♪ RETROSPECTIVA 2015 – Intérprete do disco mais expressivo e impactante de 2014, Encarnado (Independente), a cantora paulistana Juçara Marçal atravessou 2015 colhendo os incessantes frutos do primeiro álbum solo. Disco de morte, Encarnado ainda vive, tendo sido lançado em novembro em edição em vinil fabricada de forma artesanal. Mas nem por isso a cantora deixou de dar continuidade à carreira fonográfica. Juçara lançou nada menos do que três discos ao longo de 2015. Em maio, a cantora apresentou - como integrante do grupo paulistano Metá Metá - EP digital com três músicas que transitaram entre o punk e o samba com pegada efervescente. Em julho, gravou - com os músicos Kiko Dinucci e Thomas Harres - sessão de improviso na ocupação Pulso, realizada nos estúdios da Red Bull Station, em São Paulo (SP). Marcado pelo experimentalismo, elevado à máxima potencial sensorial, o som criado na sessão gerou em setembro o álbum digital Abismu, batizado com o nome do filme de 1977 feito sob a direção do cineasta Rogério Sganzerla (1946 - 2004). Em outubro, Juçara lançou - com o artista carioca Cadu Tenório - Anganga, álbum em que dá tom contemporâneo a vissungos (cantos de trabalho dos escravos mineiros) e a cânticos de congados das Geraes. Anganga, aliás, está sendo lançado em edição física em CD em dezembro, fechando o produtivo ano fonográfico de Juçara Marçal. Mas o pulso de Encarnado ainda pulsa...
Guia jornalístico do mercado fonográfico brasileiro com resenhas de discos, críticas de shows e notícias diárias sobre futuros lançamentos de CDs e DVDs. Do pop à MPB. Do rock ao funk. Do axé ao jazz. Passando por samba, choro, sertanejo, soul, rap, blues, baião, música eletrônica e música erudita. Atualizado diariamente. É proibida a reprodução de qualquer texto ou foto deste site em veículo impresso ou digital - inclusive em redes sociais - sem a prévia autorização do editor Mauro Ferreira.
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terça-feira, 15 de dezembro de 2015
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
Álbum solo de Juçara Marçal, 'Encarnado' sai em vinil com luva transparente
♪ Disco solo da cantora paulista Juçara Marçal lançado em fevereiro de 2014 por via independente, Encarnado - álbum mais impactante de 2014 - ganha edição em vinil fabricada em serigrafia com tiragem limitada de 300 cópias. Com vendas programadas para 4 de novembro de 2015 através da Goma Gringa Discos, ao custo de R$ 85, a edição em vinil de Encarnado ostenta uma capa transparente de PVC vermelho criada por Rubens Amatto. É nessa espécie de luva que foi impressa - em serigrafia de três cores - a arte criada por Kiko Dinucci para a capa original de Encarnado. Eis, na disposição do LP, as 12 músicas alinhadas na artesanal edição em vinil do álbum Encarnado:
Lado A
1. Velho amarelo (Rodrigo Campos, 2014)
2. Damião (Douglas Germano e Everaldo Ferreira da Silva, 2011)
3. Odoya (Juçara Marçal, 2014)
4. Ciranda do aborto (Kiko Dinucci, 2014)
5. Canção pra ninar Oxum (Douglas Germano, 2014)
6. João Carranca (Kiko Dinucci, 2014)
Lado B
1. Queimando a língua (Romulo Fróes e Alice Coutinho, 2014)
2. Pena mais que perfeita (Gui Amabis e Regis Damasceno, 2012)
3. E o Quico? (Itamar Assumpção, 1983)
4. Não tenha ódio no verão (Tom Zé, 2008)
5. A velha da capa preta (Siba Veloso, 2007)
6. Presente de casamento (Thiago França e Romulo Fróes, 2014)
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Juçara e Cadu reprocessam vissungos e cantos dos congados em 'Anganga'
♪ Com capa criada pelo produtor e músico carioca Márcio Bulk, o disco Anganga vai ser lançado em outubro de 2015 com a reunião - promovida por Bulk - da cantora paulistana Juçara Marçal com o artista carioca Cadu Tenório. Editado através de parceria do selo independente QTV com a revista virtual Banda Desenhada, Anganga apresenta registros de tom contemporâneo de vissungos e cantos dos congados de Minas Gerais. Os vissungos - cantos de trabalho dos escravos mineiros - foram recolhidos nos anos 1920 pelo filólogo e linguista mineiro Aires da Mata Machado Filho (1909 - 1985) em São João da Chapada, município de Diamantina (MG). Os quatro vissungos reavivados por Juçara e Cadu no disco já tinham ganhado registro no álbum O canto dos escravos (Eldorado, 1982), interpretados por Clementina de Jesus (1901 - 1987), Geraldo Filme (1928 - 1995) e Tia Doca (1932 - 2009). O disco Anganga foi batizado com o nome do Deus supremo do povo banto, Anganga Nzambi. De acordo com o texto que apresenta o disco, a intenção de Anganga é "reinterpretar os vissungos com o uso de sonoridades abstratas provenientes da música de ruídos (noise), do drone, da música eletrônica, das gravações de campo (field recordings), dos loops de fita (tape loops), dos instrumentos e objetos processados da música concreta e das harmonias provenientes dos sintetizadores". Aos quatro vissungos e aos três cantos dos congados mineiros que formam o repertório do afro Anganga, foram adicionados temas instrumentais compostos por Cadu Tenório ao longo do processo de criação do álbum e gravados com as vocalizações de Juçara Marçal.
sábado, 19 de setembro de 2015
Alessandra Leão fecha trilogia com 'Língua', EP que traz Dinucci, Juçara e Ná
♪ Na sequência de Pedra de sal (Garganta Records, 2014) e Aço (Garganta Records / YB Music, 2015), a cantora, compositora e percussionista pernambucana Alessandra Leão fecha trilogia de EPs com a edição de Língua neste mês de setembro de 2015. No disco, gravado em São Paulo (SP) entre junho e agosto de 2015 com produção musical de Caçapa, a artista divide com Ná Ozzetti a interpretação de Pássaros, mulheres e peixes, parceria de Leão com Xico Sá. Ná reforça o coro feminino - ao lado de cantoras como Luisa Maita, Juçara Marçal - de Doutrina de Oxum, toada tradicional do tambor de mina do Maranhão, já lançada em disco regional de circulação feita dentro das fronteiras maranhenses. Também da cena paulistana, Kiko Dinucci figura na ficha técnica de Língua como parceiro de Leão na música Na minha boca. Joguei minha palavra n'água e a composição-título Língua (somente da lavra de Alessandra Leão) completam o repertório do EP.
terça-feira, 2 de junho de 2015
Moralista, o veto do iTunes à capa do álbum solo de Juçara amordaça a Arte
♪ EDITORIAL - O álbum mais importante de 2014 - Encarnado, primeiro disco solo da cantora Juçara Marçal - chegou hoje, 2 de junho de 2015, às plataformas digitais em lançamento nacional orquestrado pelo selo Laboratório Fantasma. Infelizmente, Encarnado não pode ser adquirido via iTunes. É que a loja virtual da Apple vetou a venda do disco com a capa criada por Kiko Dinucci e, diante da justa recusa da artista de alterar a capa, o álbum não foi aceito pelo iTunes. O motivo - inacreditável, bizarro - são os mamilos do desenho de Dinucci. A censura do iTunes à capa de Encarnado é de morte! Afinal, a nudez sempre esteve presente em capas de discos. Porque discos trazem músicas. E música é arte. Mesmo que a nudez fosse gratuita, já seria moralista proibir a exposição do corpo humano. Mas a nudez numa capa de disco é sempre artística - o que torna ainda mais lamentável a atitude tomada pelo iTunes. Uma ação que reforça a onda de moralismo hipócrita que varre o Brasil porque, em última instância, é uma censura à Arte e à liberdade de expressão artística. Como o mercado de música digital está em contínua expansão, trata-se de uma ação que deve ser motivo de denúncias e protestos públicos até que não se repita mais. Até porque, em vez de perder tempo vetando capas de discos, o iTunes deveria criar mecanismos que dessem nomes aos (jamais creditados) compositores das músicas que vende. Isso, sim, a ausência de crédito dos compositores, é aberração que deve ser proibida nas plataformas digitais em todo o território internacional o quanto antes, porque nega aos compositores as assinaturas de suas obras.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Juçara se enfeita com cores mortais do 'Velho amarelo' na folia do Recife

♪ O fotógrafo do blog Notas
Musicais, Rodrigo Goffredo, viajou ao Recife (PE) para cobrir o Carnaval da
cidade, em 2015, a convite do Governo de Pernambuco e Prefeitura do Recife.
domingo, 21 de dezembro de 2014
Retrô 2014: Juçara Marçal se agiganta ao encarar a morte em 'Encarnado'
♪ Retrospectiva 2014 - Juçara Marçal trouxe boas novas em 2014. Vocalista do Trio Metá Metá, a cantora e compositora paulistana sai de 2014 mais viva do que nunca ao encarar a morte em um primeiro atordoante álbum solo, Encarnado, que arrebatou a crítica. Figura fácil em todas as listas de melhores discos de 2014, Encarnado jorrou sangue ao enfiar a navalha na carne com o toque cortante das guitarras de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, músicos fundamentais na arquitetura deste disco cru, punk, por vezes até angustiante. Lançado em 18 de fevereiro em edição digital disponibilizada para download gratuito, Encarnado ganhou em abril uma artesanal edição física em CD, fabricado com serigrafia. No embalo da unânime consagração da crítica, Juçara promoveu o disco com shows que seduziram pequeno, mas quente e antenado, público. A morte lhe caiu bem.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
'Encarnado', disco solo de Juçara, é o melhor álbum de 2014 para APCA
♪ Atordoante disco solo de Juçara Marçal, lançado em fevereiro na web de forma totalmente independente, Encarnado é o melhor álbum de 2014 na avaliação do júri da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Divulgada na noite de ontem, 1º de dezembro, a lista dos premiados na área musical também inclui Anelis Assumpção (intérprete), Banda do Mar (grupo), Ian Ramil (revelação, pelo álbum Ian), Marcelo Jeneci (compositor), Nelson Motta (Grande Prêmio da Crítica) e Titãs (show, por Nheengatu). Jazz na fábrica, do Sesc Pompeia, é o projeto especial deste ano.
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Criolo libera álbum que gravou com Juçara, Tulipa, Dinucci e Money Mark
♪ Terceiro álbum de Criolo, Convoque seu Buda (capa acima) foi liberado para download gratuito e streaming pelo rapper paulistano na noite desta segunda-feira, 3 de novembro de 2014. O disco já pode ser baixado e ouvido no site oficial do artista desde as 22h. Com dez músicas, Convoque seu Buda alinha na ficha técnica participações de Kiko Dinucci, Juçara Marçal, Money Mark (produtor e músico norte-americano ligado ao grupo Beastie Boys), Rodrigo Campos e Tulipa Ruiz. Eis - na ordem do CD - as dez músicas do disco produzido por Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral:
1. Convoque seu Buda (Criolo e Daniel Ganjaman)
2. Esquiva da esgrima (Criolo, Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral)
3. Cartão de visita (Criolo, Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral)
4. Casa de papelão (Criolo, Daniel Ganjaman, Guilherme Held e Marcelo Cabral)
5. Fermento pra massa (Criolo)
6. Pé de breque (Criolo)
7. Pegue pra ela (Criolo)
8. Plano de voo (Criolo, Síntese, Daniel Ganjaman, Guilherme Held e Marcelo Cabral)
9. Duas de cinco (Criolo, Daniel Ganjaman, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos)
10. Fio de prumo (Padê onã) (Criolo e Douglas Germano)
1. Convoque seu Buda (Criolo e Daniel Ganjaman)
2. Esquiva da esgrima (Criolo, Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral)
3. Cartão de visita (Criolo, Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral)
4. Casa de papelão (Criolo, Daniel Ganjaman, Guilherme Held e Marcelo Cabral)
5. Fermento pra massa (Criolo)
6. Pé de breque (Criolo)
7. Pegue pra ela (Criolo)
8. Plano de voo (Criolo, Síntese, Daniel Ganjaman, Guilherme Held e Marcelo Cabral)
9. Duas de cinco (Criolo, Daniel Ganjaman, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos)
10. Fio de prumo (Padê onã) (Criolo e Douglas Germano)
domingo, 19 de outubro de 2014
Juçara, Kiko e Suzana glorificam Itamar ao destilar ironias do 'Nego Dito'
Resenha de show
Título: Juçara Marçal, Suzana Salles e Kiko Dinucci cantam Itamar
Artista: Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Suzana Salles (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Audio Rebel
Data: 17 de outubro de 2014
Cotação: * * * *
Título: Juçara Marçal, Suzana Salles e Kiko Dinucci cantam Itamar
Artista: Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Suzana Salles (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Audio Rebel
Data: 17 de outubro de 2014
Cotação: * * * *
♪ Às próprias custas, pagando preço alto por fazer valer vontades e coerência na construção de sua obra, o cantor e compositor paulista Itamar Assumpção (1949 - 2003) pavimentou trilha que o tem levado à consagração póstuma. Quando brinca ao dizer no palco do Audio Rebel que está fundando com Juçara Marçal e Suzana Salles a Igreja Itamar Assumpção, o cantor e compositor Kiko Dinucci - expoente da cena paulistana dos anos 2010 - talvez fale mais sério do que supõe. A obra mundana do Nego dito repousa atualmente em altar sagrado. Shows e discos recentes - como a obra-prima Tudo esclarecido (Warner Music, 2012), álbum em que Zélia Duncan mostrou o quanto o cancioneiro de Itamar pode ser pop e popular - vem evidenciando a força dessa obra que profanou convenções sociais com sagacidade e humor mordaz. Ao se juntar em cena com Juçara Marçal e Suzana Salles para destilar as finas ironias do cancioneiro do artista, em show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em 16 e 17 de outubro de 2014, Kiko glorifica Itamar ao lado das cantoras paulistanas. É um show de três vozes e um violão (o tocado pelo próprio Kiko), suficientes para expor a grandeza atemporal dessa obra tão paulistana e tão universal ao longo de roteiro que enfileira 19 músicas de Itamar, lançadas entre 1980 e 2010, em amplo arco do tempo que abarca exatas três décadas. Roteiro que surpreende e que expõe a coerência e sintonia existentes entre as duas músicas de 1980 - a muito conhecida Nego Dito e a pouco ouvida Nega Música, ambas lançadas no seminal álbum Beleléu leléu eu (Lira Paulistana,1980) - e as cinco de 2010 (registradas pelo autor nos póstumos segundo e terceiro volumes da trilogia Preto Brás). A própria formação do show atesta a perenidade da obra. O cancioneiro de Itamar se ajusta tanto à voz original de Suzana Salles - cantora desde sempre associada a Itamar e a Arrigo Barnabé por sua atuação no movimento dos anos 1980 rotulado como Vanguarda Paulista - como às vozes mais recentes de Juçara Marçal e de Kiko Dinucci. Vozes que tem se feito ouvir na efervescente cena paulistana que recolocou São Paulo no mapa musical do Brasil do século 21. Em cena, o trio se afina e demole barreiras temporais, fiel à estética vocal implantada por Itamar, Arrigo e colegas da Lira Paulistana. Já nos dois primeiros números do show, Prezadíssimos ouvintes (Itamar Assumpção e Domingos Pellegrini, 1986) e Navalha na liga (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 1986), ecoa o canto teatralizado, quase falado, proposto pela turma vanguardista dos anos 1980. Por mais que haja solos, como o de Suzana em Anteontem (Melô da UTI) (Itamar Assumpção, 2010) e o de Juçara em Je t'aime mais que o Jerome (Itamar Assumpção, 2010), é na interação vocal e gestual entre o trio que se escora o show Juçara Marçal, Suzana Salles e Kiko Dinucci cantam Itamar. Além das vozes, cabem caras, bocas e poses para realçar o humor mordaz e os sentimentos entranhados no cancioneiro de Itamar. É entortando vozes e caras que o trio expôs toda a piração de Pirex (Itamar Assumpção, 2007), a infecção amorosa que contamina Ciúme doentio (Itamar Assumpção, 2010) e o jogo de palavras armado nos versos de Más línguas (Itamar Assumpção, 2010), o número interativo do show. Mas nem tudo é ironia no cancioneiro de Itamar. Às vezes, tudo também pode se harmonizar com suavidade e afeto na obra desse compositor que também deixou "coisas fofinhas", como caracterizou Dinucci antes de o trio dar voz a Apaixonite aguda (Itamar Assumpção, 1998). Mais para o fim, Zé Pelintra - bissexta parceria de Itamar com o poeta baiano Waly Salomão (1943 - 2003) - baixou com força no palco do Audio Rebel, expondo a intimidade e o total domínio vocal com que Suzana Salles revisita esse cancioneiro. Contudo, o show é do trio que, fazendo jus ao clima de Sampa midnight (Itamar Assumpção, 1986), cantou "De trás pra diante / Letras fortes, indecentes / Música bem excitantes", pondo Itamar Assumpção nas alturas e convertendo o fiel público do Audio Rebel - cenário de grande movimentação na cena indie carioca - ao que há de mais sagrado e de mais profano na consagrada música de Beleléu.
Em show, Juçara, Dinucci e Suzana dão geral na 'nega música' de Itamar
♪ Composição obscura de Itamar Assumpção (1949-2003) lançada pelo artista paulista em seu primeiro álbum, Beleléu leléu eu (Lira Paulistana, 1980), Nega música chegou - quando menos se esperava - no roteiro do show Juçara Marçal, Suzana Salles e Kiko Dinucci cantam Itamar, apresentado em 16 e 17 de outubro de 2014 na casa carioca Audio Rebel, um dos palcos mais movimentados da cena alternativa do Rio de Janeiro (RJ). Afinado em cena, o trio deu uma geral na obra autoral do Nego Dito, apresentando 19 músicas de Itamar lançadas ao longo de exatos 30 anos, em período que vai de 1980 a 2010. Embora com certa ênfase nos repertórios do álbum Sampa midnight - Isso não vai ficar assim (Independente, 1986) e dos segundo e terceiro volumes do póstumo Preto Brás (Sesc, 2010), os cantores deram vozes a músicas de todas as fases da obra do compositor, realçando ironias e sagacidades desse genial cancioneiro. Eis o roteiro seguido por Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Suzana Salles - em foto de Rodrigo Goffredo - na ótima apresentação que lotou o Audio Rebel em 17 de outubro de 2014:
1. Prezadíssimos ouvintes (Itamar Assumpção e Domingos Pellegrini, 1986)
2. Navalha na liga (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 1986)
3. Anteontem (Melô da UTI) (Itamar Assumpção, 2010)
4. Pirex (Itamar Assumpção, 2007)
5. Je t'aime mais que o Jerome (Itamar Assumpção, 2010)
6. Cabelo duro (Itamar Assumpção, 2004)
7. Ir pra Berlim (Itamar Assumpção, 2010)
8. Se a obra é a soma das penas (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 1993)
9. Ciúme doentio (Itamar Assumpção, 2010)
10. Apaixonite aguda (Itamar Assumpção, 1998)
11. Nega música (Itamar Assumpção, 1980)
12. Movido à água (Itamar Assumpção e Galvão, 1986)
13. Já deu pra sentir (Itamar Assumpção, 1987)
14. Más línguas (Itamar Assumpção, 2010)
15. Zé Pelintra (Itamar Assumpção e Waly Salomão, 1988)
16. Filho de Santa Maria (Itamar Assumpção e Paulo Leminski, 1988)
Bis:
17. Sampa midnight (Itamar Assumpção, 1986)
18. Tristeza não (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 2000)
19. Nego dito (Itamar Assumpção, 1980)
Bis 2:
20. Prezadíssimos ouvintes (Itamar Assumpção e Domingos Pellegrini, 1986)
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Cantora de morte, Juçara brilha ao contar 'histórias de hoje' de Isaurinha
Resenha de programa de TV
Série: Cantoras do Brasil - Terceira temporada
Título: Juçara Marçal canta Isaura Garcia
Idealização: Mariana Rolim, Mercedes Tristão e Simone Esmanhotto
Direção: Jacob Solitrenick
Emissora: Canal Brasil
Cotação: * * * *
Episódio com exibição programada pelo Canal Brasil para 23 de novembro de 2014
Série: Cantoras do Brasil - Terceira temporada
Título: Juçara Marçal canta Isaura Garcia
Idealização: Mariana Rolim, Mercedes Tristão e Simone Esmanhotto
Direção: Jacob Solitrenick
Emissora: Canal Brasil
Cotação: * * * *
Episódio com exibição programada pelo Canal Brasil para 23 de novembro de 2014
♪ Intérprete do disco mais expressivo de 2014, Encarnado, Juçara Marçal continua encarando a morte de frente. No segundo episódio da terceira temporada da série Cantoras do Brasil, a paulistana brilha ao dar voz a duas músicas do repertório de Isaura Garcia (26 de fevereiro de 1919 - 30 de julho de 1993), cantora conterrânea de Juçara que alcançou projeção nacional nos anos 1940 e 1950. Coincidentemente, ou não, a vocalista do Metá Metá reaviva dois temas sobre a morte no episódio Juçara Marçal canta Isaura Garcia. Ambos foram gravados em 1942 por Isaurinha - como era conhecida a cantora que lançou o samba-canção Mensagem (Cícero Nunes e Aldo Cabral) em 1945. O primeiro número musical, Sem cuíca não há samba (Germano Augusto e João Antônio Peixoto, 1942), é um samba - composto com inspiração em Triste cuíca (Noel Rosa e Hervê Cordovil, 1934) - que narra a história de Laurindo, cujo corpo foi encontrado quase irreconhecível no Morro de Mangueira. "É uma história de hoje. É como se eu estivesse cantando um samba sobre o Amarildo", correlaciona Juçara no depoimento alocado entre os dois números musicais. Sagaz, a cantora se refere a Amarildo de Souza, o pedreiro da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), desaparecido em julho de 2013 por ter sido - como se soube depois, após grande pressão popular - morto por policiais da comunidade. Amarildo bem poderia ser o protagonista de Procura o Miguel (Roberto Martins e Roberto Roberti, 1942), composição que versa com suingue sobre o sumiço do Miguel do título. Em Procura o Miguel, o suingue vem da guitarra contemporânea de Pipo Pegoraro e do canto de Juçara, que explora regiões mais agudas de sua voz mais escura. Em Sem cuíca não há samba, o destaque entre os músicos da banda é Lucas Raele, cuja clarineta chora como a cuíca ausente, valorizando o arranjo calcado nas tradições do samba. Sem carregar nas tintas do drama contido nos versos do samba, Juçara Marçal interpreta o tema com leveza. Cantora do Brasil de morte, a paulistana reitera a maestria vocal em Juçara Marçal canta Isaura Garcia.
sábado, 13 de setembro de 2014
Juçara Marçal adiciona encarte com letras à edição física de 'Encarnado'
♪ Lançado em formato digital em fevereiro deste ano de 2014, Encarnado - irretocável álbum solo da cantora paulistana Juçara Marçal - ganhou em abril uma edição física em CD, produzida com serigrafia e impressa manualmente, o que valorizou o projeto gráfico do disco, criado por Rubens Amatto a partir de desenho feito pelo compositor e guitarrista paulistano Kiko Dinucci, coprodutor do álbum. Como essa especial tiragem inicial logo se esgotou, Juçara providenciou a fabricação de uma segunda tiragem, lançada neste mês de setembro. A novidade é que, nessa segunda tiragem, a edição física de Encarnado - à venda nos shows da artista - traz encarte com as letras do disco, já garantido na lista de melhores de 2014. Vale ter uma cópia!
domingo, 15 de junho de 2014
Afiado CD sobre a morte, 'Encarnado' ganha cor ainda mais viva em cena
Resenha de show
Título: Encarnado
Artista: Juçara Marçal (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Audio Rebel (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 14 de junho de 2014
Cotação: * * * * *
Show em cartaz no Áudio Rebel, no Rio de Janeiro (RJ), até 15 de junho de 2014
Título: Encarnado
Artista: Juçara Marçal (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Audio Rebel (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 14 de junho de 2014
Cotação: * * * * *
Show em cartaz no Áudio Rebel, no Rio de Janeiro (RJ), até 15 de junho de 2014
Em seu primeiro álbum solo, Encarnado, Juçara Marçal vê a cara da morte. E ela - assim como a cantora revelada no grupo paulistano Metá Metá - está bem viva, pulsando nas entranhas deste disco cortante, perfeito, cuja força advém da completa harmonia entre o canto da intérprete, a sonoridade crua - produto da interação entre as cordas rascantes das guitarras de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos (também no cavaquinho) e da rabeca de Thomas Rhorer - e um repertório que, embora contenha algumas músicas já anteriormente gravadas sem repercussão por seus compositores, parece todo feito sob medida para esse álbum conceitual. Disco mais impactante deste primeiro semestre de 2014 (e possivelmente do ano), Encarnado gerou show igualmente incisivo, feito no fio da navalha. A julgar pela estreia carioca do show Encarnado, feita em 14 de junho de 2014 no palco alternativo da casa-estúdio Audio Rebel, esse cancioneiro sobre a morte ganha (ainda mais) vida quando tocado ao vivo. Em cena, a presença de Juçara se irmana com a do trio formado por Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Thomas Rohrer, sem que a cantora se sobreponha aos músicos. É do equilíbrio entre canto e sonoridade que Encarnado extrai seu poder de sedução, jorrando sangue, ódio - mote de Damião (Douglas Germano e Everaldo Ferreira da Silva, 2011), tema que conclama o desencarnado Damião Ximenes Lopes a se vingar dos maus tratos que o levaram à morte - e chagas que comem a razão, como prega Velho amarelo (Rodrigo Campos, 2014), primeira das 15 músicas do roteiro. Em cena, Encarnado jamais perde sua cor viva. Mas há momentos que atingem elevação rara de se ver em palcos. A atmosfera heavy gerada pela trama do trio de cordas em Ciranda do aborto (Kiko Dinucci, 2014) dá ainda mais peso a uma música já em si pesada, angustiante. Sim, Encarnado ferve em caldeirão de impressões e sentidos da morte, mas Juçara também pega leve. Criando um tempo de delicadeza possível dentro de repertório áspero, a cantora entra suave no poético rio de Xote de navegação (Dominguinhos e Chico Buarque, 1998), uma das três músicas ausentes do CD que, no show, se alinham com as 12 composições do álbum Encarnado. Nesse número, o canto de Juçara soa mais brando, quase a capella, pontuado somente por intervenções sutis de Thomas Rohrer no manejo de instrumentos de percussão, "apetrechos mecânicos", como conceituou a cantora para o antenado público que se aglomerava na pequena pista da Audio Rebel. Rodrigo Campos também tira sons percussivos, a partir do batuque na madeira de sua cavaquinho, em Odoyá (Juçara Marçal, 2014), número climático de ambiência progressivamente psicodélica. Na temática, Odoyá se afina com Canção para ninar Oxum (Douglas Germano, 2014). E por falar em afinação, o trânsito fluente de Juçara Marçal pelas notas altas de Queimando a língua (Romulo Fróes e Alice Coutinho, 2014) evidencia o apuro vocal da intérprete, hábil na exploração de todos os tons e possibilidades do repertório de Encarnado. Nesse número, feito somente com as guitarras de Campos e Dinucci, há os ruídos e estranhezas recorrentes ao longo da apresentação, ressaltando a contundência do cancioneiro. Se E o Quico? (Itamar Assumpção, 1983) assombra com a poética ainda desnorteante do Nego Dito, Não tenha ódio no verão (Tom Zé, 2008) provoca catarse na plateia no número mais interativo do show. Na sequência, a sagaz lembrança de Comprimido (Paulinho da Viola, 1973) - samba levado no toque do cavaquinho de Rodrigo Campos - introjeta o desassossego que paira no show, costurando o repertório. Musicalmente, Comprimido prepara o clima para Encarnado cair no samba à moda (quase) tradicional em João Carranca (Kiko Dinucci, 2014), crônica (quase) tragicômica que corrobora a tese de que o povo anda (se) matando antes mesmo de a morte chegar, como arremata A velha da capa preta (Siba Veloso, 2007). No bis, Opinião (Zé Kétti, 1964) - samba desconstruído na pulsação das guitarras e da rabeca - reitera que Juçara Marçal e o fantástico trio atingem o céu ao encarar a morte na cena arrepiante do show Encarnado.
Juçara põe Chico, Paulinho e Kétti no fio da navalha do show 'Encarnado'
♪ Juçara Marçal põe Chico Buarque, Dominguinhos (1941 - 2013), Paulinho da Viola e Zé Kétti (1921 - 1999) no fio da afiada navalha de Encarnado. No roteiro do show baseado em seu primeiro CD solo, incisivo disco que encara a morte de frente, a cantora - revelada como vocalista do grupo paulistano Metá Metá - inclui as músicas Xote de navegação (Dominguinhos e Chico Buarque, 1998), Comprimido (Paulinho da Viola, 1973) e Opinião (Zé Kétti, 1964) entre as 12 composições de álbum conceitual produzido pela própria Juçara com os compositores e músicos paulistanos Kiko Dinucci e Rodrigo Campos. Tal como no disco lançado em fevereiro de 2014, Dinucci (guitarra) e Campos (cavaquinho e guitarra) se juntam a Juçara e a Thomas Rohrer (rabeca) no show Encarnado, que estreou em São Paulo (SP) em 15 de abril e chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 14 de junho de 2014, em apresentação no palco do estúdio Audio Rebel, aonde fica em cartaz somente até hoje. Eis o roteiro seguido por Juçara Marçal - em foto de Rodrigo Goffredo - na estreia carioca do (arrebatador) show Encarnado:
1. Velho amarelo (Rodrigo Campos, 2014)
2. Damião (Douglas Germano e Everaldo Ferreira da Silva, 2011)
3. Queimando a língua (Romulo Fróes e Alice Coutinho, 2014)
4. Pena mais que perfeita (Gui Amabis e Régis Damasceno, 2012)
5. Xote de navegação (Dominguinhos e Chico Buarque, 1998)
6. Odoyá (Juçara Marçal, 2014)
7. Ciranda do aborto (Kiko Dinucci, 2014)
8. Canção para ninar Oxum (Douglas Germano, 2014)
9. E o Quico? (Itamar Assumpção, 1983)
10. Não tenha ódio no verão (Tom Zé, 2008)
11. Comprimido (Paulinho da Viola, 1973)
12. João Carranca (Kiko Dinucci, 2014)
13. Presente de casamento (Thiago França e Romulo Fróes, 2014)
14. A velha da capa preta (Siba Veloso, 2007)
Bis:
15. Opinião (Zé Kétti, 1964)
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Disco solo de Juçara, 'Encarnado', ganha edição física feita com serigrafia
Lançado em fevereiro deste ano de 2014, em edição digital disponibilizada para download gratuito e legalizado, o primeiro álbum solo da cantora paulistana Juçara Marçal - Encarnado, já garantido na lista de melhores discos do ano - ganha neste mês de abril uma especial edição física de tiragem limitada. As cópias desta tiragem especial de lançamento foram feitas com o uso de serigrafia e impressas manualmente - o que valoriza o projeto gráfico do disco, criado por Rubens Amatto a partir de desenho feito pelo guitarrista Kiko Dinucci, que coproduziu o álbum ao lado do também guitarrista Rodrigo Campos e da própria Juçara Marçal. É luxo só!!!
segunda-feira, 31 de março de 2014
Galo, Gil e Juçara lançam os três melhores CDs brasileiros do trimestre
Editorial - O primeiro trimestre de 2014 chega hoje ao fim, deixando como legado três álbuns brasileiros que já estão garantidos na lista de melhores discos do ano, com fôlego para serem cultuados no futuro. Três álbuns de universos musicais distintos, mas que têm em comum o fato de terem merecido a cotação máxima de Notas musicais. Três CDs que fizeram jus às cinco estrelas por fazerem a diferença em mercado fonográfico viciado em redundantes registros ao vivo e em fórmulas fáceis. Asa - o primeiro disco solo do cantautor paulistano Gustavo Galo, integrante da Trupe Chá de Boldo - saiu em fevereiro com som cru, minimalista, contemporâneo. Um disco embebido em poesia e melodia. Também em fevereiro, a cantora paulista Juçara Marçal debutou solo com seu já antológico Encarnado. Um disco que cospe sangue ao encarar a morte, provando que a cena indie paulistana está bem viva. Na ótima companhia das guitarras cortantes de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, Juçara apresentou álbum feito no fio da navalha. Um imediato clássico instantâneo que joga expectativa sobre o show programado para estrear em São Paulo (SP) em 15 de abril. Por fim, em março, Gilberto Gil mostrou aos críticos o álbum - também já antológico - que vai chegar oficialmente ao mercado fonográfico a partir de 1º de abril via Sony Music. Ao abordar o repertório de João Gilberto em Gilbertos samba, o artista baiano roçou a perfeição atingida por seu mestre, gravando um disco lindo e leve no qual tudo está no seu lugar. Um disco para ser entendido e apreciado por quem entende e aprecia João. Ao lado de Galo e de Juçara, Gil mostrou neste primeiro trimestre de 2014 que o pulso da música brasileira ainda pulsa em nichos do mercado.
domingo, 2 de março de 2014
'Encarnado', CD incisivo de Juçara, jorra sangue novo ao encarar a morte
Resenha de CD
Título: Encarnado
Artista: Juçara Marçal
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * * *
Disco disponível para download no site oficial da artista
Título: Encarnado
Artista: Juçara Marçal
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * * *
Disco disponível para download no site oficial da artista
Disco solo de Juçara Marçal, cantora do grupo paulistano Metá Metá, Encarnado jorra sangue novo na música brasileira ao encarar a morte, mote deste álbum desnorteante, angustiante, incisivo, contundente. Disco gravado em novembro de 2013 no estúdio El Rocha, em São Paulo (SP), Encarnado enfia a navalha na carne no toque cortante das guitarras de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, músicos fundamentais na construção da arquitetura das 12 faixas do álbum. Campos toca também cavaquinho. A crueza da sonoridade extraída das cordas - das quais faz parte também a rabeca de Thomas Rhorer - sublinha o tom rascante dos versos decididos. Sem piedade, sem dó, como pedem as letras da inédita Velho amarelo (Rodrigo Campos) - música sobre a finitude que escancara as vísceras de Encarnado já na abertura do disco - e de Damião (Douglas Germano e Everaldo Ferreira da Silva), música já lançada por Douglas Germano no álbum Ori (2011), mas que soa como inédita, deixando Encarnado no fio da navalha embebida em sede de vingança, já que os versos imaginam a revanche raivosa de Damião Ximenes Lopes, cearense morto, em outubro de 1999, por conta de espancamento e maus tratos sofridos na Casa de Repouso Guararapes, em Sobral (CE), aonde tinha sido internado com transtornos mentais. "Dá neles, Damião! / Mira no meio da cara / Dá com pé, com pau, com vara / Bate até virar a cara da nação", canta Juçara na faixa dedicada a Damião. É um canto movido a ódio indignado. "Ódio que pega como planta que se rega", como poetiza Tom Zé, compositor de Não tenha ódio do verão, música do álbum Tropicália lixo lógico (2008) revivida com propriedade por Juçara no CD. Encarnado tira sujeiras debaixo do tapete com som quente, sujo, direto. Inédita de Romulo Fróes e Alice Coutinho de cuja letra foi extraído o título Encarnado, Queimando a língua mantém a temperatura febril do álbum. Nesse clima abrasivo, Pena mais que perfeita (Gui Amabis e Regis Damasceno), música registrada por Amabis no disco Trabalhos carnívoros (2012), preserva o ponto de fervura no toque da rabeca de Rhorer e no tempo mais delicado do canto de Marçal. Que parece imerso em águas turvas na faixa-vinheta Odoyá, tema da lavra própria da cantora e compositora. Na sequência, a Ciranda do aborto, inédita de Kiko Dinucci, passa novamente a navalha na carne, expondo as vísceras que tornam Encarnado um dos discos mais vitais dos últimos tempos. O toque das guitarras sublinham o estrago feito no corpo e na alma. Com a ferida aberta e as fraturas expostas, Canção pra ninar Oxum tenta estancar as lágrimas em tom acariciante. Mas a vida é susto constante. E o Quico? - música de Itamar Assumpção (1949 - 2003), lançada pelo Nego Dito no álbum Sampa midnight (1983) - assombra com sua sintonia com o espírito de Encarnado. E a morte volta a espreitar na forma tradicional d'A velha da capa preta (Siba Veloso), música do álbum Todo vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar (2007), de Siba, que exala certo sarcasmo ao lembrar que a morte já pode se aposentar, deixando a humanidade matando em seu lugar. Ou se deixando morrer. Afinal, Presente de casamento (Thiago França e Romulo Fróes) lembra que as pessoas e as uniões afetivas morrem em vida. No fim, um samba de levada tradicional, à moda do cadência paulistana do samba do compositor Adoniran Barbosa (1910 - 1982), João Carranca (de Kiko Dinucci) faz outra crônica da morte, ressaltando no arremate de Encarnado que o belo pode vir a espantar. Como este disco de Juçara Marçal, que talvez não seja exatamente um disco solo porque toda a beleza vem do diálogo cortante do canto da intérprete com as guitarras cruas, quase punks, de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, ambos tão importantes quanto Juçara para o alcance da perfeição do álbum, já na lista de melhores de 2014. A morte cai esplendidamente bem em Encarnado.
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