Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Prince lança na internet música inédita, 'Screw driver', sem informações

Prince - em foto feita para a revista Billboard - lançou música inédita em seu site oficial. Intitulada Screw driver, a música já está em alta rotação na internet com vídeo que exibe a letra do tema entre imagens do registro ao vivo da música. Não há detalhes sobre a gravação. Não se sabe se Screw driver integra repertório de álbum que estaria em processo de produção.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Enérgico, 'True north' rebobina o punk no tempo (veloz) do Bad Religion

Resenha de CD
Título: True north
Artista: Bad Religion
Gravadora: Epitaph Records
Cotação: * * * *

Ao discorrer sobre o 16º álbum de estúdio do Bad Religion, True north, o guitarrista do grupo norte-americano - Brett Gurewitz, produtor do disco ao lado de Joe Barresi - revelou que a intenção da banda foi fazer um disco com a energia e a velocidade do punk sem prejuízo do que Gurewitz chama de densidade conceitual. Dito e feito. Lançado nos Estados Unidos nesta terça-feira, 22 de janeiro de 2013, True north vai converter os fãs fiéis do Bad Religion, grupo em atividade desde 1979 com sua combinação de punk e hardcore. Trata-se de álbum coeso, enérgico, veloz. Literalmente rápido. Tanto que apresenta 16 músicas em pouco mais de meia hora. Sucessor de The dissent of man (2010), True north mostra uma banda afiada. Sem jamais trair o espírito punk do disco, Greg Graffin dá voz a temas velozes e furiosos como Fuck youLand of endless greed e Vanity (esta já divulgada pela banda antes do lançamento do álbum, assim com a música-título True north). Não há novidades, exceto o fato de o guitarrista Brett Gurewitz se aventurar como cantor na faixa Dharma and the bomb sem deixar o CD perder pique. A queda de velocidade acontece somente em Hello cruel world, faixa mais lenta e menos envolvente. Past is dead começa como balada, mas logo se ajusta ao tempo punk de True north. Repleto de temas ganchudos, com refrãos e acabamento pop nem sempre perceptíveis no cancioneiro do universo punk, True north reitera o estilo clássico do Bad Religion com competência. É álbum à altura da discografia áurea (e das origens) da banda.

Dança arretada de Elba dribla desequilíbrio da produção de seu 31º disco

Resenha de CD
Título: Vambora lá dançar
Artista: Elba Ramalho
Gravadora: Sala de Som Records
Cotação: * * * 

Vambora lá dançar - o disco que Elba Ramalho lança esta semana e que chega efetivamente às lojas no início de fevereiro de 2013 - concentra duas produções distintas. Oito de suas 14 faixas foram produzidas e arranjadas por Cézar Thomáz - o sanfoneiro Cezinha - para um disco que originalmente iria se chamar Forró brasileiro. As outras seis foram pilotadas, em momento posterior, por Zé Américo Bastos, que retocou as gravações formatadas por Cezinha. Há evidente desequilíbrio entre as duas produções. A de Cezinha é mais orgânica. Mais eletrônica, a de Zé Américo recorre a programações de bateria e percussão com resultado nem sempre adequado ao (ótimo) repertório selecionado por Elba para seu 31º disco. Só que a cantora é paraibana valente. Aos 61 anos, ainda em boa forma vocal, a intérprete dribla essa irregularidade da produção e apresenta bom álbum. Vambora lá dançar não alça o alto voo artístico do moderno Qual o assunto que mais lhe interessa? (2007) - o melhor disco de Elba na fase independente da artista - mas se situa no mesmo bom nível de Balaio do amor (2009), o anterior álbum de estúdio da cantora. Dedicado aos xotes românticos, Balaio de amor foi produzido com mais uniformidade, mas sem a salutar diversidade rítmica de Vambora lá dançar. O atual disco tem xote que segue a toada romântica recorrente na discografia da artista  - Minha vida é te amar, pérola de 1993 pescada por Elba no baú dos compositores Dominguinhos e Nando Cordel - e tem aqueles sexualizados forrós típicos do repertório da cantora, casos de Não chora, não chora não (Petrúcio Amorim) e de Na rede (Nando Cordel). Mas também transita por ritmos bissextos na obra da artista como maracatu - representado por Fibra de cristal (Sérgio Sá), faixa de sons sintetizados, repleta de programações e teclados que abafam a batida percussiva do gênero - e bumba-meu-boi, explicitado já no título da faixa Amor de bumba-meu-boi (Rogério Rangel). A rigor, o tempero de samba baiano posto em dois forrós da dupla Antonio Barros e Cecéu - Tu de lá, eu de cá e Deitar e rolar - são ousadias estilísticas mais arretadas do que as incursões do disco pelo modernoso terreno eletrônico. A introdução de Deitar e rolar evoca até a levada do samba-rock. Música lançada em 2003 pela cantora Maíra Barros, em CD produzido por Zé Américo Bastos, Embolar na areia é envolvente tema nordestino da obra do compositor Herbert Azul que abre Vambora lá dançar com  os timbres eletrônicos que pontuam o álbum - no caso, em bom contraponto com a guitarra de Pedro Braga. Essa alta dose de eletrônica é reutilizada na regravação de Frevo meio envergonhado, xote da cantora e compositora carioca Monique Kessous, lançado pelo autora em disco de 2008. Música de cuja letra Elba extraiu o título Vambora lá dançarFrevo meio envergonhado deu o pontapé inicial na promoção do disco em novembro de 2012, mas a atual música de trabalho é Por que tem que ser assim? (Chico Pessoa e Cezinha), balada de coração partido temperada com o sabor suave do xote romântico. Gênero cada vez mais recorrente na discografia de Elba, o xote é o ritmo usado pela cantora para embalar uma das mais belas canções do compositor mineiro Vander Lee, Onde Deus possa me ouvir, lançada por Gal Costa no álbum Bossa Tropical (2002) e recriada por Leila Pinheiro em gravação exemplar de 2005 que respeitou o tom triste da canção, diluído no registro de Elba. E por falar em Bossa Tropical, Elba também dá voz em Vambora lá dançar à outra música deste (subestimado) CD de Gal. Trata-se de Quando eu fecho os olhos, uma das mais lindas baladas do cancioneiro de Chico César, escrita com letra de Carlos Rennó. A boa gravação de Elba é a faixa com maior potencial comercial fora do eixo nordestino. Já a abordagem de Mucuripe (Fagner e Belchior) - o clássico lançado por Elis Regina (1945 - 1982) - se ressente da falta de uma emoção mais genuína, mais interiorizada. Soa até dispensável em disco que termina em clima arretado com Forró brasileiro (Cezinha e Fábio Simões). Mesmo com essa desigualdade na produção (e, justiça seja feita, as oito faixas feitas por Cezinha têm mais vivacidade), Vambora lá dançar deixa boa impressão e soa coerente com a obra de Elba.

Vespas Mandarinas finaliza entre Rio e SP álbum feito com Rafael Ramos

Em ascensão na cena indie após o lançamento de dois EPs, Da doo ron ron (2010) e o segundo Sasha Grey (2011), a banda paulista Vespas Mandarinas finaliza seu primeiro álbum produzido por Rafael Ramos. Previsto para ser lançado neste primeiro semestre de 2012, via Deck, o disco teve suas gravações divididas entre os estúdios Tambor (RJ) e Costella (SP). O repertório totaliza 11 músicas. O quarteto é formado pelo ex-Forgotten Boys Chuck Hipolitho (guitarra e voz), Thadeu Meneghini (guitarra e voz), Flavio Guarnieri (no baixo) e André Dea (na bateria).

Leo Russo lança CD produzido por Rildo que traz Velha Guarda da Portela

Projetado no circuito de samba da Lapa, bairro do Centro do Rio de Janeiro (RJ), o cantor carioca Leo Russo - nome artístico de Leonardo Bernardes Russo - se prepara para lançar seu primeiro CD neste primeiro semestre de 2013. Produzido por Rildo Hora, o disco começou a ser gravado em novembro de 2012. Integrantes da Velha Guarda da Portela gravaram participação na faixa Só pra chatear, samba do compositor carioca José Luiz da Costa, o Príncipe Pretinho. 

Guns N' Roses vai lançar gravação ao vivo filmada em 3D em Las Vegas

O grupo Guns N' Roses vai lançar neste ano de 2013, em data ainda incerta, o registro ao vivo audiovisual do show Appetite for democracy, captado em 3D em 21 de novembro de 2012, durante a temporada feita por Axl Rose & Cia. no Hard Rock Hotel & Casino, em Las Vegas (EUA). Extraído da apresentação, o clipe de Paradise city já está em rotação na internet com oito minutos. O filme Appetite for democracy vai ser exibido nos cinemas e editado em DVD.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Musicalidade de Ângelo sustenta abordagem de Antonio Maria por Redig

Resenha de CD
Título: Antonio Maria Menino grande
Artista: Clara Redig
Gravadora: Sem indicação
Cotação: * * 

Criada à flor da pele, a obra do pernambucano Antonio Maria Araújo de Morais (1921 - 1964) expõe arrebatamentos, solidões, amores e desilusões em doses fartas. Pede geralmente cantoras arrebatadas, de voz e emoção à flor da pele. A carioca Clara Redig é do time oposto, formado pelas intérpretes de canto mais delicado, íntimo, quase cool. Mesmo assim, a cantora se arrisca e dá sua voz pequena, mas afinada e bem colocada, ao cancioneiro de Maria neste Menino grande. Lançado de forma independente ao fim de 2012, o disco foi produzido por Redig sob a direção musical de Nelson Ângelo. São os arranjos refinados de Ângelo que valorizam o disco. A marca do arranjador está perceptível no toque jazzy de O amor e a rosa (Pernambuco e Antonio Maria) - tema ambientado em clima íntimo que evoca o aconchego de uma boate - e na renovada harmonia de Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria). Por mais que seu canto esteja ajustado ao tom dos arranjos, ou talvez por isso mesmo, Redig dilui toda a sensação de tristeza e abandono que dá sentido ao samba-canção Ninguém me ama (Fernando Lobo e Antonio Maria). Preconceito - outro samba-canção composto por Maria em parceria com o conterrâneo Fernando Lobo (1915 - 1996) - também exige intérprete mais enfática. Inadequações à parte, o repertório de Menino grande - CD aberto e fechado com acalanto que lhe dá título - surpreende nas poucas vezes em que sai do óbvio. Parceria de Maria com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), Dobrado de amor a São Paulo é frevo apaixonado que celebra a maior cidade do Brasil com certa ironia e citação na letra da Avenida São João - a rua que, anos depois, faria bater o coração de Caetano Veloso em versos lapidares de Sampa, a ode do compositor baiano à sua São Paulo. Outra surpresa é Meu contrabaixo, samba em tom menor assinado por Maria com o compositor carioca Zé da Zilda (1908 - 1954). Enfim, sem sair do seu tom, Clara Redig canta Antonio Maria à sua moda, guiada pela firme direção musical de Nelson Ângelo, cujos arranjos impedem que Menino grande se apequene no player.

Gessinger grava seu primeiro álbum totalmente de inéditas em dez anos

O cantor e compositor gaúcho Humberto Gessinger grava em Porto Alegre (RS) álbum de inéditas - o primeiro com repertório inteiramente novo desde Dançando em campo minado (2003), CD lançado pelo grupo Engenheiros do Hawaii há dez anos. O disco vai ter intervenções de Luis Carlos Borges, Nico Nicolaiewsky (metade da dupla que encenou o espetáculo Tangos & tragédias), Bebeto Alves e Frank Solari, entre outros músicos associados ao pop dos Pampas.

Primeiro disco de Macalé ganha reedição com faixas-bônus dos anos 70

Primeiro disco de Jards Macalé, o compacto duplo Só morto Burning night - lançado sem repercussão em 1970 pela extinta gravadora RGE -  ganha em março reedição produzida pelo pesquisador Marcelo Fróes para o selo Discobertas. Turbinada com dez faixas-bônus, a reedição festeja os 70 anos que o cantor, compositor e músico carioca vai completar em 3 de março de 2013. Às quatro músicas originais do compacto, gravado por Macalé com a banda Soma e com intervenções do piano de Zé Rodrix (1947 - 2009) e da percussão de Naná Vasconcelos, a reedição do selo Discobertas acrescenta dez gravações ao vivo captadas entre 1970 e 1973. Entre estas faixas-bônus, há registros até então inéditos em disco. As quatro músicas originais do seminal disco são Soluços (Jards Macalé), O crime (Jards Macalé e José Carlos Capinam), a faixa-título Só morto [Burning night] (Jards Macalé e Duda) e Sem essa (Jards Macalé e Duda).

Grupo suíço de metal, Ghost grava tema do ABBA com adesão de Grohl

O grupo sueco de metal Ghost gravou música do ABBA - quarteto também originário da Suécia que seduziu o universo pop nos anos 70 - com a adesão da bateria do cantor, compositor e músico norte-americano Dave Grohl, da banda Foo Fighters. Produzido pelo próprio Grohl, o cover de I'm a marionette - música de Björn Ulvaeus e Benny Andersson, lançada pelo ABBA em seu quinto álbum, ABBA - The Album (1977) - foi feito pelo Ghost para o lado B do single Secular Haze, cujo lançamento está agendado para 17 de abril de 2013. Secular Haze é uma das 10 músicas do segundo álbum do Ghost, Infestissumam, que será editado neste semestre.

Eficaz fórmula pop de Williams dá sinal de exaustão em 'Take the crown'

Resenha de CD
Título: Take the crown
Artista: Robbie Williams
Gravadora: Island Records / Universal Music
Cotação: * * 

Nono álbum de estúdio de Robbie Williams, Take the crown exaure a eficaz fórmula pop do cantor e compositor britânico. Com exceção da última das 11 faixas do disco (Losers, azeitado cover acústico da música do duo norte-americano The Belle Brigade, feito por Williams em dueto com a cantora norte-americana Lissie), o repertório de Take the crown (2012) parece enquadrado dentro dos padrões do pop industrializado. Parceria do artista com Gary Barlow (colega do reativado Take That) e Terje Olsen, Candy  exemplifica o tom descaradamente pop de disco que soa meramente correto, sem aquele algo a mais. Williams canta pop na forma de soft rocks (como Be a boy), de electro (Shit on the radio, de título sintomático) e de baladas (caso de Different). Em Into the silence, o astro até tenta sair da superficialidade. Mas a impressão é a de que todas as músicas de Take the crown foram pensadas e formatadas para as arenas. Tim Metcalfe e Flynn Francis são os parceiros de Williams em boa parte das canções. Contudo, o cantor volta a dar sinais de cansaço como compositor em Take the crown - tal como dera em Intensive care (2005). A crise foi disfarçada em Rudebox (2006) - álbum eletrônico em que o cantor se jogou na pista do produtor William Orbit - e atenuada no posterior Reality killed the video star (2009), bom CD que repôs Williams em porto seguro. Só que a audição de músicas como All that i want e a boboca Hey wow yeah yeah sinalizam que a crise voltou. A acomodação de Williams passa dos limites complacentes do universo pop.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Jack White abre parceria com selo escocês para relançar discos de blues

Jack White vai relançar antigas gravações de blues no fim deste mês de janeiro de 2013. Produzidas em formato de vinil, tais reedições foram viabilizadas através de uma parceria da gravadora do cantor e compositor norte-americano, Third Man Records, com o selo escocês Document Records. White vai relançar em vinis  as obras completas do cantor e guitarrista norte-americano Blind Willie McTell (1898 - 1959), do guitarrista norte-americano Charley Patton (1887/1891 - 1934) - considerado o pai do Delta Blues - e do grupo norte-americano The Mississippi Sheiks (atuante na década de 30). Os LPs já estão em pré-venda no site oficial da gravadora Third Man Records. Esses três títulos são os primeiros da série do selo de White.

Isca de Polícia fisga Zélia ao reavivar no Rio obra vanguardista de Itamar

Resenha de show
Título: Nego Dito - Uma homenagem a Itamar Assumpção
Artista: Isca de Polícia com participação de Zélia Duncan (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de janeiro de 2013
Cotação: * * * *

Se Zélia Duncan abre a janela pop do cancioneiro de Itamar Assumpção (1949 - 2003) no irretocável e recém-lançado álbum Zélia Duncan canta Itamar Assumpção - Tudo esclarecido (2012), a banda Isca de Polícia continua em cena para preservar o espírito vanguardista dessa obra que desafiou tradições da MPB na virada dos anos 70 para os 80. Tal contraste de abordagens do repertório do compositor revestiu de significado especial o inédito encontro da cantora fluminense com a banda paulista no palco do teatro do Oi Futuro Ipanema, no quarto e último show do ciclo Nego Dito - Uma homenagem a Itamar Assumpção, apresentado na noite de 19 de janeiro de 2013. E talvez por esse contraste - diluído em cena pela pegada firme da Isca de Polícia - o encontro tenha resultado tão interessante, tão feliz. Banda criada em 1979 por Itamar para traduzir em sons as ideias que originaram a música enquadrada no rótulo Vanguarda Paulista, a Isca de Polícia fisgou Zélia para expor a face original dessa obra que continua instigante 30 anos após a edição (independente) do primeiro LP de Itamar, Beleléu leléu eu (1980). À vontade no universo de Itamar, Zélia mordeu a isca desde que entrou em cena no meio de Por que eu não pensei nisso antes? (Itamar Assumpção, 1998), música gravada pela cantora em seu álbum Sortimento (2001). Admiradora confessa do estilo teatral do canto das vocalistas da Isca de Polícia, Zélia pegou imediatamente o espírito da coisa. Seu entrosamento com as cantoras Suzana Salles e Vange Milliet foi total. O prazer em celebrar a obra de Itamar dez anos após a morte do compositor - objetivo maior do ciclo de shows - ficou evidente em cada um dos sete números feitos por Zélia com a banda. Marcado por gestuais teatrais, o reggae Dor elegante (Itamar Assumpção, 1998) exemplificou a sintonia fina do trio. Mesmo sem o trombonista Bocato, ausente na apresentação de 19 de janeiro de 2013 por problemas de saúde, o guitarrista Jean Trad, o baterista Marco da Costa - bem-sucedido na função ingrata de substituir o imenso Gigante Brasil (1952 - 2008) - e o baixista Paulo Lepetit puseram pressão em temas como Devia ser proibido (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 2010) e Mal menor (Itamar Assumpção, 1988), balada de tonalidade mais íntima em que a voz de Zélia travou diálogo sutil com a guitarra de Trad. A funky Vou tirar você do dicionário (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 1993) encerrou de forma eletrizante a participação de Zélia, que voltou no bis para cantar Leonor (Itamar Assumpção, 2004) - deitando e rolando com Suzana e Vange nas quebradas do samba - e para encarar Nego Dito (Itamar Assumpção, 1980), incisivo tema da fase inicial da obra do compositor, então moldada por estética mais teatral. Justiça seja feita: a intensa participação de Zélia Duncan no show jamais anulou o brilho das vocalistas da Isca de Polícia. Antes da entrada da convidada do quarto show (Arrigo Barnabé, Moska e B Negão entraram em cena nas três apresentações anteriroes), Suzana Salles e Vange Milliet já tinham conquistado o público ao apresentar músicas como a inédita Beleléu via Embratel (Itamar Assumpção) - exemplo do canto falado e teatral introduzido na música brasileira pela turma da Vanguarda Paulista - e Baby (Itamar Assumpção, 1980), tema do primeiro álbum de Itamar, gravado com a guitarra de Jean Trad. A interação entre as vocalistas valorizou músicas como Anteontem (Melô da U.T.I.) (Itamar Assumpção) e Eu tenho medo (Itamar Assumpção, 2010), ambas lançadas no terceiro e último volume da série Pretrobrás, Devia ser proibido (2010). Rara parceria de Itamar com o poeta Waly Salomão (1943 - 2003), Zé Pelintra (1988) corroborou a força dessa obra no solo de Suzana Salles. "É um som surpreendente que ainda nos emociona e, por isso, a gente continua (o) fazendo", ressaltou Vange Milliet, que se comunicou bem com a plateia ao descer do palco para interagir com o público ao solar a dissonante Se eu fiz tudo (Itamar Assumpção, 1980). Enfim, o projeto Nego Dito - Uma homenagem a Itamar Assumpção deixa a certeza de que a obra de Itamar Assumpção continua viva e vivaz uma década após a precoce saída de cena do compositor. O Nego (ben)Dito invocou, brigou, mas fez e aconteceu enquanto esteve sob os holofotes indies.

Isca de Polícia refaz o roteiro paulista da obra de Itamar em show no Rio

Sem preocupações cronológicas ou didáticas, a banda paulista Isca de Polícia celebrou a obra de Itamar Assumpção (1949 - 2003) em série de quatro shows apresentados no Rio de Janeiro (RJ) no projeto Nego Dito - Uma homenagem a Itamar Assumpção. Idealizado para reverenciar o compositor neste ano de 2013 em que sua precoce saída de cena completa uma década, o ciclo de shows foi apresentado no teatro do Oi Futuro Ipanema neste fim de semana e no anterior. Cantora que está lançando disco inteiramente dedicado ao cancioneiro de Itamar Assumpção, Tudo esclarecido, Zélia Duncan - vista com a Isca de Polícia na foto de Rodrigo Amaral - foi a convidada do quarto e último show. "Fui parar nos Mutantes, mas o que eu queria mesmo era cantar na banda Isca de Polícia", brincou a cantora após fazer o primeiro de seus sete números no show, Por que eu não pensei nisso antes? (Itamar Assumpção, 1998). Com exceção de Na cadência do samba (Ataulfo Alves e Paulo Gesta, 1962), cantada pela vocalista Vange Milliet para lembrar o disco Ataulfo Alves por Itamar Assumpção - Pra sempre agora (1996), todas as músicas do show têm a assinatura pessoal e intransferível do compositor paulista. Eis o roteiro seguido pela banda Isca de Polícia no show feito no Rio de Janeiro (RJ) em 19 de janeiro de 2013 com a adesão calorosa de Zélia Duncan:

1. Dentro fora (Itamar Assumpção)
2. Beleléu via Embratel (Itamar Assumpção) - música inédita
3. Baby (Itamar Assumpção, 1980)
4. Anteontem (Melô da U.T.I.) (Itamar Assumpção, 2010)
5. Eu tenho medo (Itamar Assumpção, 2010)
6. Zé Pelintra (Itamar Assumpção e Waly Salomão, 1988)
7. Que tal o impossível? (Itamar Assumpção, 2010)
8. Se eu fiz tudo (Itamar Assumpção, 1980)
9. Por que eu não pensei nisso antes? (Itamar Assumpção, 1998) - com Zélia Duncan
10. Devia ser proibido (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 2010) - com Zélia Duncan
11. Mal menor (Itamar Assumpção, 1988) - com Zélia Duncan
12. Dor elegante (Itamar Assumpção e Paulo Leminski, 1998) - com Zélia Duncan
13. Vou tirar você do dicionário (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 1993) - com Zélia Duncan
14. Já deu pra sentir (Itamar Assumpção e Marcus Miller, 1987)
15. Na cadência do samba (Ataulfo Alves e Paulo gesta, 1962)
16. Fico louco (Itamar Assumpção, 1980)
17. Beijo na boca (Itamar Assumpção, 1980)
Bis:
18. Leonor (Itamar Assumpção, 2004) - com Zélia Duncan 
19. Nego Dito (Itamar Assumpção, 1980) - com Zélia Duncan

Paramore revela os nomes das músicas do álbum que vai lançar em abril

O grupo norte-americano Paramore revelou os nomes das 17 músicas de seu quarto álbum de estúdio - o primeiro gravado por Hayley Williams (voz), Jeremy Davis (baixo) e Taylor York (guitarra) desde que o Paramore ficou reduzido a um trio por conta da saída dos irmãos Josh Farro e Zac Farro, em 2010. Precedido pelo single Now, que gerou clipe filmado sob a direção de Daniel Cloud Campos, o álbum se chama Paramore e tem lançamento agendado para 9 de abril de 2013. Gravado de abril a novembro de 2012, com produção de Justin Meldal-Johnsen, o CD totaliza 17 faixas, contabilizados os três interlúdios. Eis as 17 músicas do CD Paramore:

1. Fast in my Car
2. Now
3. Grow up
4. Daydreaming
5. Interlude: Moving on
6. Ain’t it fun
7. Part II
8. Last hope
9. Still into you
10. Anklebiters
11. Interlude: Holiday
12. Proof
13. Hate to see your heart break
14. One of those (Crazy girls)
15. Interlude: I’m not angry anymore
16. Be alone
17. Future

Karina cai no samba em CD que tem músicas de Arlindo, Brown e Meriti

Dois sambas lançados por Carlinhos Brown em seu álbum Diminuto (Candyall Music / Sony Music, 2010) - Centro da saudade (Carlinhos Brown, Pedro Baby e Davi Moraes) e Você merece samba (Carlinhos Brown) -  ganham a voz da cantora paranaense no CD intitulado justamente Você merece samba. Posto nas lojas neste mês de janeiro de 2013, com distribuição da Sony Music, o disco produzido por Leandro Sapucahy celebra o ritmo que lhe dá título em faixas como Primeiro samba (Serginho Meriti, Rodrigo Leite, Mi Barros e Fátima Lima) e Sem sapato alto (Claudemir, Dado e Ricardo Moraes). Karina dá voz trivial a sambas assinados por Arlindo Cruz, Claudemir, Rodrigo Leite e Serginho Meriti, entre outros compositores. Os arranjos são divididos entre o violonista Jerominho Fernandes e os tecladistas Jota Moraes e Valério Brair.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Nem a obra de Ary e a atuação de Diogo Vilela salvam musical sem vida

Resenha de musical
Título: Ary Barroso - Do princípio ao fim
Texto e direção: Diogo Vilela
Supervisão artística: Amir Haddad
Direção musical e arranjos: Josimar Carneiro
Elenco: Diogo Vilela (como Ary Barroso), Alan Rocha, Ana Baird, Esdras de Lucia,
           Marcos Sacramento, Mariana Baltar, Reynaldo Machado e Tânia Alves
Cotação: *
Musical em cartaz no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, até 31 de março de 2013

Um dos melhores atores de sua geração, Diogo Vilela já viveu nos palcos de forma convincente os cantores Nelson Gonçalves (1919 - 1998) e Cauby Peixoto. No musical Ary Barroso - Do princípio ao fim, que estreou esta semana no Rio de Janeiro (RJ), Vilela encarna a personagem-título, umas das figuras exponenciais da música brasileira pré-Bossa Nova. Mais uma vez, a atuação e a caracterização do ator são primorosas. Mas nem o talento do ator e tampouco a obra magistral do compositor mineiro - passada em revista ao longo dos 25 números do musical - salvam um espetáculo sem vida e sem ação, motor do bom teatro. Em sua estreia como dramaturgo, Vilela criou texto essencialmente narrativo que por vezes resulta didático e artificial. O musical situa Ary Barroso (1903 - 1964) em seu leito de morte, no domingo de Carnaval em que a escola de samba carioca Império Serrano iria desfilar com o samba-enredo Aquarela brasileira (Silas de Oliveira). Ao longo de 150 minutos, o musical se arrasta em cena com as tentativas de quatro ritmistas da escola - vividos pelos atores-cantores Alan Rocha, Esdras de Lucia, Marcos Sacramento e Reynaldo Machado - de convencer o compositor a testemunhar a homenagem que iria lhe ser prestada pela agremiação no desfile. Esse é o pretexto para que, entre lembranças e delírios, Ary rememore os principais fatos de sua biografia. A obra em si do compositor é genial. Contudo, sua execução em cena também resulta geralmente sem brilho. Como cantor, Diogo Vilela continua sendo um extraordinário ator - como fica evidente já no segundo número, o inédito samba-choro Quantas vezes já morri (Josimar Carneiro e Diogo Vilela, 2012), composto para o musical. Para piorar o quadro, a direção musical e os arranjos de Josimar Carneiro pecam pela falta de vibração nos sambas. Mas merece menção honrosa o belo arranjo vocal criado para o samba Na baixa do sapateiro (Ary Barroso, 1938) no fecho do (longo) primeiro ato. Ana Baird - que no segundo ato entra na pele da atriz paulista Alda Garrido (1896 - 1970) em monólogo desconectado da linha narrativa do musical - responde por alguns dos melhores momentos musicais desse primeiro ato. Suas interpretações dos sambas-canção Folha morta (Ary Barroso, 1950) - cantado por Baird na pele de Aracy Cortes (1904 - 1985), cantora carioca retratada como egocêntrica no texto - e Na batucada da vida (Ary Barroso e Luís Peixoto, 1934) são sopros de vivacidade em musical de tom por vezes fúnebre. Destaque do elenco feminino, Baird também consegue evocar bem a figura da cantora paulista Linda Batista (1919 - 1988) quando dá voz ao samba-canção Risque (Ary Barroso, 1952). Com presença mais discreta no ingrato papel de Ivone, esposa de Ary, Tânia Alves tem seu momento ao entoar o samba-canção Tu (Ary Barroso, 1934). Boa cantora, Mariana Baltar faz o que pode no papel de Carmen Miranda (1909-1955), encarando até cena constrangedora em que a Pequena Notável entra num caixão! De seus números musicais, merece menção o medley que junta Eu dei... (Ary Barroso, 1937), Como vaes você? (Ary Barroso, 1937) e Salada mista (Ary Barroso, 1938). Tal número é aberto por inacreditável (e dispensável no contexto do musical) versão em inglês escrita pelo letrista Ray Gilbert (1912 - 1976) para Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1946).  Bom cantor, Marcos Sacramento também se ressente da linha equivocada do musical. Ainda assim, Sacramento se faz notar quando, na pele do pai de Ary, canta Três lágrimas (Ary Barroso, 1939) à beira do leito do filho (uma cama de hospital, aliás, é o elemento principal do cenário de Beli Araújo). Do time masculino, Reynaldo Machado também se destaca em cena com boa voz, mesmo sendo posto para cantar Camisa amarela (Ary Barroso, 1939), música escrita pelo compositor sob ótica feminina. No segundo ato, a encenação do programa de calouros comandado pelo severo Ary garante algum riso - assim como a encenação do dueto de Boneca de pixe (Ary Barroso e Luis Iglézias, 1938). A execução de trecho do Hino do Flamengo (Lamartine Babo, 1945) também provoca comunicação imediata com a plateia. Mas não a ponto de justificar a (falta de) ação de Ary Barroso - Do princípio ao fim. Do jeito que a vida e a música de Ary estão encenadas por Vilela, o musical provoca enfado. Ao se revezar nas funções de autor, diretor e ator protagonista do espetáculo, que culmina com a apresentação da clássica Aquarela do Brasil (Ary Barroso, 1939) em tom que oscila entre o acalanto, a marcha fúnebre e (enfim) samba, Diogo Vilela acaba apresentando trabalho aquém do seu currículo e da importância capital de Ary Barroso na música brasileira. Ary Barroso - Do princípio ao fim é um musical de morte...

DVD 'Eskute e veja Blitz', lançado em 2010, é reeditado via Radar Records

De volta ao catálogo no fim deste mês de janeiro de 2013, em reedição da Radar Records, o DVD Eskute e veja Blitz (2010) - lançado há três anos pela CD Promo - remete no título ao nome do último (bom) álbum de inéditas da banda carioca, Eskute Blitz (2009). Grande parte das músicas do roteiro - Voo cego, Zero absoluto, Corações na calça jeans, O garoto sonha, Skut, Baseado em Clarice, entre alas - vem deste disco de 2009. Mas o roteiro rebobina também os hits colecionados pelo grupo de Evandro Mesquita nos anos 80. Weekend, A Dois Passos do Paraíso, Mais Uma de Amor (Geme Geme), Betty Frígida e, claro, Você Não Soube me Amar figuram no roteiro da gravação que originou também o CD Eskute Blitz - Ao vivo, editado simultaneamente pela Radar Records. E por falar em Blitz, o grupo vai lançar em 2013 outro DVD, intitulado Blitz 30, este com o registro ao vivo do show feito pela banda em 16 de dezembro de 2012 num palco armado nas areias da Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ). 

EMI festeja 100 anos de Gonzaga com atraso na coletânea 'O fole roncou'

Com atraso, a EMI Music entra de penetra na festa dos 100 anos de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), celebrados pelo Brasil ao longo de 2012. A coletânea O fole roncou - Luiz Gonzaga 100 anos rebobina 16 fonogramas extraídos dos quatro álbuns do Rei do Baião que pertencem ao acervo da EMI. Dois - Luiz Gonzaga (1973) e Daquele jeito (1974) - foram gravados para a Odeon. Os outros dois - Vou te matar de cheiro (1989) e Aquarela nordestina (1989) - encerraram a discografia oficial de Gonzagão já na extinta gravadora Copacabana. Nesses álbuns, Gonzaga deu voz a músicas como Só xote (Onildo Almeida), Samarica parteira (Zé Dantas), Daquele jeito (Luiz Gonzaga e Luiz Ramalho), Baião de São Sebastião (Humberto Teixeira), Vou te matar de cheiro (Luiz Gonzaga e João Silva), A rede véia (Luiz Queiroga e Cel. Ludugero), todas incluídas na tardia compilação O fole roncou - Luiz Gonzaga 100 anos.

Mart'nália faz baile infantil no CD Carnavalança com Maria Rita e Martinho

Mart'nália - em foto de Joaquim Nabuco - comanda o baile infantil de Carnavalança, CD que vai ser lançado pelo selo infantil Biscoitinho, da gravadora Biscoito Fino, a tempo de animar a folia de 2013. No CD, inspirado no livro homônimo da ilustradora carioca Mirna Brasil Portella, 34 marchinhas de Carnaval - alocadas em 17 faixas - são adaptadas para a linguagem musical das crianças com  arranjos da pianista e cantora Maíra Freitas, irmã de Mart'nália, intérprete da maioria das marchas. Gravado em novembro de 2012, o CD tem adesões de Chico Buarque (As pastorinhas, parceria de Noel Rosa com Braguinha), Luiz Melodia (Touradas em Madrid, de Braguinha e Alberto Ribeiro), Maria Rita - nas marchas Máscara negra (Zé Kétti e Hildebrando Matos) e Bandeira branca (Laércio Alves e Max Nunes), sucessos na voz de Dalva de Oliveira (1917 -1972) - e Martinho da Vila (em Cidade maravilhosa, marcha lançada pelo compositor André Filho em 1934). Carnavalança vai ser editado em CD avulso e ainda encartado no livro.