Mauro Ferreira no G1

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sábado, 19 de março de 2011

Na pressão, show de Marcia Castro é pontuado por sambas e subtextos

Resenha de Show
Evento: Viva Voz
Título: De Pés no Chão
Artista: Marcia Castro (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 18 de março de 2011
Cotação: * * * *
Show em cartaz no Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ), até 20 de março de 2011

Em 2007, o lançamento do ótimo CD Pecadinho revelou Marcia Castro, cantora baiana de personalidade forte e musicalidade urdida longe do caldeirão fervente da axé music. Quatro anos depois, o show apresentado pela cantora no Rio de Janeiro (RJ) - dentro projeto Viva Voz, do Oi Futuro Ipanema -  flagra uma artista renovada, em evolução, prestes a lançar um segundo disco que, a julgar pela estreia da minitemporada carioca, vai vir com som cozinhado na pressão, cheio de subtextos e finas ironias. Samba de Gonzaguinha (1945 - 1991), lançado por Claudya em 1973, Pois É, Seu Zé abre o coeso roteiro com a pegada que vai ser mantida ao longo do show. Inédita de Luciano Salvador Bahia, Vergonha destila a tal ironia que também envolve Queda, destaque do CD Pecadinho que também se impõe no roteiro desfiado por Marcia na companhia de quinteto de peso. O som parte muito do samba, mas incursiona por trilhas modernas de contorno pop e jazzy, ainda que o cavaco de Caio Andrade direcione temas como Barraqueira (Manuela Rodrigues) para a levada do samba mais tradicional. Um toque afro tempera certas passagens de História de Fogo (Otto) e Nega Neguinha (Zeca Baleiro), samba que, na estreia, contou com os teclados modernos de Donatinho, convidado também de Nó Molhado - samba de Monsueto e José Batista, em registro que ganha peso - e de Preta Pretinha (Moraes Moreira e Galvão), remodelada em suingante número do bis que começa com esperta citação de Gererê, tema do repertório do grupo baiano É o Tchan. Um trompete pontua números como Logradouro (Kléber Albuquerque e Rafael Altério), tema mais lento que ratifica a salutar opção de Marcia Castro por um repertório nada óbvio, recolhido longe das paradas. Você Gosta? - por exemplo - é obscura parceria de Tom Zé e Hermes Aquino (o compositor gaúcho que emplacou hits como Nuvem Passageira e Desencontro de Primavera em novelas globais dos anos 70) que havia sido gravada em 1969 pelo efêmero grupo Liverpool. Castro realça a malícia de Você Gosta? em abordagem que cai no rock carnavalizante à moda de Rita Lee, de quem, aliás, a cantora recria a afirmativa De Pés no Chão (1974) em clima forrozeiro após apresentar um registro visceral de Crazy Pop Rock (Gilberto Gil e Jorge Mautner, 1971) que evoca a efervescente loucura dos anos 60. Na sequência, o samba Jorge Maravilha (Chico Buarque na pele do fictício Julinho da Adelaide, 1974) vai ganhando peso e ironia na medida em que a repetição do célebre verso "Você não gosta de mim, mas sua filha gosta" reforça a nova e sagaz conotação que a frase ganha na voz da cantora. No fim, Frevo (Pecadinho) - pontuado por uma guitarra carnavalizante - fecha com vivacidade um show que reitera a personalidade, o estilo e as posições de Marcia Castro, perceptíveis também nas projeções dos vídeos e no figurino cheio de charme. Um belo show!!!

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em 2007, o lançamento do ótimo CD Pecadinho revelou Márcia Castro, cantora baiana de personalidade forte e musicalidade urdida longe do caldeirão fervente da axé music. Quatro anos depois, o show apresentado pela cantora no Rio de Janeiro (RJ) - dentro projeto Viva Voz, do Oi Futuro Ipanema - flagra uma artista renovada, em evolução, prestes a lançar um segundo disco que, a julgar pela estreia da minitemporada carioca, vai vir com som cozinhado na pressão, cheio de subtextos e finas ironias. Samba de Gonzaguinha (1945 - 1991), lançado por Claudya em 1973, Pois É, Seu Zé abre o coeso roteiro com a pegada que vai ser mantida ao longo do show. Inédita de Luciano Salvador Bahia, Vergonha destila a tal ironia que também envolve Queda, destaque do CD Pecadinho que também se impõe no roteiro desfiado por Márcia na companhia de quinteto de peso. O som parte muito do samba, mas incursiona por trilhas modernas de contorno pop e jazzy, ainda que o cavaco de Caio Andrade direcione temas como Barraqueira (Manuela Rodrigues) para a levada do samba mais tradicional. Um toque afro tempera certas passagens de História de Fogo (Otto) e Nega Neguinha (Zeca Baleiro), samba que, na estreia, contou com os teclados modernos de Donatinho, convidado também de Nó Molhado - samba de Monsueto e José Batista, em registro que ganha peso - e de Preta Pretinha (Moraes Moreira e Galvão), remodelada em suingante número do bis que começa com esperta citação de Gererê, tema do repertório do grupo baiano É o Tchan. Um trompete pontua números como Logradouro (Kléber Albuquerque e Rafael Altério), tema mais lento que ratifica a salutar opção de Márcia Castro por um repertório nada óbvio, recolhido longe das paradas. Você Gosta? - por exemplo - é obscura parceria de Tom Zé e Hermes Aquino (o compositor gaúcho que emplacou hits como Nuvem Passageira e Desencontro de Primavera em novelas globais dos anos 70) que havia sido gravada em 1969 pelo efêmero grupo Liverpool. Castro realça a malícia de Você Gosta? em abordagem que cai no rock carnavalizante à moda de Rita Lee, de quem, aliás, a cantora recria a afirmativa De Pés no Chão (1974) em clima forrozeiro após apresentar um registro visceral de Crazy Pop Rock (Gilberto Gil e Jorge Mautner, 1971) que evoca a efervescente loucura dos anos 60. Na sequência, o samba Jorge Maravilha (Chico Buarque na pele do fictício Julinho da Adelaide, 1974) vai ganhando peso e ironia na medida em que a repetição do célebre verso "Você não gosta de mim, mas sua filha gosta" reforça a nova e sagaz conotação que a frase ganha na voz da cantora. No fim, Frevo (Pecadinho) - pontuado por uma guitarra carnavalizante - fecha com vivacidade um show que reitera a personalidade, o estilo e as posições de Márcia Castro, perceptíveis também nas projeções dos vídeos e no figurino cheio de charme. Um belo show!!!

Tiago disse...

Viva Márcia! Viva! Viva! Viva!

Andrea Nestrea disse...

poxa, o show foi lindo. marcia castro é muito cuidadosa no seu trabalho.
fiz umas fotos.
aqui vai o link,

http://www.flickr.com/photos/andreanestrea/sets/72157626309356614/show/