Mauro Ferreira no G1

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sábado, 22 de junho de 2013

'Eterna alegria' harmoniza todas as cores da 'Marrom' na magia do palco

Resenha de show
Título: Eterna alegria
Artista: Alcione (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 21 de junho de 2013
Cotação: * * * *
Agenda da turnê nacional do show Eterna alegria:
5 de julho de 2013 - HSBC Brasil - São Paulo (SP)
13 de julho de 2013 - Credicard Hall - Belo Horizonte (MG)

Quando Alcione cantou Magia do palco (Altay Velloso, 2013) com a voz nas alturas, repleta de chão e de emoção por se tratar de número-homenagem ao seu amigo-irmão Emílio Santiago (1946 - 2013), um arrepio tomou conta da plateia que lotou a casa Vivo Rio na noite de 21 de junho de 2013 para assistir, no Rio de Janeiro (RJ), à estreia nacional do show Eterna alegria. Magia do palco foi canção e momento especiais em show que harmoniza todas as cores da Marrom nas 30 músicas do roteiro, nos três figurinos, nas projeções por vezes abstratas do cenário e no corpo de bailarinos que entra em cena em números vivazes como o samba-rock Produto brasileiro (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Brasil do Quintal, 2013). Eterna alegria - o recém-lançado álbum de inéditas de Alcione que inspirou o show homônimo - é um dos melhores títulos da discografia da cantora maranhense. É um trabalho compatível com o nível da obra fonográfica da artista nos anos 70 e 80. O upgrade no repertório contribui para o brilho do show, já que 14 das 16 músicas do CD figuram no roteiro conduzido pela diretora Solange Nazareth sob a produção musical de Jorge Cardoso. Para combinar todas as cores do repertório da Marrom, o show Eterna alegria entremeia as músicas do novo grande disco - maravilhas contemporâneas como o resignado samba Sem palavras (Francis Hime e Thiago Amud, 2013) e o feminista samba dolente Direitos iguais (Sereno e André Renato, 2013) - com as canções de amor despudorado que o público da cantora espera sempre ouvir. Estão lá Pior é que eu gosto (Isolda, 1988), Quem é você (Ed Wilson e Cury, 1984) - música há tempos esquecida no baú da cantora - e O que eu faço amanhã? (José Augusto, 1986), esta unida em catártico medley com Meu vício é você (Chico Roque e Carlos Colla, 1987). Em contrapartida, está lá também um medley com dois biscoitos finos de Fátima Guedes, Tanto que aprendi de amor (Fátima Guedes, 1980) e Sete véus (Fátima Guedes, 1996), que reiteram a habilidade de Alcione para cantar de A a Z com a voz grave e encorpada que Deus lhe deu. Presente de Ana Carolina para o repertório do disco Eterno alegria, a música Pontos finais (Ana Carolina, Chiara Civello e Dudu Falcão, 2013) tem realçada no show a pegada de blues embutida na canção. Batido na palma da mão, o samba afro-brasileiro Ogum chorou que chorou (Arlindo Cruz) cumpre a função de animar show pautado pela alegria. Em clima de gafieira, realçado pela presença dos bailarinos liderados pelo dançarino Chocolate, o samba A dona sou eu (Nenéo e Paulinho Rezende) corrobora no salão a impressão que seus dois compositores o fizeram na cola de outro samba do mesmo estilo e da mesma dupla, Meu ébano, lançado pela Marrom em 2005 e sagazmente linkado com Gostoso veneno (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1979) no roteiro de Eterna alegria. Tema romântico propagado na recente novela Salve Jorge (TV Globo, 2012 / 2013), Amor surreal (Michael Sullivan, Carlos Colla e Miguel Plopschi, 2012) ganhou charme adicional na estreia caroca pela presença em cena dos atores Nando Cunha e Solange Badim. Os intérpretes do casal Pescoço e Delzuite na trama de Glória Perez armaram jogo de sedução através da dança. Já o medley com três belos sambas de Jorge Aragão - Na mesma proporção (Jorge Aragão e Nilton Barros, 1984), Novo endereço (Jorge Aragão e Sombrinha, 1987) e Ontem (Jorge Aragão, 1988) - redime a cantora de ter ignorado no roteiro Por ser mulher, o grande samba que Aragão lhe deu para o CD Eterna alegria. Na sequência, a percussão da Banda do Sol faz bater o tambor de crioula Chapéu de couro (tema de domínio público adaptado por Papete e Manuel Pacífico), preparando o clima para a arrepiante homenagem a Emílio Santiago e para a exaltação à Mangueira que encerra o show em tons de verde e rosa com a apresentação da inédita Essa gente de Mangueira (Toninho Geraes) e com a boa lembrança do samba-marcha Tem capoeira (Batista da Mangueira, 1973). Enfim, todas as cores vivas da Marrom se combinam em show que reforça a identidade cênica da intérprete no roteiro turbinado com as grandes músicas de Eterna alegria. Acenda o refletor, apure o tamborim: Alcione está de volta ao melhor samba.

13 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Quando Alcione cantou Magia do palco (Altay Velloso, 2013) com a voz nas alturas, repleta de chão e de emoção por se tratar de número-homenagem ao seu amigo-irmão Emílio Santiago (1946 - 2013), um arrepio tomou conta da plateia que lotou a casa Vivo Rio na noite de 21 de junho de 2013 para assistir, no Rio de Janeiro (RJ), à estreia nacional do show Eterna alegria. Magia do palco foi canção e momento especiais em show que harmoniza todas as cores da Marrom nas 30 músicas do roteiro, nos três figurinos, nas projeções por vezes abstratas do cenário e no corpo de bailarinos que entra em cena em números vivazes como o samba-rock Produto brasileiro (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Brasil do Quintal, 2013). Eterna alegria - o recém-lançado álbum de inéditas de Alcione que inspirou o show homônimo - é um dos melhores títulos da discografia da cantora maranhense. É um trabalho compatível com o nível da obra fonográfica da artista nos anos 70 e 80. O upgrade no repertório contribui para o brilho do show, já que 14 das 16 músicas do CD figuram no roteiro conduzido pela diretora Solange Nazareth sob a produção musical de Jorge Cardoso. Para combinar todas as cores do repertório da Marrom, o show Eterna alegria entremeia as músicas do novo grande disco - maravilhas contemporâneas como o resignado samba Sem palavras (Francis Hime e Thiago Amud, 2013) e o feminista samba dolente Direitos iguais (Sereno e André Renato, 2013) - com as canções de amor despudorado que o público da cantora espera sempre ouvir. Estão lá Pior é que eu gosto (Isolda, 1988), Quem é você (Ed Wilson e Cury, 1984) - música há tempos esquecida no baú da cantora - e O que eu faço amanhã? (José Augusto, 1986), esta unida em catártico medley com Meu vício é você (Chico Roque e Carlos Colla, 1987). Em contrapartida, está lá também um medley com dois biscoitos finos de Fátima Guedes, Tanto que aprendi de amor (Fátima Guedes, 1981) e Sete véus (Fátima Guedes, 1996), que reiteram a habilidade de Alcione para cantar de A a Z com a voz grave e encorpada que Deus lhe deu. Presente de Ana Carolina para o repertório do disco Eterno alegria, a música Pontos finais (Ana Carolina, Chiara Civello e Dudu Falcão, 2013) tem realçada no show a pegada de blues embutida na canção. Batido na palma da mão, o samba afro-brasileiro Ogum chorou que chorou (Arlindo Cruz) cumpre a função de animar show pautado pela alegria. Em clima de gafieira, realçado pela presença dos bailarinos liderados pelo dançarino Chocolate, o samba A dona sou eu (Nenéo e Paulinho Rezende) corrobora no salão a impressão que seus dois compositores o fizeram na cola de outro samba do mesmo estilo e da mesma dupla, Meu ébano, lançado pela Marrom em 2005 e sagazmente linkado com Gostoso veneno (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1979) no roteiro de Eterna alegria. Tema romântico propagado na recente novela Salve Jorge (TV Globo, 2012 / 2013), Amor surreal (Michael Sullivan, Carlos Colla e Miguel Plopschi, 2012) ganhou charme adicional na estreia caroca pela presença em cena dos atores Nando Cunha e Solange Badim. Os intérpretes do casal Pescoço e Delzuite na trama de Glória Perez armaram jogo de sedução através da dança.

Mauro Ferreira disse...

Já o medley com três belos sambas de Jorge Aragão - Na mesma proporção (Jorge Aragão e Nilton Barros, 1984), Novo endereço (Jorge Aragão e Sombrinha, 1987) e Ontem (Jorge Aragão, 1988) - redime a cantora de ter ignorado no roteiro Por ser mulher, o grande samba que Aragão lhe deu para o CD Eterna alegria. Na sequência, a percussão da Banda do Sol faz bater o tambor de crioula Chapéu de couro (tema de domínio público adaptado por Papete e Manuel Pacífico), preparando o clima para a arrepiante homenagem a Emílio Santiago e para a exaltação à Mangueira que encerra o show em tons de verde e rosa com a apresentação da inédita Essa gente de Mangueira (Toninho Geraes) e com a boa lembrança do samba-marcha Tem capoeira (Batista da Mangueira, 1973). Enfim, todas as cores vivas da Marrom se combinam em show que reforça a identidade cênica da intérprete no roteiro turbinado com as grandes músicas de Eterna alegria. Acenda o refletor, apure o tamborim: Alcione está de volta ao melhor samba.

Marcelo Barbosa disse...

Vou dar o braço a torcer; realmente melhorou MUITO no figurino. Está mais elegante e mais bonita, ao contrário do disco ao vivo na Mangueira (em que ela cantava sambas (SIC!) de Roberta Miranda em plena Mangueira)e quando quis homenagear Clara Nunes em um dos seus shows.

Anônimo disse...

Aquele vestido do ao vivo na mangueira é realmente hilário. Gosto da Alcione cantando Fátima Guedes. Quando ela quer, e solta a voz e a emoção, ela realmente arrepia.

Marcelo Barbosa disse...

Hilário e kitsch, Carlos Eduardo! Só faltou uma asa para parecer um anjo de procissão. rs
Agora está elegante, finalmente!

Luca disse...

Alcione não voltou ao samba, porque nunca saiu dele, não tem um disco dela que não tenha sambas

NEGO LITO disse...

Ou seja, a nega tá show!! Tá mais bonita, a voz continua poderosa, o samba pediu ainda mais passagem, o crítico gostou do show e o estilista aprovou o figurino: fechô.

Marcelo Barbosa disse...

Realmente, Negro Lito! Se o estilista dela ainda for o Gebran Smera, ex-carnavalesco do GRES Estácio de Sá, ele acertou em cheio dessa vez. Antes ele fazia jus ao título de carnavalesco de Grupo de Acesso (levando em conta o seu passado de figurinos pavorosos e recentes com a Marrom), merece agora uma vaga no Especial. Abs

NEGO LITO disse...

Ô, Barbosa... não era dele que eu tava falando, não. Aliás, sabia de nada disso. Mas vou mandar uma sugestão de estilista pra nega. É só olhar pro lado e sempre aparece alguém com potencial reprimido.

RURIK VARDA disse...

Bacana a Marrom ter incluído no roteiro essas duas preciosidades de Fátima Guedes, cuja discografia, aliás, merecia ser relançada. Delicada, densa e sofisticada compositora.

“Tanto que aprendi de amor” e “Sete Véus” foram muito bem gravadas por Alcione. A primeira de forma pungente e a segunda, de atmosfera mais sensual, tem a sua estrutura melódica valorizada por seu belo registro de contralto. Apesar de ser a gigante cantora de samba que é, gostaria de ouvir mais músicas desse naipe na voz da Marrom, que lhe dão oportunidade de mostrar a pessoalíssima intérprete que também é.

Marcelo Barbosa disse...

Verdade! Agarre a sua chance, Lito! De repente vai que cole? Boa sorte!

NEGO LITO disse...

Eaê, Barbosa!
Olha, minha chance eu já agarrei. Foi no dia 21/06, e vou agarrar de novo em Sampa, no dia 05/07. Não resisto àquele cangote cherôooso. Aonde ele vai, sigo atrás, feliz da vida.
Respeito demais quem entende, mas não conheço nome de estilista, modelitos de vestido, linhas, tramas e afins. Melhor deixar pra quem levantou a bola, quem se importa com isso, pra quem é do riscado. Se for o caso, não se reprima.
Maurão, aquele momento Emílio foi mesmo de subir o couro. ;)

Káyon disse...

Samba de breque, samba dolente, samba-rock, samba de gafieira, samba-enredo, samba-canção, samba rasgado, samba-marcha, samba-afro... tem espaço pra tudo isso e muito mais dentro desse vozeirão blues.