Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 23 de março de 2011

Com teatralidade, Soraya abre arco musical no tempo poético de Pinheiro

Resenha de Show
Título: Arco do Tempo
Artista: Soraya Ravenle (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Espaço Sesc Copacabana (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 22 de março de 2011
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz às terças e quartas-feiras, às 21h, no Espaço Sesc Copacabana até 6 de abril

Soraya Ravenle já diz logo a que vem em cena quando surge por entre uma das cortinas que enfeitam a arena do Espaço Sesc Copacabana. Cantando a capella Arco do Tempo, a música inédita que batiza o disco em que aborda a obra de Paulo César Pinheiro e o show que fica em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) até 6 de abril, a intérprete exibe afinação e emissão raras no país das cantoras. Atriz que consolidou sua carreira no teatro musical carioca, entre aparições em novelas da TV Globo, Soraya Ravenle é excelente cantora.  Neste primeiro disco solo fora do universo teatral, ela dá voz límpida a belas criações de Paulo César Pinheiro com diversos parceiros, expandindo seu arco musical no tempo do poeta. No show, a direção do ator Gustavo Gasparani - partner de Soraya no musical Opereta Carioca (2008) - confere graciosa teatralidade à cena sem jamais tirar o foco das composições de Pinheiro, arranjadas pelo diretor musical Alfredo Del-Penho. Segura, Soraya abre a roda no samba à moda baiana Senhorá (Paulo César Pinheiro e Roque Ferreira), embarca na poesia de Viagem (Paulo César Pinheiro e João de Aquino) - saboreando os versos sentada no centro da arena do Espaço Sesc - e esboça animação ao cair no samba carioca em Canta Essa Melodia (Paulo César Pinheiro e Maurício Carrilho). A teatralidade que envolve o show Arco do Tempo é perceptível tanto na iluminação e nos textos ditos em cena quanto nos links temáticos do roteiro. Da mesma forma que a Toada do Sol e da Lua (Paulo César Pinheiro e Pedro Amorim) é encadeada com Lua Candeia (Paulo César Pinheiro e Lenine), ciranda de ritmo marcado pela percussão de Carlos César Motta, Cristal Lilás (Paulo César Pinheiro e Maurício Carrilho) é unida pelo link marítimo com Sem Companhia. Grande momento do show, esta obra-prima da parceria de Pinheiro com Ivor Lancellotti - gravada por Clara Nunes (1942 - 1983) em seu álbum Brasil Mestiço (1980) - é uma das poucas músicas do roteiro que não estão no disco lançado pela gravadora Biscoito Fino. Outra é Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaquá), o samba desbocado de Pinheiro com Baden Powell (1937 - 2000), sagazmente citado ao fim de Carta Branca, título inédito da obra do poeta com Baden que confere valor adicional ao disco Arco do Tempo. Carta Branca emerge do baú como um daqueles sambas afiados em que Pinheiro foca as brigas conjugais no ritmo sincopado do samba de Baden. Em outro tipo de competição, Jogo de Fora (Paulo César Pinheiro)   evoca o universo afro-baiano da capoeira. Composto pelo poeta para a trilha do musical Besouro Cordão de Ouro (2006), o tema é seguido apropriadamente por Lapinha (Paulo César Pinheiro e Baden Powell), o samba de 1968 que se apropria de refrão de tema do capoeirista baiano Manoel Henrique Pereira (1895 ou 1897 – 1924), conhecido como Besouro Mangangá, mestre do berimbau celebrado no musical carioca. Na parte final, a intérprete cai no frevo em Ninho de Vespa (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) e celebra a própria música em Súplica, samba emocionante da lavra de Pinheiro com João Nogueira (1941 - 2000) que é introduzido em cena por trecho a capella de Minha Missão, outro título da chamada Trilogia do Alumbramento da dupla. No fim, Arco do Tempo é bisado em registro dividido por Soraya com sua filha, Júlia Bernat, que já segue os caminhos da mãe na música e no teatro (elas vão encarnar os papéis de mãe e filha em Um Violinista no Telhado, próxima produção da dupla Charles Moeller e Cláudio Botelho). Em refinado arranjo vocal, Arco do Tempo fecha roteiro de  show redondo que expõe a elasticidade da obra poética e musical de Paulo César Pinheiro ao mesmo tempo em que reitera a beleza da voz límpida de Soraya Ravenle, estrela de musicais.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Soraya Ravenle já diz a que vem em cena quando surge por entre uma das cortinas que enfeitam a arena do Espaço Sesc Copacabana. Cantando a capella Arco do Tempo, a música inédita que batiza o disco em que aborda a obra de Paulo César Pinheiro e o show que fica em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) até 6 de abril, a intérprete exibe afinação e emissão raras no país das cantoras. Atriz que consolidou sua carreira no teatro musical carioca, entre aparições em novelas da TV Globo, Soraya Ravenle é excelente cantora. Neste primeiro disco solo fora do universo teatral, ela dá voz límpida a belas criações de Paulo César Pinheiro com diversos parceiros, expandindo seu arco musical no tempo do poeta. No show, a direção do ator Gustavo Gasparani - partner de Soraya no musical Opereta Carioca (2008) - confere graciosa teatralidade à cena sem jamais tirar o foco das composições de Pinheiro, arranjadas pelo diretor musical Alfredo Del-Penho. Segura, Soraya abre a roda no samba à moda baiana Senhorá (Paulo César Pinheiro e Roque Ferreira), embarca na poesia de Viagem (Paulo César Pinheiro e João de Aquino) - saboreando os versos sentada no centro da arena do Espaço Sesc - e esboça animação ao cair no samba carioca em Canta Essa Melodia (Paulo César Pinheiro e Maurício Carrilho). A teatralidade que envolve o show Arco do Tempo é perceptível tanto na iluminação e nos textos ditos em cena quanto nos links temáticos do roteiro. Da mesma forma que a Toada do Sol e da Lua (Paulo César Pinheiro e Pedro Amorim) é encadeada com Lua Candeia (Paulo César Pinheiro e Lenine), ciranda de ritmo marcado pela percussão de Carlos César Motta, Cristal Lilás (Paulo César Pinheiro e Maurício Carrilho) é unida pelo link marítimo com Sem Companhia. Grande momento do show, esta obra-prima da parceria de Pinheiro com Ivor Lancellotti - gravada por Clara Nunes (1942 - 1983) em seu álbum Brasil Mestiço (1980) - é uma das poucas músicas do roteiro que não estão no disco lançado pela gravadora Biscoito Fino. Outra é Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaquá), o samba desbocado de Pinheiro com Baden Powell (1937 - 2000), sagazmente citado ao fim de Carta Branca, título inédito da obra do poeta com Baden que confere valor adicional ao disco Arco do Tempo. Carta Branca emerge do baú como um daqueles sambas afiados em que Pinheiro foca as brigas conjugais no ritmo sincopado do samba de Baden. Em outro tipo de competição, Jogo de Fora (Paulo César Pinheiro) evoca o universo afro-baiano da capoeira. Composto pelo poeta para a trilha do musical Besouro Cordão de Ouro (2006), o tema é seguido apropriadamente por Lapinha (Paulo César Pinheiro e Baden Powell), o samba de 1968 que se apropria de refrão de tema do capoeirista baiano Manoel Henrique Pereira (1895 ou 1897 – 1924), conhecido como Besouro Mangangá, mestre do berimbau celebrado no musical carioca. Na parte final, a intérprete cai no frevo em Ninho de Vespa (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) e celebra a própria música em Súplica, samba emocionante da lavra de Pinheiro com João Nogueira (1941 - 2000) que é introduzido em cena por trecho a capella de Minha Missão, outro título da chamada Trilogia do Alumbramento da dupla. No fim, Arco do Tempo é bisado em registro dividido por Soraya com sua filha, Júlia Bernat, que já segue os caminhos da mãe na música e no teatro (elas vão encarnar os papéis de mãe e filha em Um Violinista no Telhado, próxima produção da dupla Charles Moeller e Cláudio Botelho). Em refinado arranjo vocal, Arco do Tempo fecha roteiro de show redondo que expõe a elasticidade da obra poética e musical de Paulo César Pinheiro ao mesmo tempo em que reitera a beleza da voz límpida de Soraya Ravenle, estrela de musicais.

Luca disse...

A Soraya gravou antes o cd Breque moderno com o Marcos Sacramento e um outro cantor que não lembro quem é. Espero que esse show venha pra Sampa.

lurian disse...

Muito boa a idéia da Soraya em lançar luz sobre o lado B do PCPinheiro que é sempre um compositor de Primeira!

Anônimo disse...

Acompanho Soraia desde de Dolores. Sempre foi uma boa , cantora, mas assitindo é com esse que eu vou, que pude perceber como ela evoluiu, precisa gravar mais e muito, ela está no auge. Sem dúvidas, hoje uma das melhores cantoras brasileiras.

Regina Cavalcanti disse...

ASSISTI A ESTRÉIA E FIQUEI ENCANTADA, SORAYA SE SUPEROU, O SHOW É MARAVILHOSO!PARABÉNS

Nivaldo Andrade disse...

Acompanho a carreira de cantora de Soraya Ravenle desde quando ela fazia parte do grupo Arranco de Varsóvia. A voz límpída e afinadíssima, o timbre agradável, a divisão perfeita... Demorou demais para gravar um CD solo! Trata-se de uma das maiores cantoras do país das cantoras. Que venham muitos CDs mais...