influências - entre elas, Velvet Underground, Stooges e T. Rex (do rival Marc Bolan) - em álbuns já relevantes, como The Man Who Sold the World (1970) e Hunky Dory (1971), até moldar a figura andrógina de Ziggy Stardust, mote de três álbuns dos anos 70 que deram a Bowie o prestígio e o status que ele tanto queria. Entre a análise de cada disco, Spitz expõe também fatos da vida amorosa e empresarial de Bowie. Que, já camaleônico, mataria Ziggy em meados dos anos 70, mas sobreviveria com relevância na cena pop por conta de três visionários álbuns feitos com o produtor Brian Eno. Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979) constituem a famosa "trilogia de Berlim". Foi quando Bowie deu passos pioneiros no universo da música eletrônica. Apesar das turnês lotadas e do prestígio dos discos, Spitz lembra que Bowie somente viria a se tornar um superstar de grandioso sucesso comercial na indústria fonográfica a partir do lançamento do álbum Let's Dance (1983). Não por acaso, começaria logo depois a fase mais irregular da discografia de Bowie. Tentando perseguir esse sucesso comercial, ele gestaria discos menores até se reencontrar como integrante da banda Tin Machine, com a qual gravou dois álbuns na virada dos anos 80 para os 90. E assim - entre discos mais ou menos relevantes - caminhou David Bowie em jornada artística tão substancial que consegue tornar interessante até uma biografia incompleta (e parcial...) como a de Spitz.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Última boa biografia de David Bowie, recém-lançada no Brasil, Bowie - A Biografia resulta incompleta por não investigar os fatos que levaram o astro britânico a praticamente se retirar de cena nos últimos seis anos. Bowie não lança um álbum de estúdio desde 2003, ano em que apresentou Reality, cuja turnê ganhou registro ao vivo editado no DVD A Reality Tour (2004). Contudo, tal retiro prolongado dos palcos e estúdios - inédito na trajetória de Bowie - é alvo somente de algumas menções ao fim da biografia. Pior: em várias das 448 páginas, o autor Marc Spitz - jornalista especializado em cultura pop - sucumbe à tentação de se achar mais importante do que Bowie e pontua a narrativa com dados de sua vida. Ainda assim, Bowie - a Biografia garante leitura interessante para admiradores da obra do artista. Com olhar de fã que não chega a embaçar sua visão crítica da obra de Bowie, Spitz reconstitui detalhadamente a jornada fonográfica do astro. E, como o biografado é um dos artistas mais importantes e mutantes do século 20, o livro se torna consistente e sedutor pelo fato de Spitz conhecer bem o assunto que trata. O jornalista refaz a via-crúcis percorrida por Bowie na segunda metade dos anos 60 para marcar seu nome em universo pop povoado por Beatles e Rolling Stones - para citar somente dois ícones da época. Bowie penou com vários singles fracassados até achar sua(s) cara(s). Spitz lembra que nem o antenado Space Oddity - single que batizaria o álbum de 1969 - foi suficiente para consolidar o nome e a música de Bowie. Ele processaria várias influências - entre elas, Velvet Underground, Stooges e T. Rex (do rival Marc Bolan) - em álbuns já relevantes, como The Man Who Sold the World (1970) e Hunky Dory (1971), até moldar a figura andrógina de Ziggy Stardust, mote de três álbuns dos anos 70 que deram a Bowie o prestígio e o status que ele tanto queria. Entre a análise de cada disco, Spitz expõe também fatos da vida amorosa e empresarial de Bowie. Que, já camaleônico, mataria Ziggy em meados dos anos 70, mas sobreviveria com relevância na cena pop por conta de três visionários álbuns feitos com o produtor Brian Eno. Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979) constituem a famosa "trilogia de Berlim". Foi quando Bowie deu passos pioneiros no universo da música eletrônica. Apesar das turnês lotadas e do prestígio dos discos, Spitz lembra que Bowie somente viria a se tornar um superstar de grandioso sucesso comercial na indústria fonográfica a partir do lançamento do álbum Let's Dance (1983). Não por acaso, começaria logo depois a fase mais irregular da discografia de Bowie. Tentando perseguir esse sucesso comercial, ele gestaria discos menores até se reencontrar como integrante da banda Tin Machine, com a qual gravou dois álbuns na virada dos anos 80 para os 90. E assim - entre discos mais ou menos relevantes - caminhou David Bowie em jornada artística tão substancial que consegue tornar interessante até uma biografia incompleta (e parcial...) como a de Spitz.

TH disse...

Eu gosto bastante da fase pop anos 80 do Bowie - justamente a mais rechaçada de sua carreira...

Mas um artista tão camaleonico como ele merece todas as homenagens possiveis