Mauro Ferreira no G1

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sábado, 15 de janeiro de 2011

Che revive feliz os frenetics dancin' days do Rio no CD 'Papagaio's Fever'

Resenha de CD
Título: Papagaio's Fever
Artista: Che
Gravadora: YB Music
Cotação: * * * 1/2

"A disco music brasileira é tão poderosa quanto a bossa nova", sustenta Che - nome artístico de Alexandre Caparroz, baterista do extinto grupo Professor Antena - em depoimento ao jornalista Pedro Só, autor do espertíssimo release que apresenta ao Brasil o segundo disco de Che, Papagaio's Fever. A capa e o título já explicitam o tom retrô do CD, lançado na Europa em 2007 e recém-editado no mercado nacional pela YB Music. Após reviver o som das pornochanchas nacionais em seu primeiro CD solo, Sexy 70 —Music Inspired by The Brazilian Sacanagem Movies (2004), o paulistano Che faz viagem nostálgica pela trilha dos frenetics dancin' days cariocas em álbum que agrega a voz de Lady Zu - em A Crazy Night at Papagaio, de versos hilários como "I was just a poor girl from Catumbi / Hoping you would dance with me", escritos por Rodrigo Leão, letrista dos temas de Che - e texto de Nelson Motta, que exalta a miscigenada trilha sonora do Rio de Janeiro nos versos de E Fez-se a Luz na Guanabara, faixa que traz a voz de William Magalhães, músico da banda Black Rio. A participação de Magalhães não é aleatória. Temas instrumentais como Bairro Peixoto, A Máquina do Som e Saca Só o meu Parangolé evocam os grooves da Black Rio da mesma forma que a batida de Programa Girl e o texto declamado ao fim de Hurricane Two Thousand ecoam o som de Barry White (1944 - 2003), um dos pioneiros da disco music norte-americana. Papagaio's Fever impressiona por ser disco bem gravado e tocado. Embora temperados com acentuado sabor tropical, os grooves do disco nada ficam a dever aos dos hits que faziam a juventude se acabar nas pistas nacionais ao som de sucessos de Bee Gees,  Frenéticas, Donna Summer e Gretchen. A propósito, é o produtor da musa do bumbum, Mister Sam, quem abre o CD com sua voz em Intro / Geração 80, espécie de cartão de boas-vindas que já ambienta de cara o ouvinte na viagem de Che ao Rio das discotecas da era pré-Blitz. Entre 14 temas autorais, Che se permite até reciclar um lixo musical da época, Malandrinha, pinçada do repertório do efêmero grupo Painel de Controle. Lixo à parte, Papagaio's Fever ecoa a trilha sonora de uma época feliz em que o Rio ainda não havia se partido em facções musicais, ideológicas e criminosas. E, sim, a disco music carioca tem (grande) valor e bossa toda própria.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

"A disco music brasileira é tão poderosa quanto a bossa nova", sustenta Che - nome artístico de Alexandre Caparroz, baterista do extinto grupo Professor Antena - em depoimento ao jornalista Pedro Só, autor do espertíssimo release que apresenta ao Brasil o segundo disco de Che, Papagaio's Fever. A capa e o título já explicitam o tom retrô do CD, lançado na Europa em 2007 e recém-editado no mercado nacional pela YB Music. Após reviver o som das pornochanchas nacionais em seu primeiro CD solo, Sexy 70 —Music Inspired by The Brazilian Sacanagem Movies (2004), o paulistano Che faz viagem nostálgica pela trilha dos frenetics dancin' days cariocas em álbum que agrega a voz de Lady Zu - em A Crazy Night at Papagaio, de versos hilários como "I was just a poor girl from Catumbi / Hoping you would dance with me", escritos por Rodrigo Leão, letrista dos temas de Che - e texto de Nelson Motta, que exalta a miscigenada trilha sonora do Rio de Janeiro nos versos de E Fez-se a Luz na Guanabara, faixa que traz a voz de William Magalhães, músico da banda Black Rio. A participação de Magalhães não é aleatória. Temas instrumentais como Bairro Peixoto, A Máquina do Som e Saca Só o meu Parangolé evocam os grooves da Black Rio da mesma forma que a batida de Programa Girl e o texto declamado ao fim de Hurricane Two Thousand ecoam o som de Barry White (1944 - 2003), um dos pioneiros da disco music norte-americana. Papagaio's Fever impressiona por ser disco bem gravado e tocado. Embora temperados com acentuado sabor tropical, os grooves do disco nada ficam a dever aos dos hits que faziam a juventude se acabar nas pistas nacionais ao som de sucessos de Bee Gees, Frenéticas, Donna Summer e Gretchen. A propósito, é o produtor da musa do bumbum, Mister Sam, quem abre o CD com sua voz em Intro / Geração 80, espécie de cartão de boas-vindas que já ambienta de cara o ouvinte na viagem de Che ao Rio das discotecas da era pré-Blitz. Entre 14 temas autorais, Che se permite até reciclar um lixo musical da época, Malandrinha, pinçada do repertório do efêmero grupo Painel de Controle. Lixo à parte, Papagaio's Fever ecoa a trilha sonora de uma época feliz em que o Rio ainda não havia se partido em facções musicais, ideológicas e criminosas. E, sim, a disco music carioca tem (grande) valor e bossa toda própria.