Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Mundo de Tatit renasce com palavras picadas no som do sexto CD do artista

Resenha de álbum
Título: Palavras e sonhos
Artista: Luiz Tatit
Gravadora: Dabliú Discos
Cotação: * * * 1/2

A inédita música autoral que dá título ao sexto álbum solo de Luiz Tatit, Palavras e sonhos, embute a senha para a decodificação de universo particular que renasce neste disco do cantor e compositor paulistano, projetado no Grupo Rumo no início da década de 1980. É tateando a musicalidade das palavras que Tatit parte para a construção de obra musical que conserva frescor no álbum produzido por Jonas Tatit - filho do artista - e posto no mercado fonográfico neste mês de fevereiro de 2016 pela Dabliú Discos, gravadora tão identificada com a produção musical da cidade de São Paulo (SP) quanto o cancioneiro do artista. "Uso palavras picadas no som", admite o artesão linguístico em Palavras e sonhos (Luiz Tatit, 2016), a última das 13 músicas do álbum. Fiel a si mesmo, sem querer mudar o rumo da música que produz há quatro décadas, Tatit reitera o estilo próprio. A safra - composta por músicas feitas por Tatit após o lançamento do último álbum solo, Sem destino (Dabliú Discos, 2010), lançado há seis anos - é interessante. Mais útil (Luiz Tatit, 2016) é uma das pérolas para quem gosta de tatiar. Um verso vai levando naturalmente ao outro em encandeamento que conduz à oposição dos universos existenciais de Palmira, a que suspira com a mente coberta por nuvem negra, e de Elvira, a que inspira, com ações e visões positivas diante da existência. "É mais útil se inspirar", receita Tatit, ao toque do próprio violão e da sanfona de Gabriel Levy em arranjo que se alterna entre o universo urbano e o mundo caipira que Tristeza do Zé (José Miguel Wisnik e Luiz Tatit, 2011) evoca diretamente tanto pela alusão no título ao seminal clássico sertanejo Tristeza do Jeca (Angelino Oliveira, 1924) quanto pela disposição das vozes de Tatit e Juçara Marçal, convidada para fazer a segunda voz deste tema segue a toada moderna da obra do parceiro José Miguel Wisnik. Música escolhida para ser o primeiro single (já disponível nas plataformas digitais desde janeiro), Diva Silva Reis (Luiz Tatit, 2016) é bafejada com leve sopro pop por conta do refrão bem delineado na gravação e dos metais orquestrados por Gabriel Milliet. Na letra, Tatit perfila a personagem-título de caráter ambíguo com o mundo surreal delineado pelo compositor em Feitiço da fila (Luiz Tatit, 2015). Novamente com o toque ruralista da sanfona de Gabriel Levy, Tatit inventaria amores e dores provocadas por mulheres com nomes de flores em Das flores e das dores (Emerson Leal e Luiz Tatit, 2012), música já gravada pelo parceiro baiano do compositor no tema, Emerson Leal. Já Musa da música (Dante Ozzetti e Luiz Tatit, 2013) - composição já registrada pela voz límpida da cantora e compositora Ná Ozzetti - se ajusta bem ao fraseado vocal do autor dos versos. O vocal de Juçara Marçal evoca a mãe África citada no refrão e representada também pela vigorosa voz da cantora moçambiquense Lenna Bahule, presença recorrente ao longo do disco, mas especialmente destacada nesta faixa bem marcada pelo ritmo da bateria de Sérgio Reze. Já Musa cruza (Luiz Tatit, 2016) se diferencia pela disposição inusual das cordas orquestradas por Fábio Tagliaferri enquanto a balada Estrela cruel ilumina a conexão de Tatit com o sempre inspirado Marcelo Jeneci, coautor e convidado do tema, gravado somente com a voz de Jeneci (extremamente grave, quase soturna, na primeira parte da música), a voz de Tatit e o piano tocado pelo próprio Jeneci. Cantados no fim a duas vozes, os versos poéticos da balada sinalizam mundo musical distante da prosódia experimentada por Tatit desde os tempos do Grupo Rumo, evocados na dicotomia entre sim e não exposta nos versos de Do meu jeito (Vanessa Bumagny e Luiz Tatit, 2014). O renascido mundo de Tatit parece evocar outra galáxia, de atmosfera onírica, em Planeta e borboleta (Luiz Tatit, 2016), faixa solada pelas vozes de Ná Ozzetti. Sim, vozes. A cantora se desdobra no canto desta que é uma das músicas mais belas do disco. Matusalém (Arthur Nestrovsky e Luiz Tatit, 2016) faz ode à vida, reiterada pela sede de viver que arde em Quantos desejos (Luiz Tatit, 2015), música menor do que a gana posta nos versos. Enfim, sem querer impressionar e ser muderno, Luiz Tatit apresenta Palavras e sonhos com a coerência que rege obra pavimentada com versos picados no som. A música está a serviço das palavras e dos sonhos embutidos nessas palavras cheias de som e de vida.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Após seis anos, Luiz Tatit volta ao disco com adesões de Jeneci, Juçara e Ná

Com capa que expõe foto e projeto gráfico de Gal Oppido, o sexto álbum solo de Luiz Tatit, Palavras e sonhos, chega ao mercado fonográfico em fevereiro de 2016 em edição da gravadora paulista Dabliú Discos. Além de ter criado as programações eletrônicas, Jonas Tatit fez a produção do álbum, gravado com repertório inteiramente autoral e majoritariamente inédito. Embora Luiz Tatit tenha registrado 14 parcerias com Arrigo Barnabé no CD ao vivo De nada mais a algo além (Atração Fonográfica, 2013), assinado por ele com o compositor paranaense e com a cantora Lívia Nestrovski, Palavras e sonhos é o primeiro disco solo de inéditas do compositor paulistano em seis anos, sucedendo Sem destino (Dabliú Discos, 2010) na discografia solo do artista. O primeiro single do álbum, Diva Silva Reis, vai ser lançado nas plataformas digitais na próxima sexta-feira, 29 de janeiro de 2016. Palavras e sonhos tem intervenções vocais de Juçara Marçal, Marcelo Jeneci, Ná Ozzetti e da cantora moçambiquense Lenna Bahule. Com Tatit, Juçara canta Tristeza do Zé (José Miguel Wisnik e Luiz Tatit, 2011) - música cujo título alude ao seminal clássico sertanejo Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira, 1924) - e faz vocal em Musa da música (Dante Ozzetti e Luiz Tatit, 2013), composição lançada na voz de Ná Ozzetti no álbum Embalar (Circus, 2013) e cantada em Palavras e sonhos por Lenna Bahule em dueto com Tatit. Ná, a propósito, sola a inédita Planeta e borboleta (Luiz Tatit). Já Marcelo Jeneci é parceiro e convidado de Tatit em Estrela cruel. Eis - na disposição do disco - as 13 músicas reunidas por Luiz Tatit no sexto álbum solo  Palavras e sonhos:

1. Mais útil (Luiz Tatit, 2016)
2. Diva Silva Reis (Luiz Tatit, 2016)
3. Feitiço da fila (Luiz Tatit, 2015)
4. Das flores e das dores (Emerson Leal e Luiz Tatit, 2012)
5. Musa da música (Dante Ozzetti e Luiz Tatit, 2013)
6. Musa cruza (Luiz Tatit, 2016)
7. Estrela cruel (Marcelo Jeneci e Luiz Tatit, 2016)
8. Planeta e borboleta (Luiz Tatit, 2016)
9. Do meu jeito (Vanessa Bumagny e Luiz Tatit, 2014)
10. Tristeza do Zé (José Miguel Wisnik e Luiz Tatit, 2011)
11. Matusalém (Arthur Nestrovski e Luiz Tatit, 2016)
12. Quantos desejos (Luiz Tatit, 2016)
13. Palavras e sonhos (Luiz Tatit, 2016)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Navas grava Tatit, Nucci e inédita de Filó Machado no disco 'Crimes de amor'

A IMAGEM DO SOM - A foto acima flagra o cantor paulistano Carlos Navas (de pé) em estúdio de São Paulo (SP) com Filó Machado (à esquerda) e o neto de Filó, Felipe Machado, na gravação do décimo álbum de Navas, Crimes de amor. Avô e neto (de 12 anos) tocaram violões em Esse nosso amor, música inédita de Filó com letra de Pedro Márcio Agi. Com lançamento previsto para este primeiro semestre de 2015, o disco Crimes de amor tem sonoridade acústica calcada em violões e em contrabaixos. Dino Barioni, Eric Budney, Mario Manga e Swami Jr. figuram entre os instrumentistas arregimentados para o CD. O repertório traz músicas de Alzira E, Anelis Assumpção, Claudio Nucci (O espantalho, com Paulinho Tapajós), Fátima Guedes, Lucina  e de Luiz Tatit, entre outros compositores.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pretto e Swami se alimentam da carne de canções de Arrigo, Kiko e Tatit

O cantor Marcelo Pretto (do grupo paulistano Barbatuques) e o violonista Swami Jr. lançam hoje o álbum A carne das canções, já disponível para audição no portal da gravadora Borandá. No disco, gravado entre junho e julho deste ano de 2014 sob produção de Beto Villares, o intérprete e o músico paulistas se alimentam da carne de canções de compositores associados a música da cidade de São Paulo (SP) como Arrigo Barnabé, Kiko Dinucci, Leandro Medina, Luiz Tatit e Rodrigo Campos, entre outros. A música-título A carne das canções é parceria de Swami com o compositor português Tiago Torres da Silva. Já Pretto assina Tupepe, o loop que encerra o disco. Eis as 15 músicas - e os respectivos compositores - do álbum que vai estar no mercado fonográfico, a partir de 10 de outubro de 2014, em edição física em CD:

1. Ratapaiapatabarreno (Douglas Germano) 
2. Abre a casa (Beto Villares) 
3. Nessa cidade (Fabio Barros)
4. Araripe ararat (Chico Saraiva e Mauro Aguiar)
5. Pretinha (Leandro Medina) 
6. Vai, menina, vai (Arrigo Barnabé) 
7. Olhos da cara (Kiko Dinucci e Sinhá) 
8. Paisagem na neblina (Rodrigo Campos) 
9. Pixaim (Walter Freitas e Joãozinho Gomes) 
10. Esqueci de ficar triste (Kiko Dinucci e Jonathan Silva)
11. Iara (Antonio Loureiro e Luiz Tatit) 
12. Labirinto azul (Lincoln Antonio & Walter Garcia) 
13. Guia cruzada (Douglas Germano) 
14. A carne das canções (Swami Jr. e Tiago Torres da Silva) 
15. Tupepe (loop) (Marcelo Pretto) 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Bumagny alinha parceria com Tatit e rap de baleiro em 'O segundo sexo'

"Evangelho segundo sexo", na definição hiperbólica do cantor e compositor paraibano Chico César, o terceiro álbum da cantora e compositora paulistana Vanessa Bumagny - de quem César é parceiro e incentivador - aposta em repertório inteiramente inédito e autoral que destaca a canção O que for melhor. Lançado de forma independente, o CD O segundo sexo apresenta parcerias da artista com o compositor paulistano Luiz Tatit (na balada pop Do meu jeito) e com o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro (em Evapora, tema de tom mais introspectivo). Também avalista do cancioneiro de Bumagny, de quem produziu o álbum anterior Pétala por pétala (2009), Baleiro também figura em O segundo sexo como cantor, dando voz ao rap embutido no rock que dá título ao disco e que foi composto por Bumagny em parceria com Luiz Pinheiro. Pavimentando caminho fonográfico desde 2003, ano em que lançou seu primeiro álbum, De papel, Bumagny também se banha na praia do pop reggae em A Carlos Drummond de Andrade, música criada pela compositora sobre versos do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999). A ideia foi fazer disco mais expansivo.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Edição em DVD capta plenitude do espetáculo em que Zélia dá voz a Tatit

Resenha de DVD
Título: Totatiando
Artista: Zélia Duncan
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * * *

Não é fácil filmar espetáculo de refinada atmosfera teatral. Por mais definição que tenham, câmeras nem sempre captam todo o jogo de cena e toda a magia que acontece entre o abrir e o fechar das cortinas. Sob a direção de Hugo Prata, a filmagem em vídeo de Totatiando preserva a plenitude do espetáculo em que Zélia Duncan - conduzida em cena por Regina Braga (atriz em sua primeira incursão pelo ofício da direção de teatro) - dá voz ao cancioneiro do compositor paulista Luiz Tatit. Há dois músicos em cena - o tecladista Tércio Guimarães e o guitarrista Webster Santos - e há 15 músicas de Tatit no roteiro, mas Totatiando não é um show. Em fase de plenitude artística desde 2004, quando começou a se transformar em outras, a cantora e compositora fluminense recorre à teatralidade para expressar todos os significados destas canções de tom falado, alocadas no roteiro entre texto do modernista escritor paulista Mário de Andrade (1893 - 1945), Quando eu morrer quero ficar aqui. Preservados no DVD recém-posto nas lojas pela gravadora Warner Music, gestos, luzes e movimentos de cena são tão importantes quanto o canto teatralizado. Dois anos após ter estreado em São Paulo (SP), em temporada que lotou o teatro do Sesc Belenzinho em setembro de 2011, Totatiando fica eternizado sem perdas em DVD gravado em 29 de setembro de 2012 no Teatro TUCA, situado na mesma cidade de São Paulo que abriga as personagens das canções de Tatit. Por ser declaração de amor a Sampa, como conceitua a própria Zélia no início do texto que escreveu para a contracapa do DVD, Totatiando corria em tese o risco de ser rejeitado por plateias de outros Estados. Mas o fato é que o espetáculo percorreu o Brasil com (absoluto) sucesso - o que também é explicável. Ao versar sobre os dilemas de seu quintal paulistano, Tatit construiu obra que embute questões universais comuns a todos os seres humanos. Eu sou eu e Felicidade - para citar somente estas duas músicas, ambas lançadas em 1997 - abordam emoções e questões atemporais, permanentes, típicas tanto de quem mora na selva concreta de São Paulo quanto de quem vive entre a arquitetura hi-tech de Tóquio. Ao se transformar (também) em atriz, quando dá voz a Haicai (1997) e a Banzo (1992), músicas que explicitam a arquitetura teatral de Totatiando, Zélia Duncan contribuiu decisivamente para que o cancioneiro de Tatit extrapolasse a fronteira de São Paulo. E a cantora ora atriz fez tal proeza com o mesmo talento com que, simultaneamente, abriu em 2012 a janela pop da obra de Itamar Assumpção (1949 - 2003), outro compositor paulistano até então confinado às margens e aos subterrâneos da mesma cidade que inspirou o primoroso espetáculo Totatiando, agora já possível de ser visto em qualquer tempo ou lugar.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

'Totatiando', espetáculo em que Zélia aborda Tatit, ganha edição em DVD

Em setembro de 2011, Zélia Duncan estreou em São Paulo (SP) irretocável espetáculo inspirado na obra do compositor paulista Luiz Tatit. Arquitetado na fronteira entre a música e o teatro, sob a direção da atriz Regina Braga, Totatiando acabou atravessando as fronteiras de Sampa e aportou em outras cidades, sempre com aplausos e elogios unânimes do público. Pois agora Totatiando - espetáculo já exibido pelo Canal Brasil - vai poder ser visto em qualquer hora, dia e local com a edição do DVD posto nas lojas pela gravadora Warner Music neste mês de novembro de 2013, dois anos e dois meses após a estreia nacional no Sesc Belenzinho. Além do espetáculo em si, o DVD exibe o making of do trabalho. Leia aqui a resenha de Totatiando.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Zélia 'tatia' segura e sedutora no limiar entre o teatro e a música (de Tatit)

Resenha de espetáculo
Título: Totatiando
Artista: Zélia Duncan
Direção: Regina Braga
Direção musical: Bia Paes Leme
Local: Sesc Belenzinho (São Paulo, SP)
Cotação: * * * * *
Em cartaz no Sesc Belenzinho, de quinta-feira a domingo, até 18 de setembro de 2011

Não é show, mas tem música e músicos no palco. Não é teatro, mas tem textos falados e textos dramatizados. Não é recital, mas tem poesia. Totatiando - o espetáculo ora encenado por Zélia Duncan no Sesc Belenzinho, em São Paulo (SP), neste mês de setembro de 2011 - transita no limiar entre a música e o teatro. A palavra cantada se irmana em cena com a palavra teatralizada, tal como na obra do compositor paulista Luiz Tatit, musa inspiradora do espetáculo. Totatiando celebra os 30 anos de carreira de Zélia Duncan de forma heterodoxa. Embaralhando papéis e personagens, a cantora se transforma em atriz e em outra persona artística para tatiar segura e sedutora nessa fronteira tênue, guiada pela direção de Regina Braga. Atriz festejada por sua trajetória nos palcos, Braga debuta na direção de forma feliz. Percebe-se o dedo da estilista na costura perfeita da cena sem que a diretora estreante queira aparecer mais do que a cantriz também estreante na função dupla. Do cenário arquitetado pela diretora de arte Simone Mina às atuações dos músicos, coadjuvantes indispensáveis para sublinhar o sentido do que é dito/cantado em cena, tudo soa integrado e harmonioso em Totatiando. Ao entrelaçar 15 temas de Tatit, o roteiro tece um emaranhado de sentidos e significados talvez até ocultos para quem enquadra a obra do compositor no escaninho musical. Os versos das duas primeiras músicas, O Meio (2000) e Ah! (1981), sinalizam de cara o tom geralmente lúdico da encenação. O Meio brinca metalinguisticamente com a dificuldade de iniciar algo - no caso, o próprio espetáculo. Ah! graceja com a procura pela palavra mais exata e plena de sentido. Já Haicai (1997) e Banzo (1992) são dois temas mais explicitamente teatralizados. As letras são encenadas como narrativas em que Zélia se porta como atriz em diálogo com as personagens dos versos de Tatit. Tal narrativa é intencionalmente, mais adiante, quebrada com texto em que Zélia expõe a relação de Tatit com Itamar Assumpção (1949 - 2003), parceiro do compositor em Dodói (2005), número em que Totatiando atinge seu pico emocional. Com humor quase sarcástico, Eu Sou Eu (1997) questiona as permanentes mutações do ser humano em que Zélia dialoga com foto em que aparece no início da carreira, vivida em Brasília (DF). Há música no roteiro teatral quando Zélia canta dois temas como Sem Destino (2010). Há música também quando o tecladista Tércio Guimarães - alocado no canto esquerdo do palco ao lado do guitarrista Webster Santos - simula a batida de um coração em De Favor (2010) em sintonia com os versos que falam do músculo que bombeia sangue e (figurativamente) emoções. Contudo, há - sobretudo - refinada teatralidade em Totatiando, exemplificada - por exemplo - no gestual delicado com que Zélia evoca um clown em Esboço (2000) e nas inflexões da recitada Felicidade (1997), música que faz parte do show Pelo Sabor do Gesto em tom menos teatral. No fecho, Rodopio (1992) faz uso da metalinguagem para explicitar a felicidade da cantora transformada em atriz por estar em cena interpretando letras e músicas de Luiz Tatit neste espetáculo tão leve e tão pleno de sentidos e significados.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Zélia Duncan idealiza disco com músicas do compositor paulista Luiz Tatit

Criadora de alguns dos discos mais interessantes dos anos 2000, entre eles Eu me Transformo em Outras (2005), Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band (2007) e Pelo Sabor do Gesto (2009), Zélia Duncan idealiza CD que, caso seja concretizado, tem tudo para ser incluído nesta lista de obras-primas. A cantora pensa em gravar um álbum com músicas do compositor paulista Luiz Tatit, cujas músicas Zélia já vem cantando em shows. São da lavra de Tatit A Companheira - tema incluído pela artista no show dividido com Simone e perpetuado no DVD e CD ao vivo Amigo É Casa - e Felicidade. Destaque do roteiro do show Pelo Sabor do Gesto, Felicidade ganhou registro (declamado) na Deluxe Edition do CD homônimo do show (um dos melhores de 2009).