Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 12 de abril de 2011

Moderno, 'ôÔÔôôÔôÔ' põe personalidade forte de Thaís Gulin na avenida

Resenha de CD
Título: ôÔÔôôÔôÔ
Artista: Thaís Gulin
Gravadora: Furgulixx / Slap (Som Livre Apresenta)
Cotação: * * * * 1/2

Em dezembro de 2006, a gravadora Rob Digital lançou sem alarde o primeiro álbum de Thaís Gulin, cantora curitibana, naquela altura já radicada no Rio de Janeiro (RJ). Thaís Gulin, o disco, revelou uma intérprete de escolhas originais que dava voz (afinada) e personalidade a músicas de compositores situados à margem do mercado fonográfico. ôÔÔôôÔôÔ - o ótimo CD que o selo Slap distribui nas lojas neste mês de abril de 2011 - reitera a personalidade de Gulin em diálogo permanente com o álbum de estreia da artista. Com sonoridade moderna de costura artesanal, urdida pela dupla de produtores formada por Alê Siqueira e Kassin, o disco ôÔÔôôÔôÔ repõe na avenida a personalidade forte e original de Gulin, ampliando o raio de ação da artista como compositora. Gulin é autora da bela valsa Horas Cariocas - ambientada em clima lúdico em algumas passagens do arranjo criado por Alê e Kassin - e parceira dos produtores no tema instrumental The Glory Hole, de tom underground. Se no disco de 2006, a cantora desfilava bem  contemporânea no Bloco da Solidão (Jair Amorim e Evaldo Gouveia), ôÔÔôôÔôÔ pede passagem com o heterodoxo samba-enredo autoral que lhe dá título. E, pela avenida, desfilam com Gulin Chico Buarque e Tom Zé. Autor do Hino de Duran, faixa vanguadista do CD de 2006, Chico fornece a inédita Se Eu Soubesse, gravada por Gulin em dueto preciso com o autor. Envolvente, a canção está em fina sintonia com a produção autoral do compositor. Tom Zé - de quem Gulin abordou com inspiração Defeito 10: Cedotardar em seu disco de estreia - presenteia a intérprete com Ali Sim, Alice, música inspirada em Alice no País das Maravilhas, a obra surrealista de Lewis Carroll (1832 - 1898). Gravado por Zé com Gulin, o tema é veículo ideal para o eterno erê tropicalista fazer pulsar sua veia lúdica. A descontração de Ali Sim, Alice contrasta com a passionalidade que envolve Quantas Bocas - canção de Ana Carolina, composta com Kassin e Gulin - e o clima de tango que adorna Paixão Passione, tema de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, gravado pela cantora para a trilha sonora da novela Passione (2010) e, por isso mesmo, alocado em ôÔÔôôÔôÔ como faixa-bônus. Há densidade também na crueza de clima roqueiro em que Thaís Gulin ambienta a nordestina  Revendo Amigos, um dos títulos mais obscuros da obra de Jards Macalé com Waly Salomão (1943 - 2003). Música composta em 1972 para uma das novelas mais obscuras da extinta TV Tupi, Tempo de Viver, Revendo Amigos é outro exemplo do diálogo de ôÔÔôôÔôÔ com Thaís Gulin, o disco de 2006 que lapidou joia rara de Macalé com Capinam, 78 Rotações. Entre carimbó de Kassin (Água, já meio déjà vu por ter sido propagado e gravado por Caetano Veloso no show Zii e Zie) e tema rural chic da compositora norte-americana Malvina Reynolds (Litte Boxes), ôÔÔôôÔôÔ apresenta inédita mediana de Adriana Calcanhotto, Encantada, balada que mais parece sobra da produção habitualmente inspirada da compositora. Encantada é o ponto fraco de um disco que mostra força quando exalta a delicadeza em Cinema Americano, pérola da lavra de Rodrigo Bittencourt que Gulin já cantava nos shows inspirados em seu primeiro disco. Já no fim, Frevinho - parceria de Gulin com Moreno Veloso - acelera o desfile no passo quente do ritmo de Pernambuco. Amostra da habilidade de Gulin de apresentar um segundo disco tão universal quanto brasileiro, capaz de projetar seu nome em escala nacional neste país de cantoras. Gulin tem voz e personalidade.

12 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em dezembro de 2006, a gravadora Rob Digital lançou sem alarde o primeiro álbum de Thaís Gulin, cantora curitibana, naquela altura já radicada no Rio de Janeiro (RJ). Thaís Gulin, o disco, revelou uma intérprete de escolhas originais que dava voz (afinada) e personalidade a músicas de compositores situados à margem do mercado fonográfico. ôÔÔôôÔôÔ - o ótimo CD que o selo Slap distribui nas lojas neste mês de abril de 2011 - reitera a personalidade de Gulin em diálogo permanente com o álbum de estreia da artista. Com sonoridade moderna de costura artesanal, urdida pela dupla de produtores formada por Alê Siqueira e Kassin, o disco ôÔÔôôÔôÔ repõe na avenida a personalidade forte e original de Gulin, ampliando o raio de ação da artista como compositora. Gulin é autora da bela valsa Horas Cariocas - ambientada em clima lúdico em algumas passagens do arranjo criado por Alê e Kassin - e parceira dos produtores no tema instrumental The Glory Hole, de tom underground. Se no disco de 2006, a cantora desfilava contemporânea no Bloco da Solidão (Jair Amorim e Evaldo Gouveia), ôÔÔôôÔôÔ pede passagem com o heterodoxo samba-enredo autoral que lhe dá título. E, pela avenida, desfilam com Gulin Chico Buarque e Tom Zé. Autor do Hino de Duran, faixa vanguadista do CD de 2006, Chico fornece a inédita Se Eu Soubesse, gravada por Gulin em dueto preciso com o autor. Envolvente, a canção está em fina sintonia com a produção autoral do compositor. Tom Zé - de quem Gulin abordou com inspiração Defeito 10: Cedotardar em seu disco de estreia - presenteia a intérprete com Ali Sim, Alice, música inspirada em Alice no País das Maravilhas, a obra surrealista de Lewis Carroll (1832 - 1898). Gravado por Zé com Gulin, o tema é veículo ideal para o eterno erê tropicalista fazer pulsar sua veia lúdica. A descontração de Ali Sim, Alice contrasta com a passionalidade que envolve Quantas Bocas - canção de Ana Carolina, composta com Kassin e Gulin - e o clima de tango que adorna Paixão Passione, tema de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, gravado pela cantora para a trilha sonora da novela Passione (2010) e, por isso mesmo, alocado em ôÔÔôôÔôÔ como faixa-bônus. Há densidade também na crueza de clima roqueiro em que Gulin ambienta a nordestina Revendo Amigos, um dos títulos mais obscuros da obra de Jards Macalé com Waly Salomão (1943 - 2003). Música composta em 1972 para uma das novelas mais obscuras da extinta TV Tupi, Tempo de Viver, Revendo Amigos é outro exemplo do diálogo de ôÔÔôôÔôÔ com Thaís Gulin, o disco de 2006 que lapidou joia rara de Macalé com Capinam, 78 Rotações. Entre carimbó de Kassin (Água, já meio déjà vu por ter sido propagado e gravado por Caetano Veloso no show Zii e Zie) e tema rural chic da compositor norte-americana Malvina Reynolds (Litte Boxes), ôÔÔôôÔôÔ apresenta inédita mediana de Adriana Calcanhotto, Encantada, balada que mais parece sobra da produção habitualmente inspirada da compositora. Encantada é o ponto fraco de um disco que mostra força quando exalta a delicadeza em Cinema Americano, pérola da lavra de Rodrigo Bittencourt que Gulin já cantava nos shows inspirados em seu primeiro disco. Já no fim, Frevinho - parceria de Gulin com Moreno Veloso - acelera o desfile no passo quente do ritmo de Pernambuco. Amostra da habilidade de Gulin de apresentar um segundo disco tão universal quanto brasileiro, capaz de projetar seu nome em escala nacional neste país de cantoras. Gulin tem voz e personalidade.

Rhenan Soares disse...

"Encantada" é ótima, poxa! =/
O disco é mesmo muito bom. "Ali sim, Alice" é minha preferida junto a "Quantas bocas". O resto todo me agrada muito! Alê e Kassim impecáveis!

disse...

Estamos apenas em abril e já temos um fortíssimo candidato a disco do ano.

disse...

Ahhh Mauro, apesar de Caetano ter lançando primeiro Água, a versão de Gulin é mais envolvente em todos quesitos. Você foi justíssimo nas quatro estrelas e meia: tudo culpa de Encantada. O restante é irretócavel. É uma alegria ouvir um grande disco.

lurian disse...

Eu discordo das 4 e meia, o disco me pareceu menos do que eu esperava. Essa sonoridade dita 'moderna' é faca de dois gumes, pode ser sedutora e há quem faça muito bem, mas pode soar insossa, como o disco atual da Ná Ozetti, Nina Becker e afins. Irão me dizer que querem realçar a voz da cantora? Boa desculpa... Mais um disco 'moderno' que não me seduziu, embora, justiça seja feita, este tem bons momentos como a música com Chico, Revendo amigos, Água, etc.
Outra ponto, a música de Calcanhotto é boa, penso que com melhor arranjo e na voz de uma boa intérprete teria soado muito mais sedutora, fico até exercitando a imaginação... e mantendo firme meu pensamento: cantoras são muitas intépretes,(até agora) poucas!

Vitor disse...

Nao entendo a razao de tanto crédito que dão pra essa moça. Fui ouvir o cd com a maior boa vontade depois dessa crítica e me deparei com algo apenas burocrático. Os graves dela lembram os da Maria Rita eventualmente, especialmente na primeira música e isso fica bem irritante. A maior parte do cd é chato e pelo que li escolheu a mesma formula do anterior, as mesmas parcerias e compositores. Quanta falta de criatividade. Resumindo, nao vi nenhuma personalidade, um cd que qualquer cantora mediana faria.

Rhenan Soares disse...

Adoraria que qualquer cantora mediana tivesse em seus CDs a ficha técnica q esse disco da Gulin tem. Mais de meio caminho andado para um disco excelente.

Anônimo disse...

A cantora Thais Gulin deveria ser produtora de discos ou diretora artística de uma grande gravadora. A nova música brasileira seria mais feliz e desfrutaria de maior qualidade debaixo do seu olhar minucioso e de muito bom gosto para escolher um repertório.

Eu disse...

É um ótimo disco, cheio de sutilezas e de escolhas interessantes...

Anônimo disse...

Tb não boto fé em disco que o Chico Buarque dá canja. hehehe

Vitor disse...

O Chico deu canja no disco da babi ne? hahahaha

P. M. Carv disse...

Ainda não ouvi este cd, mas estou ansiosa. Gostei muito, muito, muito mesmo do primeiro cd e boto fé que o segundo não vai fazer feio.