Mauro Ferreira no G1

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sábado, 30 de abril de 2011

Caixa com álbuns dos 60 mostra como órgão de Lincoln era espetacular

Resenha de caixa de CDs
Título: O Rei dos Bailes
Artista: Ed Lincoln
Gravadora: Discobertas
Cotação: * * * *

Aquarela do Brasil já tinha até desbotado por conta de tantas regravações sem brilho quando, em 1960, o samba-exaltação lançado em 1939 por Ary Barroso (1903 - 1964) ganhou cores novas no toque do órgão de Ed Lincoln. A gravação abriu Órgão Espetacular (1960), o primeiro dos seis álbuns lançados pelo pianista entre 1960 e 1966 na extinta companhia Musidisc, da qual foi diretor musical e arranjador. Reeditados pela primeira vez em formato digital, estes seis álbuns voltam ao catálogo embalados na caixa O Rei dos Bailes, editada pelo selo Discobertas neste mês de abril de 2011. O título da caixa não é marqueteiro. Nascido em Fortaleza (CE) em 1932, o cearense Eduardo Lincoln Barbosa Sabóia tocava baixo quando migrou para o Rio em 1951. Mas logo trocou o baixo pelo piano e, a partir de 1955, começou a tocar na efervescente noite carioca. Nessas incursões noturnas, Lincoln volta e meia pilotava também um órgão. E foi como organista que ele se tornou um músico de fato espetacular e se consagrou como o rei dos bailes cariocas dos anos 60. Sua sonoridade foi sedimentada nestes seis álbuns ora embalados na caixa da Discobertas com reprodução das capas e da arte gráfica original. Órgão Espetacular (1960), Ed Lincoln, seu Piano e seu Órgão Espetacular (1961), Álbum Nº 2 (1962), Ed Lincoln, seu Piano e seu Órgão Espetacular (1963), A Volta (1964) e Ed Lincoln (1966) eram títulos até então raríssimos que tinham virado objetos de culto fervoroso na Europa, em especial na Inglaterra, país onde as gravações de Ed Lincoln para temas como Cochise (Ruy Santos) viraram hits nas pistas britânicas dos anos 90. Cochise, a propósito, integra o repertório do álbum de 1966 ao lado de O Ganso (parceria de Lincoln com Orlandivo) e de É o Cid (de Lincoln e Sílvio César), dois temas que deram fama ao organista no Brasil. Digitalizados a partir das fitas masters originais, os seis álbuns passaram na sequência por processo de remasterização. Ouve-se, de fato, um som límpido que faz justiça ao órgão elétrico de Ed Lincoln, um dos símbolos da música dos anos 60 na fase pré-Tropicália. O suingue ouvido na maioria das 12 faixas de A Volta - álbum de 1964 que lançou o sucesso Ai que Saudade Dessa Nega! (Ed Lincoln) e que foi embalado na caixa com ótima faixa-bônus, Centenário (Durval Ferreira e Orlandivo) - mostra como, em determina época, o som do órgão de Ed Lincoln foi realmente espetacular. Por isso, a caixa O Rei dos Bailes soa essencial para quem busca a preservação da memória fonográfica brasileira. Os bailes de Ed eram da pesada.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Aquarela do Brasil já tinha até desbotado por conta de tantas regravações sem brilho quando, em 1960, o samba-exaltação lançado em 1939 por Ary Barroso (1903 - 1964) ganhou cores novas no toque do órgão de Ed Lincoln. A gravação abriu Órgão Espetacular (1960), o primeiro dos seis álbuns lançados pelo pianista entre 1960 e 1966 na extinta companhia Musidisc, da qual foi diretor musical e arranjador. Reeditados pela primeira vez em formato digital, estes seis álbuns voltam ao catálogo embalados na caixa O Rei dos Bailes, editada pelo selo Discobertas neste mês de abril de 2011. O título da caixa não é marqueteiro. Nascido em Fortaleza (CE) em 1932, o cearense Eduardo Lincoln Barbosa Sabóia tocava baixo quando migrou para o Rio em 1951. Mas logo trocou o baixo pelo piano e, a partir de 1955, começou a tocar na efervescente noite carioca. Nessas incursões noturnas, Lincoln volta e meia pilotava também um órgão. E foi como organista que ele se tornou um músico de fato espetacular e se consagrou como o rei dos bailes cariocas dos anos 60. Sua sonoridade foi sedimentada nestes seis álbuns ora embalados na caixa da Discobertas com reprodução das capas e da arte gráfica original. Órgão Espetacular (1960), Ed Lincoln, seu Piano e seu Órgão Espetacular (1961), Álbum Nº 2 (1962), Ed Lincoln, seu Piano e seu Órgão Espetacular (1963), A Volta (1964) e Ed Lincoln (1966) eram títulos até então raríssimos que tinham virado objetos de culto fervoroso na Europa, em especial na Inglaterra, país onde as gravações de Ed Lincoln para temas como Cochise (Ruy Santos) viraram hits nas pistas britânicas dos anos 90. Cochise, a propósito, integra o repertório do álbum de 1966 ao lado de O Ganso (parceria de Lincoln com Orlandivo) e de É o Cid (de Lincoln e Sílvio César), dois temas que deram fama ao organista no Brasil. Digitalizados a partir das fitas masters originais, os seis álbuns passaram na sequência por processo de remasterização. Ouve-se, de fato, um som límpido que faz justiça ao órgão elétrico de Ed Lincoln, um dos símbolos da música dos anos 60 na fase pré-Tropicália. O suingue ouvido na maioria das 12 faixas de A Volta - álbum de 1964 que lançou o sucesso Ai que Saudade Dessa Nega! (Ed Lincoln) e que foi embalado na caixa com ótima faixa-bônus, Centenário (Durval Ferreira e Orlandivo) - mostra como, em determina época, o som do órgão de Ed Lincoln foi realmente espetacular. Por isso, a caixa O Rei dos Bailes soa essencial para quem busca a preservação da memória fonográfica brasileira. Os bailes de Ed eram da pesada.

Júlio disse...

Mauro,

Será que você pode fazer uma critica do Som Brasil dedicado ao Nelson Motta?

Mauro Ferreira disse...

Julio, o blog não tem por hábito fazer resenhas de programas de TV, exceto em casos muito especiais, de programas sobre discos. Abs, mauroF

Leandro disse...

Fui criado nos anos 1980 na Baixada Fluminense ouvindo muito Ed Lincoln. Faxina em casa, festa de família, sempre era hora pra botar as bolachas pra rodar. Todos esses discos são muito bons, sendo que tenho uma predileção pelo "A Volta", que é estupendo. A compilação poderia também incluir o álbum de 1968, gravado pelo próprio selo do Ed, mas isso não deslustra de forma alguma este lançamento - bastante aguardado, por sinal.

KL disse...

Um dos maiores relançamentos, e um dos mais esperados. Em tempo, a obra pós-bossa nova de Ed Lincoln(e não pré-Tropicália - já que não tem nada a ver com) sob vários pseudônimos é também sensacional e merece muito sair em cd. O mundo inteiro agradece.